O QUE ANDA LENDO?
Braun: Sim, geram isso sim, ainda mais neste caso. Um cara jovem, bonito, educado, com uma profissão de
sucesso, que joga tudo pela janela: carreira, dinheiro, amor, família, tudo. É
uma loucura!
Retrato de um Viciado Quando Jovem foi lançado no Brasil pela Cia das Letras.
Charly Braun, cineasta.
Nazarian: Charly, bora? O que anda lendo?
Braun: Agora estou lendo Argentinos, de Jorge Lanata, um grande jornalista
do país hermano que é uma espécie de Michael Moore e consegue ser uma das
poucas vozes ativas de peso contra o atual (e catastrófico) governo de Cristina
Kirschner.
Nazarian: Hum, eu li o recorte de jornal que você postou. Está
preparando algo sobre o tema ou é curiosidade de cidadão mesmo?
Braun: Eu sou metade argentino e esse livro na verdade é um livro
muito mordaz que conta a história do país desde o seu início. Decidi conhecer
um pouco mais, pra tentar entender esta minha outra metade. Confesso que a
história deles é bem mais trágica do que a aparente elegância de Buenos Aires
pode insinuar.
Nazarian: Achei que você era metade uruguaio...
Braun: Sou 50% brasileiro, 30% argentino, 10% Uruguaio e os outros
10% não decidi....
Nazarian: Paraguaio que yo sei...
Braun: Hahahahaha... Na verdade, avô inglês e outro chileno, avó gaúcha e a outra uruguaia. Pai argentino, mãe brasileira e nascido no Rio. É complexo! Mas queria falar também do livro anterior que li a algumas semanas atrás. Retrato de um Viciado quando Jovem, Bill Clegg.
Nazarian: Hum, é não ficção, não é? Que tal?
Braun: Um daqueles livros que você não consegue largar! Visceral,
uma autobiografia fascinante sobre a descida ao fundo do poço de um jovem
agente literário de sucesso.
Nazarian: "Jovem agente literário de sucesso" me parece um
paradoxo...
Braun: Sim, mas falamos de América, terra onde essas coisas são
possíveis... rs. Mas é curioso como cheguei nesse título. Tenho um amigo, o cineasta Jonathan Nossiter, que me indicou
um filme de um amigo dele que estaria no Festival de cinema de Tribeca, em NY.
Chama-se Keep The Lights On. Fui sem muita expectativa e o filme é
muito bom. Conta a história de um relacionamento, ao longo de dez anos, que
termina porque um jovem agente literário de sucesso não consegue conter seu
vício (crack). No bate papo após a sessão o diretor contou que era um filme
autobiográfico, sobre a história dele. Descobri depois que seu parceiro era o
Bill Clegg, que havia contado a sua versão da história, mas falando menos da
relação e mais do vício. Comprei o livro e não consegui parar de ler. Uma
história assustadora, muita bem escrita, de uma franqueza assustadora.O livro foi editado em português pela Cia. da Letras. Espero que alguém traga o filme também porque é muito bom!
Nazarian: Eu estava conversando com a Tatiana Salem Levy esses dias
sobre isso, sobre esses livros de DROGAXX, que mesmo quando mostram o lado
sórdido e verdadeiro acabam gerando uma curiosidade, uma vontade... Não é
assim?
Nazarian: Mas não entendi direito, o filme é baseado no livro?
Braun: Não. Pelo que entendi o Bill escreveu o livro antes, e
depois o Ira fez o filme. São duas obras bem diferentes, mas ao mesmo tempo
muito complementares.
Nazarian: Ah, então os dois eram um casal, isso?
Braun: Sim, eram. O filme é uma grande e trágica história de amor, no fundo.O livro já vai mais pro lado do vício e seus
psicologismos.
Nazarian: (Você tem que me explicar, que não estou acostumado com esse
mundo de homossexualidades. Para mim "parceiro" é tipo brother, brow, haha)
Braun: Hahahaha
Nazarian: Mas enfim, o cara é jovem, bem sucedido, tem um período
viciado em crack, escreve um livro, tem adaptação para o sistema, é traduzido
em diversas línguas... Acho que não é das piores propagandas do crack.
Braun: Não, porque ele consegue sair do vício. Mas no caminho põe
seus anos de ouro a perder.
Nazarian: EU TENHO PASSADO UM INFERNO MAIOR COM NUTELLA!
Braun: Ele chega no fundo do poço mesmo, quase morre. É muito
triste.
Nazarian: Vou comprar... Embora eu tenha
um pouco de medo de ler essas coisas, ando tão purinho...
Brau: hahahaha