31/08/2016

7ª – SAN PEDRO DE ATACAMA



As escolhas da minha lista de cidade favoritas do mundo não se restringem só às cidades em si, mas o que elas proporcionam, aonde levam, como representam um país ou uma região…

A pista do aeroporto...


E é dessa forma que escolho San Pedro de Atacama, uma cidade que só faz sentido por ser o pouso mais conhecido de quem vai conhecer o deserto.

A estrada...

Fui em 2007, numa viagem de férias de cerca de um mês por Argentina e Chile. O vôo, saindo de Santiago, não é tão rápido nem tão barato, mas vale cada centavo. O Deserto do Atacama é dos lugares mais absurdos que já fui na vida.


Os cenários são espetaculares, o clima; é tudo o que se imagina de um deserto, que se vê nos filmes, mas ao vivo e com as mesmas cores. O que nos pega de surpresa é a aridez, a altitude, um lugar que requer certo preparo físico e saúde.

Lá de bicicleta (05/2007)

Fiquei hospedado no hotel Casa de Don Tomas, que acabei de verificar que ainda existe. Não é dos lugares mais baratos, nem dos mais luxuosos, mas é confortável, tem água quente, piscina, o que não é tão comum na cidade – destino principalmente de mochileiros.


Géiseres. 
Claro que por ser uma cidade absolutamente turística, serve mais como ponto de partida para excursões pelo deserto, e há diversas agências de turismo espalhadas por lá. Eu cheguei apenas com o hotel já reservado, e fiz todo meu roteiro ao chegar, com uma agência local. Recomendo ficar ao menos uns 4 – 5 dias, porque os passeios são demorados. Num deles, acordei três horas da manhã com uma van que me buscava e fomos subindo uma montanha, subindo... Eu tinha tomado horrores de café e pedi para parar um minuto para mijar... E então tive a visão mais maravilhosa do céu – o Atacama tem o céu mais limpo do planeta, com um famoso observatório –, dava para perder a conta de quantas estrelas cadentes se via. Seis horas da manhã chegamos ao alto de uma montanha, com menos catorze graus de temperatura, gêiseres expelindo água quente, e águas termais ao lado. Arrisquei um mergulho delicioso, o problema foi sair depois.

San Pedro

Fora os passeios, a cidade em si tem seus atrativos. É bege, coberta pela areia, mas tem alguns museus e é ponto de encontro de turistas de todo o mundo, então com alguns dias fazendo excursões pelo deserto, você encontra de noite todo mundo com quem passou os dias. Eu fui sozinho e fiz muitos amigos, até jantei na última noite com meia dúzia deles, num restaurantezinho bem bacana, com vinho chileno e fogueira no chão.


Um dos restaurantezinhos da cidade...
Não é um lugar para se ir sempre, é turismo puro, mas eu que fui há quase dez anos já tenho vontade de voltar – voltaria fácil, se estivesse sobrando dinheiro.



Quarta que vem tem a próxima...





24/08/2016

8ª – EREVAN


O monte Ararat, visto do Museu do Genocídio Armênio. 

Entre minhas cidades favoritas do mundo, não poderia me esquecer da capital da Armênia.

O cascade, um museu a céu aberto em Erevan. 

 É também das viagens mais recentes da lista, outubro do ano passado. Há muito eu queria conhecer a terra dos meus antepassados, e com a grana de roteiro e direitos vendidos, pude me programar e chamar minha mãe para ir comigo.

Com minha mãe, do alto do Cascade. 

A Armênia hoje é uma fatia do que já foi, o que sobrou da ex-república socialista soviética e não foi tomada pelos bárbaros turcos, e embora esteja em relativa paz, encontra seu povo dividido e os conflitos internos se intensificam. Há uma grande diáspora, dispersão de seu povo; costumam dizer que há dez milhões de armênios: três milhões na Armênia e o resto espalhado pelo mundo. Eu nunca entendo exatamente quem são esses sete milhões – eu, por ter sobrenome e avós maternos armênios estou na contagem? Aparentemente sim; ao menos essa foi a sensação ao conhecer o país.

A Praça da Liberdade de noite. 

