Esses dias eu comentava sobre Inteligência Artificial na escrita, que não vejo graça, porque a graça de escrever um livro é escrever um livro.
Mas eu tenho visto cada vez mais, lido cada vez mais, revisando traduções e mesmo em leitura crítica. Fica tudo com a mesma cara e tô me tornando um especialista em identificar.
Esses dias peguei um livro que tinha todos os maneirismos de IA; o autor tinha me pagado para a leitura crítica, então fiz meu trabalho, fui lendo e marcando artesanalmente: “isso parece IA”, “isso parece tradução mal-feita...”
(Depois o autor me escreveu confessando que tinha usado a ferramenta...)
Daí tava pensando nos três pontos principais que me fazem identificar um texto de ficção feito por IA:
1. Falsa coloquialidade: parece que a IA quer mais parecer humana do que escrever corretamente. Então abusa das contrações – o pra, tava, prum -, não só nos diálogos, mas na narração também. Ao ponto de soar falso.
2. Má tradução: a IA usa expressões em português que parecem tradução direta e dura do inglês. E usa a tradução mesmo quando não é necessário – tipo, para nomes de drinques. Esses dias eu peguei um personagem com o nome de Enferrujado, que parece uma tradução direta de Rusty. Mas em português ninguém chamaria alguém de Enferrujado, seria Ferrugem. São coisas como essas que entregam.
3. Português de Portugal: A IA às vezes escorrega em expressões e construções que são mais próprias do português de Portugal, como eliminar os gerúndios: “Eu estava a andar quando o encontrei”.
E esses são só os três pontos mais flagrantes.
Eu ainda não consegui encontrar utilidade e graça pra IA. Mas fico pensando se não serviria, por exemplo, quando estou reescrevendo por extenso todos os numerais que encontro numa leitura crítica.
De toda forma, acho que essa expertise que estou criando de IDENTIFICAR IA em ficção já é bem-vinda. Como jurado de prêmios, se pego uma coisa dessas, você está desclassificado...