31/07/2012

O QUE ANDA LENDO?



Vivianne Hitomi Wakuda, confeiteira. 

Nazarian: Boneca, vamos fazer minha coluna?

Wakuda: Vamos!

Nazarian: Que está lendo?

Wakuda:  Carvão Animal [Ana Paula Maia].

Nazarian: Ahhhhhhh, sério? Hahaha. Ou só está puxando meu saco porque sabe que sou fã da Namaia?

Wakuda:  Nãaaao. Gosto muito dela

Nazarian: E não tinha lido esse ainda?

Wakuda: Não, tinha comprado, mas demorei a ler. Porque desenterrei Querido Scott, Querida Zelda, que estava na casa da minha mãe, no interior e acabei lendo antes, haha. Relendo aliás.

Nazarian: E o Carvão?

Wakuda:  Li em seguida, gostei! Mas ainda prefiro Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos.

Nazarian: Sim, o Entre Rinhas é o meu favorito dela. Gosto muito do título do Carvão Animal, e também dessa coisa dela seguir o universo dela, mas ampliando para os bombeiros, os crematórios. Aliás, bombeiros trash, toscos, mais próximos dos lixeiros. Haha. Ela acaba com o glamour daquela coisa bombeiro símbolo sexual.

Wakuda:  Siim! Além de achar Entre Rinhas mais visceral.

Nazarian. Sinto que o Carvão Animal tem uma preocupação poético-literária maior, que às vezes parece que conflita um pouco com a crueza do universo dela.

Wakuda:  Exato! Mas não deixa de ser muito bom, dá até para sentir o cheiro dos corpos em chama, nos momentos da cremação. Haha.

Nazarian: Você costuma ler muito literatura brasileira contemporânea, não? Isso não é muito comum para quem não é do meio... Dizem que os 3 mil leitores de literatura contemporânea que o Brasil tem são os 3 mil escritores e críticos que existem.

Wakuda:  Sim, mas isso de uns 8 anos pra cá. Comecei a acompanhar seu blog, e me interessei pelos lançamentos que você citava lá, e passei a ler e conhecer mais esses jovens escritores e achei bem interessante. Resumindo: a culpa é sua.

Nazarian: Ohhh . Agora pode parar de ler todo mundo! Que esse mundo literário só me deu desgosto! Volta pro Harry Potter!

Wakuda: Mas então, antes de 'descobrir' esses novos escritores, ficava muito entre Neil Gaiman, livros de gastronomia, escritores na maioria das vezes internacionais. Porque não os conhecia. 


Nazarian: Hum, então ficava na gastronomia e viu para vender um Mastigando Humanos que achou que era interessante para variar o cardápio?

Wakuda: Nããão. Antes do blog tinha visto seu lançamento na Carta Capital, aí comprei o livro e procurei saber mais.



Nazarian: E você também passou/passa pela vontade de escrever, publicar? Geralmente o que a gente mais ouve dos leitores é "eu também escrevo."

Wakuda: Não, não escrevo, só leio. Talvez num futuro distante pense em publicar um livro de Confeitaria. Mas nada além disso.

Nazarian: Ahhh, meu Deus. Você é a leitora perfeita, Hitomi. Lê, é fiel, e em vez de trazer originais me traz confeitos. [No meu último lançamento, que era meu aniversário, ela me levou um bolo-mousse perfeito.] Se todos fossem iguais a você... Não preciso falar mais nada. Acabou a coluna. Nunca vou encontrar uma leitora melhor. Haha. 


Carvão Animal, romance da carioca Ana Paula Maia, foi publicado em 2011, pela Record. 

30/07/2012

FERIADO DE MIM MESMO



Pronto, chegou a São Paulo a montagem teatral de Feriado de Mim Mesmo, do grupo Teatro de Extremos, do Rio. Por enquanto é num espaço alternativo (e longe), mas é bacana para chegar a outros públicos. E espero que se prolongue em outros espaços de SP e do Brasil...

Já falei aqui, mas sempre é bom repetir, assisti a estreia ano passado, no Rio e fiquei muito, muito feliz com o resultado. Ao mesmo tempo que eles foram muito respeitosos e fiéis ao meu texto, fizeram a montagem deles, muito melhor do que a forma como eu visualizaria esse texto no palco.

Feriado de Mim Mesmo é dos meus livros que tiveram mais repercussão (junto a Mastigando Humanos, o que vendeu mais) e eu fico feliz que ele siga sua vida própria. O filme (que já passou por vários diretores e produtoras) está engavetado. Ainda há perspectivas e possibilidades, mas nada de concreto. Não está fácil eu ganhar as telas. Tudo bem que eu sei que a maior parte da minha obra é complicada de se adaptar, no Brasil, pelo flerte com o fantástico e tudo mais, mas acho que, além de Feriado de Mim Mesmo, Olívio e Pornô-Fantasma (a novelinha contida em Pornofantasma) dariam belos longas. Além disso, acho que A Morte Sem Nome cairia bem nos palcos, com uma atriz fodona. 