Já viajei muito, fiz muito turismo, e sempre há a sensação de estar visitando a história do outro, de ser o forasteiro. Minha viagem pela Armênia provocou uma sensação diferente, de eu fazer parte daquela história, porque afinal existo pelo que aconteceu lá, e talvez também por eles tomarem como armênios todos nós que temos o sobrenome.


O reencontro com as raízes já começou na embaixada. Fui com minha mãe pegar o visto e fizemos uma entrevista informal, situando-nos na colônia, identificando os parentescos, foi tranquilo. Não sei se para odars (não armênios) o processo é mais complicado.

A viagem não é tão cansativa. Um vôo para a Europa (fomos por Paris) e mais umas cinco horas até a capital, Erevan.

Dona Elisa saindo da capital. 

A capital: me surpreendeu. É uma cidade mais bonita e européia do que eu esperava. Eu não diria cosmopolita, parece uma pequena cidade europeia, mas é limpa, segura e com belas paisagens. Um bom termômetro para mim é sempre o supermercado, e eu viveria feliz com os supermercados de lá, a oferta de produtos, chocolates... e principalmente... VODCA! Herança da dominação soviética.

A seleção de vodcas de um pequeno mercadinho...

Circulamos bastante pelo país em viagens curtas, de um dia, porque afinal é um país pequeno. E conhecemos paisagens exuberantes, florestas e montanhas. Para mim a parte da natureza foi a mais fascinante, porque o turismo é muito calcado na religião (cristã), em igrejas e mosteiros, que por si só não me interessam tanto.

Viajando pelo país, com os carneiros parando o trânsito. 

Como viemos de uma parada de quatro dias em Paris, cidade linda, mas exaustiva para o turismo, a Armênia me pareceu mais um paraíso. Visitávamos os pontos turísticos com meia dúzia de russos, um ou outro armênio de outro lugar do mundo. Tudo vazio, um pouco melancólico, mas muito bonito e tranquilo.

Típico restaurante turístico. 

Não comemos muito bem. Procuramos os melhores restaurantes da cidade – há os que servem a comida armênia antiga, mais próxima da libanesa, e os que servem a cozinha armênia atual, mais próxima da soviética – mas não encontramos nada muito memorável. (Bem, eu me lembro que num deles comi o PIOR carneiro da minha vida). O mais gostoso que provei por lá foram os pães e doces vendidos nas vilas, em barracas.

Essa carne com cerejas foi o melhor prato que comi por lá. 

A hospedagem foi no Anni, um antigo hotel soviético, 4 estrelas, com quartos grandes, vista para o monte Ararat, e um excelente café da manhã.

A vista do quarto de hotel. 

Não posso dizer nada sobre a noite de Erevan, porque fui com minha mãe e não fomos além de restaurantes. Sei que não há “vida gay”, mas há lugares um pouco mais alternativos.  O povo não é nada simpático. Ninguém fala inglês e ninguém quer ajudar; tem aquela coisa de taxista tentar passar a perna em turista, e mesmo em lugares obrigatórios como hotéis e shopping o povo não se esforça. Não é um povo especialmente bonito, as mulheres se sobressaem bastante. E homens como eu, com tatuagem, cabelo comprido, chamam muito a atenção. Mas também não tive nenhum problema, além de olhares atravessados constantes.


Pelo interior. 


Eu voltaria com certeza. Ficaria mais. Moraria um tempo para tentar entender melhor o clima, embora sei que seria uma estadia difícil. Ainda é um país bastante conservador, homofóbico, mas que eu gostaria de pesquisar mais a fundo para, quem sabe, um futuro romance.

17/08/2016

9ª - CABO POLÔNIO



Continuando minha contagem regressiva das cidades favoritas no mundo...

Cabo Polônio. 

Esse pequeno povoado uruguaio, a cinco horas de Montevidéu, é uma área de proteção ambiental de difícil acesso, sem energia elétrica, que vem pouco a pouco se tornando destino de mochileiros, hippies e outros animais orgânicos.

As pedras tomadas de leões marinhos. 

Foi destino de férias minhas com o Murilo em 2014, por ideia dele.  Ouvi de diversos amigos que era “um paraíso” e “melhor lugar do mundo”; eu não diria tanto, mas certamente é uma viagem inesquecível.


