Quando comecei minha carreira, no começo do milênio, a coisa que me dava mais orgulho era dizer que eu era ESCRITOR. Mesmo antes de publicar o primeiro livro, eu já dizia, e depois quando tinha um, dois, três romances por grandes casas. Hoje em dia o orgulho se intercala com certo... constrangimento. Primeiro porque não faço mais do que obrigação; se antes minha imagem de jovenzinho tatuado causava estranhamento no meio, hoje sou praticamente um estereótipo do escritor tiozão. Depois, porque escritor me parece que qualquer um é, qualquer um pode ser, qualquer alfabetizado (ainda mais hoje com a facilidade da auto-publicação); o conhecimento técnico é difícil de se precisar. Ser escritor é meio não saber fazer nada... (E acho mesmo que QUALQUER UM pode ser escritor – já se é um escritor bom ou ruim, é outra conversa).
Nos aplicativos de “paquera” (porque não uso mesmo para “pegação”), eu digo que sou tradutor; não é mentira, é meu trabalho diário, e dizer que sou escritor não apenas soa meio “poser”, como também abre a possibilidade de a pessoa descobrir imediatamente TUDO sobre minha vida. (Ela invariavelmente vai perguntar: “Escreveu o quê?” Ou pode simplesmente dar um Google em “Santiago” e “escritor” que vai acabar achando meu blog, minhas entrevistas, com quem fui casado... )
De toda forma, acho bonitinho esses jovens que se intitulam e continuam levantando a bandeira de “eu sou escritor”. O tradutor Ivo Barroso diz que “quando escrevemos versos aos vinte anos é porque temos vinte anos; quando escrevemos aos sessenta é porque somos poetas” (e ele coloca isso numa edição do Rimbaud, veja só); mas acho que o mundo não precisa de MAIS escritores tiozões. Eu só insisto porque não aprendi a fazer mais nada na vida. E tenho contas a pagar.