Mas é aquela coisa, né? Eu sempre na carreira solo, longe das panelinhas, e ainda sou bem ciumento e desconfiado, confesso que já recusei diversos convites de adaptações que não me pareceram fazer jus ao que eu espero para meus livros. 

Meu mote atual tem sido: "se não pode estar com os melhores, certifique-se de permanecer sozinho."

Tudo a ver com Feriado, aliás, minha apologia ao individualismo. 

Chato de ver que o livro hoje está esgotado. Foi publicado há sete anos, vendeu duas edições e pronto. Longe de ser um bestseller, não justifica uma reedição constante. Eu andei pensando em colocar este e outros dos meus livros esgotados para serem baixados aqui no blog, gratuitamente, mas a verdade é que me interessa mais focar sempre nos novos, nos próximos. Não renego nenhum dos meus livros, mas eles tiveram seu momento, e se surgir uma proposta interessante eu posso reeditá-los no futuro; não vejo muito sentido em ficar insistindo neles quando lancei um livro ano passado, estou lançando um este ano e o próximo provavelmente em 2014. 

Quando eu era jovem e ainda sangrava. 



Falando em lançamentos. Chegou hoje aqui em casa a edição americana de The Future is Not Ours, antologia de literatura latino-americana organizada pelo Diego Trelles Paz, que já saiu em meio-mundo e ganhou alguns prêmios bacanas. Eu estou lá, com Espinha de Peixe, um conto lindinho, mas que acho que representa pouco do que eu faço hoje. De qualquer forma, é bacana estar como único autor brasileiro, sendo publicado até em húngaro.



E para finalizar... Garotos Malditos está na boca do forno. Já pode ser encomendado em alguns sites, como aqui: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30175785&sid=77321398914717477509817318

Eu entendo que é um livro juvenil, com um público específico, então não vou pressionar você para comprar, nem vou fazer noite de autógrafos em São Paulo, para obrigar os amigos. Mas vai ter uma mesa e um lançamento na Bienal, agora em agosto. Assim que eu tiver a data confirmadinha e o flyer, posto aqui.


27/07/2012


FELICIDADE (IN)SUSTENTÁVEL


Não há razão para a felicidade. Tampouco justificativa para o sofrimento. Eu sei bem disso. Da mesma forma que é alienação lamentar-se sem grandes dramas na vida, é alienado achar a vida sempre linda, quando a condição humana é tão difícil. Todo mundo tem motivos para sofrer, e todo mundo pode encontrar razões para ser feliz. O solitário que reclama de falta de amor pode ser alienado diante daquele que perdeu a família num massacre. Quem perdeu o braço num acidente pode se considerar mais infeliz do que quem perdeu a visão para sempre? Falta de dinheiro para pagar as contas não é nada, diante de quem está sequestrado. Então os positivos podem sempre olhar o copo meio cheio, os negativos meio vazio.

Mas otimismo e pessimismo não dependem só de nós. Eu acho. Otimismo e pessimismo são uma questão química. Coisas prazerosas, fatos positivos despertam a química do cérebro que nos faz sentir bem. Fracassos e perdas derrubam o nosso ânimo. E um desequilíbrio químico pode nos fazer incapazes de olhar o lado bom, a química certa pode nos causar uma euforia e um prazer sem limites.

Sei bem disso. E acho que sabe bem quem já botou muito o pé na jaca, como eu. Drogas como o Ecstasy – que eu tomava como se fosse Halls, dez anos atrás – podem te dar um prazer incomparável, e você encontra motivos: é a música que toca, são seus amigos, são tantas coisas boas que a vida ainda reserva para você. E drogas como o Ecstasy podem te dar as piores paranoias: é a festa que acaba, um amor que você sabe que vai embora, a certeza de que nunca mais você terá uma noite tão boa como aquela.

Eu nunca tive momentos de felicidade tão intensos como aqueles que experimentei quimicamente alterado. Mas depois disso nunca consegui ver felicidade e sofrimento da mesma maneira. Hoje me parece que tristeza e felicidade são apenas um jogo, um jogo de química. Ressaca, do que seja, me faz acordar só pensando em suicídio. Um pouco de álcool deixa tudo mais divertido. Falta de cafeína me deixa cansado, cafeína demais me torna irascível. Eu tento cada vez mais fugir desse jogo da química. Escapar completamente é impossível.

