31/12/2013

E O MUNDO LÁ FORA...

Além da retrospectiva pessoal (que sempre gosto de fazer para mim mesmo), acho que este foi um ano muito importante politica-social-moral-filosoficamente para o país.

Acima de tudo, a força das redes sociais se intensificou de uma maneira transformadora, revelando um efeito por vezes colateral do "crescimento nacional". Nós sabemos bem que esse crescimento foi inteiramente baseado no consumo: redução de impostos para certos bens, facilidade ao crédito, isso alavancou nitidamente o Brasil nos últimos anos. Mas agora, não só esse crescimento mostra um esgotamento, como se revela os efeitos negativos dessas conquistas.

O brasileiro hoje tem smartphone, tem banda larga, está no Facebook. Mas ainda tem uma educação de merda, transporte de merda, cultura de merda. É a análise mais evidente que se pode fazer dos protestos que começaram em junho - milhares de pessoas que tinham o que reivindicar, protestar, reclamar, agora tinham os meios para divulgar, registrar, fotografar, publicar. A ação truculenta da polícia ficou mais flagrante do que nunca. As contradições também.

Ao meu ver, essa foi das coisas mais positivas deste ano (e do crescimento, e das redes sociais, blablablá). Não existe mais uma verdade estabelecida. Até bem pouco tempo, saía na TV, era verdade. Agora cada indivíduo é uma fonte. Cada opinião pode ser compartilhada. A Globo transmite sua edição de um protesto, o Joãozinho publica no Facebook a sua própria. A Veja dá sua versão de um fato, milhares de comentários dão outros. Isso não só tirou o monopólio da verdade dos grandes grupos, como obrigou o indivíduo a pensar, refletir, avaliar, ponderar no que ele acreditar.

Infelizmente...

Infelizmente é um processo lento. Ainda mais para um povo sem cultura, e que não está acostumado a pensar. Junto dessa reflexão veio também a cultura do apedrejamento. Não há mais unanimidade - até Caetano, Chico, Roberto viraram os apedrejados de vez por suas opiniões. Veio também muita paranoia. Com todo mundo sendo uma fonte de notícias, tornou-se difícil saber em que fonte confiar. E neste final de ano estamos num nível em que notícias verdadeiras são divulgadas como notícias falsas (vide a morte de Lou Reed e o perfil do "Rei do Camarote").

Falando em Rei do Camarote...

Os valores mais mesquinhos e consumistas do brasileiro ganharam força este ano com o funk ostentação, os rolezinhos, e a relativização dessa "resposta da periferia". Procurou-se legitimar esses movimentos, dizendo que era resposta do povão ao império do consumo. Bem, é uma resposta, e que não muda nada. Sofistas como Rafinha Bastos alegaram que todo mundo tem sua veia de ostentação - quando tira uma foto na piscina, quando publica um prato chique que está comendo. Sim, mas uma coisa é trabalhar diariamente em algo transformador, que faça alguma diferença ou que tenha alguma densidade, e nas horas vagas postar uma foto de um descanso merecido, outra coisa é dedicar a sua vida (sua "arte") em retransmitir os valores consumistas mais clichês, da maneira mais rala possível. Tem rico que manda o filho estudar na melhor escola da Suíça, que vai à ópera, que compra um Monet. Tem rico que gasta tudo em carro importado, baladinha da moda e bebida que pisca. E me preocupa que, aparentemente, o dinheiro está cada vez mais indo para gente como essa, sem cultura, sem bom gosto, sem nada para dizer.

Enfim, esse pseudo-crescimento econômico do Brasil talvez tenha deixado mais flagrante a distância entre as classes. Porque o povo de classe A, B, C e D, agora também se cruza no Facebook, nos comentários dos vídeos do Porta dos Fundos. Gente semianalfabeta, que teve sua cultura intimamente ligada aos dogmas da igreja, agora tem a chance de opinar publicamente - e anonimamente. Gente que não entende ironia, sarcasmo, o relativismo e a teoria da relatividade. É só ler os comentários de qualquer vídeo (não só do Porta dos Fundos) que trate de religião, homossexualidade ou qualquer tema mais polêmico para se identificar uma guerra santa online.

