29/06/2011

HEMINGWAY FOR DUMMIES



A ilha no inverno.


No inverno passado, após uma nababesca passagem pela Espanha, eu voltei para Florianópolis, para minha casinha de veraneio, de azulejos, onde o vento passava pelas frestas da porta de alumínio e minha respiração nublava-se mesmo dentro no quarto. Me senti mais ou menos na fábula de "A Cigarra e a Formiga," com todos trancadinhos em suas casas, aos pares, em seus afazeres, e eu solitário por um verão de devassidão...



Minha ilha nublada por suspiros.



Foi nesse clima de frio e chuva que comecei a escrever "O Velho e o Mato", um dos contos de PORNOFANTASMA. É a história do livro que mais reflete minha temporada em Florianópolis, sem dúvida. Tirei o cenário de lá, a estrada da Barra, a trilha para a Praia Mole e aquele sentimento de "todos estão se divertindo menos eu" (tous les garçons et les filles...), "meu tempo passou", "estou fora de forma", "só restam minhas culpas..."


Tudo isso exacerbado pela magia da literatura, oh!


A centelha inicial veio de O Velho e o Mar de Hemingway, é claro, queria esse tom de fábula clássica, o velho contra o peixe, contra a natureza, mas no meu conto o embate tem um desfecho bem mais pessimista, o velho contra o mato. Tem também algo de "O Caminho do Cemitério", conto seminal de Thomas Mann, de um velho subindo a estrada. E quando me veio uma breve frase com tom clássico de fábula, eu sabia que já tinha um conto: "Um velho subia a estrada."


Um velho subia a estrada. Bêbado, um pouco manco, tentava não cambalear e não sair do acostamento. Os carros passavam ligeiros e ele era quase invisível naquelas sombras, naquela hora. Era noite, nem tão tarde, mas agora no outono o dia acabava mais cedo e, para quem vivia na praia, a madrugada era um animal furtivo, que só se alimentava quando todos já estavam dormindo.


Desenvolvi a história como um conto de terror. O embate do velho com a natureza, a natureza como uma força maligna me remeteu a Evil Dead e a Anticristo, de Lars Von Trier (que afinal tem muito de Evil Dead e muito de O Iluminado), a fuga pela trilha tem algo de The Legend of Sleepy Hollow (o desenho da Disney, baseado no conto de Washington Irving - que agora estou traduzindo, veja só - que é um clássico da minha infância e que volta à minha mente sempre que me encontro no mato de noite... e não me pergunte o que faço no mato de noite!). E tudo isso se encaixava perfeitamente no existencialismo bizarro do livro. O velho não tão velho, não tão tarde, no outono de sua vida, com a natureza em seu encalço, fazendo-o apertar o passo, querendo puxá-lo para baixo...

Tudo isso deu mais um pornô fantasma.

Florianópolis + A Cigarra e a Formiga + Tous les Garçons et les Filles + O Velho e o Mar + O Caminho do Cemitério+ Evil Dead + Anticristo + The Legend of Sleepy Hollow = O Velho e o Mato.

Devo estar esquecendo de alguma referência...

(talvez aquela música... "Mata o velho, mata o velho...")


Bing Crosby se revirando no túmulo.


E isso é apenas mais um da série de merchandisings disfarçados de post, para fazer você finalmente comprar PORNOFANTASMA e descobrir o que acontece com o velho.


O velho tentava se desvincilhar das plantas. Sentia como se a vegetação agarrasse seus braços, prendesse suas pernas, queria puxá-lo ao chão, para debaixo da terra. O velho se debateu e debateu- se contra a ideia de que o mato de fato estava vivo, e contra ele. “Mas o mato está vivo! E contra mim!” O velho levantou debatendo-se, não se importando com os espinhos que cortavam sua carne, cipós torcendo seu pulso, galhos abrindo seu supercílio; ele ficou de pé.


Eu, na trilha do verão passado; nostalgia de mim mesmo...