Focar no trabalho, praticar esportes intensamente na natureza, são coisas que me ajudam naturalmente a ser mais feliz. Dezenas de amigos vivem à base de tarja preta, e recomendam, deve ser mais fácil, mas eu não confio. Sou um ser obsessivo e sei que, se usar essa muleta, nunca mais caminharei sozinho. Já conheço bem o poder da química. Felizmente tenho uma determinação sobre-humana e consegui abrir mão de tudo o que me fazia insustentavelmente feliz. Felizmente tenho uma determinação sobre-humana e nunca me deixei viciar pelo que iria me destruir...

Tenho me sentido um domador de mim mesmo, ou dos meus sentimentos, me esforçando diariamente para manter tudo sob controle. Abrindo mão de grandes euforias para não precisar suportar a crise do dia seguinte. Até porque, hoje em dia nenhuma euforia é maior do que as crises. Talvez sejam sequelas das drogas, quem sabe,  talvez seja apenas a idade, a vida. O peso da perda é maior do que o da conquista. Ou talvez seja apenas meu olhar alienado, mimado, negativo...

Mas se me lembro bem da infância... Mas me lembro bem da infância, e me lembro o quanto eu achava a vida terrível. O negativismo foi algo que nasceu comigo. 

Fora isso, está tudo lindo. 

25/07/2012


   O QUE ANDA LENDO?                 



Com Mayra Dias Gomes. (Publicado na revista Metáfora de julho.)


Nazarian: Querida, o que anda lendo?
  
Dias Gomes: Estava lendo O Iluminado do Stephen King
Nazarian: Ah, bacana. Esse eu nunca li. E como é comparado com o filme e tal.

Dias Gomes: O filme é um dos meus preferidos, mas o livro é melhor ainda porque você pode entrar na cabeça dos personagens. Do pai, da mãe, do filho. Você descobre o histórico e os segredos daquela família, do que acontecia quando o pai bebia, dos medos da mãe e da criança, e segue a lógica no raciocínio de cada um depois que se mudam para o Overlook Hotel e o pai começa a ficar louco. Basicamente você tem todos os pontos de vista...

Nazarian: É bem raro um filme que seja melhor do que o livro, não? It, foi um livro importante na minha adolescência. Mas tenho a impressão de que Stephen King entrou numa coisa meio fantástica meio metafísica, não? Tem lido as coisas mais recentes dele?

Dias Gomes: Sim, com certeza. O livro é sempre melhor do que o filme. Ainda não li nada mais recente dele. Para ser sincera, não faz muito tempo que comecei a ler os livros dele – por enquanto foram Carrie, O Iluminado e Cemitério Maldito. Queria comparar os filmes aos livros.

Nazarian: Tudo o que ele faz vira filme, né? É mais ou menos como o Mutarelli no Brasil. Mutarelli é o Stephen King brasileiro. Haha.

Dias Gomes: Também quero ser assim!

Nazarian: Pô, seus romances dão ótimos filmes. Se o cinema no Brasil fosse um pouquinho mais… produtivo.

Dias Gomes :Fugalaça [primeiro romance de Mayra] está virando filme… Meu próximo livro é um thriller. Minha primeira tentativa nesse gênero. Minha meta é transformá-lo num filme.

Nazarian: Mas o Brasil ainda é muito fechado para o terror, o thriller, é a praga do realismo, tudo é calcado no realismo aqui. Fora que não há muita abertura no mercado lá fora também. As editoras estrangeiras quando procuram um autor brasileiro querem algo brasileiro-coco-samba-favela, não algo mais fantástico, sobrenatural ou sinistro.

Dias Gomes: Esse meu próximo livro é ficção, mas baseado em um assassinato que presenciei em Hollywood, no antigo prédio onde eu morava na Calçada da Fama, de qual Charlie Chaplin era um dos donos. A personagem principal é uma atriz de Hollywood que foi famosa, mas teve sua carreira destruída por problemas judiciais. É sobre o lado negro de Hollywood - motivado pela ganância, inveja, obsessão por fama. Então tenho lido só terror e sobre casos judiciais.

No Brasil, a editora Ponto de Leitura lançou O Iluminado e outros romances de Stephen King, como Carrie, no formato de bolso, em Português.

18/07/2012


O QUE ANDA LENDO?



Leandro Juliani, modelo. 


Nazarian: Quer fazer minha coluna, boneco?

Juliani: Como assim? Hahahahaha

Nazarian: Coluna ESCRITA (a coluna servical prefiro EU fazer...).

Juliani: Eu sei disso seu besta... hehehehe

Nazarian: Eu tenho pego todo tipo de pessoas, bato um papo rapidinho aqui sobre o que a pessoa está lendo e publico em forma de bate-papo mesmo, no meu blog. Uma vez por mês sai numa revista de literatura também, mas lá faço só com escritores.

