24/08/2016

8ª – EREVAN


O monte Ararat, visto do Museu do Genocídio Armênio. 

Entre minhas cidades favoritas do mundo, não poderia me esquecer da capital da Armênia.

O cascade, um museu a céu aberto em Erevan. 

 É também das viagens mais recentes da lista, outubro do ano passado. Há muito eu queria conhecer a terra dos meus antepassados, e com a grana de roteiro e direitos vendidos, pude me programar e chamar minha mãe para ir comigo.

Com minha mãe, do alto do Cascade. 

A Armênia hoje é uma fatia do que já foi, o que sobrou da ex-república socialista soviética e não foi tomada pelos bárbaros turcos, e embora esteja em relativa paz, encontra seu povo dividido e os conflitos internos se intensificam. Há uma grande diáspora, dispersão de seu povo; costumam dizer que há dez milhões de armênios: três milhões na Armênia e o resto espalhado pelo mundo. Eu nunca entendo exatamente quem são esses sete milhões – eu, por ter sobrenome e avós maternos armênios estou na contagem? Aparentemente sim; ao menos essa foi a sensação ao conhecer o país.

A Praça da Liberdade de noite. 

Já viajei muito, fiz muito turismo, e sempre há a sensação de estar visitando a história do outro, de ser o forasteiro. Minha viagem pela Armênia provocou uma sensação diferente, de eu fazer parte daquela história, porque afinal existo pelo que aconteceu lá, e talvez também por eles tomarem como armênios todos nós que temos o sobrenome.


O reencontro com as raízes já começou na embaixada. Fui com minha mãe pegar o visto e fizemos uma entrevista informal, situando-nos na colônia, identificando os parentescos, foi tranquilo. Não sei se para odars (não armênios) o processo é mais complicado.

A viagem não é tão cansativa. Um vôo para a Europa (fomos por Paris) e mais umas cinco horas até a capital, Erevan.

Dona Elisa saindo da capital. 

A capital: me surpreendeu. É uma cidade mais bonita e européia do que eu esperava. Eu não diria cosmopolita, parece uma pequena cidade europeia, mas é limpa, segura e com belas paisagens. Um bom termômetro para mim é sempre o supermercado, e eu viveria feliz com os supermercados de lá, a oferta de produtos, chocolates... e principalmente... VODCA! Herança da dominação soviética.

A seleção de vodcas de um pequeno mercadinho...

Circulamos bastante pelo país em viagens curtas, de um dia, porque afinal é um país pequeno. E conhecemos paisagens exuberantes, florestas e montanhas. Para mim a parte da natureza foi a mais fascinante, porque o turismo é muito calcado na religião (cristã), em igrejas e mosteiros, que por si só não me interessam tanto.

Viajando pelo país, com os carneiros parando o trânsito. 

Como viemos de uma parada de quatro dias em Paris, cidade linda, mas exaustiva para o turismo, a Armênia me pareceu mais um paraíso. Visitávamos os pontos turísticos com meia dúzia de russos, um ou outro armênio de outro lugar do mundo. Tudo vazio, um pouco melancólico, mas muito bonito e tranquilo.

Típico restaurante turístico. 

Não comemos muito bem. Procuramos os melhores restaurantes da cidade – há os que servem a comida armênia antiga, mais próxima da libanesa, e os que servem a cozinha armênia atual, mais próxima da soviética – mas não encontramos nada muito memorável. (Bem, eu me lembro que num deles comi o PIOR carneiro da minha vida). O mais gostoso que provei por lá foram os pães e doces vendidos nas vilas, em barracas.

Essa carne com cerejas foi o melhor prato que comi por lá. 

A hospedagem foi no Anni, um antigo hotel soviético, 4 estrelas, com quartos grandes, vista para o monte Ararat, e um excelente café da manhã.

A vista do quarto de hotel. 

Não posso dizer nada sobre a noite de Erevan, porque fui com minha mãe e não fomos além de restaurantes. Sei que não há “vida gay”, mas há lugares um pouco mais alternativos.  O povo não é nada simpático. Ninguém fala inglês e ninguém quer ajudar; tem aquela coisa de taxista tentar passar a perna em turista, e mesmo em lugares obrigatórios como hotéis e shopping o povo não se esforça. Não é um povo especialmente bonito, as mulheres se sobressaem bastante. E homens como eu, com tatuagem, cabelo comprido, chamam muito a atenção. Mas também não tive nenhum problema, além de olhares atravessados constantes.


Pelo interior. 


Eu voltaria com certeza. Ficaria mais. Moraria um tempo para tentar entender melhor o clima, embora sei que seria uma estadia difícil. Ainda é um país bastante conservador, homofóbico, mas que eu gostaria de pesquisar mais a fundo para, quem sabe, um futuro romance.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

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