Com Manal, leitora querida, na Bolívia. |
Não deu para ser feliz em 2022.
Foi um ano muito difícil, de eterna luta, atrás de trabalho, de reconhecimento, de sanidade. Os trabalhos, que haviam se mantido estáveis durante a pandemia, desde o fim do ano passado começaram a miar, miar, e no começo do ano pararam de vez. Chegou ao ponto que eu não tinha mais pro aluguel, não tinha mais pros boletos, não tinha nem mais pra comer.
Tive que pedir help pelas redes, e a tristeza da situação só foi balanceada pela generosidade de alguns amigos, de muitos leitores e desconhecidos. Gente que me indicou para trabalhos, que me mandou ovo de páscoa, até pix recebi. No meio dessa crise, pifou minha geladeira, e uma querida surgiu do nada e me DOOU uma geladeira. Sem a bondade de estranhos eu não teria conseguido sobreviver...
(Tem gente que diz que eu só reclamo. Queria eu poder ser daqueles que é só gratiluz, que só compartilha sucesso e riqueza; quando eu posso, eu compartilho, mas tem sido raro... Por mais que seja constrangedor expor fraquezas e penúrias, se eu não exponho, nada acontece. Se eu não peço ajuda pelas redes, não arrumo trabalho, não tenho o que comer. Vivo sozinho, trabalho sozinho, todas as minhas relações são meio distantes. Meu único jeito de pedir ajuda é esse.. Só assim é que lembram que eu existo.)
Quando expus as dificuldades no começo do ano, muita, muita gente sugeriu que eu desse oficinas de escrita. Sempre tenho resistência - porque acho que é ganhar em cima do sonho do outro, com uma promessa que não leva muito a nada. Mas vamos lá, os boletos não param, então fui de oficina.
Organizei nos moldes em que já dei, uma ou outra vez, não uma oficina de escrita, mas sobre escrever-publicar-divulgar, como funciona o meio literário e a carreira do escritor. (Muita gente me escreve com dúvidas sobre isso, mas na hora de PAGAR pelo conteúdo...)
A oficina que não foi. |
Criei dentro da plataforma da Balada Literária, do querido Marcelino Freire, e NINGUÉM se inscreveu. Tá certo que estava um pouco caro, R$ 600 pila por uma oficina não-presencial, mas deixou claro que oficina não é a solução. Alguns meses depois, em agosto, tentei de novo de forma independente, cobrando a metade do preço - assinei Zoom, patrocinei post, enchi o saco de divulgar - e consegui 8 alunos. Acabou sendo bem bacana, 4 aulas de 2 horas, todos os sábados. que sempre se estenderam além. Mas arrumar esses 8 alunos já foi tão sofrido, que se eu fizesse outra creio que ninguém mais viria...
Grandes discussões com alunos lindos. |
Tirando essas coisas que eu tive de inventar, quase nada. Dizem que os eventos literários voltaram com força, mas talvez meu momento já tenha passado. Não colhi nada de frutos das finais dos prêmios ano passado. Fiz DOIS eventos e só. Ao menos teve uns cachezinhos...
O Oceanos ao menos promoveu uns debates online (com cachê) e me chamou pro júri deste ano. O Jabuti cagou pra mim. |
O primeiro foi em maio, no Pantanal, a grande viagem do ano. Tive uma mesa no Festival América do Sul, em Corumbá (MS), que estava lotada e inesquecível. Consegui ainda dar um pulo (literalmente) na Bolívia, logo ao lado, atravessando a fronteira a pé, para almoçar carne de jacaré. Foram três horas fora do Brasil, mas posso dizer que fiz uma viagem internacional em 2022.
Ótima mesa no Pantanal, com Carla Maliandi e Márcia Medeiros, medidos por Wellington Furtado Ramos. |
Ótimos encontros no Paraná. |
Todo esse tédio, toda essa depressão ajudaram na escrita, sim. Se passei quase dois anos sem escrever, em 2022 fluiu toda minha criatividade represada. (Mas é aquela coisa, as tristezas e decepções alimentam a escrita... que não alimenta nada... ou só alimenta mais tristezas e decepções...)
Sem ter mais o que fazer, nos primeiros meses do ano comecei e terminei uma novelinha, que foi vendida para a Companhia das Letras e deve sair no primeiro semestre do ano que vem. Tem uma estrutura bem diferente de tudo o que já fiz - estruturada só em diálogos - e é um retrato dessa geração atual, militante, não-binária, que sabe contra o que lutar, mas não o que defender. Será mais um grande fracasso... ou um fracasso mediano.