Juliani: Entendi.

Nazarian: E aí, o que tem lido?

Juliani: Ultimamente ando tão bitolado com assuntos da facul que tenho tido pouco tempo para me dedicar à leituras por hobby... O último livro que li foi O Mundo de Sofia...Tão infantil...rs

Nazarian: Ahh, não é tão infantil... Bem, falando em infantil, eu imagino que esse livro seja em parte responsável por esse surto de Sofias que estão nascendo por aí, nome da moda... Mas, gostou?

Juliani: Gostei, é interessante para os totalmente leigos em filosofia poderem descobrir um pouco mais... Assim como eu...heheheheh

Nazarian: Mas é escrito como ficção, não? Não segue uma trama? Já ouvi falar muito desse livro, mas nunca li.

Juliani: É escrito como ficção sim, mas tem uma ordem de acontecimentos...

Nazarian: Como é a trama em si?

Juliani: Bom, Sofia tem 15 anos e um dia voltando pra casa encontrou primeiramente dois envelopes... Dentro desses envelopes há conteúdos que a fazem questionar sua existência, de onde viemos, para onde vamos, etc... E isso se repete com o passar dos dias, despertando-lhe ainda mais o interesse...

Nazarian: Um tarado a está perseguindo...

Juliani: Não é um tarado...kkkkkkkkkkk Mais para frente ela irá descobrir que é seu próprio pai que lhe envias essas correspondências...

Nazarian: Então essa é a moldura fictícia? As perguntas que assolam a filosofia (e a Sofia) vão chegando em envelopes anônimos fazendo ela questionar sua realidade?

Juliani: Exatamente, ao mesmo tempo que lhe dão mais clareza sobre os filósofos da natureza...

Nazarian: "Sofia era uma menina muito inquieta, porém muito feia, coitada. Tinha dúvidas existencialistas e o único homem que lhe mandava cartas era seu próprio pai."

Juliani: hahahahahhaah. Não tinha pensado por esse ponto de vista... Ela não tinha interesse por esse assunto... Nunca tinha se questionado sobre se tinha vindo da barriga da sua mãe ou sido feita pelo cosmos...

Nazarian: Bom, eu posso estar sendo extremamente machista, mas talvez as questões fundamentalmente existencialistas nasçam mesmo com os homens... As mulheres acho que procuram resolver isso... com um homem. Haha. Digo, as mulheres talvez resolvam o "de onde vim" com um "para onde vou" mais concreto, sendo capazes de engravidar. A gravidez talvez seja a maior manobra anti-existencialista...

Juliani: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Ai, Santiago, to chorando de rir com sua versão do livro....

Nazarian: O homem, mesmo quando se torna pai, permanece essencialmente um filho. Afinal "pai" é um papel meio acessório, dispensável... Você prefere ler coisas assim, com um fundo didático por trás ou curte ficção/entretenimento também?

Juliani: Na verdade li esse livro por indicação de um professor... Mas curto também alguns temas puramente fictícios...

Nazarian:  Em que linha?

Juliani: Li algum tempo atrás também Histórias Extraordinárias.

Nazarian: Uh-hu, Poe. Sabia que tinhas um lado gótico...

Juliani: Achei interessante...Essa linha do Terror me fascina bastante tb... Achei rico e cheio de detalhes...

Nazarian: Hum, hum, agora estamos chegando a algum lugar... Hehehe. Bom, O Mundo de Sofia é um sucesso, né? Você arrisca dizer por quê?

Juliani: Porque fala sobre Filosofia de uma forma que facilita a compreensão... Sem ser maçante... Entende?

Nazarian: Hum, é, as pessoas sempre querem conhecimentos objetivos, mesmo num livro pretensamente de ficção...

Juliani: Exato!!!

O Mundo de Sofia foi publicado no Brasil pela Cia das Letras. 

13/07/2012

LEMBRANÇAS DE MORTES PASSADAS


Eu, aos 9. 


- Quando eu tinha uns cinco, seis anos, tive uma daquelas febres de criança. Minha mãe voltou do trabalho e me trouxe bonecos de borracha do Pernalonga, da Pantera Cor-de-rosa, do Tom & Jerry. Não entendi direito o que eu havia feito para merecer presentes, mas foi instantaneamente instaurado em minha mente (por "reforçamento positivo") que era bom ficar doente.

- Aos 18, fui operado de apendicite e fiquei internado no Sírio Libanês. Além da família, minha avó, minhas tias, vieram me visitar a menina que eu namorava e o menino com quem eu ficava. A chapação da anestesia geral tornou minhas lembranças mais oníricas e prazerosas. E que falta que me faz, desde então, uma cama cheia de movimentos e posições.