Ao meu ver, esse crescimento do poder dos evangélicos é dos efeitos mais funestos do fortalecimento da classe C. (Porque não venham me dizer que são os burgueses dos Jardins que votam em Marco Feliciano.) O povo que comprou seu carrinho ostentação em oitocentas prestações é o mesmo que vota em seu pastor como deputado. Falta de educação. E seguimos numa nova forma de atraso.

Tenho medo de 2014. A crise econômica já é flagrante; a Copa pode esgotar o país de vez. Não tenho dúvidas de que será uma zona, que todo dinheiro este ano irá para um evento de retorno incerto. Nem é questão de torcer contra - é melhor mesmo que o tudo corra bem e que o Brasil GANHE, para a crise vir mais suave. Mas ela virá. A derrota é inevitável.


26/12/2013

ENTÃO É NATAL...





Já passou, já passou....



Mãe e sobrinha. 

Fim do ano sempre é deprê para mim. Me traz lembranças do ano em que meu pai desapareceu. Esperávamos por ele, na ceia de Natal, quando começamos a sentir um cheiro estranho vindo da lareira acesa...

Táaaaa, bobagens à parte, é uma época inevitável de se fazer aquele balanço da vida como um todo, ou ao menos dos últimos doze meses. E para uma pessoa negativa como eu, o saldo é sempre vermelho. Não ajuda ter de encontrar familiares com quem você não tem contato o resto do ano todo, e que só podem evidenciar como você está um passo mais próximo da morte. Se você está bem magrinho: "você está magro demais", com um olhar de desconfiança, porque devo estar doente ou devo estar drogado. Se você engordou: "como você está... fortinho", porque acham que para os homens se pode falar o que jamais se falaria a uma mulher.



Minha irmã mais velha com minha mãe. 


Daí é uma sucessão interminável de "papos-aranha", conversa paisagem, pratos e mais pratos, bebidas e mais bebidas. Eu adoro comida de Natal - peru, castanhas e todo aquele agridoce - o problema é que geralmente há os jantares com os amigos, e a ceia da véspera, e o almoço do dia 25, e a ceia do reveillon, e o almoço do dia primeiro, tudo isso em pleno verão, quando se deveria manter um corpinho para a praia. Natal no verão é só mais uma das nossas idiossincrasias.




Talvez todo mundo se sinta um pouco estranho no ninho. Ou talvez eu mantenha uma aura adolescente que impossibilite que eu me sinta em casa na casa de qualquer outro - mesmo na casa da minha mãe. O Natal de lá é basicamente um evento para os amigos dela e da minha irmã, porque meus amigos mesmo estão dispersos e não se agrupam. E ainda que eu devesse me sentir pertencente a uma família que é formada basicamente de artistas e simpatizantes, eu permaneço como o Trevoso Outsider (hum, bom nome para minha biografia...).

Sinto que sou tratado com um misto de carinho e desprezo - "o suave esquisito" - até hoje. Não são consumidores da minha obra, não admiram o que produzo. Não entendem. Eu sou o "Nazarian relativo" que "escreve aqueles livros cheios de sangue" que são sempre para outras pessoas. Eles compram um ou outro, gostam de um ou outro, vão a um ou outro lançamento prestigiar como obrigação, mas não se identificam realmente. Minha família não se identifica comigo.  Os mais alheios, os mais alienados me admiram mais nos anos em que apareço mais no jornal, dou mais entrevistas na TV, apareço no Jô. A família próxima, evidentemente artística, admira mais os trajetos de minha mãe, a arte de minha irmã.

