Coca-cola my arse, dá um energético que estamos com as asinhas de fora. (Terça agora, na Livraria da Vila, da Vila)
O começo dos anos 2000 foi um momento muito positivo para os escritores brasileiros. A popularização da Internet fez com que muitos pudessem encontrar seu público sem necessidade de uma editora; o barateamento das formas de impressão possibilitou que vários outros pudessem bancar suas publicações. A mídia notou o fenômeno e abraçou a nova onda, dando espaço nos cadernos literários e mesmo na grande mídia para jovens autores que surgiam. As grandes editoras também investiram, em viagens e contratos. Sabe como é, eles todos queriam estar antenados.Sim, eu tive sorte de aparecer aí.
Esse era eu há quase dez anos. Não me julgue, não me julgue...
Passada uma década, a moda passou, ser escritor já não é mais o hype – a internet não é mais escrita, temos Youtube - e muito desses cadernos literários não existem mais. Os críticos de respeito que exaltaram tanto os novos autores – que eram novos, então obviamente copiavam os mais velhos – começaram a torcer o nariz quando esses autores começaram a sedimentar suas próprias referências, mostrar que cresceram com videogame e filmes de zumbis (e não, não, longe de eu estar falando só de mim.) Passada a euforia, eles se encontravam de fato com o NOVO, e o novo na literatura nunca é tão fácil de se aceitar... nem de aceitar que é novo realmente.
É nesse contexto que, nesta terça-feira, começam, aqui por São Paulo, os lançamentos da antologia Geração Zero Zero, organizada pelo Nelson de Oliveira, publicada pela Língua Geral. É uma reunião de contos, a maioria inédita, do que ele considerou “os 21 melhores ficcionistas brasileiros surgidos no início do século 21.” Qual foi o critério de escolha? Ter publicado pelo menos dois livros, a partir de 2000, e ter “sensibilizado” Nelson, que afinal é escritor, crítico e profundo estudioso da literatura contemporânea.
Na prática, a antologia serve para reunir num só volume os novos nomes que mais repercutiram na mídia e no meio literário, nos últimos anos – estão lá: Flávio Viegas Amoreira, Marcelo Benvenutti, João Filho, Whisner Fraga, Andrea del Fuego, Daniel galera, Marne Lúcio Guedes, Maria Alzira Brun Lemos, Ana Paula Maia, Tony Monti, Lourenço Mutarelli, José Rezende Jr., Sidney Rocha, Carola Saavedra, Paulo Sandrini, Walther Moreira Santos, Carlos Henrique Schroeder, Paulo Scott, Veronica Stigger, Lima Trindade e eu. Pode-se discutir a ausência de alguns nomes, mas sei que alguns simplesmente rejeitaram o convite, por motivos diversos.
Eu também rejeito. Eu não costumo participar de antologias. Participo fora do Brasil, porque lá minha carreira ainda está engatinhando, e é uma chance de ser lido em outras línguas. Mas aqui prefiro me concentrar nos meus próprios livros. Ainda mais porque antologia é uma coisa de você não tem muito controle – já participei de algumas de que me arrependo amargamente (e não, não vou citar aqui, claro). Você não sabe qual será a qualidade dos outros textos, dos outros autores, nem o projeto como um todo. E basta o livro ter uma capa feia para eu desprezá-lo eternamente (vide o meu livro de estréia, Olívio, que até hoje tenho certa vergonha de mostrar, simplesmente por causa da capa, a qual não pude opinar.)
Não! Não! Tá, Kiko Farkas, fala, você FODEU com meu livro de estreia. Que PORRA de capa é essa? Haha.
Passada uma década, a moda passou, ser escritor já não é mais o hype – a internet não é mais escrita, temos Youtube - e muito desses cadernos literários não existem mais. Os críticos de respeito que exaltaram tanto os novos autores – que eram novos, então obviamente copiavam os mais velhos – começaram a torcer o nariz quando esses autores começaram a sedimentar suas próprias referências, mostrar que cresceram com videogame e filmes de zumbis (e não, não, longe de eu estar falando só de mim.) Passada a euforia, eles se encontravam de fato com o NOVO, e o novo na literatura nunca é tão fácil de se aceitar... nem de aceitar que é novo realmente.
É nesse contexto que, nesta terça-feira, começam, aqui por São Paulo, os lançamentos da antologia Geração Zero Zero, organizada pelo Nelson de Oliveira, publicada pela Língua Geral. É uma reunião de contos, a maioria inédita, do que ele considerou “os 21 melhores ficcionistas brasileiros surgidos no início do século 21.” Qual foi o critério de escolha? Ter publicado pelo menos dois livros, a partir de 2000, e ter “sensibilizado” Nelson, que afinal é escritor, crítico e profundo estudioso da literatura contemporânea.
Na prática, a antologia serve para reunir num só volume os novos nomes que mais repercutiram na mídia e no meio literário, nos últimos anos – estão lá: Flávio Viegas Amoreira, Marcelo Benvenutti, João Filho, Whisner Fraga, Andrea del Fuego, Daniel galera, Marne Lúcio Guedes, Maria Alzira Brun Lemos, Ana Paula Maia, Tony Monti, Lourenço Mutarelli, José Rezende Jr., Sidney Rocha, Carola Saavedra, Paulo Sandrini, Walther Moreira Santos, Carlos Henrique Schroeder, Paulo Scott, Veronica Stigger, Lima Trindade e eu. Pode-se discutir a ausência de alguns nomes, mas sei que alguns simplesmente rejeitaram o convite, por motivos diversos.
