25/07/2016

MEMÓRIAS TRADUZIDAS


Em Noravank, Armênia, ano passado.

Desde minha viagem à Armênia, ano passado, tenho pouco a pouco me aprofundado em minhas raízes maternas, me aproximado um pouco da colônia e tateado para encontrar o enfoque de um futuro romance que possa remeter a meus antepassados...

Sempre estranhei que minha família se orgulhasse tanto da origem armênia, mas que praticamente ninguém tenha se motivado a ir lá visitar. Recentemente, no aniversário de 90 anos de minha avó (da família Gasparian), questionei alguns parentes e foi se formando uma imagem mais clara. "Aquilo lá não é a Armênia", me disseram alguns mais velhos sobre a ex-república da União Soviética que hoje traz o nome da antiga nação que tem grande parte de sua área tomada pela Turquia. A Armênia da qual vieram os imigrantes (como meus bisavós) não existe mais. Mesmo a cultura, a comida e a língua da Armênia de hoje está muito mais próxima da Rússia. Mas é o que os armênios têm para chamar de seu...

O monte Ararat é um símbolo da Armênia Histórica, pode ser visto da capital Erevan (como nessa foto que eu tirei em outubro), mas atualmente encontra-se em território turco. 
Quero voltar. Turquia ainda não conheço (e obviamente não simpatizo), mas começo a entender que será indispensável para conhecer mais sobre essa história. Vamos ver como as coisas se reorganizam por lá - de qualquer forma a região sempre se torna mais inóspita e menos inspiradora para mim quando penso na forte carga religiosa (seja a muçulmana, seja a cristã-armênia). Um ateu me parece um glitch no oriente médio.

Também tenho remoído isso porque recentemente tive o privilégio de traduzir um denso livro de memórias de um dos últimos sobreviventes do genocídio armênio, Hampartzoum Chitjian, que viveu mais de cem anos, então era dos poucos vivos e lúcidos para testemunhar sobre o massacre (1915-1923) no começo dos 2000.

Seu testemunho é uma preciosidade exatamente pelo caráter pessoal, emotivo da narrativa, que não traz apenas as atrocidades, mas a vida na vila de Perri (atualmente na Turquia) no começo do século vinte, os costumes, a organização da sociedade. É um material bem mais histórico e antropológico do que literário, ainda que tenha traços de lirismo - como na passagem em que ele vê um cinema pela primeira vez, depois que um terremoto derruba o muro de um drive-in.

Levei uns bons meses traduzindo do inglês (pois Hampartzoum acabou se refugiando nos EUA), encomendado diretamente pela família e indicado pelo meu querido amigo Heitor Loureiro, historiador especialista na causa armênia que já foi condecorado como "Loureirian". E agora pensamos numa forma de publicação em português aqui no Brasil...

Sigo agora com a tradução de um clássico do século XIX. Se esse ano tem sido sofrido de dinheiro, tem sido rico nos trabalhos. Tradução nunca paga muito, mas sempre acrescenta. Geralmente eu complemento a renda com eventos, debates, roteiros; vez ou outra entra boladas de direitos autorais, venda para cinema ou teatro, adiantamento de editoras; este ano ainda está muito devagar, difícil, vamos ver; ao menos há boas perspectivas..

Armênia, outubro passado. 


Falando em tradução, saiu ontem na Folha entrevista com Brian Selznick, autor de "Invenção de Hugo Cabret", sobre "Os Marvels", que eu traduzi na virada do ano para a SM. O livro é bem bonito (e ainda não recebi o meu aqui - ei!), tratando de temas bem atuais, num contexto vintage, para mostrar que essas questões sempre estiveram presentes. Dá pra ler a matéria aqui: http://eraoutravez.blogfolha.uol.com.br/2016/07/24/autor-de-hugo-cabret-aborda-familia-gay-e-aids-em-novo-livro-infantojuvenil/



