17/03/2013

NOVOS ADULTOS, VELHOS LEITORES


Finalmente sai esta semana na Espanha a tradução de Mastigando Humanos, pela Ediciones Ambulantes. O livro também sai daqui a alguns meses na Itália e devo fazer uma pequena turnezinha pelos dois países em breve. 

Não tenho tido muita sorte com minhas publicações no exterior... Bem, não tenho tido muita sorte com minha VIDA em geral, parece que há um bom tempo que fizeram um trabalho contra mim, amarraram meu nome na boca do sapo, empacaram minha vida profissional, financeira, amorosa, NADA vem dando certo e só não desisti ainda de respirar porque chafurdo no passado glorioso onde conheci a felicidade em suas versões orgânicas, sintéticas e abstratas.  

Marco Feliciano, Silas Malafaia e Edir Macedo bem que tentaram me alertar. Quem cultiva o mal, quem investe na sordidez não pode colher nada além de sofrimento, eu entendo. Não é brincadeira não, eu sempre busco retratar o lado negro, contestar os valores do bom senso, atentar contra a moral, e por isso pago o preço. Mas assim como Lúcifer tem sua função nos planos do Senhor, eu também estou realizando um trabalho importante ao expor o lado sórdido do ser-humano. E acho que por isso Deus não favorece os planos de felicidade para mim. 

Voltando a mastigar humanos, postei o aviso da publicação espanhola no Facebook, e foi lindo ver os comentários de antigos leitores: 

"Eu assumo: roubei mastigando humanos da biblioteca da escola por não achar em lugar
nenhum pra comprar. Não me arrependo."

"Eu tambem roubei um da biblioteca da escola. Graças a essa edição escolar, li o melhor livro que  um adolescente podia ler na vida!!! Simplesmente fantástico!!!"

"Melhor livro da minha vida pqp. Quem diria que eu ia achar alguma coisa de interessante na biblioteca da escola."

"Adoro esse livro!"

"Quase peguei o Mastigando Humanos da biblioteca também, mas consegui achar todos os livros dele pela internet. Meu mastigando humanos chega amanhã <333 font="">

"Poxa... E eu pensando que tinha sido a ÚNICA a roubar esse livro na biblioteca da escola! Cerca de um ano atrás (ou mais que isso, nem lembro) eu até enviei um e-mail pra o Santiago Nazarian, falando sobre o roubo e reclamando do preço salgado de "O Prédio, O Tédio e O Menino Cego" (infelizmente não achei ele em nenhuma biblioteca ainda ). Acho que ele nem lembra mais desse meu e-mail... Mas foi muito engraçado. Tudo. A adolescência com Mastigando Humanos, bom demais."



"Parabéns! Emprestei o meu volume a uma aluna, e ela adorou. Agora, há a divulgação boca a boca. Já tem outros alunos perguntando sobre a obra." 


Mastigando Humanos não foi escrito especificamente para o público juvenil (como Garotos Malditos), mas entendo que um livro ilustrado, narrado por um jacaré de esgoto encontre leitores com mais facilidade entre os adolescentes. Acabou sendo comprado pelo governo no PNBE para o ensino médio, em 2008. 12 mil livros foram distribuídos em bibliotecas escolares, somando às duas edições de livraria que o livro já havia tido, tornando-se o mais próximo que tive de um bestseller.


Essa venda escolar foi o que aproximou o livro de tantos adolescentes, que hoje são "novos adultos", alguns dos quais já estão no mercado editorial. Minha editora na Record é uma antiga leitora. Também já fiz diversas traduções para (novos) editores que me leram na adolescência. Para editores de 25, 28 anos eu já sou um senhor escritor, veja só. Já sou um senhor...

Esses dias dei uma entrevista para o jornal "O Tempo", de BH, sobre esse mercado, "jovens adultos" ou "novos adultos", que é uma nova categoria contemplada no mercado literário, que chega aos leitores de até trinta e poucos. Obviamente é o meu público, meu primeiro livro (A Morte Sem Nome) eu escrevi aos 23, a temática da adolescência está presente em grande parte da minha obra; porém os temas vêm acompanhando as fases da minha própria vida, e em Pornofantasma já começaram a entrar os fantasmas da maturidade ("Conto de Lobisomem", "Apocalipse Silencioso", "O Velho e o Mato", "Natrix  Natrix", "Você É Meu Cristo Redentor"). Resta saber se o leitor de meia-idade se interessa por mim...

Não é fácil... "Sua literatura não é mainstream", ecoam sempre as palavras da minha agente. Sou rapaz bem-nascido dos Jardins, não posso me considerar "marginal"; ainda assim, o caráter... alternativo da minha obra faz com que ela só repercuta entre os perdidos, os malditos, aqueles que não estão no poder e não podem me levar além. (Veja só, parece que Mastigando só incitou a juventude ao furto de bibliotecas). Talvez o mais surpreendente seja que, até hoje, eu tenha conseguido publicar sempre por grandes editoras, com razoável repercussão.


A repercussão de Mastigando Humanos, na época, foi quase unanimemente positiva. E por isso eu não esperava. Eu vinha de livros mais... sérios, e com Mastigando eu já esperava pedradas (que enfim vieram com O Prédio, o Tédio e o Menino Cego). Mesmo a infame foto de orelha (em que eu estou babando iogurte) só foi questionada mesmo por... Alcir Pécora (é claro, que surpresa). Hoje eu não colocaria uma coisa dessas num livro. But I was being young...


A edição brasileira está esgotada há um tempo. Você sabe, eu saí da Nova Fronteira batendo a porta, e eles não reeditaram mais o livro. Estou conversando há um tempo com minha editora para trazê-lo de volta, e espero que isso aconteça em breve. Eu pessoalmente prefiro olhar para frente, investir sempre num próximo, mas não posso negligenciar o que já escrevi, já são sete livros lançados, e acho que estão longe de terem rendido tudo o que poderiam render (em todos os sentidos). Preciso administrar melhor a minha obra e meu patrimônio. Mas é uma cruzada tão solitária...


Fora reedições e traduções no exterior, 2013 não verá uma nova obra minha. Não sei nem se 2014 ainda me verá respirando. É bom você começar a me amar imediatamente e reverter essa áurea de decadência em que me encontro, ou não terei nem mais forças para continuar a fazer você sofrer.



O creme não compensa. 

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...