Fomos de ônibus de Montevidéu durante o dia, e a viagem vale a pena para conhecer mais do país, parando em cidades lindinhas. O ônibus deixa na entrada do parque florestal e de lá é preciso seguir para o povoado em veículos 4X4 (para vencer as dunas) que saem de hora em hora.

A entrada da reserva. 



Chegamos no começo da noite, já escuro, com a visão mais impressionante que o lugar pode oferecer. Escuridão total vencida em intervalos pelo enorme farol marítimo que varre circularmente o povoado. Assim fomos nos guiando para chegar à pousada.

O mercado do povoado. 

O povoado é mais pitoresco do que bonito e a natureza em si tem aquela pegada melancólica, desolada, do litoral do sul. Mar cinza, gelado, leões marinhos; nada perto de um “paraíso tropical”, como temos por aqui. Entramos na água e quase morremos, embora o clima estivesse razoavelmente quente. Ainda fizemos umas trilhas, vimos os sapos darwins (que só existem por lá), tivemos uma estadia bem prazerosa.

Nossa pousada. 

Ficamos no La Perla, provavelmente o lugar mais sofisticado de lá, com vista para o mar, energia elétrica de gerador algumas horas por dia, e um excelente restaurante com cozinha sofisticada no jantar – diárias de cerca de US$100/casal.

A vista do quarto. 

Talvez seja mais divertido e movimentado na temporada – mas também tivemos o privilégio de pegar praias basicamente desertas.  E talvez exista uma magia em ir de mochileiro, ficar em albergue etc. Para nós, que fomos de casalzinho, foi bem gostoso, mas longe de ser um paraíso. Permanece como um ponto inesquecível pelas peculiaridades do lugar, a falta de energia elétrica, o clima desolado, a viagem até o lugar em si. Eu voltaria com certeza, ficaria um tempo para escrever um livro... se tivesse como alimentar meu Macbook. 



Quarta que vem sigo para a 8ª posição. 

10/08/2016

10ª - TÓQUIO

No famoso cruzamento de Shibuya. 

Começo minha contagem regressiva das dez cidades favoritas no mundo (para morrer), com Tóquio.

Em 2010, com a grana que recebi da bolsa para escrever Garotos Malditos, resolvi realizar um antigo sonho e conhecer o outro lado do mundo.

Quioto.
Viajei em grande estilo, parando três semanas na Europa na ida, e mais uma semana na volta, com duas semanas no meio no Japão (Tóquio e ainda uma curta passagem por Quioto, Osaka, Hiroshima e Miyajima).

Tenho lembranças especialmente boas de Miyajima, uma ilha patrimônio mundial da humanidade, cheia de veadinhos.
Obviamente foi das viagens mais importantes da minha vida, e Tóquio só não está mais alto no meu ranking porque eu basicamente não consegui entender nada...


Metrô nem tão lotado...
É realmente outro planeta, e a sensação de forasteiro é inevitável para quem não tem olhos puxados; você nunca fará parte realmente. Ao entrar no bar e avistar um loiro-sueco do outro lado, entre dezenas de orientais, vocês trocam acenos de cabeça, identificando-se como da mesma espécie.

Eu tive o privilégio de ter um grande amigo como guia, brasileiro sem ascendência oriental, mas que fala japonês. Fiquei hospedado na casa dele, ótimo anfitrião, que me levou para baladas, museus e parques, então pude conhecer não só o lado turístico, mas um pouquinho do dia-a-dia de quem mora em Tóquio.

Rodando a cidade de bicicleta. Seguro, mas caótico. 

Ainda assim, 15 dias foi pouco para absorver tanta coisa e hoje tenho uma visão mais superficial de Tóquio do que de outras cidades em que fiquei menos tempo. É uma cidade muito segura, cara pra caralho, os japoneses são simpáticos com o turista, mas ninguém fala inglês efetivamente. Os meninos são liiiiiiindos, principalmente para quem curte esse estilo andrógino, mas é aquela coisa: os meninos nas ruas, nos metrôs, são super estilosos, delicados, maquiados, daí você sai na noite gay são todos padrãozinho homem, posando de machinhos. Na época eu estava solteiro, e até fui bem feliz, embora me sentisse meio como um fetiche, como ocidental.