Daí tento atualizar minha lista de livros traduzidos, mas já é tanta coisa... (Ok, muita coisa ruim... mas também eu não me orgulho de traduções que fiz há dez anos… e, bem, vários entraram na lista de mais vendidos...) que me perco. Preciso dizer que ODEIO o sistema de sites como o da Livraria Cultura onde você digita o nome do autor (eu) e aparece os livros que ele traduziu, além da obra dele. O que eu traduzo não tem nada a ver com o que eu escrevo, uma coisa é trabalho, outra coisa é carreira-paixão- autoria. E duvido que alguém procure comprar livros só porque eu traduzi - traduzir não é autoria nem aval. É raro eu traduzir livro que eu indiquei e muitas vezes nem recomendo a leitura. Mas, ok, vez ou outra encontro livros em que me debruço por meses e mudam minha vida. Traduzir é ler com uma profundidade como nenhuma outra.

Também preciso puxar o saco e dizer que a Rocco realmente tem me passado as coisas mais bacanas atualmente (e tem dois incríveis que traduzi pra eles que ainda estão por sair). A lista completa tá ficando difícil de eu registrar, procuro no google para encontrar a mim mesmo, - também teve alguns filmes e teatro, que há tempos não faço, mas em livro é mais ou menos isso, mais ou menos nessa ordem cronológica:

 - Metrossexual, Guia de estilo - Michael Flocker (Planeta)
- Quando Eu Era o Tal - Sam Kashner (Planeta)
- Fan Tan - Marlon Brandon, Donald Cammel (Nova Fronteira)
- Maldito Coração - J.T. Leroy (Geração Editorial)
- Rosa - Gus Van Sant (Geração Editorial)
- Alguma Coisa Invisível - Siobhan Parkinson (Nova Fronteira)
- O Violino Voador - Siobhan Parkinson (Nova Fronteira)
- Este Livro Vai Salvar Sua vida - A. M. Homes (Nova Fronteira)
- Os Filhos do Imperador - Claire Messud (Nova Fronteira)
- Pão de Mel - Rachel Cohn (Record)
- Siri - Rachel Cohn (Record)
- O Sonâmbulo - Jonathan Barnes (Mercuryo)
-Moby Dick/Oliver Twist/ Raptado/ O Corcunda de Notre Dame/ Viagem ao Centro da Terra (série de quadrinhos para a Ibep)
- Dizem que Sou Louco - George Haar (Ática)
- Cacos de Vida - Sally Grindley (Ática)
- A Vida Secreta dos Apaixonados - Simon Van Booy (Saraiva/Arx)
- Príncipe de Histórias, Os Vários Mundos de Neil Gaiman - (Geração Editorial)
- Você Sabe Onde me Achar - Rachel Cohn (Record)
- O Amor Começa no Inverno - Simon Van Booy (Saraiva/Arx)
- Hater - David Moody (Saraiva/Arx)
- Noturno de Havana - T. J. English (Cultrix)
- Emily, a Estranha - (anônimo) (Record)
- Bowie - Uma Biografia (Saraiva/Arx)
- A Garota dos Pés de Vidro - Ali Shaw (Leya)
- O Mágico de Oz - Frank L. Baum (Leya)
- A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça - Washington Irving (Leya)
- O Ladrão de Crianças - Brom (Saraiva/Arx)
- A Noiva do Tigre - Tea Obrecht  (Leya)
- Ladrão de Almas - Jana Oliver (Farol)
- A Filha do Caçador de Demônios - Jana Oliver (Farol)
- Quentin Tarantino - Paul A. Woods (Leya)
- Aurora - Julie Bertagna (Farol)
- Condenada - Chuck Palahniuk (Leya) 
- Academia Knightley - Violet Haberdasher (ID)
- Guia de Estilo Squire (Ibep)
- O Príncipe Desencantado - Tony Ross (Record)
- Magra Para Sempre - Jilliam Michaels (Nacional)
- Guia para Dona de Casas Desesperadas - Caroline Jones (Nacional)
- O Teste - Joelle Charboneau (Gente)
- Emily the Strange - Os Dias Perdidos (Record)
- Olhar Mortal - Fergus McNeil (Nacional)
- Os Escolhidos de Gaia - Marcela Mariz (Autêntica)
- O Universo Contra Alex Woods - Gavin Extence (Rocco)
- Dark House - Karina Halle (Gente)
- O Amor em Jogo - Simone Elkeles (Globo)
- Maldita - Chuck Palahniuk (Leya)

