Tenho visto muitos lançamentos recentes de autores que foram meus alunos, que fizeram leitura crítica comigo. Hoje de manhã mesmo, eu estava fazendo um blurb...
(Eu mesmo ainda não sei quando vou lançar meu próximo livro. Mas é o caminho clássico: o artista decadente se torna professor.)
Falei no final do ano algumas coisas que eu não queria ver em livro em 2025, e já tem algumas coisas que eu tenho visto bastante, algumas tendências.
Uma delas é narrativas que remetem ao gótico, ao romântico do século XIX, li uns três ou quatro originais assim só este ano.
É bacana que as pessoas tenham uma base clássica, o problema é querer emular uma literatura já muito feita, é muito fácil cair num gótico cafona (se isso não é um pleonasmo).
Eu vejo um certo desprezo pela literatura brasileira contemporânea nesses novos autores, que querem reafirmar suas influências clássicas. E eu entendo total, porque eu também era assim.
Quando eu comecei a publicar, eu não conhecia nada de literatura brasileira contemporânea. Não conhecia os outros que estavam publicando, o Cuenca, o Galera, a Clarah, não era dessa turminha. Eu queria ser associado a Oscar Wilde! Kafka! Thomas Mann!
Felizmente, sem eu ter muita consciência, eu tinha uma carga pop mais contemporânea, não das coisas que eu lia, mas de todo o resto – filmes, videogame, a vida. Então isso ajudou que minha literatura se inserisse melhor naquele contexto, tivesse uma relevância no início dos 2000 (alguns diriam que só mesmo no início dos 2000..).
Só no meu quarto livro, Mastigando Humanos, que eu fui assumir essa carga pop e escrever como um jovem escritor, tentar fazer algo novo...
Então eu vejo muitos jovens escritores que querem escrever como senhores escritores e que acabam fazendo algo que para eles é um desafio, fazer uma literatura clássica, mas que para o meio, para os leitores, para a literatura em si, é algo que já foi exaustivamente feito, refeito, que já é batido, cafona.
Outra coisa que tenho notado muito é a dificuldade em encontrar a voz do personagem. O escritor não quer sacrificar sua própria voz, sua eloquência, seu vocabulário, em nome da voz do personagem. Então faz um personagem adolescente, um personagem criança, e é sempre uma criança prodígio, porque não pode falar como uma criança fala.
(“Todas as crianças são prodígios”, já diria Jesus, ou Michael Jackson.)
Faz parte do talento do autor dar uma voz condizente ao personagem. Se você não quer sacrificar seu vocabulário, sua articulação, então faz em terceira pessoa, ou conta a história da criança a partir do ponto de vista dela já adulta, sei lá.
Mas enfim, essas são algumas das coisas que eu tenho discutido muito com quem eu faço leitura crítica. E também falo muito sobre isso no meu curso Caminhos para a Publicação, que é bom para você entender de fato como funciona a escrita, a publicação e a divulgação de um livro nos dias de hoje. São 400 minutos, 200 reais e está todo gravado lá no site do centro cultural Astrolábio.
(O textão era só para te pegar no merchan...)