25/08/2019

YOUNG

Agosto do ano passado, em Extrema. 

Perdemos Fernanda Young - aparentemente de uma crise respiratória decorrente de asma. Não posso dizer que éramos amigos próximos, mas nos encontramos meia dúzia de vezes e ela sempre foi muito carinhosa, dizia que eu tinha "nariz de bichinho."

O começo foi meio turbulento. Há uns quinze anos a encontrei na Loca, com amigos em comum, e ela veio perguntar: "Quero drogaxxx, quem tem drogaxxx." Anos depois, eu, sem noção, coloquei isso aqui no blog. Poucas horas depois, recebi esse email:


Ao que ela finalmente respondeu.



Como ela autorizou eu manter a versão que preferir, deixo a versão completa. E mais divertida.

Depois disso, nos encontramos outras vezes, em bienais; eu sempre lembrei da história das drogaxxx, e ela sempre disse que eu estava louco. Agosto do ano passado mediei uma mesa com ela no Festival Literário de Extrema, depois almoçamos juntos.

Com o querido Rodrigo Rosner, em Extrema. 
Pouco depois disso nos falamos ao telefone, para uma matéria sobre literatura pop que fiz para o jornal Cândido. A matéria completa está aqui:

http://www.candido.bpp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1563


Triste perder uma colega que ainda tinha tanto a oferecer. Como escritora, Fernanda Young foi importantíssima abrindo uma literatura mais pop e uma imagem mais pop do escritor, que depois se estabeleceu na minha geração. Temos amigos em comum que devem estar devastados: o Rodrigo, nossas agentes Lúcia e Eugênia...

Para mim ficam essas boas lembranças (inclusive das drogaxxx) e os livros.


Na Bienal de 2017, ela estava gata, eu estava um buchinho. 

22/08/2019

COMEÇANDO O ANO...

Vianco, Fernandes, Nazarian e DeBrito.



Está acontecendo no Sesc Santo Amaro o festival "Tocando o Terror", com filmes, espetáculos e palestras sobre o gênero. Tem muita coisa legal. E tudo gratuito.

Eu estarei lá domingo agora, 25/08, 16h, como mediador, para discutir a produção de terror no Brasil com André Vianco, Raphael Fernandes e Marcos DeBrito. Gosto muito de mediar mesas; é a oportunidade de perguntar aos pares questões que me assolam - e acho que vai ser especialmente produtivo discutir sobre a produção de horror, com grandes nomes do gênero, num momento em que a "ficção pura" parece tão sem sentido.

Programação completa do festival está aqui:

https://www.sescsp.org.br/programacao/198913_TOCANDO+O+TERROR?fbclid=IwAR3dtPXjaSM8O2B7HaQ8UofzrEZ3-tPDYW_msfoFBNzy47n13Ymaazd48cM#/content=programacao

E isso é só o começo de um segundo semestre que, como sempre, parece bem mais movimentado do que o primeiro.

No fim de semana de 7 de setembro estarei na Bienal do Rio, lançando meu infantil "A Festa do Dragão Morto", pela Melhoramentos.

Domingo, dia 08, estarei às 13:45 no Pavilhão Laranja, num bate-papo com o querido Tiago de Melo Andrade. Aproveite, que é das minhas raras passagens pelo Rio. (A última foi exatamente há dois anos, na última bienal.)

E dia 11 de setembro, de volta a São Paulo, darei um workshop no Cinefantasy, "Narrativas Terríveis", sobre literatura de terror/suspense/thriller. Também é gratuito, mas tem que se inscrever antes, aqui:

https://poiesis.education1.com.br/publico/inscricao/cb9c528565c30d49b548831022bc9b32

Fora isso, o Cinefantasy vai ter muita coisa legal, como a mostra de curtas e longas (da qual fui jurado ano passado). Programação completa aqui: https://www.cinefantasy.com.br/

E vem mais coisa aí; conforme for confirmando vou atualizando a aba "Agenda" aí em cima.