- Aos 24, defendi o bar que eu trabalhava de um assalto. Levei quatro tiros e fiquei em coma quinze dias. Mas nesse período tive os delírios que iriam gerar A Morte Sem N.... Ah, é mentira.

- Aos 27 eu tinha um namorado loiro, russo e cabeludo, e isso acabava comigo. Quando eu tinha uma gripe, uma febre, uma dor de siso, eu até procurava colo. Mas era ele deitar comigo para confirmar que eu ainda tinha muita saúde. E assim nós nos matávamos aos poucos.

- Nesta semana, após anos de pura saúde, tive uma febre de 39 graus. Achei gostoso não precisar sair, não precisar comer, não precisar nadar. Dormi umas 20 horas por dia, trabalhei umas 4 - na cama. Teria sido melhor se OS FILHOS DA PUTA dos vizinhos não estivessem (como sempre) martelando o prédio inteiro reformas abaixo. De toda forma, deu pra aproveitar, por dois dias. Na noite do segundo já estava hiperativo, sem sono, sem febre - bem, estou postando isso agora, de madrugada. Checo o termômetro e confirmo: Merda, amanhã vou ter de ir pra escola.


09/07/2012

 E LENDO A LISTA DA GRANTA...


Os excluídos.

Com Cristiane Lisbôa, escritora e editora. 


Lisboa: Naza, hoje saiu a Granta, todo mundo comentando. Tu tá bem? Vai fazer alguma coisa? Vai ficar em casa? Pega teu cartão de crédito, compra uma passagem e vem pra cá [Porto Alegre] pra gente beber drinques com cores que não se misturam. Tô com saudade, tô preocupada, me dá um sinal de vida. Amo-te.

Nazarian: Ai, Cris, não me azucrine com isso de Granta, por favor. Estava super bem até AGORA.


Lisboa: Ai, Naza. Poxa. Só queria mesmo saber como tu está. Enfim. Me desculpe então.

Nazarian: Agora estou bem de novo, só porque abri um champanhe e estou tomando solito. Mas me senti ultrajado com sua incitação de alarde por minha parte.

Lisboa: Naza, sou tua amiga. Conversamos sobre isso há algumas semanas, eu sabia que estavas chateado. Enfim, me desculpe. Não era minha intenção te ofender.

Nazarian: Bah! Não é pra tanto. Não fiquei ofendido. Só foi MUITO DIFÍCIL superar isso. Haha. E daí vem você tipo: SANTIAGO, NÃO SE MATOU PELA GRANTA, NÉ? Haha. Mas ok. Vi a seleção, não me surpreendeu. Achei que eles pegaram basicamente os indiscutíveis, sem ousadia. Uma coisa de bom gosto, e eu sei que sou de gosto discutível. Mas tenho de firmar nisso, no que eu gosto e sei fazer. Inclusive, o texto que eu mandei pra Granta, que era um conto, será meu próximo romance. Já comecei. Nicole [minha agente] gostou bem da ideia. Se o romance for sucesso, digo CHUPA GRANTA, se for fracasso, me mato.

Lisboa: Tua mensagem foi drama queen. “Chupa Granta” pode ser o título. Hahahahahahahahahahahaha. Achei a lista bem óbvia. Ninguém me espantou. Que sem graça.

Nazarian: Muita gente com instituições por trás, né? E nós que estamos sós... Achei bacana que o Cristhiano Aguiar está. Que não é tão conhecido, e é um menino talentoso. Mas nada de surpresas. Todo mundo acadêmico, hétero, vestidinho de escritor. O importante é isso, PARECER bom escritor. 

Lisboa: Aham. Blé. E capa feia. Que explodam. Que bom que tu tá bem. E tinha champagne.

Nazarian: Tem três garrafas de Veuve Clicquot aqui há meeeeses. Mas nada nem ninguém para comemorar. Achei que eu merecia abrir uma. Ah, feio também  (A) Napaula Maia não estar.

Lisboa: Ela é boa.

Nazarian: E Andreia, e Veronica, mas acho que essas nem mandaram, enfim. Marcelo Moutinho...

Lisboa: Enfim, estas listas são sempre tolas. Sinceramente acho.

Nazarian: Meio palha essa coisa de só ter entrado gente com formação acadêmica. Porra, eu NEM MENCIONEI minha formação acadêmica no meu currículo de inscrição, porque pra mim isso é irrelevante para um escritor.

Lisboa: E é.

Nazarian: (Não que eu tenha lá grande formação. Comunicação na FAAP, né? Haha)

Lisboa: Comunicação na FAAP é teu lado patricinha. Faz contraste com a parte de roteirista de tele-sexo e maroto [paquito da Mara].

Nazarian: Eu devia ter colocado que fui maroto no currículo da Granta. Continuaria desclassificado, mas receberia um convite pra G.

