06/12/2013

GUADALAJARA



Foi lindo! Intenso! Comovente! Literário! E... catastrófico. 

Alícia, nossa bela guia pela feira. 


A Feira Literária de Guadalajara, a mais importantes das Américas, a qual fui na comitiva de 15 autores que representavam o Brasil, para participar de debates, entrevistas, conversas com alunos em sala de aula.  

Senhores escritores: Juliano Garcia Pessanha, Marcelino Freire, Nazarian, Emilio Fraia. 


Começou pior impossível. Uma viagem de 34 horas de São Paulo a Guadalajara, na ida. Fomos de Aeroméxico (no mesmo vôo estávamos eu, Ricardo Lísias e Lourenço Mutarelli) na noite de sábado e deveríamos chegar à Cidade do México no domingo de manhã, para fazer a conexão. O avião pousou às cinco da manhã em Acapulco, sob pretextos de que "uma neblina havia fechado o aeroporto da Cidade do México". Esperamos a neblina se dissipar. Esperamos OITO horas. Oito horas dentro de um avião parado, sem comida e sem água, em Acapulco. 

Quando o avião por fim chegou à Cidade do México, passamos QUATRO horas na fila de imigração, que estava o completo caos, com gente gritando, chorando, querendo arrombar portas para ir ao banheiro. Obviamente havíamos perdido a conexão para Guadalajara, mas Lísias e Mutarelli conseguiram pegar uma reserva para um pouco mais tarde. Eu fiquei em lista de espera. Os vôos foram todos lotados, a Aeroméxico afirmou que só poderia me embarcar na tarde de segunda-feira, e que não podia ser responsabilizada e pagar hospedagem, porque a perda do vôo foi por "motivos climáticos". (Mais tarde ficamos sabendo que o aeroporto havia sido fechado por causa da saída do presidente de Israel, Shimon Peres). 

Sem vôo e sem hotel, tentei pegar de volta minha bagagem - e descobri que também estava sem. A Aeroméxico já havia enviado minha mala para Guadalajara. Decidi que iria acordar segunda-feira em Guadalajara, de qualquer modo. Então fui pra rodoviária e encarei mais uma viagem de ônibus de SETE horas, da Cidade do México à Guadalajara. Cheguei lá na madrugada de domingo para segunda, ainda sem mala, que felizmente foi entregue no meu hotel na manhã de segunda. Daí foi só felicidade...

Noitadas com os colegas. 


A Feira de Guadalajara é como uma grande Bienal, com estandes de editoras, de países, e dezenas de debates literários, todos lotados. Participei de uma mesa com autores brasileiros na terça, uma mesa com autores de diversos países latinos na quarta, e ainda tive uma conversa com alunas de uma escola, entrevistas para rádio e TV, almoços e jantares de trabalho. 

A mesa dos brasileiros. 


A estrutura para os autores brasileiros, dividida entre a Feira e a Fundação Biblioteca Nacional foi impecável. Já começou pelo material de divulgação - os brasileiros tinham um catálogo exclusivo com o currículo de cada um e um texto em espanhol (eu mandei o "Piranhitas"), assim é possível não só saber quem é quem, mas um pouco do que cada um escreve. O hotel (Riu) era uma coisa absurda, com uma piscina cenográfica e o melhor café da manhã que já tomei na vida. Melhor de tudo foi que todos os autores estavam hospedados lá, então os debates se estendiam pelo café, piscina, bar... Deu para matar saudade de muita gente bacana e conhecer alguns novos queridos. 


Levei poucos livros em espanhol, alguns em português. Mas tive uma fila para autógrafos e fotos no debate. 



De tudo isso, destaco: 

- A ótima mediação de Gustavo Pacheco na minha mesa com Deonísio da Silva, Andrea del Fuego e Ricardo Lísias. Todo mundo conseguiu elaborar bem sobre sua literatura e responder questões do público. 


Os latinos. 