Além do Natal de amigos, feito por minha mãe - que este ano aconteceu no sábado 21 - há o Natal família Gourmet dos Nazarian, em que não compareci - Um ano coloquei inocentemente aqui fotos do Natal na casa do meu tio banqueiro, e dias depois ele pediu para excluir, talvez com medo de sequestro, processo - você vê, OSTENTAÇÃO  parece ser realmente uma marca da nossa classe C. Este ano eu ganhei um aspirador de pó, então já posso me considerar ibgemeticamente classe B.

E este ano foi hora de corresponder a todo o companheirismo do Murilo e passar com a família dele, no Paraná.


Loiros da família. 

Não conhecia Londrina. E me surpreendi muito positivamente. Murilo havia me passado a ideia de uma cidade interiorana muito verticalizada, talvez numa intenção de se mostrar mais urbanoide, como se isso fosse uma qualidade. Eu como pós-urbano não resisto ao mais leve sopro do mato. E a cidade que ele me mostrou tinha um centro moderadamente vertical, cercado por parques, praças, lagos e mato por todos os lados.



Basta dizer que aos pés da casa dele avistamos em três dias: quatis, capivaras, corujas, tartarugas, garças e meia dúzia de lagartos. É assim que me sinto em casa.




Claro que teve toda a função do Natal. É sempre estranho estar na casa da sogra - especialmente numa situação dessas: relação homossexual, eu um pouco mais velho, boa parte da minha vida na internet... Mas a família dele foi de uma hospitalidade e um carinho sem igual - o que me deixa com grandes esperanças de como a família brasileira vem aceitando essa questão. Quando vi que eles haviam preparado o quarto dele com uma cama de casal (sem a hipocrisia de um colchãozinho do lado) já me senti acolhido.


Casa da sogra. 

No mais, Londrina foi comida DEMAIS, calor DEMAIS, como todos os excessos do fim de ano. Um pouco cansativo.


Da sogra recebi esse chapéu super bacanudo. Mandou super bem. 

Agora voltamos a São Paulo e acho que vamos passar aqui. Viajei bem de novembro para cá, definitivamente não foi um bom ano de grana e não estou com pique/saldo/ânimo/ideia para reveillon. Talvez role alguma festinha entre amigos. Mas estou querendo que seja o mais suave possível.



Entre os presente que meu querido me deu teve essas obras completas do Lovecrat. Obrigatório. 

Agradeço aos que ainda acompanham o blog. Lembro sempre que ano que vem tem livro novo e, como sempre, é o melhor livro de todos os tempos e tal... Espero pularmos para uma melhor retrospectiva de 2014.


Eu, no Natal, trabalhando o ( a capa do) livro novo. 


19/12/2013


RESENHAS


(Íntegra das minhas resenhas publicadas final de semana passado, na Folha)


"SE VIVÊSSEMOS EM UM LUGAR NORMAL"

O mexicano Juan Pablo Villalobos fez uma estreia sensacional em 2010 com Festa no Covil¸ publicado no Brasil pela Companhia das Letras e em quinze línguas pelo mundo. O romance focava a vida de um chefe do narcotráfico, narrada por seu filho, mostrando a realidade violenta do México. Agora o autor volta a retratar seu país, de maneira ao mesmo tempo terna e crítica com “Se Vivêssemos em um Lugar Normal”, seu segundo romance, do que promete ser uma trilogia.
Orestes é um adolescente de uma família de sete filhos, vivendo numa “caixa de sapato” no alto de um morro, oprimido tanto pelo aperto da casa quanto pelas aspirações limitadas do pai. As possibilidades de fuga, ascensão ou simplesmente mudança são frequentemente frustradas pela condicional do título. “Mamãe é possível deixar de ser pobre?”, pergunta o protagonista. “Não somos pobres, Oreo, somos classe media.” Ao que ele conclui: “Essa coisa de classe media parecia algo que só podia existir em um país normal, em um país onde não estivessem permanentemente tratando de foder a sua vida.”
Os paralelos com o Brasil são inevitáveis – porém o humor típico mexicano e as referências culturais distantes (apresentadas em notas e num glossário) travam um pouco a fluidez do texto em português. O texto soa como traduzido (como de fato foi), ainda que o autor more há alguns anos no Brasil.
Com o decorrer da trama, Orestes foge de casa, recorre a estratagemas para sobreviver e testemunha a desgraça familiar. O tom entre o nonsense e o tragicômico é delicioso, principalmente nos diálogos, mas ao chegar ao desfecho o livro descamba para um absurdo apressado e insatisfatório, que dessa vez não se justifica nem pela proposição do título.