Lisboa: E na tarja preta da capa? CHUPA GRANTA. Eu riria por semanas a fio. Semanas.

Nazarian: Hahaha. Continue se esforçando nessa conversinha... Que estou pensando em editar isso pra minha coluna...

Lisboa: Me perdoa. Tô morta com farofa em volta. Não consigo ser inteligente quando tô cansada e de regime. A fome me tira o sarcasmo e o cansaço, a rapidez. Foda.

Nazarian: Você pode mandar as piadas depois para eu enxertar.

Lisboa: E palmas na sequência. Como chama isso em roteiro de comédia ruim? Claque? Cague? Clegue?

Nazarian: Claquete...? Não, é claque.

Lisboa: Clegue é o nome da mulher do Júpiter maçã. Preciso entrevistar o Maçã.

Nazarian: Eu me surpreendo de ele ainda estar vivo!

Lisboa: Sim. Eu também. Ele é muito, muito doido. Tenho um pouco de medo.  Sabe que Caio [ o gato de estimação dela] foi morar na praia? Bicha aposentada que se muda pra praia; classe média.

Nazarian: O gato?

Lisboa: Não, o escritor. Claro que o gato. Ele tava bem louco, muito grande para um apartamento pequeno, o veterinário disse que ele precisava de espaço. Fiquei bem triste. Mas amar é deixar livre. Isso o veterinário disse também.

Nazarian: Bom, mas vamos falar mais da Granta, que se eu for fazer coluna preciso de material.

Lisboa: Não tenho mais nada pra dizer. Capa feia. Gente óbvia. Nenhum drama. Nenhum sangue. Nenhuma fofoca. 

Nazarian: Eu gostei da capa. Dá uma (bad) trip.

Lisboa: Enfim, uma chatice só. Exatamente como o mundo dos escritores.

Nazarian: Não sei se vai estar chata, mas sem dúvida vai estar muito séria.

Lisboa: Chata, Naza. Vai ser chata. Me escuta.

Nazarian: Bom, Geração Zero Zero já é meio chata, mas é uma seleção bem mais real dos que já fizeram. Não foi feita por um só texto.

Lisboa: Gosto do nome zero-zero, biro-biro.

Nazarian: Viu que a Record lançou um "Geração Subzero", tipo com os "excluídos" [da Geração Zero Zero]?

Lisboa: Hahahaha. Não vi. 

Nazarian: Não. Não são bem os excluídos, são autores que vendem, mas são ignorados pelo meio literário, tipo André Vianco, Thalita Rebouças.

Lisboa:  A Thalita tem um apartamento em Portugal. Achei a ideia mara. Adoro autor que vende e detesto este gueto de gente supostamente inteligente.

Nazarian: E quem nem vende nem é inteligente? Tipo time dos losers...

Lisboa: É gente feliz. Estão ai, preocupados com as maldades da Carminha da novela.

Nazarian: Carminha who? Você não esta falando de mim, está?

Lisboa: Tu vende e é inteligente. Não me venha com dramas existenciais inexistentes a esta hora. Fora que tu é magro- tão melhor ser magro

Nazarian: Fui magro. Agora sou bombado. Digo, bombado no mau sentido.

Lisboa: E o XXXXXXXXXXXXX [autor selecionado da Granta]? Cara de pau mole.

Nazarian: Cuidado que isso entra na minha coluna.

Lisboa: Ele é meio bonitinho. Isso dentro do meu ex-tipo.

Nazarian: Vou postar que tu acha XXXXXXXX pau mole.

Lisboa: Hahahahahah, que horror! Mas tu não acha?

Nazarian: Bom, os paus moles nunca me impediram de ser feliz.

Lisboa: Ah, é.

Nazarian: Granta, Granta....

Lisboa: Muda o disco. 

Nazarian: Estou pensando na minha coluna! Eu vivo do meu sofrimento!

Lisboa: Não faça isso. Ou não diga que fui eu.

Nazarian: Não vou postar que você disse que XXXXXX é pau mole. Coloco uma tarja preta no bingolim mole dele. Escrito CHUPA GRANTA. De repente, endurece.

Lisboa: Hahahahahahaha.  Olha, certo que é. [Nesse momento, todos os selecionados da Granta com problemas de ereção acham que estamos falando deles].  Hahaha. Eu rio sozinha contigo.

Nazarian: Será que a Averbuck mandou?

Lisboa: Sei lá. Mas tem gente boa, né? A Bensimon é boa. Gosto do Laub. Gosto mesmo. E o Fraia. 


Nazarian: O Galera... Porra, a gente tá aprovando muita gente, tá legitimando a seleção. Bem, meia dúzia lá não precisava estar...


Lisboa: Aquela lista do Cuenca [Amores Expressos] era mais legal, dava pra viajar, rolava uma grana.

