JARDINS BIZARROS
Não é a toa que aqui nasceram os contos de fadas...Copenhague é mesmo mágica... e bizarra. Cidade linda, povo simpatissíssimo, mas tudo naquele clima vintage-fim-do-mundo, difícil de explicar. Parece que estamos em outra época, outro mundo, fim do mundo, e talvez seja assim mesmo.
Toda vez que venho para cá faço amigos instantâneos dos bares da vida. A vida noturna aqui é toda baseada em bares (e a noite já está começando antes das cinco, com o "horário de inverno"), mesmo os clubes são apenas barzinhos um pouco maiores, com pista. A noite gay é bem estranha, umas tavernas cheias de uns vickings quarentões, cinquentões, é uma faixa etária média bem mais alta mesmo (e não é porque caí nos lugares errados, não; é a terceira vez que venho para Copenhague, e já rodei por toda a cena daqui.)
A nova tattoo que fiz em Helsinque.
Nesse contexto, ainda sou petiz, e sempre tem um tiozão amigo me pagando uma bebida. Domingo passado estava num dos bares clássicos, e veio um me alertar que aquele era um lugar gay. "E todo mundo aqui está procurando por sexo. E estão olhando para você, porque você é novo aqui... E agora estão olhando para mim, porque estou conversando com você!"
Me senti naquele roteiro "forasteiro entra numa taverna num povoado distante e atrai todos os olhares"... versão gay.
"Estou tranquilo. Só estou conhecendo a cidade. Não estou procurando por sexo."
"Como não? Você tem problemas com sexo? Sexo é bom!"
"Não tenho problema com sexo... Mas sou um turista, para mim é mais interessante sair pela cidade, conhecer pessoas, do que me trancar necessariamente entre quatro paredes para fazer sexo. Sexo é fácil."
Ele abanou as mãos como se eu estivesse falando bobagem, me pagou outro uísque e apontou para a minha tatuagem (a nova, da "rena-playboy"). "Você é um comedor, eu sei bem, olha só essa sua tatuagem..."
Haha. Ok. Então a tatuagem de "playboy-viado" que fiz em Helsinque é vista por aqui como um símbolo do comedor, o veado um animal que representa virilidade. Haha. Bacana.
Depois de brindar com todo o povo, saí daquele e fui para outro bar. O mesmo contexto vicking-chifrudo-veado-taverna, só que nesse, quando me virei para trás, havia um gordo de bunda de fora levando uns tapas de outros dois.
"O que esse povo tem na cabeça?" Perguntei tentando fazer brodagem com um filipino careca magrelo, sentado no balcão.
"Qual é o problema, você nasceu ontem?" a simpatia me respondeu.
"E onde você nasceu, que o povo toma palmada nos bares, no Iraque?"
A discussão com o filipino continuou com mais uísque e terminou com ele me convidando para jantar na casa dele, no dia seguinte. "Sou bom na cozinha, trabalho com isso. Faço tortas, bolos para casamento..."
"Ah, você é um padeiro?" Provoquei.
"Chaos reigns!"
No final das contas, ontem tivemos um ótimo jantar no apartamento dele: eu, ele, o marido dele e um vizinho velhinho que tem um museu de brinquedos antigos em casa e publicou um livro lindo sobre a história dos ursinhos de pelúcia. Tudo um pouco macabro, é verdade, ainda mais com os animais empalhados que o casal tinha na sala. Mas ficou tudo no terreno folclórico e dos contos de fada. E a comida estava ótima. E eu fiz caipirinhas.
Uma das fotos do livro.
Um dos mostruários do museu do vizinho...
E nenhum lobo mau me comeu.
Mas meus dias aqui não têm sido só de noites, muito pelo contrário. O inverno vem avançando visivelmente, cada dia amanhece mais cedo, as árvores estão cada vez mais nuas e a temperatura vem caindo e caindo; mas ainda estou conseguindo rodar a cidade toda de bicicleta, uns parques lindos.
Hoje também fui ao zoológico. No começo estava achando bem meia boca, umas capivaras, uns pôneis, uns bodes em que as crianças podiam passar a mão. Quem vai a um zoológico para ver bode? Mas aos poucos fui encontrando os "animais fundamentais": leão, tigre, girafa, crocodilo. E o mais impressionante do zoológico de Copenhague é que estão todos numa distância muito mais próxima dos visitantes - não sei se era permitido, mas era só esticar a mão para conseguir tocar numa foca, num pinguim; com um pouquinho de audácia se entrava fácil no cercadinho dos lobos . E os bichos estavam todos bem saidinhos. Não eram aqueles animais apáticos que nem reagem a presença de você. Os bichos pareciam querer se exibir mesmo, seguiam o público. Achei bem divertido.
E para continuar com os programas gays... Amanhã vou ver Annie! Aquele musical da órfã ruivinha. É todo falado em dinamarquês, mas eu já conheço a história e as músicas mesmo.
Quinta volto para Helsinque.