Já estamos nessa realidade: inteligência artificial traduzindo, tradutores só revisando.
Há alguns meses, uma amiga me indicou para uma empresa que trabalha assim, com literatura comercial. (Pois é, quando eu coloco aqui perrengues que estou de grana e/ou trabalho, muita gente vem só com conselhinhos de “vai fazer concurso público”, meio comemorando internamente: “não consigo viver de literatura, mas ele também não!”, mas tem gente que de fato me indica para trabalhos que me salvam o mês, o ano, a vida.) Essa amiga me indicou, eu passei por um processo seletivo, fiz testes, fui aprovado e agora reviso traduções feitas por Terminators.
Paga menos do que tradução em si, claro, mas também é um trabalho bem mais fácil e rápido. Tem sido um fixozinho razoável por mês (vamos ver até quando, com os artifícios cada vez mais inteligentes). Outros trabalhos também têm rolado - leitura crítica, ghostwriting... É triste ver para onde está indo a tradução – um trabalho que faço há mais de 20 anos -, mas não adianta fazer a Sarah Connor (nem a Sinéad...), é preciso se adaptar...
Paga menos do que tradução em si, claro, mas também é um trabalho bem mais fácil e rápido. Tem sido um fixozinho razoável por mês (vamos ver até quando, com os artifícios cada vez mais inteligentes). Outros trabalhos também têm rolado - leitura crítica, ghostwriting... É triste ver para onde está indo a tradução – um trabalho que faço há mais de 20 anos -, mas não adianta fazer a Sarah Connor (nem a Sinéad...), é preciso se adaptar...
Como tradutor, os trabalhos que têm mais surgido para mim são versões para o inglês, porque isso, mesmo que seja jogado num Google Tradutor, precisa de alguém realmente especializado (ou nativo) no inglês para revisar o resultado final. E eu tenho feito muito trabalho que exige adaptação, livros infantojuvenis, com rimas, trocadilhos, precisa ter algo de escritor. É gostoso de fazer, dá para cobrar mais do que tradução para o português, mas, em geral, o volume de texto é bem menor (e também levo mais tempo).
A tradução para o inglês eu faço há menos tempo, mas agora também já tem lá uns dez anos. Fui começando aos poucos, meus próprios livros, algumas samples (fiz inclusive todo o “Bom Dia Verônica”, do Raphael Montes e da Ilana Casoy) e tem sido bacana ver as publicações saindo com meu nome lá fora. (Vamos ver o que acontece com o Veado...). É todo esse histórico, esse currículo, e esses momentos de bons ventos que me fazem continuar acreditando que dá para viver de literatura (de alguma forma); até outra massa de ar seco chegar...
(Aproveitando, acabou de sair também pela Todavia a tradução – para o português – que fiz do “Deslumbramento”, do Richard Powers. Faz jus ao título, no bom sentido.)