E LENDO A LISTA DA GRANTA...
Os excluídos.
Com Cristiane Lisbôa, escritora e editora.
Lisboa: Naza, hoje saiu a Granta, todo mundo comentando. Tu
tá bem? Vai fazer alguma coisa? Vai ficar em casa? Pega teu cartão de crédito,
compra uma passagem e vem pra cá [Porto Alegre] pra gente beber drinques com
cores que não se misturam. Tô com saudade, tô preocupada, me dá um sinal de
vida. Amo-te.
Nazarian: Ai, Cris, não me azucrine com isso de Granta, por
favor. Estava super bem até AGORA.
Lisboa: Ai, Naza. Poxa. Só queria mesmo saber como tu está.
Enfim. Me desculpe então.
Nazarian: Agora estou bem de novo, só porque abri um
champanhe e estou tomando solito. Mas me senti ultrajado com sua incitação de
alarde por minha parte.
Lisboa: Naza, sou tua amiga. Conversamos sobre isso há
algumas semanas, eu sabia que estavas chateado. Enfim, me desculpe. Não era
minha intenção te ofender.
Nazarian: Bah! Não é pra tanto. Não fiquei ofendido. Só foi
MUITO DIFÍCIL superar isso. Haha. E daí vem você tipo: SANTIAGO, NÃO SE MATOU
PELA GRANTA, NÉ? Haha. Mas ok. Vi a seleção, não me surpreendeu. Achei
que eles pegaram basicamente os indiscutíveis, sem ousadia. Uma coisa de bom gosto, e eu
sei que sou de gosto discutível. Mas tenho de firmar nisso, no que eu gosto e
sei fazer. Inclusive, o texto que eu mandei pra Granta, que era um conto, será
meu próximo romance. Já comecei. Nicole [minha agente] gostou bem da ideia. Se
o romance for sucesso, digo CHUPA GRANTA, se for fracasso, me mato.
Lisboa: Tua mensagem foi drama queen. “Chupa Granta” pode
ser o título. Hahahahahahahahahahahaha. Achei a lista bem óbvia. Ninguém me
espantou. Que sem graça.
Nazarian: Muita gente com instituições por trás, né? E nós
que estamos sós... Achei bacana que o Cristhiano Aguiar está. Que não é tão conhecido,
e é um menino talentoso. Mas nada de surpresas. Todo mundo acadêmico, hétero,
vestidinho de escritor. O importante é isso, PARECER bom escritor.
Lisboa: Aham. Blé. E capa feia. Que explodam. Que bom que tu
tá bem. E tinha champagne.
Nazarian: Tem três garrafas de Veuve Clicquot aqui há
meeeeses. Mas nada nem ninguém para comemorar. Achei que eu merecia abrir uma.
Ah, feio também (A) Napaula Maia não estar.
Lisboa: Ela é boa.
Nazarian: E Andreia, e Veronica, mas acho que essas nem
mandaram, enfim. Marcelo Moutinho...
Lisboa: Enfim, estas listas são sempre tolas. Sinceramente
acho.
Nazarian: Meio palha essa coisa de só ter entrado gente com
formação acadêmica. Porra, eu NEM MENCIONEI minha formação acadêmica no meu
currículo de inscrição, porque pra mim isso é irrelevante para um escritor.
Lisboa: E é.
Nazarian: (Não que eu tenha lá grande formação. Comunicação
na FAAP, né? Haha)
Lisboa: Comunicação na FAAP é teu lado patricinha. Faz
contraste com a parte de roteirista de tele-sexo e maroto [paquito da Mara].
Nazarian: Eu devia ter colocado que fui maroto no currículo
da Granta. Continuaria desclassificado, mas receberia um convite pra G.
Lisboa: E na tarja preta da capa? CHUPA GRANTA. Eu riria por
semanas a fio. Semanas.
Nazarian: Hahaha. Continue se esforçando nessa
conversinha... Que estou pensando em editar isso pra minha coluna...
Lisboa: Me perdoa. Tô morta com farofa em volta. Não consigo
ser inteligente quando tô cansada e de regime. A fome me tira o sarcasmo e o
cansaço, a rapidez. Foda.
Nazarian: Você pode mandar as piadas depois para eu
enxertar.
Lisboa: E palmas na sequência. Como chama isso em roteiro de
comédia ruim? Claque? Cague? Clegue?
Nazarian: Claquete...? Não, é claque.
Lisboa: Clegue é o nome da mulher do Júpiter maçã. Preciso
entrevistar o Maçã.
Nazarian: Eu me surpreendo de ele ainda estar vivo!
Lisboa: Sim. Eu também. Ele é muito, muito doido. Tenho um
pouco de medo. Sabe que Caio [ o gato de
estimação dela] foi morar na praia? Bicha aposentada que se muda pra praia;
classe média.
Nazarian: O gato?
Lisboa: Não, o escritor. Claro que o gato. Ele tava bem
louco, muito grande para um apartamento pequeno, o veterinário disse que ele
precisava de espaço. Fiquei bem triste. Mas amar é deixar livre. Isso o
veterinário disse também.
Nazarian: Bom, mas vamos falar mais da Granta, que se eu for
fazer coluna preciso de material.