Eu também rejeito. Eu não costumo participar de antologias. Participo fora do Brasil, porque lá minha carreira ainda está engatinhando, e é uma chance de ser lido em outras línguas. Mas aqui prefiro me concentrar nos meus próprios livros. Ainda mais porque antologia é uma coisa de você não tem muito controle – já participei de algumas de que me arrependo amargamente (e não, não vou citar aqui, claro). Você não sabe qual será a qualidade dos outros textos, dos outros autores, nem o projeto como um todo. E basta o livro ter uma capa feia para eu desprezá-lo eternamente (vide o meu livro de estréia, Olívio, que até hoje tenho certa vergonha de mostrar, simplesmente por causa da capa, a qual não pude opinar.)
Não! Não! Tá, Kiko Farkas, fala, você FODEU com meu livro de estreia. Que PORRA de capa é essa? Haha.
Pois bem, mas com a Geração Zero Zero é diferente. Não apenas eu achei importante estar nesta seleção – é uma forma de muita gente ler pela primeira vez aqueles novos autores de quem tanto ouviram falar – como eu tinha certeza da qualidade dos textos pelos autores convidados. Estou em boa companhia.
Ana Paula Maia detona, como sempre, numa caçada de javalis, na sua literatura muito própria; Andrea Del Fuego fez um conto muito delicado, com certo realismo esquizofrênico, da relação de um velho com um bancário; Daniel Galera é sempre denso e afetivo; Mutarelli faz poesia do patético; Paulo Sandrini prova como é bom contador de histórias...
Aos autores foi dada uma quantidade de laudas, não de textos. Por isso alguns aparecem com diversos contos curtos, outros com apenas um conto mais longo. Nelson arrisca dizer que, em comum, essa geração tem o gosto pelo “bizarro.” Acho bobagem. Embora eu mesmo tenha rotulado minha literatura de “existencialismo bizarro”, que bizarro seria esse? O conflito e a estranheza estão presentes em qualquer bom texto. O bizarro escatológico (como o de Marcelo Benvenutti nesta antologia) certamente não me pertence. Não vejo nada de bizarro no Galera, nem na Carola Saavedra. É apenas uma generalidade.
O meu “existencialismo bizarro” vem da junção de temas existencialistas com a cultura pop, particularmente sombria, noir, ou, tá bom, gótica. É unir jacarés assassinos aos questionamentos da adolescência. Ambiguidade sexual com navios fantasmas. Mas é apenas um rótulo.
E eu estou na antologia com “Eu Sou A Menina Deste Navio”, que já está no PORNOFANTASMA. Nelson pediu textos inéditos, mas sua antologia saiu atrasada e meu texto já não é mais exclusivo (mas é original, é original!).
É um texto bizarro, fantástico, andrógino, fantasma e bem gay. Apesar de ter muito o clima dessas aventuras clássicas de marinheiro, e todos os personagens terem nomes tirados de A Tempestade, de Shakespeare, a grande inspiração veio de The Legend of Zelda: The Phantom Hourglass – jogo do Nintendo DS. Passei dias naquele cenário, sabe? Lutando contra piratas, navegando em alto mar, e me deu vontade de escrever algo por aí. Eu via aquele bonequinho delicadinho do jogo em meio aos marinheiros, e pensava que, numa história real, ele seria feito de menina em semanas e semanas em alto mar... Por aí já viu.
Só eu vejo maldade?
Teve também muito do clima de Santa Catarina nele, é claro. Eu morava na casa de um pescador (o seu Nelinho, velhinho mais fofo). Eu experimentei um pouco o que era viver à beira mar...
Minha vida de praia, em minha varanda em SC, no começo do ano. Saudade terrível...
Tudo isso, e um pouco mais, gerou o conto. E o livro tem muito mais. Não estou puxando o saco quando elogio os autores. Acho que essa “geração” tem muita coisa de qualidade. Esse termo mesmo, “geração”, já gera muita implicância, ou punhetação de paus no cu, para ficar na minha linguagem sofisticada. É só gente que começou a publicar na mesma época, porque mesmo de idade varia muito, dos trinta para cima.
Não são meus amigos. Não, não são mesmo. Eu posso dizer que não tenho NENHUM amigo nessa antologia. O Nelson é bacana, mas já escreveu umas asneiras de uns livros meus. Ana Paula Maia é foda, gosto dela. Mas ela não bebe, mora no Rio, então nos vemos uma vez a cada dois anos. Galera é foda, mas é hétero... Haha, não temos lá muito em comum. Paulo Scott também... Enfim, é gente que tenho uma boa relação porque são escritores que admiro, mas nenhum deles é meu amigo não.
Lembro agora do que uma das minhas irmãs disse (eu tenho três). Ela é clown (tá, palhaça), faz improviso, e estava falando o que achava dessa modinha de improviso, com programa de TV e tal. Ela achava que isso era sempre positivo. Que quanto mais gente fazendo, mais hype sobre a coisa, mais aumentava o nível, os melhores teriam mais espaço e acabariam ressaltados. Talvez seja esse o saldo da Geração Zero Zero. Eu considero uma das melhores “gerações” da literatura brasileira em muito, muito tempo.
Geração Zero Zero já está sendo vendido, e vai haver vários lançamentos por aí, com os autores locais. Consulte na sua cidade. Abaixo, o próximo lançamento no Rio.
Dia 29, na Livraria da Travessa.