14/08/2019

SOLO ÉS MÃE GENTIL



A Companhia das Letras está lançando em ebook a coleção "Contém um Conto",  com muita gente bacana. Eu estou lá com um conto avulso, inédito e indispensável.

"Solo És Mãe Gentil" é um almoço de família no Natal, em que os os irmãos discutem quem cuidará de um pai inválido. Tem muito a ver com os tempos atuais...

Dou um trecho aqui: 

Com três adultos discutindo como crianças ao redor da mesa, pensava em como minha mãe fazia toda a diferença. Família é mesmo isso, seres tão distintos unidos pelo respeito a uma autoridade em comum. E mesmo que ela fosse tão apagada, mesmo que não soubesse cozinhar, minha mãe era a peça que faltava para que nós nos encaixássemos numa unidade familiar. Meu pai nunca serviu de nada. E agora como um chefe inválido só servia para insistir, impedir cada um de nós de liderar.
Olhando agora meu irmão ao lado do namorado, não podia deixar de vê-lo tão frágil. Meu irmão caçula, o afeminado, como diria meu pai. Alguns diriam que ele precisava de uma dura, de uma surra, mas eu pensava que ele precisava exatamente do contrário. Uma mãe que o acolhesse. Uma mulher que fizesse esse papel. Como um menino tão delicado como ele foi jogado nesse mundo sem amparo, agarrando a mão de outro menino, um menino negro, ampliando o alvo? Meu irmão deveria ter sido protegido, camuflado, não exposto em meio à guerra. Um menino só precisa de uma mulher. Um homem tão delicado nunca deveria se relacionar com outro homem.
Olhei então meu irmão mais velho, que sempre tomei como exemplo. Eu agora como uma mulher adulta, uma mãe de família, o ultrapassava em maturidade. Se ele conquistou algo antes de mim, foi apenas o fracasso. Nunca terminou os estudos, saltou de trabalho em trabalho. Imaturo, manteve apenas a masculinidade, apenas para diminuir o irmão mais novo. Mas não foi capaz nem mesmo de dar netos à minha mãe. Perguntava-me o que ele deixava de exemplo. Não podia nem dar lição de moral.
Pensei no meu filho mais novo. Uma criança já nascida nesses tempos apocalípticos. Um menino tão bonito. Um pouco parecido com o tio... De que serve a beleza num menino? Um menino vegano, incapaz de matar uma vaca. De que serve um menino incapaz de matar? Um herbívoro, intoxicado por todos esses pesticidas. Pensei em qual seria o exemplo de meu pai.  Um capitão de exército, inválido. Serviria de exemplo aos netos como combatente ou derrotado?

O conto tem 30 páginas, custa R$3,90 e pode ser comprado aqui:

"Solo És Mãe Gentil" - Amazon

10/08/2019

"TRABALHA NA EMPRESA ESCRITOR"

Quando comecei minha carreira, no começo do milênio, a coisa que me dava mais orgulho era dizer que eu era ESCRITOR. Mesmo antes de publicar o primeiro livro, eu já dizia, e depois quando tinha um, dois, três romances por grandes casas. Hoje em dia o orgulho se intercala com certo... constrangimento. Primeiro porque não faço mais do que obrigação; se antes minha imagem de jovenzinho tatuado causava estranhamento no meio, hoje sou praticamente um estereótipo do escritor tiozão. Depois, porque escritor me parece que qualquer um é, qualquer um pode ser, qualquer alfabetizado (ainda mais hoje com a facilidade da auto-publicação); o conhecimento técnico é difícil de se precisar. Ser escritor é meio não saber fazer nada... (E acho mesmo que QUALQUER UM pode ser escritor – já se é um escritor bom ou ruim, é outra conversa).
Nos aplicativos de “paquera” (porque não uso mesmo para “pegação”), eu digo que sou tradutor; não é mentira, é meu trabalho diário, e dizer que sou escritor não apenas soa meio “poser”, como também abre a possibilidade de a pessoa descobrir imediatamente TUDO sobre minha vida. (Ela invariavelmente vai perguntar: “Escreveu o quê?” Ou pode simplesmente dar um Google em “Santiago” e “escritor” que vai acabar achando meu blog, minhas entrevistas, com quem fui casado... )
De toda forma, acho bonitinho esses jovens que se intitulam e continuam levantando a bandeira de “eu sou escritor”. O tradutor Ivo Barroso diz que “quando escrevemos versos aos vinte anos é porque temos vinte anos; quando escrevemos aos sessenta é porque somos poetas” (e ele coloca isso numa edição do Rimbaud, veja só); mas acho que o mundo não precisa de MAIS escritores tiozões. Eu só insisto porque não aprendi a fazer mais nada na vida. E tenho contas a pagar.

