03/08/2019

O BLOG DE LITERATURA MAIS ANTIGO DO PAÍS!



"Tento garantir meu conteúdo" - minha primeira entrevista, no Jornal do Brasil (por Cristiane Costa), 2003. 

Quando comecei este blog, você nem tinha nascido.

Parte da instalação que fiz com Alexandre Matos no Sesc Pinheiros (2007)

Há quinze anos eu lançava meu segundo romance - "A Morte Sem Nome" - já tinha um prêmio literário, mais de uma dúzia de matérias, já tinha sido convidado para a Flip e resolvi criar meu primeiro blog. Era uma forma de entrar em contato com os leitores, deixar um cartão de visitas, anunciar o que eu estava fazendo, um mural antes de existir twitter, facebook, orkut...

Folha, 2003 (com Cuenca e Chico Matoso)


No blog, eu estava longe de ser pioneiro. Todo mundo já tinha. Era a geração dos blogs. Mas eu resistia - pagando de jovem escritor mal do século. No começo de carreira eu era assim, eu rejeitava a cultura pop, queria ser um romântico-gótico pós-moderno (ou o que seria um precursor dos emos?), e batizei o  blog de AMOR E HEMÁCIAS.

(Isso está longe de ser a maior das minhas vergonhas.)


Com Mary Moon, para a MTV, 2009. 


Por muito tempo o blog cumpriu a função que hoje cumprem outras redes: reflexões ligeiras, indicações de livros, filmes, ou um simples registro do dia-a-dia. Peguei gosto. Postava bastante. Postava muita merda. Ainda está tudo aí (ou quase). E muita gente acessava.

Hoje encontro muita gente que comenta: "Nossa, adorava o seu blog."

(Não adora mais? Ele ainda existe. O conteúdo é melhor. Mas é menos espontâneo.)

Minha primeira vez no Jô, em 2005 (depois teve 2006, 2009 e 2011). 

Lá por 2005, depois que fui na primeira vez no Jô, os acessos por aqui explodiram. O blog permitia comentários, e eu não dava conta de administrar as perguntas, os haters, os nudes... (mentira, nude é uma invenção desta década...). Acabei tirando os comentários e nunca senti falta. Nos livros a gente também nunca sabe quem está do outro lado.

A primeira imagem publicada no blog. 


Só em 2006 o blog deixou de ser "all-type"; em junho de 2006 eu publicava uma arte (que ainda amo) da capa do "Mastigando Humanos"  e foi um caminho sem volta. O blog flertou com o fotolog (que nunca tive) com fotos minhas de cuequinha (quando eu podia), trouxe artes alternativas dos meus livros, experiências artísticas bizarras, e claro, inúmeras capas de livros de que eu lia, meninos que eu comia, fotos de eventos, artistas, filmes, vídeos... Foi um registro de tantas viagens bacanas, Japão, Rússia, México, Venezuela, Atacama, os seis meses que passei na Finlândia,o ano em Florianópolis...

Em Kyoto, 2010. 

Em 2008 eu mudei o nome de "Amor e Hemácias" para "Jardim Bizarro" - faltava amor, sobrava bizarrice. E o "Jardim Bizarro" foi tirado de uma notícia da época, de uma casa que jorrava sangue, num bairro de mesmo nome em Jundiaí. Tinha mais a ver com meu projeto literário - (enquanto não largo o osso dessa história de "existencialismo bizarro.") O novo design foi feito pelo querido Alexandre Matos (que ilustrou tantos dos meus livros). Em 2014 fiz um novo design com o ex-cozinheiro (eu mesmo não entendo naaaaada de design, só palpito, mas não sei mexer)  e ele também refez em 2017 o design atual.

Achei o cabeçalho de 2008 por aí. 

O que nunca, nunca fiz questão, desde o início, foi de ser "inovador", pelo contrário, fiz o blog com resistência, pagando de maldito; nunca acompanhei as tendências - sempre me atualizei com atraso - e a contribuição que dei foi sendo eu mesmo.

Foto do Felipe Hellmeister. 

Também nunca, nunca ganhei dinheiro com isso. Nem tentei. Nunca coloquei AdSense nem procurei patrocínio, nunca nem divulguei o blog nas entrevistas. Para mim o blog sempre foi uma plataforma para trabalhos que eu faria fora - e não consigo avaliar o quanto ajudou/atrapalhou. O essencial foi manter a independência de poder dizer o que eu queria aqui.

Quando fui cartaz de metrô (com Garotos Malditos, 2012)

É claro que hoje é constrangedor para mim ler grande parte do que escrevi uma década atrás. Nem tento. Revirei agora arquivos para esse post, mas só consegui olhar por cima, pegar umas fotos; mas esse registro também é muito legal, talvez o mais legal, esse registro vivo de 15 anos da minha carreira e da minha vida. Um blog afinal, é um diário. E eu sou um ser tão nostálgico...

Na sarjeta, com João Gilberto Noll (Ouro Preto, 2012). 

E para que serve hoje, um blog?

Bem, para mim, continua servindo para o de sempre, um mural para meu trabalho. Claro que hoje publico muito menos - muito do dia-a-dia, as colocações ligeiras, é diluído em Facebook, Instagram -, muito menos gente visita também; mas aqui ainda é o espaço que eu tenho para compartilhar reflexões mais extensas, deixar registrado de maneira menos passageira.

Com Victor Heringer, Marcelo Reis de Mello e Ana Paula Maia (Nova Friburgo, 2017). 

Muitas vezes me arrependo. Não só pelo que disse, isso já ficou no passado, mas por não ter vendido. Escrevo esporadicamente para a Folha, também há quase quinze anos, e outro punhado de publicações. Então muita coisa que postei aqui depois pensei que poderia ter oferecido para a Folha, para o Suplemento Pernambuco. Mas o blog cumpre essa função, de eu poder publicar o que quero, sem esperas e sem restrições. A maioria das coisas que eu publico aqui é uma visão muito pessoal, de antologias que eu participo (como a última), ou análises de livros de amigos que eu não poderia fazer na imprensa tradicional, num tom que só faz sentido mesmo num blog.

Foto de cuequinha para matar a saudade. 

O povo pau no cu gosta de falar que "blog já deu", "facebook já deu" e segue como gado no Instagram, que não permite compartilhamento de links, que inibe textos (e não há nada mais deprê que gente que usa instagram para postar FOTO de textão). Alguns me sugerem fazer um canal no Youtube (outros sugerem que o Youtube em si também já acabou). Mas acho que faço melhor por escrito. Não estou preocupado em ser "trendy", acompanhar as tendências. Sigo com o blog, no mesmo endereço, há quinze anos, até quando São Google permitir.

Com José Mindlin (2009?)


E isso... Bem, isso talvez tenha feito com que este seja O BLOG DE LITERATURA MAIS ANTIGO DO PAÍS, ainda em plena atividade, no mesmo endereço, com o mesmo histórico. (Haters podem dizer que não é um blog de literatura, é um blog pessoal de um escritor, mas blog não é isso mesmo, pessoal? E ninguém em blog tem discorrido mais sobre os livros dos outros, da cena literária nacional, registrado eventos, bienais, festivais, do que eu, nos últimos quinze anos.)

Mas até aí, quem dá a mínima?


E esse sou eu hoje. 

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...