22/06/2011

DIVAS ETERNAS FOREVER PARA SEMPRE








Neste final de semana Marina Lima lança seu disco novo - CLÍMAX - no Sesc Vila Mariana, aqui em SP; eu vou na sexta.



O disco consegue ser ainda mais sombrio do que o anterior - LÁ NOS PRIMÓRDIOS (que continha "Três", provavelmente minha música favorita da Marina) - com uma produção bem concisa, um clima noturno e "desencantado."



Antônio Cícero, irmão e parceiro de letras de Marina, não participa do disco; sua ausência é sentida, sua poesia faz falta, mas a falta também confere certa diferença e identidade ao disco. Marina assina sozinha a maior parte das composições e isso gera faixas mais enxutas, em que melodia instrumental e vocal coincidem.




"Não me Venha Mais com o Amor", a faixa de abertura, parece reduntante em si, com os vocais como mera tradução do que dizem as guitarras. Ela já fez isso lindamente em "Pierrot" (faixa do disco Pierrot do Brasil, que ela assinava sozinha), e aqui a letra de parceria com Adriana Calcanhotto parece mais desnecessária ao que a bela melodia tem a dizer. Mas o povo quer Marina cantora, então tá. Para mim, seria uma faixa perfeita apenas instrumental.



Mas Marina subverte essa obviedade lindamente em faixas como "A Parte que me Cabe" (de longe a minha favorita) em dueto com Vanessa da Mata. Com uma programaçãozinha mequetrefe por trás, as duas parecem duelar num karaokê udi-gudri e dar várias possibilidades de interpretação de uma mesma melodia vocal. Lindo-lindo.



Mesmo as faixas pretensamente mais "fofinhas", como "Call me" (cover daquela: "call me, don´t be afraid you can call me...") ficam trevosas com a produção e a interpretação de Marina. Karina Buhr participa do vocal e composição de "Desencantados", mas seu sotaque nordestino, longe de iluminar, confere um tom de naufrágio no oceano petrolífero de Marina... e isso é bom.



Marina termina de afundar na faixa seguinte "Doce de Nós", a mais seca do disco: As vezes eu choro, pra lembrar de mim, ela canta. A faixa começa só com violão; quando ela cresce com percussão e samples, lembra muito Portishead em Third, e talvez se torne uma nova favorita minha.



Só Samuel Rosa estraga tudo na faixa final "Pra Sempre", que não tem nada a ver com o disco e nada a ver com nada, como o Skank, que afinal, é uma banda necessária para as cervejadas universitárias. Mas Marina é vodca, vodca, gin, dry martini, enfim...



Mas falando em cervejadas...



Panic of Girls!




Blondie também lançou disco novo. E embora eu não tenha conseguido me aproximar/entrevistar/criar laços, como fiz com Marina, Debbie Harry continua das minhas maiores divas. Diz aí, diva BEEEEM melhor do que Madonna, Lady Gaga, Britney....



Debbie! Isso que é diva!



Encomendei o novo disco do Blondie na Amazon.Uk e recomendo muito. Já encomendei muita coisa na Amazon USA, mas a amazona americana costuma dar prazos absurdos ou preços abusivos. Ou você espera dois meses, ou paga duzentos dólares. Na Amazon Uk você recebe em duas semanas, pagando o padrão (no caso desse disco, eu paguei 16 libras pelo collector's pac - já digo o que é - que dá uns 40 reais, preço bem razoável para um disco britânico cheio de extras.)


Claro que você poderia baixar o CD de graça na Internet; mas, colocando de lado a legalidade da coisa, as gravadoras expertas vêm criando produtos com preços atrativos que são bons rivais para a pirataria. Diz aí, eu poderia ficar buscando o disco para baixar, mas por 40 reais (aqui em SP) recebo esse Collector's Pack oficial com o disco num digipack bem bonitinho, faixas extras, encarte, revista com entrevista com a Debbie e o caralho, pôster, bottoms, vibrador... (tá, vibrador é mentira, mas você precisa?); para mim é um bom rival da pirataria...


E O DISCO?!!!