Falando nisso, mês passado tirei do armário um infanto-juvenil que havia sido engavetado, "O Príncipe Precoce". Com a dificuldade de encontrar uma nova editora para ele, resolvi experimentar uma publicação independente, em ebook e impressão sob demanda, pela Amazon, com a parceria do irmãozinho Alexandre Matos nas ilustrações. NINGUEM comprou (bem, poucas dezenas, mas teve centenas de joinhas nas minhas redes). Ainda tá lá para quem quiser, baratíssimo, de repente uma hora engrena. Por enquanto, considero (mais) uma experiência fracassada.
Em ebook aqui: https://www.amazon.com.br/Pr%C3%ADncipe-Precoce-Alexandre-Matos/dp/B0BLGDR995 |
Daí veio OUTRO livro, outro romance, que comecei a escrever mês passado. (Porra, entreguei romance pra Companhia em março, comecei a escrever outro em novembro - não tem nada de outro mundo; pra mim, escritor é quem ESCREVE.) Mas esse ainda deve levar um tempo. É um romance bem baseado na minha infância nos anos 80, talvez o mais próximo que eu já tenha chegado da autoficção. Por enquanto ainda está meio sem estrutura, os capítulos surgindo como lembranças, em ordens aleatórias, mas já engrenei na escrita diária, então acho que dá um livro, a médio prazo.
De traduções, este ano fiz mais versões para o inglês, que pagam melhor (ou deveriam pagar), mas levam bem mais tempo pra mim. E só vieram coisas pequenas, infantojuvenis, trabalhos de 500, 600 reais. Fiz bastante tradução pra dublagem - que foi algo novo, indicação de um colega querido, que me deu essa puta força quando eu mais precisava. Mas também longe de me salvar, mais trabalhinhos de 500 pila. Tem vindo tudo assim, picado, que não cobre nem meu aluguel. A gente tem 20 anos de carreira, fala 5 línguas, se especializa, mas só surge trabalho de 500 pila. Estudar pra quê, né? Pra ser Uber!
E estamos aqui falando de trabalho, de falta de trabalho, de falta de dinheiro, mas e na vida pessoal? O que meu ano deu? (com trocadalhos)
Bom, eu nunca tenho muita vida pessoal, né? Se não acontece muita coisa na vida profissional, na vida pessoal menos ainda.
Eu estava namorando, até dois meses atrás, mas tivemos que acabar. Fomos nos distanciando, nos víamos cada vez menos, e eu não reconhecia mais a pessoa com quem eu estava - e não foi só pela transição de gênero. Às vezes parece que a gente conhece mais a pessoa no começo do namoro, porque projeta tantas coisas, tem uma visão equivocada. Com o tempo, com a intimidade, a pessoa vai se tornando mais estranha, mais diferente, até você achar que não tem mais nada a ver com você...
Mas foi um término tranquilo, sem dramas. Ela é uma ótima pessoa e eu só quero que dê tudo certo, estou aqui para o que ela precisar.
No momento, não penso em namorar nunca, nunca mais. Estou cansado, desesperançado, pensando em morrer e me aposentar...
Pequeno se foi. |
Não tem mais namoro e não tem mais coelho. Gaia morreu no final do ano passado e ainda faz falta. No começo do ano veio o Pequeno, coelho do Ayrton Montarroyos, que perguntou se eu não podia cuidar por uns meses. Foram 9 meses, um hóspede muito bonzinho, educado, que não deu trabalho nenhum, mas também não deu amor. Totalmente ao contrário da Gaia (e da Asda), ficava o dia inteiro quietinho, na dele, sem interagir. Ayrton enfim levou embora, há poucas semanas e não penso em pegar mais bicho nenhum. Mal consigo cuidar de mim...
E as perspectivas para 2023... São as piores. Sei que muita gente apostava na eleição do Lula, mas eu na verdade fui de Bolsonaro... MENTIRAAAAA (tô querendo me diplomar em auto sabotagem). Acho que ano que vem vai ser MAIS difícil, mais penoso. Lula pegou um país totalmente quebrado. Derrotado, Bolsonaro jogou um fodasse total, cagou na economia, mijou na educação (me pergunto em que condições Lula vai encontrar o Palácio da Alvorada). Não vai ser fácil colocar tudo nos eixos e acho que não dá para esperar felicidade em 2023.
Em 2025... quem sabe. Mas eu não devo chegar até lá...