- Para Onde Ela Foi - Gayle Forman (Globo)
- Os Filhos de Odin - Padraic Colum (Gente)
- A Torre - Daniel O Malley (Leya)
- Meu Romeu - Leisa Rayven (Globo)
- Os Dois Mundos de Astrid Jones - A.S. King (Autentica)
- Vidas Reinventadas - Boris Fishman (Rocco)
- Otto, Etta, Russel e James - Emma Hooper (Rocco)
- Os Marvels - Brian Selznick (SM)

11/07/2016

CAMPINAS, O LÍBANO E A LUA.


Nesta quinta-feira darei um pulo rápido em Campinas para me encontrar com os queridos colegas Andrea del Fuego e Luiz Bras e debatermos literatura no Sesc de lá. Será o primeiro evento literário de 2016 para mim, um ano que tem sido mescla de crise com desânimo com depressão.

O convite e a mediação são de Marcelo Maluf, autor de, entre outros, A Imensidão Íntima dos Carneiros, belíssimo romance que foca a imigração libanesa no Brasil (que tanto tem a ver com a imigração armênia, a perseguição pelos turcos e as próprias histórias ancestrais de minha família). Maluf faz um resgate de memórias não apenas biográficas, mas principalmente folclóricas, como nas belas passagens de diálogos com os carneiros:

Quase todas as noites eu subia até metade da montanha, acompanhado de um dos poucos carneiros que tínhamos. Em uma dessas cainhadas um carneiro de pescoço curto, ao qual por algum motivo eu tinha me afeiçoado, deitou-se ao meu lado e pôs-se a contemplar o céu.
"Sabe, senhor, um dia vou morar na lua."
"Não é possível morar na lua", afirmei. "Não há pastos, nem montanhas como as nossas, nem casas, nem pastores de carneiros, nem gente, nem animais. Nada. O que você faria lá, vivendo sem ninguém?", eu tentei convencê-lo do absurdo que era a sua ideia de morar na lua, e disse mais: "O que ouvi dizer é que lá vive um dragão desalmado."
"Quando eu já estiver bem velho e sentir que meu fim está próximo", explicou o animal, "mudo-me para lá e espero a minha morte. Antes faço um pacto com o dragão e lhe entrego a minha alma. Assim, viverei para sempre na lua, no corpo do dragão."

O livro foi publicado pela Editora Reformatório em 2015 e foi contemplado no Proac.


07/07/2016

LEVAREI À SEPULTURA



"Eu não entendo, eu leio os jornais, eu varro a rede, mas não há nada sobre o meu desespero."

Onde você estava no 11 de setembro? Perguntas como essa são respondidas em "Me Lo Llevaré a La Sepultura", recém lançado livro de breves memórias de escritores sobre fatos históricos, editado pelo museu Malba, de Buenos Aires. Participaram autores como Sérgio Sant'Anna, Mario Bellatin, Cees Nootebom, Gail Jones, e Gonçalo M. Tavares.

Com Moreno Veloso e João Gilberto Noll no Malba, Buenos Aires, em 2011. 

Eu foquei o terremoto do Japão, de 2011, numa lembrança  subjetiva e verídica do outro lado do mundo.

Em Quioto, Japão, em 2010. 

Todos os volumes podem ser lidos integralmente aqui: http://www.malba.org.ar/evento/me-lo-llevare-a-la-sepultura/ Há também uma versão física (que ainda não recebi).

A minha página bilíngue é essa:

Clique para ler. 




NESTE SÁBADO!