É beeeeeeem legal. Eu sou mega fã do Blondie, desde a adolescência; desde que vi a Debbie cantando "Well Did You Evah" com o Iggy Pop, lá por 92, 93... (Ok, eu sou velho, eu sei, eu sei). E acho mesmo que o Blondie foi banda que fez o melhor retorno de todas - não vou nem comentar o retorno dos Sex Pistols; a volta dos Eurythmics (outra das minhas favoritas) em 1999 foi "desculpável" e dos Bauhaus em 2008 foi "Ok". Mas a volta do Blondie com No Exit foi absurda. Vai dizer que "Maria" não é das melhores músicas da banda em todos os tempos?



Pois bem, depois disso, o quê? Eles lançaram The Curse of Blondie em 2003, que é bem legal. É bem legal mesmo, diz aí, tem "Good Boys", "The Tingler", "Shakedown"; bom eu sou suspeito, porque gosto até da carreira solo da Debbie Harry, mas sempre prefiro o Blondie. E acho The Curse of Blondie ainda melhor do que os últimos discos da primeira fase - Autoamerican e The Hunter.



PANIC OF GIRLS é bem legal, muito legal, mas abaixo de No Exit ou The Curse of Blondie, eu teria de dizer. Talvez funcione melhor como um todo do que os anteriores - o disco todo é legal - mas não tem nenhuma faixa ABSURDA como "Screaming Scream", "Maria" ou "Good Boys".



O primeiro single "Mother" é bem divertido, e só. Tem aquele clipe bizonho com zumbis, que ainda consegue ficar dentro do registro Blondie (vide "Atomic"). E o álbum todo vai nesse tom. O álbum todo vai nesse registro despretencioso tosco divertido, com vários reggaezinhos (que, claro, eles já tinham feito), Debbie cantando em espanhol, Debbie cantando em francês, Debbie encarnando a Shakira... Talvez faltem os rockers mesmo. "What I Heard" é minha favorita, "Sunday Smile" cover do Beiruth, parece uma versão melhorada de "Island of Lost Souls" e "Horizontal Twist" (que só está no disco com extras - hihi) lembra as melhores coisas de Debbie solo. Eu gostei bem e estou ouvindo sem parar... mas também me fez rever The Curse of Blondie, o anterior, que estou achando melhor.



E é isso. Agora é esperar pela minha encomenda dos CINCO álbuns do Suede, reeditados com extras, DVDS e o caralho, que prometem me deixar monocentrado em Suede até o final do ano.





17/06/2011

GERAÇÃO RED BULL





Coca-cola my arse, dá um energético que estamos com as asinhas de fora. (Terça agora, na Livraria da Vila, da Vila)

O começo dos anos 2000 foi um momento muito positivo para os escritores brasileiros. A popularização da Internet fez com que muitos pudessem encontrar seu público sem necessidade de uma editora; o barateamento das formas de impressão possibilitou que vários outros pudessem bancar suas publicações. A mídia notou o fenômeno e abraçou a nova onda, dando espaço nos cadernos literários e mesmo na grande mídia para jovens autores que surgiam. As grandes editoras também investiram, em viagens e contratos. Sabe como é, eles todos queriam estar antenados.





Sim, eu tive sorte de aparecer aí.









Esse era eu há quase dez anos. Não me julgue, não me julgue...





Passada uma década, a moda passou, ser escritor já não é mais o hype – a internet não é mais escrita, temos Youtube - e muito desses cadernos literários não existem mais. Os críticos de respeito que exaltaram tanto os novos autores – que eram novos, então obviamente copiavam os mais velhos – começaram a torcer o nariz quando esses autores começaram a sedimentar suas próprias referências, mostrar que cresceram com videogame e filmes de zumbis (e não, não, longe de eu estar falando só de mim.) Passada a euforia, eles se encontravam de fato com o NOVO, e o novo na literatura nunca é tão fácil de se aceitar... nem de aceitar que é novo realmente.


