O convite e a mediação são de Marcelo Maluf, autor de, entre outros, A Imensidão Íntima dos Carneiros, belíssimo romance que foca a imigração libanesa no Brasil (que tanto tem a ver com a imigração armênia, a perseguição pelos turcos e as próprias histórias ancestrais de minha família). Maluf faz um resgate de memórias não apenas biográficas, mas principalmente folclóricas, como nas belas passagens de diálogos com os carneiros:
Quase todas as noites eu subia até metade da montanha, acompanhado de um dos poucos carneiros que tínhamos. Em uma dessas cainhadas um carneiro de pescoço curto, ao qual por algum motivo eu tinha me afeiçoado, deitou-se ao meu lado e pôs-se a contemplar o céu.
"Sabe, senhor, um dia vou morar na lua."
"Não é possível morar na lua", afirmei. "Não há pastos, nem montanhas como as nossas, nem casas, nem pastores de carneiros, nem gente, nem animais. Nada. O que você faria lá, vivendo sem ninguém?", eu tentei convencê-lo do absurdo que era a sua ideia de morar na lua, e disse mais: "O que ouvi dizer é que lá vive um dragão desalmado."
"Quando eu já estiver bem velho e sentir que meu fim está próximo", explicou o animal, "mudo-me para lá e espero a minha morte. Antes faço um pacto com o dragão e lhe entrego a minha alma. Assim, viverei para sempre na lua, no corpo do dragão."
O livro foi publicado pela Editora Reformatório em 2015 e foi contemplado no Proac.