- Minha mesa de América Latina estava bem inchada - com 5 autores - mas Benito Taibo também moderou muito bem, com perguntas pontuais, e todos os autores tiveram a oportunidade de ler seus textos. Eu li um fragmento de Mastigando Humanos em espanhol. Gostei bem do conto do (porto-riquenho) Guillermo Barquero. Já estou com o livro dele aqui. 

Melina, querídísima da organização. 

- Durante a feira, me avisaram que estavam um pouco preocupados com minha participação na escola. Eu iria falar para mais de uma centena de meninas entre 12 e 14 anos, de um tradicional colégio católico. Ficaram com medo do teor do meu discurso. Mas o evento em si foi a coisa mais querida - meninas fofíssimas, líndíssimas, fazendo todo tipo de pergunta sobre literatura, Brasil, sobre minhas tatuagens. No final, me deram uma garrafa de tequila e passei uma boa meia hora fotografando com elas. 

Chicas lindas. 


- Conheci muito pouco da cidade. Foram 5 dias repletos de atividades. Mas caminhei um pouco à pé pelo centro e dei um belo giro com Marcelino por Tlaclepaque, uma "cidadezinha butique" da grande Guadalajara. Cheia de artesanato, comidinhas e uma arquitetura belíssima. Lá comprei os presentes. 

Turistas. 

- Sempre é bom encontrar Marcelino, Ivana, Emílio, Andrea, Julian Fux. Mas a revelação dessa viagem foi o Lourenço Mutarelli, que eu só conhecia de oi e é das pessoas mais legais que já conheci. Me identifique muito com o jeito, os gostos, os valores desse mestre. Já está no coração. 

Um brinde ao Mutarelli. 


- Também adorei conhecer a Carol Bensimon e a Lucrécia Zappi, uma nova (e belíssima) escritora paulistana, que mora em Nova York e acabou de lançar o primeiro romance pela Benvirá. Também está aqui na minha pilha. 

Lucrécia já é diva. 


E antes de ir embora encontrei o divo Dani Umpi, escritor, cantor e performer uruguaio. 

Muita gente comenta sobre (ou incita) uma rivalidade feroz entre os autores da minha geração, e não sei se é bem o caso. É claro que há rivalidades, rusgas e disputas, mas em geral sinto um clima bem caloroso - talvez eu esteja sendo ingênuo, ou talvez eu não esteja oferecendo perigo...

Baladas literárias com Lucrécia, Julian Fux e Juliano Garcia Pessanha. 

Baladas mexicanas. 

Literatura é uma arte tão solitária, EU sou uma pessoa tão solitária, que sempre aproveito muito esses encontros, essas conversas. E acredito mesmo que o sucesso de um tem mais potencial é de alavancar o sucesso do outro. Claro, há disputas pontuais entre finalistas de um prêmio, coisas assim. Mas um autor da minha geração que estoura, ganha prêmios e é traduzido só escancara mais a porta para que outros possam seguir o mesmo caminho. Eu não deixo de divulgar e ajudar quem eu acredito, você sabe bem. 

Nicole, minha agente, também estava por lá. 

E assim terminaram as viagens do ano. Acho que fico aqui até no reveillon. Não foi um ano incrível de viagens (muito menos de eventos literários, longe disso). Mas pelo menos ultrapassei minha meta de conhecer um país novo por ano. Foram dois: Portugal e México. E assim minha lista se atualiza em 25. Assim (por ordem cronológica): 

EUA
Argentina
Inglaterra
Escócia
França
Bélgica
Holanda
Alemanha
Dinamarca
Suécia
Finlândia
Chile
Colômbia
Peru
Venezuela
Espanha
República Tcheca
Japão
Rússia
Estônia
Noruega
Hungria
Portugal 
México

Continuo por aqui, cansado mais readitivado. Sabe-se lá o que será do ano que vem. Mas ao menos tem romance novo. E a vida segue. 

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...