É nesse contexto que, nesta terça-feira, começam, aqui por São Paulo, os lançamentos da antologia Geração Zero Zero, organizada pelo Nelson de Oliveira, publicada pela Língua Geral. É uma reunião de contos, a maioria inédita, do que ele considerou “os 21 melhores ficcionistas brasileiros surgidos no início do século 21.” Qual foi o critério de escolha? Ter publicado pelo menos dois livros, a partir de 2000, e ter “sensibilizado” Nelson, que afinal é escritor, crítico e profundo estudioso da literatura contemporânea.







Na prática, a antologia serve para reunir num só volume os novos nomes que mais repercutiram na mídia e no meio literário, nos últimos anos – estão lá: Flávio Viegas Amoreira, Marcelo Benvenutti, João Filho, Whisner Fraga, Andrea del Fuego, Daniel galera, Marne Lúcio Guedes, Maria Alzira Brun Lemos, Ana Paula Maia, Tony Monti, Lourenço Mutarelli, José Rezende Jr., Sidney Rocha, Carola Saavedra, Paulo Sandrini, Walther Moreira Santos, Carlos Henrique Schroeder, Paulo Scott, Veronica Stigger, Lima Trindade e eu. Pode-se discutir a ausência de alguns nomes, mas sei que alguns simplesmente rejeitaram o convite, por motivos diversos.






Eu também rejeito. Eu não costumo participar de antologias. Participo fora do Brasil, porque lá minha carreira ainda está engatinhando, e é uma chance de ser lido em outras línguas. Mas aqui prefiro me concentrar nos meus próprios livros. Ainda mais porque antologia é uma coisa de você não tem muito controle – já participei de algumas de que me arrependo amargamente (e não, não vou citar aqui, claro). Você não sabe qual será a qualidade dos outros textos, dos outros autores, nem o projeto como um todo. E basta o livro ter uma capa feia para eu desprezá-lo eternamente (vide o meu livro de estréia, Olívio, que até hoje tenho certa vergonha de mostrar, simplesmente por causa da capa, a qual não pude opinar.)






Não! Não! Tá, Kiko Farkas, fala, você FODEU com meu livro de estreia. Que PORRA de capa é essa? Haha.






Pois bem, mas com a Geração Zero Zero é diferente. Não apenas eu achei importante estar nesta seleção – é uma forma de muita gente ler pela primeira vez aqueles novos autores de quem tanto ouviram falar – como eu tinha certeza da qualidade dos textos pelos autores convidados. Estou em boa companhia.







Ana Paula Maia detona, como sempre, numa caçada de javalis, na sua literatura muito própria; Andrea Del Fuego fez um conto muito delicado, com certo realismo esquizofrênico, da relação de um velho com um bancário; Daniel Galera é sempre denso e afetivo; Mutarelli faz poesia do patético; Paulo Sandrini prova como é bom contador de histórias...







Aos autores foi dada uma quantidade de laudas, não de textos. Por isso alguns aparecem com diversos contos curtos, outros com apenas um conto mais longo. Nelson arrisca dizer que, em comum, essa geração tem o gosto pelo “bizarro.” Acho bobagem. Embora eu mesmo tenha rotulado minha literatura de “existencialismo bizarro”, que bizarro seria esse? O conflito e a estranheza estão presentes em qualquer bom texto. O bizarro escatológico (como o de Marcelo Benvenutti nesta antologia) certamente não me pertence. Não vejo nada de bizarro no Galera, nem na Carola Saavedra. É apenas uma generalidade.






O meu “existencialismo bizarro” vem da junção de temas existencialistas com a cultura pop, particularmente sombria, noir, ou, tá bom, gótica. É unir jacarés assassinos aos questionamentos da adolescência. Ambiguidade sexual com navios fantasmas. Mas é apenas um rótulo.






E eu estou na antologia com “Eu Sou A Menina Deste Navio”, que já está no PORNOFANTASMA. Nelson pediu textos inéditos, mas sua antologia saiu atrasada e meu texto já não é mais exclusivo (mas é original, é original!).