Avaliação: regular. 

"LOST BOYS"

Em tempos pós-globalização, a língua ainda é a principal barreira para a circulação dos produtos culturais brasileiros no exterior, mas não é a única. Os atravessadores do mercado e suas expectativas sobre os temas e histórias que podem repercutir lá fora muitas vezes travam a exportação. Especialmente na literatura, acostumou-se a acreditar que os estrangeiros só buscam um autor brasileiro quando estão à procura de temas brasileiros, e assim tudo o que passa por fantasia, thrillers, policiais ou fuja em geral da expectativa (ou estereótipo) que se faz do país é em geral desprezado.
Porém, com a proliferação das ferramentas de auto-publicação, os e-books e sites de compartilhamento, vem se tornando mais comum autores nacionais furarem a barreira e alcançarem mercados externos por conta própria. Foi assim com a carioca Marcela Mariz, que publicou a ficção científica The Chosenof Gaia no site da Amazon, e foi assim com Lilian Carmine (pseudônimo da paulistana Bruna Brito), que lançou Lost Boys no Wattpad (site de autopublicação que é considerado como “o Youtube do texto”), teve milhões de visualizações, publicação física no exterior pela RandomHouse, e agora sai no Brasil pela Leya.
O romance narra a história de uma adolescente tipicamente deslocada, que conhece um fantasma e vive uma paixão proibida. Graças a um feitiço, os dois estão presos um ao outro, mas não podem assumir esse amor por contingências sociais e ameaças paranormais. O livro é desavergonhadamente direcionado às fãs da saga Crepúsculo e tem todos os ingredientes que uma garota poderia procurar: amor proibido, punhados de garotos bonitos, uma heroína incompreendida em quem as leitoras podem se espelhar. Não é de se surpreender então que tenha sido sucesso; dá ao público o que ele quer, e nada mais.
O romance é raso, tolo e sem a menor malícia. O aspecto sobrenatural da trama é apenas um pano de fundo– o fantasma afinal é um menino reencarnado, e a grande complicação do relacionamento se dá pelo fato do casal se passar publicamente por irmãos. A tradução também pode ter contribuído pelo encaretamento do livro – conferindo um tom que se pretende adolescente, mas soa falso e antigo. O adjetivo “fofo” é usada pela protagonista para descrever basicamente todos os personagens masculinos, e um punhado de gírias atuais é encontrado entre expressões como “balançando o esqueleto.”
Adaptado com habilidade para o cinema ou a TV, Lost Boys poderia ser diversão adolescente de primeira, mas em livro sua acertada premissa é prejudicada por um texto primário. Triste ver que, nesse caso, a universalidade se deve pela reprodução de uma receita de fácil digestão. Um fastfood de 460 páginas, sem tempero, sem pimenta, sem surpresas.

Avaliação: Ruim




12/12/2013

E A RETROSPECTIVA...


Não. Não foi o fim. Mas também não foi uma renovação, renascimento. 2013 se arrastou moribundo mais como um filme de zumbis do que como uma conquista ou uma condenação derradeira. Eu não diria que foi dos piores anos porque já estou nos trinta... ok, trinta e dois... ok, trinta e SEIS e já tenho muitas lembranças nefastas pela vida, mas foi um péssimo, péssimo ano.


A turma até que estava boa na virada. 


