08/12/2021

OS PRÊMIOS (QUE NÃO GANHEI)



Não tenho mais Fé...


Passada a temporada dos prêmios, fica a lição: nunca tenha esperança.


Não, não é bem isso. Foi uma experiência nova para mim - e é sempre bacana ter experiências novas numa carreira que já chega a vinte anos. Com doze livros publicados, foi a primeira vez que fui finalista do Jabuti, do Oceanos (Prêmio SP ainda nunca), e levei segundo no Machado de Assis, da Biblioteca Nacional. Não é pouca coisa, mas não foi o bastante. (O que eu precisava mesmo era de um premiozinho em grana, para me tirar do sufoco. Estou muito, muito, MUITO quebrado.) 

Vejo a postura blasé - normalmente de quem já foi finalista, de quem já ganhou - de que os prêmios não significam tanto, que o importante é ser lido, blábláblá, mas os prêmios ajudam a ser lido, o livro a repercutir. Mesmo que seja só para a "classe", como dizem alguns, é a classe que vai te chamar para eventos, debates, para trabalhos que pagam as contas - e "a classe" se pauta muito pela lista de nomes. (Não só ela, minha irmã mesmo, que é do meio teatral, disse que costumava pautar suas leituras pela lista de finalistas do Prêmio SP.) 

Tem tanto escritor que escreve UM livro, ganha UM prêmio importante e passa a vida vivendo disso, sendo reconhecido pelos pares. Eu lancei uma dúzia e ainda estou camelando, ainda visto com desconfiança. Talvez eu não devesse escrever tanto...

Tenho uma carreira bem estranha, como tudo em minha vida. Tive um hype muito cedo, mas que nunca se refletiu em vendas, nem em prêmios, nem em respeito. Construí um nome que está longe de ser unanimidade, e tenho uma base forte de haters - mesmo nunca fazendo nenhuma grande merda... acho. Sempre cumpri prazos, sempre fui profissional, sempre fui gente boa e dei força para os colegas, mas até hoje é difícil me chamarem para trabalhos, eventos, orgias... 

"Fé no Inferno" foi um livro muito pouco lido, repercutiu pouco, foi pouquíssimo resenhado... e a gente se pergunta por quê. Com meu histórico de tantos "semi-fracassos", é inevitável eu questionar a qualidade da minha própria escrita. Eu mesmo não tenho como avaliar (e se quem é pago para isso não está avaliando positivamente...)

Sei que há muito o "perfil de livro premiável", que trate de questões relevantes do momento, que esteja inserido num contexto, e eu raramente escrevo coisas assim. Então não é surpreendente ter entrado agora nos finalistas, e menos ainda um livro como o do Jeferson Tenório ter ganho o Jabuti. 


Torcida, só de mãe.


(Eu até comentei brincando que, se eu ganhasse, as manchetes nos jornais seriam "Jeferson Tenório não ganha o Jabuti". Nas matérias dos finalistas, ele era sempre o destaque, meu nome mal aparecia...) 

O livro do Tenório não vai se beneficiar tanto, porque é um livro que já aconteceu, já vendeu horrores, já repercutiu, já foi lançado lá fora. Nesse sentido o Prêmio SP (para Morgana Kretzman e Edimilson de Almeida Pereira, que também levou segundo no Oceanos) e o primeiro lugar do Machado de Assis (para Marcelo Labes), todos autores pouco badalados, de editoras pequenas, cumpre mais uma função de revelar obras (do que premiar obras consagradas do ano).

Existe toda essa bandeira de premiar mulheres, negros, LGBTQ (bem, aí nem tanto) e editoras pequenas, mas acho que a questão daí não passa tanto por cotas e sim por esses grupos tratarem das questões mais em pauta atualmente, questões que historicamente ficaram à margem. 

Foi isso o que tentei fazer com o lugar de fala que me cabe - como gay, armênio e brasileiro. E foi um livro de quase 400 páginas, que exigiu um trabalho gigante de pesquisa. Agora, depois disso, não sei muito mais o que dizer, o que escrever, o que tenho de relevante para acrescentar... 

Sempre escrevi principalmente porque me dá prazer. Mas o prazer vai sendo minado pelos resultados (ou falta de resultados). Principalmente porque para continuar tendo tempo para escrever, para conseguir continuar publicando, e pagando as contas, eu preciso pensar em algo relevante para me dedicar. A impressão é que nunca sou bom o bastante. 

É muito por isso que nunca dou oficinas literárias. Primeiro que não me considero uma autoridade, segundo que acho que é alimentar sonhos terríveis no outro - eu não recomendo a ninguém ser escritor. 



Resta dizer que a posição de estar em "editora grande" é discutível. Sem dúvida a grife da Companhia das Letras gera uma atenção maior ao título, mas os lançamentos da casa não recebem todos o mesmo tratamento. Meu livro saiu em plena pandemia, não foi mandado a nenhum jornalista, não teve noite de autógrafos, eu mesmo tive de comprar e vender pelas minhas redes sociais, porque as livrarias estavam fechadas (e o livro saiu caaaaaro). Acho que a editora poderia ter trabalhado mais o livro depois com a reabertura... (Mas daí estavam lançando o livro do Jeferson, do Laub...). Eu fiz tudo o que podia, como um autor independente. 

A presença do livro nas finais dos prêmios fortaleceu um pouco meu laço com a Editora - que agora vai tentar publicações lá fora; uma segunda edição também está saindo. Mesmo assim, acho que foi uma obra desperdiçada... Não vejo muito mais o que pode alcançar, um ano e meio depois do lançamento.  

De resto, fica aquela merda que falei para a Tatiana Salem Levy, meio na brincadeira... mas não muito: agora não posso dizer nem que sou totalmente ignorado, nem que sou premiado. É mesmo uma maldição. 


Só me resta rir...


TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...