É um texto bizarro, fantástico, andrógino, fantasma e bem gay. Apesar de ter muito o clima dessas aventuras clássicas de marinheiro, e todos os personagens terem nomes tirados de A Tempestade, de Shakespeare, a grande inspiração veio de The Legend of Zelda: The Phantom Hourglass – jogo do Nintendo DS. Passei dias naquele cenário, sabe? Lutando contra piratas, navegando em alto mar, e me deu vontade de escrever algo por aí. Eu via aquele bonequinho delicadinho do jogo em meio aos marinheiros, e pensava que, numa história real, ele seria feito de menina em semanas e semanas em alto mar... Por aí já viu.













Só eu vejo maldade?






Teve também muito do clima de Santa Catarina nele, é claro. Eu morava na casa de um pescador (o seu Nelinho, velhinho mais fofo). Eu experimentei um pouco o que era viver à beira mar...

Minha vida de praia, em minha varanda em SC, no começo do ano. Saudade terrível...


Tudo isso, e um pouco mais, gerou o conto. E o livro tem muito mais. Não estou puxando o saco quando elogio os autores. Acho que essa “geração” tem muita coisa de qualidade. Esse termo mesmo, “geração”, já gera muita implicância, ou punhetação de paus no cu, para ficar na minha linguagem sofisticada. É só gente que começou a publicar na mesma época, porque mesmo de idade varia muito, dos trinta para cima.


Não são meus amigos. Não, não são mesmo. Eu posso dizer que não tenho NENHUM amigo nessa antologia. O Nelson é bacana, mas já escreveu umas asneiras de uns livros meus. Ana Paula Maia é foda, gosto dela. Mas ela não bebe, mora no Rio, então nos vemos uma vez a cada dois anos. Galera é foda, mas é hétero... Haha, não temos lá muito em comum. Paulo Scott também... Enfim, é gente que tenho uma boa relação porque são escritores que admiro, mas nenhum deles é meu amigo não.


Lembro agora do que uma das minhas irmãs disse (eu tenho três). Ela é clown (tá, palhaça), faz improviso, e estava falando o que achava dessa modinha de improviso, com programa de TV e tal. Ela achava que isso era sempre positivo. Que quanto mais gente fazendo, mais hype sobre a coisa, mais aumentava o nível, os melhores teriam mais espaço e acabariam ressaltados. Talvez seja esse o saldo da Geração Zero Zero. Eu considero uma das melhores “gerações” da literatura brasileira em muito, muito tempo.


Geração Zero Zero já está sendo vendido, e vai haver vários lançamentos por aí, com os autores locais. Consulte na sua cidade. Abaixo, o próximo lançamento no Rio.


Dia 29, na Livraria da Travessa.
SEGUNDA



Segunda agora, minha querida Cristiane Lisbôa lança livro novo. Já era hora - precisamos mais da literatura da Cris. E vai ter pocket show da Tulipa, gente bonita, blablablá, blablablá. Vai lá.


Na loja do Ronaldo Fraga, Rua Aspicuelta, 259, Vila Madalena.

14/06/2011

SEMPRE UM PAPO
Matéria comigo e com a Ana Paula, em BH.



Tenho feito muito poucos eventos literários eu sei. Reparei que faz praticamente UM ANO desde o último evento literário que participei. Tenho certa culpa, porque recusei algumas coisas, e em outras eu estava viajando, sortindo! vivendo! e não pude ir. Mas também não tem surgido grandes convites não. E eu sempre estou disposto a viajar mais pelo Brasil...

(foto: Infinito Fotografia)


Agora acabei de voltar de Belo Horizonte. Viagem ótima-ótima. Nunca havia estado lá, mas fui agora no momento certo, e em grande estilo.

Convite do jornalista Afonso Borges, que organiza há anos o "Sempre um Papo", debates de literatura com escritores - e digo, dos eventos mais bem organizados que já fui. Hospedagem num hotel ótimo, divulgação impecável, debate alto-nível. E eles ainda entregaram para mim e para Ana Paula, antes de irmos embora, clipping completo (em CD e impresso) do evento, com todas as matérias que saíram (e saíram matérias grandes do debate e dos nossos livros nos três principais jornais de Minas). Nem as EDITORAS fazem um trabalho assim, tão bem feito. É assim que tem de ser feito. Fora que o Afonso e sua equipe são gente boníssima.