A virada já começou TERRÍVEL. Ok, eu estava no meu lugar favorito do mundo (Floripa), eu estava entre amigos, mas passei a madrugada do dia 31 no hospital com um menino que quase morreu de leptospirose, quase fui linchado por salvar uma cobra, estava fodido de grana e o clima ainda estava frio e chuvoso.

Tentando sorver um pouco do sol.

 Daí, como uma prova de como o ano não teve muito o que oferecer, já pulamos para MAIO, meu aniversário, que foi bem bacana graças às iniciativas dos brothers Luis Fernando e Carlos Fortes que organizaram uma festinha deliciosa como eu não fazia há tempos.

 O começo.


E o fim.

Daí, (na metade do ano, porque basicamente ignorei o primeiro semestre em que nada aconteceu) fui lançar livro na Europa - uh-hu.  Teve minha turnê pela Espanha, para o lançamento de Masticando Humanos. A editora se empenhou; exigiu-se que eu dormisse pouco e rodasse muito, para eventos que muitas vezes não tinham retorno algum. Mas sempre é bom circular. Ainda mais pela Europa. E para mim foi uma viagem mais divertida pessoalmente do que profissionalmente.

Das boas lembranças da turnê espanhola.

Dos bons bate-papos. 


Aqui sei lá o que eu estava dizendo...

De qualquer forma, com essa viagem também pude conhecer Portugal (!), que integrou o 24o país da minha lista. Não sei por que demorei tant... Ok, sei, sei bem. A gente não vai para Portugal porque acredita que já sabe bem o que vai encontrar. E não quer ir para a Europa para falar português. Mas Portugal me deu uma visão bem enriquecida (se não poso dizer "surpreeendente") do que eu já esperava. Lisboa foi das cidades mais lindas que já conheci, com comida das mais deliciosas. Adorei muito conhecer. E fiquei com vontade de mais.

Lisboa. 


A edição italiana. Gostei da capa. 

O livro também foi lançado na Itália. Mas eu nem fui, nem vi, o livro ainda nem chegou na minha casa. Espero que repercuta e que em breve eu possa aparecer por lá - porque Itália é dos países que ainda não conheço.

Em agosto participei novamente do "Sempre um Papo", em Belo Horizonte, que sempre é belissimamente organizado e divulgado.


Fliporto.

Agora em novembro estive na Fliporto. Meu debate no espaço "jovem" foi um pouco conturbado. Não dava para falar a sério sobre literatura, era um público mais novo do que o meu, mas também valeu pela viagem, os bate-papos de bastidores com Andrea del Fuego, Cristhiano Aguiar, Mona Dorf e Andres Neuman, e Olinda é sempre encantadora.

(Foto: Mário Miranda)

Na Balada Literária mediei um papo com Ricardo Ramos, Estrela Ruiz e minha mãe, Elisa Nazarian. Também houve dois lançamentos de jovens afilhados - Mauro Nunes e Hugo Guimarães - e boas festas, neste que é o melhor evento literário de São Paulo.


Leitores mexicanos. 

E semana passada estive no México (o 25o país da minha lista), Feira de Guadalajara, que talvez seja a melhor do mundo. Ótimos debates, ótimas conversas com os colegas, hotel fodástico. Só não precisava ter aquela viagem traumática de ida pela Aeroméxico, que levou um total de 34 horas, esperas intermináveis, perda de conexão, perda temporária de bagagem e uma irresponsabilidade em resolver tudo. Ok, já passou!

Hum... e que mais? De trabalho teve a série de TV "Passionais", escrita com a Paula Szutan e a Mirna Nogueira, que já foi toda rodada, divulgada, mas parece que ainda não tem uma data definida de estreia. Coisas da TV...
Betty Faria é a diva de um dos episódios. 

Foi um exercício bacana. Tive um ótimo relacionamento com as meninas, com a Pródigo, aprendi muito e já estamos conversando sobre uma próxima. É pena que o mercado ainda esteja engatinhando, sem grandes verbas, estruturas, cachês. Em 2013 foi foda ganhar grana em geral.