03/08/2019

O BLOG DE LITERATURA MAIS ANTIGO DO PAÍS!



"Tento garantir meu conteúdo" - minha primeira entrevista, no Jornal do Brasil (por Cristiane Costa), 2003. 

Quando comecei este blog, você nem tinha nascido.

Parte da instalação que fiz com Alexandre Matos no Sesc Pinheiros (2007)

Há quinze anos eu lançava meu segundo romance - "A Morte Sem Nome" - já tinha um prêmio literário, mais de uma dúzia de matérias, já tinha sido convidado para a Flip e resolvi criar meu primeiro blog. Era uma forma de entrar em contato com os leitores, deixar um cartão de visitas, anunciar o que eu estava fazendo, um mural antes de existir twitter, facebook, orkut...

Folha, 2003 (com Cuenca e Chico Matoso)


No blog, eu estava longe de ser pioneiro. Todo mundo já tinha. Era a geração dos blogs. Mas eu resistia - pagando de jovem escritor mal do século. No começo de carreira eu era assim, eu rejeitava a cultura pop, queria ser um romântico-gótico pós-moderno (ou o que seria um precursor dos emos?), e batizei o  blog de AMOR E HEMÁCIAS.

(Isso está longe de ser a maior das minhas vergonhas.)


Com Mary Moon, para a MTV, 2009. 


Por muito tempo o blog cumpriu a função que hoje cumprem outras redes: reflexões ligeiras, indicações de livros, filmes, ou um simples registro do dia-a-dia. Peguei gosto. Postava bastante. Postava muita merda. Ainda está tudo aí (ou quase). E muita gente acessava.

Hoje encontro muita gente que comenta: "Nossa, adorava o seu blog."

(Não adora mais? Ele ainda existe. O conteúdo é melhor. Mas é menos espontâneo.)

Minha primeira vez no Jô, em 2005 (depois teve 2006, 2009 e 2011). 

Lá por 2005, depois que fui na primeira vez no Jô, os acessos por aqui explodiram. O blog permitia comentários, e eu não dava conta de administrar as perguntas, os haters, os nudes... (mentira, nude é uma invenção desta década...). Acabei tirando os comentários e nunca senti falta. Nos livros a gente também nunca sabe quem está do outro lado.

A primeira imagem publicada no blog. 


Só em 2006 o blog deixou de ser "all-type"; em junho de 2006 eu publicava uma arte (que ainda amo) da capa do "Mastigando Humanos"  e foi um caminho sem volta. O blog flertou com o fotolog (que nunca tive) com fotos minhas de cuequinha (quando eu podia), trouxe artes alternativas dos meus livros, experiências artísticas bizarras, e claro, inúmeras capas de livros de que eu lia, meninos que eu comia, fotos de eventos, artistas, filmes, vídeos... Foi um registro de tantas viagens bacanas, Japão, Rússia, México, Venezuela, Atacama, os seis meses que passei na Finlândia,o ano em Florianópolis...

Em Kyoto, 2010. 

Em 2008 eu mudei o nome de "Amor e Hemácias" para "Jardim Bizarro" - faltava amor, sobrava bizarrice. E o "Jardim Bizarro" foi tirado de uma notícia da época, de uma casa que jorrava sangue, num bairro de mesmo nome em Jundiaí. Tinha mais a ver com meu projeto literário - (enquanto não largo o osso dessa história de "existencialismo bizarro.") O novo design foi feito pelo querido Alexandre Matos (que ilustrou tantos dos meus livros). Em 2014 fiz um novo design com o ex-cozinheiro (eu mesmo não entendo naaaaada de design, só palpito, mas não sei mexer)  e ele também refez em 2017 o design atual.