Terminamos a noite ontem num belo restaurante, onde eu comi uma bela lagosta. (Veja só, tenho de ir até Minas para matar saudades de lagosta...)



Eu e a Ana (centro) com a Débora, Afonso, Eduardo e Paulo, queridos que encontrei por lá.


Encontrar Ana Paula Maia também é sempre ótimo. Além de ser uma pessoa tranquilíssima, é uma escritora de talento inegável, com um universo próprio fascinante. Inclusive ela estava de pé engessado, que conquistou numa caçada de javalis.


O debate foi na segunda, mas fui para BH antes, no final de semana, curtir um pouco a cidade. Passei a maior parte do tempo no hotel, na verdade, trabalhando, dormindo, mas deu para sair bem na noite, e de quebra vi um show de graça do Pato Fu na Praça da Liberdade, domingo. Lindinho-lindinho, bem voltado ao público infantil, com fantoches, aqueles instrumentos de brinquedo... Uma coisa para humilhar a Banda Mais Bonita da Cidade, sabe? Mostrar como é possível fazer "música do bem" sem ser riponga pau no cu? A versão de "Ovelha Negra" (Rita Lee) com a praça toda cantando junto foi emocionante.

Domingo no parque.


E voltei para SP hoje, direto para a caneca do Gordo. Gravei minha QUARTA entrevista no Programa do Jô. E olha, sério, foi a melhor de todas. A entrevista deu meia hora - e não só ele reprisou aquelas perguntas clássicas (do disk-sexo, disk-horóscopo, blablablá), mas falamos bem do Pornofantasma, de quando eu estudava finlandês, de traduções, répteis, Mastigando Humanos; Jô inclusive me tirou do armário e questionou minha vida sexual em público...



Se não cortarem a entrevista (que ficou mesmo bem longa) em breve você assiste tudo. Disseram que só deve ir ao ar em agosto, mas ainda não me deram a data... Leia este blog religiosamente, todos os dias. Que você não perderá... Hi-hi.

09/06/2011

O DANDY E A PISTOLEIRA


Em BH.



Dia 13 de junho, segunda-feira, o Sempre Um Papo recebe os escritores Ana Paula Maia e Santiago Nazarian para debate e lançamento dos livros Carvão Animal e Pornofantasma, ambos pela editora Record, às 19h30, na Sala Juvenal Dias, Palácio das Artes. Mediação do idealizador do Sempre Um Papo, Afonso Borges. Entrada franca.

Eu chego em Belo Horizonte no final de semana. Qual é a boa?

07/06/2011

CAPETA EM FORMA DE GURI


Do MSN (sim, ainda uso o MSN, mas não te passo o meu)


Nazarian diz:
Ai, graças, está chovendo. Não estava aguentando mais a poluição.

Cris Lisbôa diz:
vem morar aqui, vem.

Nazarian diz:
Postei: "Tirem os carros da rua, os cavalinhos da chuva. Ficou tanto tempo sem chover que o temporal deve estar mais ácido do que meu esperma."

Cris Lisbôa diz:
que coisa horrível

Nazarian diz:
Hahaha. Esperma do capeta! Capeta da porra!!!


Cris Lisbôa diz:
"co-nheci, um ca-peta em forma de guri";
te odeio por me lembrar dessa música

Nazarian diz
Cris...

Você...

O que você faria... se assim...

por acaso...

Descobrisse que sou filho do demo?

Assim, estou falando só hipoteticamente...

Você deixaria de ser minha amiga?

Cris Lisbôa diz:
Jamais.

Nazarian diz:
Ah.

Que bom.

Então...

Cris Lisbôa diz:
ia imediatamente oferecer minha alma.

ia pedir uns favores.

Nazarian diz
Que saco.