Fiz muitas muitas traduções, de thrillers, infantis, juvenis, livro de regime e literatura. O que apareceu eu peguei para pagar as contas. Como escritor não ganhei grana não, não colaborei com quase nenhum veículo, só voltei a fazer algumas resenhas para a Folha.

A nova edição. 

Apesar de não ter lançado livro novo, teve esse retorno espontâneo de Mastigando Humanos, que foi leitura obrigatória no vestibular da UEPB, além dos lançamentos na Espanha e Itália. A Record publicou uma nova edição revista por mim. E o livro continua sua vida por aí.

Mas pode deixar, não vou ficar só vivendo das glórias do passado. Ano que vem tem romance novo, pode deixar, romance adulto, um thriller. Já foi entregue para a Record, contrato assinado, adiantamento pago, está previsto para abril.

No mais... o melhor de 2013 foi um loirinho aí... Oito meses de um namoro tranquilo, equilibrado e gostoso.


E o blog continua. Já tem dez anos, meu deus! Preciso dar uma recauchutada no layout, eu sei. É um projeto para o começo de 2014, pode deixar. Também tem outras coisinhas que quero fazer para agitar um pouco a vida e a carreira - aos poucos tenho recuperado minhas vontades.

E se nada der certo... sempre resta o suicídio. Isso, é sempre um projeto possível.


Afoguei


06/12/2013

GUADALAJARA



Foi lindo! Intenso! Comovente! Literário! E... catastrófico. 

Alícia, nossa bela guia pela feira. 


A Feira Literária de Guadalajara, a mais importantes das Américas, a qual fui na comitiva de 15 autores que representavam o Brasil, para participar de debates, entrevistas, conversas com alunos em sala de aula.  

Senhores escritores: Juliano Garcia Pessanha, Marcelino Freire, Nazarian, Emilio Fraia. 


Começou pior impossível. Uma viagem de 34 horas de São Paulo a Guadalajara, na ida. Fomos de Aeroméxico (no mesmo vôo estávamos eu, Ricardo Lísias e Lourenço Mutarelli) na noite de sábado e deveríamos chegar à Cidade do México no domingo de manhã, para fazer a conexão. O avião pousou às cinco da manhã em Acapulco, sob pretextos de que "uma neblina havia fechado o aeroporto da Cidade do México". Esperamos a neblina se dissipar. Esperamos OITO horas. Oito horas dentro de um avião parado, sem comida e sem água, em Acapulco. 

Quando o avião por fim chegou à Cidade do México, passamos QUATRO horas na fila de imigração, que estava o completo caos, com gente gritando, chorando, querendo arrombar portas para ir ao banheiro. Obviamente havíamos perdido a conexão para Guadalajara, mas Lísias e Mutarelli conseguiram pegar uma reserva para um pouco mais tarde. Eu fiquei em lista de espera. Os vôos foram todos lotados, a Aeroméxico afirmou que só poderia me embarcar na tarde de segunda-feira, e que não podia ser responsabilizada e pagar hospedagem, porque a perda do vôo foi por "motivos climáticos". (Mais tarde ficamos sabendo que o aeroporto havia sido fechado por causa da saída do presidente de Israel, Shimon Peres). 

Sem vôo e sem hotel, tentei pegar de volta minha bagagem - e descobri que também estava sem. A Aeroméxico já havia enviado minha mala para Guadalajara. Decidi que iria acordar segunda-feira em Guadalajara, de qualquer modo. Então fui pra rodoviária e encarei mais uma viagem de ônibus de SETE horas, da Cidade do México à Guadalajara. Cheguei lá na madrugada de domingo para segunda, ainda sem mala, que felizmente foi entregue no meu hotel na manhã de segunda. Daí foi só felicidade...

Noitadas com os colegas. 