Achei o cabeçalho de 2008 por aí. 

O que nunca, nunca fiz questão, desde o início, foi de ser "inovador", pelo contrário, fiz o blog com resistência, pagando de maldito; nunca acompanhei as tendências - sempre me atualizei com atraso - e a contribuição que dei foi sendo eu mesmo.

Foto do Felipe Hellmeister. 

Também nunca, nunca ganhei dinheiro com isso. Nem tentei. Nunca coloquei AdSense nem procurei patrocínio, nunca nem divulguei o blog nas entrevistas. Para mim o blog sempre foi uma plataforma para trabalhos que eu faria fora - e não consigo avaliar o quanto ajudou/atrapalhou. O essencial foi manter a independência de poder dizer o que eu queria aqui.

Quando fui cartaz de metrô (com Garotos Malditos, 2012)

É claro que hoje é constrangedor para mim ler grande parte do que escrevi uma década atrás. Nem tento. Revirei agora arquivos para esse post, mas só consegui olhar por cima, pegar umas fotos; mas esse registro também é muito legal, talvez o mais legal, esse registro vivo de 15 anos da minha carreira e da minha vida. Um blog afinal, é um diário. E eu sou um ser tão nostálgico...

Na sarjeta, com João Gilberto Noll (Ouro Preto, 2012). 

E para que serve hoje, um blog?

Bem, para mim, continua servindo para o de sempre, um mural para meu trabalho. Claro que hoje publico muito menos - muito do dia-a-dia, as colocações ligeiras, é diluído em Facebook, Instagram -, muito menos gente visita também; mas aqui ainda é o espaço que eu tenho para compartilhar reflexões mais extensas, deixar registrado de maneira menos passageira.

Com Victor Heringer, Marcelo Reis de Mello e Ana Paula Maia (Nova Friburgo, 2017). 

Muitas vezes me arrependo. Não só pelo que disse, isso já ficou no passado, mas por não ter vendido. Escrevo esporadicamente para a Folha, também há quase quinze anos, e outro punhado de publicações. Então muita coisa que postei aqui depois pensei que poderia ter oferecido para a Folha, para o Suplemento Pernambuco. Mas o blog cumpre essa função, de eu poder publicar o que quero, sem esperas e sem restrições. A maioria das coisas que eu publico aqui é uma visão muito pessoal, de antologias que eu participo (como a última), ou análises de livros de amigos que eu não poderia fazer na imprensa tradicional, num tom que só faz sentido mesmo num blog.

Foto de cuequinha para matar a saudade. 

O povo pau no cu gosta de falar que "blog já deu", "facebook já deu" e segue como gado no Instagram, que não permite compartilhamento de links, que inibe textos (e não há nada mais deprê que gente que usa instagram para postar FOTO de textão). Alguns me sugerem fazer um canal no Youtube (outros sugerem que o Youtube em si também já acabou). Mas acho que faço melhor por escrito. Não estou preocupado em ser "trendy", acompanhar as tendências. Sigo com o blog, no mesmo endereço, há quinze anos, até quando São Google permitir.

Com José Mindlin (2009?)


E isso... Bem, isso talvez tenha feito com que este seja O BLOG DE LITERATURA MAIS ANTIGO DO PAÍS, ainda em plena atividade, no mesmo endereço, com o mesmo histórico. (Haters podem dizer que não é um blog de literatura, é um blog pessoal de um escritor, mas blog não é isso mesmo, pessoal? E ninguém em blog tem discorrido mais sobre os livros dos outros, da cena literária nacional, registrado eventos, bienais, festivais, do que eu, nos últimos quinze anos.)

Mas até aí, quem dá a mínima?


E esse sou eu hoje. 

NESTE SÁBADO!