Nazarian: Sei lá, essa de repente gera mais business... Viagens também. Eu estar no Bogotá  [39 - dos melhores autores jovens latino-americanos] gerou todas essas minhas viagens pelas América Latina, Espanha. Mas Brasil caga para América Latina. Aqui não repercutiu.

Lisboa: Mas adoro o fato de que as pessoas reais nem sabem que isso existe.

Nazarian: As pessoas reais não sabem que nada do que fazemos existe. Então em quanto mais coisas pudermos estar - Granta, Zero Zero, Subzero, Bogotá - melhor. Viagens, Lisba, publicações. É nisso que eu pensava mais pela Granta. Tô pouco me fodendo se Manuel da Costa Pinto acha se eu sou dos melhores ou não.

Lisboa: Hora de dormir. Vou ficar rica e te levar pra viajar, prometo.

Nazarian: Bom, viajar eu já viajei demais. Agora preciso ficar feliz quando os OUTROS NÃO viajam. É o que eu falo, a felicidade é uma utopia. Melhor se contentar com o sofrimento alheio. Haha. Beijos. 



Os jovens autores selecionados para a Granta são: Cristhiano Aguiar, Javier Arancibia Contreras, Vanessa Barbara, Carol Bensimon, Miguel del Castillo, J.P. Cuenca, Laura Erber, Emilio Fraia, Julián fuks, Daniel Galera, Luisa Geisler, Vinicius Jatobá, Michel Laub, Ricardo Lísias, Chico Mattoso, Antonio Prata, Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy, Leandro Sarmatz e Antônio Zerxenesky.


Parabéns sinceros a eles. E tudo de pior aos jurados (quando vocês estiverem sofrendo, pensem que eu ficarei feliz em saber.)




Só dá para brindar ao sofrimento alheio. 



04/07/2012

O QUE ANDA LENDO?
Charly Braun, cineasta. 


Nazarian: Charly, bora? O que anda lendo?

Braun: Agora estou lendo Argentinos, de Jorge Lanata, um grande jornalista do país hermano que é uma espécie de Michael Moore e consegue ser uma das poucas vozes ativas de peso contra o atual (e catastrófico) governo de Cristina Kirschner.

Nazarian: Hum, eu li o recorte de jornal que você postou. Está preparando algo sobre o tema ou é curiosidade de cidadão mesmo?

Braun: Eu sou metade argentino e esse livro na verdade é um livro muito mordaz que conta a história do país desde o seu início. Decidi conhecer um pouco mais, pra tentar entender esta minha outra metade. Confesso que a história deles é bem mais trágica do que a aparente elegância de Buenos Aires pode insinuar.

NazarianAchei que você era metade uruguaio...

Braun: Sou 50% brasileiro, 30% argentino, 10% Uruguaio e os outros 10% não decidi....

Nazarian: Paraguaio que yo sei...

Braun: Hahahahaha...  Na verdade, avô inglês e outro chileno, avó gaúcha e a outra uruguaia. Pai argentino, mãe brasileira e nascido no Rio. É complexo! Mas queria falar também do livro anterior que li a algumas semanas atrás. Retrato de um Viciado quando Jovem, Bill Clegg. 

Nazarian: Hum, é não ficção, não é? Que tal?

Braun: Um daqueles livros que você não consegue largar! Visceral, uma autobiografia fascinante sobre a descida ao fundo do poço de um jovem agente literário de sucesso.

Nazarian: "Jovem agente literário de sucesso" me parece um paradoxo...

Braun: Sim, mas falamos de América, terra onde essas coisas são possíveis... rs. Mas é curioso como cheguei nesse título. Tenho um amigo, o cineasta Jonathan Nossiter, que me indicou um filme de um amigo dele que estaria no Festival de cinema de Tribeca, em NY. Chama-se Keep The Lights On. Fui sem muita expectativa e o filme é muito bom. Conta a história de um relacionamento, ao longo de dez anos, que termina porque um jovem agente literário de sucesso não consegue conter seu vício (crack). No bate papo após a sessão o diretor contou que era um filme autobiográfico, sobre a história dele. Descobri depois que seu parceiro era o Bill Clegg, que havia contado a sua versão da história, mas falando menos da relação e mais do vício. Comprei o livro e não consegui parar de ler. Uma história assustadora, muita bem escrita, de uma franqueza assustadora.O livro foi editado em português pela Cia. da Letras. Espero que alguém traga o filme também porque é muito bom!

Nazarian: Eu estava conversando com a Tatiana Salem Levy esses dias sobre isso, sobre esses livros de DROGAXX, que mesmo quando mostram o lado sórdido e verdadeiro acabam gerando uma curiosidade, uma vontade... Não é assim?