A Feira de Guadalajara é como uma grande Bienal, com estandes de editoras, de países, e dezenas de debates literários, todos lotados. Participei de uma mesa com autores brasileiros na terça, uma mesa com autores de diversos países latinos na quarta, e ainda tive uma conversa com alunas de uma escola, entrevistas para rádio e TV, almoços e jantares de trabalho. 

A mesa dos brasileiros. 


A estrutura para os autores brasileiros, dividida entre a Feira e a Fundação Biblioteca Nacional foi impecável. Já começou pelo material de divulgação - os brasileiros tinham um catálogo exclusivo com o currículo de cada um e um texto em espanhol (eu mandei o "Piranhitas"), assim é possível não só saber quem é quem, mas um pouco do que cada um escreve. O hotel (Riu) era uma coisa absurda, com uma piscina cenográfica e o melhor café da manhã que já tomei na vida. Melhor de tudo foi que todos os autores estavam hospedados lá, então os debates se estendiam pelo café, piscina, bar... Deu para matar saudade de muita gente bacana e conhecer alguns novos queridos. 


Levei poucos livros em espanhol, alguns em português. Mas tive uma fila para autógrafos e fotos no debate. 



De tudo isso, destaco: 

- A ótima mediação de Gustavo Pacheco na minha mesa com Deonísio da Silva, Andrea del Fuego e Ricardo Lísias. Todo mundo conseguiu elaborar bem sobre sua literatura e responder questões do público. 


Os latinos. 

- Minha mesa de América Latina estava bem inchada - com 5 autores - mas Benito Taibo também moderou muito bem, com perguntas pontuais, e todos os autores tiveram a oportunidade de ler seus textos. Eu li um fragmento de Mastigando Humanos em espanhol. Gostei bem do conto do (porto-riquenho) Guillermo Barquero. Já estou com o livro dele aqui. 

Melina, querídísima da organização. 

- Durante a feira, me avisaram que estavam um pouco preocupados com minha participação na escola. Eu iria falar para mais de uma centena de meninas entre 12 e 14 anos, de um tradicional colégio católico. Ficaram com medo do teor do meu discurso. Mas o evento em si foi a coisa mais querida - meninas fofíssimas, líndíssimas, fazendo todo tipo de pergunta sobre literatura, Brasil, sobre minhas tatuagens. No final, me deram uma garrafa de tequila e passei uma boa meia hora fotografando com elas. 

Chicas lindas. 


- Conheci muito pouco da cidade. Foram 5 dias repletos de atividades. Mas caminhei um pouco à pé pelo centro e dei um belo giro com Marcelino por Tlaclepaque, uma "cidadezinha butique" da grande Guadalajara. Cheia de artesanato, comidinhas e uma arquitetura belíssima. Lá comprei os presentes. 

Turistas. 

- Sempre é bom encontrar Marcelino, Ivana, Emílio, Andrea, Julian Fux. Mas a revelação dessa viagem foi o Lourenço Mutarelli, que eu só conhecia de oi e é das pessoas mais legais que já conheci. Me identifique muito com o jeito, os gostos, os valores desse mestre. Já está no coração. 

Um brinde ao Mutarelli. 


- Também adorei conhecer a Carol Bensimon e a Lucrécia Zappi, uma nova (e belíssima) escritora paulistana, que mora em Nova York e acabou de lançar o primeiro romance pela Benvirá. Também está aqui na minha pilha. 

Lucrécia já é diva. 


E antes de ir embora encontrei o divo Dani Umpi, escritor, cantor e performer uruguaio. 

Muita gente comenta sobre (ou incita) uma rivalidade feroz entre os autores da minha geração, e não sei se é bem o caso. É claro que há rivalidades, rusgas e disputas, mas em geral sinto um clima bem caloroso - talvez eu esteja sendo ingênuo, ou talvez eu não esteja oferecendo perigo...

Baladas literárias com Lucrécia, Julian Fux e Juliano Garcia Pessanha. 

