22/06/2021

BLÁBLÁBLÁ VIRTUAL


Saudades de um palco, né, minha filha? (Ouro Preto). 

A Companhia das Letras promove neste final de semana seu festival Na Janela, de debates com seus autores. Eu estarei lá no sábado, numa conversa com Michel Laub.


Tem outras conversas marcadas para os próximos meses (coloco aqui sempre na aba "agenda") - todas virtuais. Apenas um debate marcado pelo Sesc Paraná em outubro, que deveria ter acontecido ano passado, ainda está em aberto se será presencial ou por live. 


Ainda há esperança de que os debates literários voltem ao velho normal...


Passo Fundo. 

Os debates virtuais são o que dá para fazer - e não custam nada para ninguém. Mas não sei muito o que se ganha com isso. (De cachê em geral o escritor não ganha nada mesmo - das 16 "lives" de que participei ano passado, apenas UMA tinha cachê). Pouca gente assiste/participa, e a troca é muito limitada. Há certa troca, até, discussões de temas pertinentes, mas nada que se compare aos debates presenciais. 

Guadalajara.


Já falei isso aqui, o escritor é um caçador solitário, então os festivais, os debates, as mesas com o público e outros autores eram os raros encontros em que ele podia ter alguma noção de seu espaço na cena literária-cultural, de como sua literatura era percebida, trocar angústias, aprender com os pares - principalmente os eventos que ocorriam em outras cidades, que exigiam deslocamento, compartilhamento de voos, vans, hotéis com outros autores. Não-raro as conversas mais importantes aconteciam nos bastidores desses eventos - sem as policies do discurso oficial, do palco; quando cada um deixava de tentar vender seu peixe. 

Olinda. 

Eu comecei a carreira num período muito auspicioso para o escritor brasileiro, no começo do século-milênio, com os eventos literários se proliferando, certo investimento para a cultura. Foi imprescindível para minha formação como "escritor profissional" - sem os eventos eu seria mais um jovem escritor masturbatório trancado no apartamento, achando que o mundo me AMAVA, ou me ODIAVA, achando que eu era o ÚNICO. 

Salvador. 

Pelos eventos literários pude jantar com o Ziraldo, tomar café com Antonio Cícero, ir numa boate gay com o Ferréz, viajar pelo interior do Paraná com a Eliane Brum, comer sarapatel com a Conceição Evaristo, beber na sarjeta com o João Gilberto Noll, ir num churrasco da casa da Samantha Schweblin, pegar um barco com o Hobsbawm...

Bogotá. 

Fora todas as viagens em si, as paisagens, os países. Só como escritor convidado fui ao Peru, Colômbia, Espanha, Alemanha, Argentina, México, Venezuela, Portugal...


Madri. 

E a despedida de tudo isso foi março do ano passado, no Rio, quando fui receber o prêmio da Unesco pelo meu livro infantil, poucos dias antes de decretada a pandemia. Longe de ser um cenário novo, foi uma aproximação importante do meio infantojuvenil; conheci tantos colegas do meio que só falava pelas redes (inclusive Laurent Cardon, que ilustrou o livro infantil encartado no Neve Negra, com quem eu nunca havia encontrado); além de fortalecer o laço com tantos queridos, minha própria editora, terminar a noite bebendo com o Samir Machado2 e o Raphael Montes...

Lima. 


Seguimos com as mesas virtuais, enquanto é o que dá. Só temo o quanto o formato está se consolidando, o quanto essa comodidade - logística, financeira - limitará futuros encontros reais. Eu já sou um velho escritor cansado (devo até virar jacaré semana que vem, finalmente), já viajei muito, mas quem mais perderá serão as futuras gerações de escritores...

NESTE SÁBADO!