A magia dos boys magia de lá.
Delícia de polvo. 

A comida eu adoro, e comi belos sushis, tempuras, lamens. Obviamente a variedade de peixes lá é muito maior, mas também não cheguei a comer nada muito bizarro. E após quinze dias, você sente falta do tempero ocidental....

Jambalaia de enguia. 

Eu adoraria voltar, ficar mais tempo, mas acho que não seria feliz vivendo (e morrendo) por lá; não só nunca me sentiria em casa, como me estressaria com esse ritmo intenso, o barulho, a poluição visual, a lotação generalizada.

Cores, luzes, música. 
Assim deixo Tóquio em décimo lugar entre minhas cidades favoritas do mundo. Quarta que vem posto a nona.

09/08/2016

AS DEZ MELHORES CIDADES DO MUNDO PARA SE MORRER

Sim, esse era eu com 15 anos, com Tia Augusta na Disney.  (E o que se pode ver da minha camiseta é o topo do chapéu do Freddy Kueger, juro! Eu era o mega-nerd fã de Freddy  Krueger.)

Ou para se viver... ou visitar. Acho que é isso, dez melhores cidades do mundo para se visitar, ou as que eu mais gostei... sei lá...


Pouco antes de ser parado pelo tiozão de metralha na Cidade do México (2014).

Poucas vezes... talvez nunca na vida estive tão enclausurado como nos últimos meses, mesmo trabalhando em casa há quase quinze anos. Academia (de ginástica) era um hábito diário e viagens sempre movimentaram minha carreira. Mas este ano, somando crise com desânimo, com velhice, decadência e casamento, cada vez vejo menos motivos para sair.  O trabalho intenso de traduções dos últimos meses também favoreceu isso; o dinheiro todo estava aqui, em mim mesmo, em sentar nessa cadeira, ler, escrever, pesquisar.

Fanfarrão em Budapeste (2012). 


Ainda assim, sei como a vida pode ser linda lá fora. E se nutro poucas expectativas pelo futuro, a nostalgia constantemente me impele a cenários alheios dos quais tentei fazer parte no passado.


Na estrada, na Espanha (2013).

Conheço até agora 27 países. É pouco, muito pouco dentro do todo. Há nove anos tenho conseguido manter a meta de conhecer ao menos um novo por ano. Muitos deles eu visitei mais de uma vez, em muitos conheço mais de uma cidade; em alguns morei por pelo menos alguns meses. E considero essa a minha formação acadêmica, profissional, como escritor, mais do que minha graduação universitária como aluno do Pondé na FAAP ou meus cursos de inglês, francês e finlandês.


Uma bela tarde de outono, na Estônia (2011).


Então resolvi me entregar à nostalgia e fazer uma série de minhas cidades preferidas no mundo, até por estar viajando tão pouco este ano. (Se tudo der certo, o 28o país ocorrerá em outubro...)


Arhus, Dinamarca, 2002. 

Já deixo claro que serão escolhas absolutamente pessoais, circunstanciais e passageiras. Poderiam mudar a cada visita, a cada experiência. Aviso que sempre prefiro lugares onde possa ter experiências com a natureza, mas com uma certa urbanidade. E que acabarei deixando de lado muitos lugares que visitei numa adolescência tão distante que eu não poderia mais avaliar (como muitas cidades dos EUA). Além, é claro, de tantos lugares que ainda não tive prazer de conhecer (Itália, por exemplo, é um país básico onde até já fui publicado, mas que nunca conheci). E um ou outro lugar que todo mundo adora, mas que não consegui encontrar nada de particular... (Paris, por exemplo, onde já passei mais de um mês... mas basicamente chapado).


No extremo norte da fronteira da Finlândia com a Noruega (2011)

Mas, enfim... você está pouco se fodendo! Eu, sei, você também tem louça a lavar.

Farei uma contagem regresiva semanal dessas 10 cidades a partir de AMANHÃ, toda quarta, para movimentar (ao menos) o blog.

Isso foi em Oslo, na Noruega, há quatro anos, eu estava bêbado. Não me digam que chutei o Drummond deles?!!

Volte para ver como será.




NESTE SÁBADO!