Baladas mexicanas. 

Literatura é uma arte tão solitária, EU sou uma pessoa tão solitária, que sempre aproveito muito esses encontros, essas conversas. E acredito mesmo que o sucesso de um tem mais potencial é de alavancar o sucesso do outro. Claro, há disputas pontuais entre finalistas de um prêmio, coisas assim. Mas um autor da minha geração que estoura, ganha prêmios e é traduzido só escancara mais a porta para que outros possam seguir o mesmo caminho. Eu não deixo de divulgar e ajudar quem eu acredito, você sabe bem. 

Nicole, minha agente, também estava por lá. 

E assim terminaram as viagens do ano. Acho que fico aqui até no reveillon. Não foi um ano incrível de viagens (muito menos de eventos literários, longe disso). Mas pelo menos ultrapassei minha meta de conhecer um país novo por ano. Foram dois: Portugal e México. E assim minha lista se atualiza em 25. Assim (por ordem cronológica): 

EUA
Argentina
Inglaterra
Escócia
França
Bélgica
Holanda
Alemanha
Dinamarca
Suécia
Finlândia
Chile
Colômbia
Peru
Venezuela
Espanha
República Tcheca
Japão
Rússia
Estônia
Noruega
Hungria
Portugal 
México

Continuo por aqui, cansado mais readitivado. Sabe-se lá o que será do ano que vem. Mas ao menos tem romance novo. E a vida segue. 

03/12/2013


OPINIÕES CRÔNICAS


Acho um grande equívoco esperar que o escritor seja necessariamente o grande cronista da atualidade, que tenha sempre uma opinião enriquecedora sobre tudo o que é assunto, e mesmo que tenha valores enaltecedores. Eu falo muita bobagem, tenho valores discutíveis e uma visão bem negativa da vida. Quando me solicitam como cronista, geralmente apostam num lado polêmico, esperam que eu contradiga as opiniões estabelecidas; já exercitei esse lado diversas vezes, com resultados que variaram do divertido ao sofrível.

Há escritores com esse talento de cronista, mas não é um pré-requisito para ser um grande autor. Eu exercito... como exercício. Mas sou, acima de tudo, um ficcionista, e gostaria mais de ser lembrado por isso, mais do que por minhas opiniões contraditórias, mais do que pelos meus textos de blog - que afinal nunca tiveram pretensão de ser nada além de "textos de blog".

Já colaborei com diversos veículos. Atualmente tenho feito resenhas esporádicas para a Folha de São Paulo. Mas o que eu mais gostaria era de ter uma coluna fixa de ficção, em algum veículo que me desse liberdade, onde eu pudesse exercitar tramas, enredos e personagens.

Prefiro discutir ideais, pontos de vista e valores através de personagens. Não preciso expor necessariamente o que eu acredito, até porque na maioria das vezes não tenho certeza de nada e acho mais interessante trabalhar com possibilidades do que com verdades. 

Andei pensando sobre isso recentemente, por estarmos nessa onda de apedrejamentos. Em que cada opinião discordada leva ao linchamento virtual. Em que julgam um autor, um ator, ou um cantor pelas bobagens que ele diz - não pelo trabalho que efetivamente realiza. Vide a polêmica das biografias, frases infelizes do Herchcovitch, recentemente o texto da Tati Bernardi na Folha (em que eu SIM, concordo com quase tudo).

E claro, este é um texto de opinião, e é um texto discutível. Está no blog porque para mim o blog é para isso - para fazer o que eu não faria profissionalmente, o que eu faço de graça, espontaneamente, sem grandes preocupações, trabalho ou compromisso. Nem sei mesmo se acredito em tudo isso.


(PS- Estou em Guadalajara, na Feira Literária. Depois dos percalços da vinda - em que levei 34 horas para chegar de São Paulo até aqui - deu tudo certo e está tudo lindo. No próximo post dou a cobertura completa, com fotos.)





ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...