Lisboa: Não tenho mais nada pra dizer. Capa feia. Gente
óbvia. Nenhum drama. Nenhum sangue. Nenhuma fofoca.
Nazarian: Eu gostei da capa. Dá uma (bad) trip.
Lisboa: Enfim, uma chatice só. Exatamente como o mundo dos
escritores.
Nazarian: Não sei se vai estar chata, mas sem dúvida vai
estar muito séria.
Lisboa: Chata, Naza. Vai ser chata. Me escuta.
Nazarian: Bom, Geração Zero Zero já é meio chata, mas é uma
seleção bem mais real dos que já fizeram. Não foi feita por um só texto.
Lisboa: Gosto do nome zero-zero, biro-biro.
Nazarian: Viu que a Record lançou um "Geração Subzero",
tipo com os "excluídos" [da Geração Zero Zero]?
Lisboa: Hahahaha. Não vi.
Nazarian: Não. Não são bem os excluídos, são autores que
vendem, mas são ignorados pelo meio literário, tipo André Vianco, Thalita
Rebouças.
Lisboa: A Thalita tem
um apartamento em Portugal. Achei a ideia mara. Adoro autor que vende e detesto
este gueto de gente supostamente inteligente.
Nazarian: E quem nem vende nem é inteligente? Tipo time dos
losers...
Lisboa: É gente feliz. Estão ai, preocupados com as maldades
da Carminha da novela.
Nazarian: Carminha who? Você não esta falando de mim, está?
Lisboa: Tu vende e é inteligente. Não me venha com dramas
existenciais inexistentes a esta hora. Fora que tu é magro- tão melhor ser
magro
Nazarian: Fui magro. Agora sou bombado. Digo, bombado no mau
sentido.
Lisboa: E o XXXXXXXXXXXXX [autor selecionado da Granta]?
Cara de pau mole.
Nazarian: Cuidado que isso entra na minha coluna.
Lisboa: Ele é meio bonitinho. Isso dentro do meu ex-tipo.
Nazarian: Vou postar que tu acha XXXXXXXX pau mole.
Lisboa: Hahahahahah, que horror! Mas tu não acha?
Nazarian: Bom, os paus moles nunca me impediram de ser
feliz.
Lisboa: Ah, é.
Nazarian: Granta, Granta....
Lisboa: Muda o disco.
Nazarian: Estou pensando na minha coluna! Eu vivo do meu sofrimento!
Lisboa: Não faça isso. Ou não diga que fui eu.
Nazarian: Não vou postar que você disse que XXXXXX é pau
mole. Coloco uma tarja preta no bingolim mole dele. Escrito CHUPA GRANTA. De
repente, endurece.
Lisboa: Hahahahahahaha.
Olha, certo que é. [Nesse momento, todos os selecionados da Granta com
problemas de ereção acham que estamos falando deles]. Hahaha. Eu rio sozinha contigo.
Nazarian: Será que a Averbuck mandou?
Lisboa: Sei lá. Mas tem gente boa, né? A Bensimon é boa.
Gosto do Laub. Gosto mesmo. E o Fraia.
Nazarian: O Galera... Porra, a gente tá aprovando muita gente, tá legitimando a seleção. Bem, meia dúzia lá não precisava estar...
Lisboa: Aquela lista do Cuenca [Amores
Expressos] era mais legal, dava pra viajar, rolava uma grana.
Nazarian: Sei lá, essa de repente gera mais business...
Viagens também. Eu estar no Bogotá [39 - dos melhores autores jovens latino-americanos] gerou todas essas minhas viagens
pelas América Latina, Espanha. Mas Brasil caga para América Latina. Aqui não
repercutiu.
Lisboa: Mas adoro o fato de que as pessoas reais nem sabem
que isso existe.
Nazarian: As pessoas reais não sabem que nada do que fazemos
existe. Então em quanto mais coisas pudermos estar - Granta, Zero Zero, Subzero,
Bogotá - melhor. Viagens, Lisba, publicações. É nisso que eu pensava mais pela
Granta. Tô pouco me fodendo se Manuel da Costa Pinto acha se eu sou dos
melhores ou não.
Lisboa: Hora de dormir. Vou ficar rica e te levar pra
viajar, prometo.
Nazarian: Bom, viajar eu já viajei demais. Agora preciso ficar feliz
quando os OUTROS NÃO viajam. É o que eu falo, a felicidade é uma utopia. Melhor
se contentar com o sofrimento alheio. Haha. Beijos.
Os jovens autores selecionados para a Granta são: Cristhiano Aguiar, Javier Arancibia Contreras, Vanessa Barbara, Carol Bensimon, Miguel del Castillo, J.P. Cuenca, Laura Erber, Emilio Fraia, Julián fuks, Daniel Galera, Luisa Geisler, Vinicius Jatobá, Michel Laub, Ricardo Lísias, Chico Mattoso, Antonio Prata, Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy, Leandro Sarmatz e Antônio Zerxenesky.
Parabéns sinceros a eles. E tudo de pior aos jurados (quando vocês estiverem sofrendo, pensem que eu ficarei feliz em saber.)
Só dá para brindar ao sofrimento alheio.