Braun: Sim, geram isso sim, ainda mais neste caso. Um cara jovem, bonito, educado, com uma profissão de sucesso, que joga tudo pela janela: carreira, dinheiro, amor, família, tudo. É uma loucura!

Nazarian: Mas não entendi direito, o filme é baseado no livro?

Braun: Não. Pelo que entendi o Bill escreveu o livro antes, e depois o Ira fez o filme. São duas obras bem diferentes, mas ao mesmo tempo muito complementares.

Nazarian: Ah, então os dois eram um casal, isso?

Braun: Sim, eram. O filme é uma grande e trágica história de amor, no fundo.O livro já vai mais pro lado do vício e seus psicologismos.

Nazarian: (Você tem que me explicar, que não estou acostumado com esse mundo de homossexualidades. Para mim "parceiro" é tipo brother, brow, haha)

Braun: Hahahaha

Nazarian: Mas enfim, o cara é jovem, bem sucedido, tem um período viciado em crack, escreve um livro, tem adaptação para o sistema, é traduzido em diversas línguas... Acho que não é das piores propagandas do crack.

Braun: Não, porque ele consegue sair do vício. Mas no caminho põe seus anos de ouro a perder.

Nazarian: EU TENHO PASSADO UM INFERNO MAIOR COM NUTELLA!

Braun: Ele chega no fundo do poço mesmo, quase morre. É muito triste.

Nazarian: Vou comprar... Embora eu tenha um pouco de medo de ler essas coisas, ando tão purinho...

Brau: hahahaha

Retrato de um Viciado Quando Jovem foi lançado no Brasil pela Cia das Letras. 

02/07/2012

O EXISTENCIALISMO BIZARRO COMPENSA



Vampiros não são fofinhos. Lobisomens estão cheios de pulgas, e zumbis fedem como um esgoto a céu aberto. Acredite em mim, eu sei do que estou falando. Não só porque sou um especialista em filmes de terror, mas porque meus pais tiveram a brilhante ideia de me matricular num colégio para monstros.  Ok, ok, sei que pode parecer bem legal. Tipo, aprender a virar morcego em vez das equações exponenciais; ter de decorar todos os assassinatos do Jason no lugar da tabela periódica. Além do mais, minha diretora é uma baita gostosa. Mas... do que eu estou reclamando? Pô, tem gente MORRENDO! Derreteram a cara de um colega meu com ácido! Você acha isso divertido? O que há de errado com você?! Bom, senta aí então que eu acho que você vai gostar dessa história. 



Taí. Essa é a capa do meu romance juvenil, que sai no próximo mês, pela Record. Foi ilustrado pelo Lestrange e teve patrocínio da Petrobrás. Um desafio bacana escrever algo especificamente para esse público, até porque será meu sétimo livro, e fico procurando alternativas para que cada nova publicação não seja apenas "mais uma", para eu mesmo não me repetir, buscar outros formatos, outros públicos, outros resultados...

Conversei bastante sobre isso este final de semana. Fui jantar ontem com minha agente, Nicole, que sempre me dá valiosos conselhos de carreira. Editora no Brasil, salvo raríssimas exceções, não trabalha a carreira do autor, só trabalha o livro. E eu mesmo sou muito pouco integrado ao meio literário, não frequento, não é minha turma, não tenho muito com quem bater bola. Marcelino Freire é dos meus raros amigos escritores (e ele é meu AMIGO, pelo amor de Deus. Tem tanta gente que acha que a gente é namorado, ou tem um caso, que até livro pra ele agora mandam entregar na minha casa - Haha. Porra, o povo ainda não entendeu que meu apetite é só para os andróginos, delicados e alternativos?). Também encontrei com ele este final de semana e também pudemos trocar figurinhas (figurinhas!!!). Há um bom tempo me sinto numa encruzilhada na carreira, agora as coisas começam a ficar mais claras...

Com Nicole, planejando como DESTRUIR o mundo. ("Conquistar" já não é uma opção.)


Falando nisso, tem novas publicações internacionais vindo aí. "Eu Sou a Menina Deste Navio" (conto do Pornofantasma) sairá numa antologia na Alemanha. "Espinha de Peixe" está na antologia El Futuro No És Nuestro, de autores latino americanos, que já foi publicada numa dúzia de países e agora sai em inglês, nos EUA. E o Mastigando Humanos está para sair na Espanha, se a Espanha não acabar antes...

De resto muito trabalho, roteiros, resenhas, pareceres, traduções, entrevistas. Estar em São Paulo faz toda a diferença para os trabalhos virem, mesmo que eu continue trabalhando em casa. Mas não deixo de dar uma escapadinha para Floripa todo mês. A natureza me masturba. 



NESTE SÁBADO!