As pessoas não entendem que não tenho nada a ver com os negócios de papai.

Quero fazer sucesso por meu próprio mérito.

Cris Lisbôa diz:
é o peso de ser filho de gente bem sucedida. ser filho do demo é mais ou menos como ser filho do eike batista.

Nazarian diz
Eike Absurdo!

Cris Lisbôa diz:
hahahaha

06/06/2011

SCOTT WALKER E OS ZUMBIS



Eu deveria tentar sobreviver. Ao invés disso, estou ouvindo discos do Scott Walker enquanto meu som ainda tem pilhas; bebendo vodca pura enquanto ainda há vodca; ignorando a situação do país, a crise em geral e os milhares de livros que forram essas prateleiras, que eu nunca li, nunca lerei e provavelmente logo estarão perdidos para sempre, sem herdeiros ou mesmo um sebo que os resgate, leitores que os justifique....Apocalipse Silencioso @ PORNOFANTASMA


Estou eu nesta noite fria, ouvindo Scott Walker, sem um sebo que me justifique, pensando que, se eu tenho uma missão neste mundo, deveria fazer chegar a você Scott Walker, e todo um apocalipse musical.

Scott Walker é um cantor americano, mas que só se tornou popular na Inglaterra; inicialmente cantando standards como ídolo teen; depois no grupo vocal Walker Brothers, em meados dos anos sessenta; e seguindo posteriormente uma carreira solo que dura até hoje, apesar de lançar álbuns em intervalos de décadas.

Os Walkers Brothers tiveram um sucesso razoável, mas a carreira solo dele nunca teve muita repercussão, em parte por seu repertorio difícil. Ele começou de forma mais palatável, tentando mesclar standards com versões em inglês das músicas de Jacque Brell. Mas suas aspirações como compositor vinham contra sua própria voz, minando sua vocação de crooner com um repertório esquisito, que misturava releituras de Bergman ("The Seventh Seal") com faixas experimentais, o que o deixou sem gravar por anos e anos.

Suas últimas experiências fonográficas são tão espaçadas que podemos dizer que seu disco de 95, Tilt, e de 2006, Drift, são da mesma fase. Ambos sem melodias, experimentais, extremamente estranhos, mas ainda com coisas lindíssimas, que são mais valorizadas por quem conhece o Scott Walker dos anos 60, quem sabe do que ele é capaz como crooner e renunciou. Uma voz absurda, que não se curvou a um repertório fácil. A faixa que abre este post é dessa fase.


Em 2006, foi lançado o documentário 30th Century Man, sobre vida e obra de Scott Walker, com entrevistas de diversos artistas que foram influenciados por ele, como David Bowie, Jarvis Cocker, Damon Albarn, Brian Eno e Sting. Imperdível para os fãs, ainda que não acrescente muito ao mito e mistério de Scott Walker.


No meu “Apocalipse Silencioso” o personagem está trancado no apartamento, ouvindo Scott Walker, discutindo a relação com a namorada, sem poder sair de casa porque o mundo lá fora foi tomado por zumbis. A ideia original era escrever uma peça de teatro, mas achei mais fácil colocar no papel como conto. E se fosse para indicar uma música do Scott para a peça, seria “In my Room”, dos Walker Brothers, melodramática até o osso.

O conto foi escrito especialmente para o PORNOFANTASMA, mas acabou sendo publicado antes em espanhol na antologia Brasil 90-00, organizada pelo Nelson de Oliveira e lançada no Peru, na Feira do Livro de Lima de 2009, onde eu fui um dos convidados. Nesse evento conheci inclusive meu editor peruano, Álvaro Lasso, que comprou os direitos de Mastigando Humanos para lá. Mastigando também foi vendido para a Itália e agora Espanha. É meu jacarezinho ganhando o mundo.

Para terminar, Scott em grande forma, cantando uma de suas versões para um clássico de Jacque Brell, "Jackie".


01/06/2011

COQUEIRO QUE DÁ COCONUT




É nesse país aí que eu moro.

NESTE SÁBADO!