ORELHAS PONTUDAS
"Talvez o maior desafio dos novos prosadores seja realmente contar uma história com começo, meio e fim. Pode parecer uma estrutura convencional, mas é um talento que, ao meu ver, está se perdendo. Por isso procurei escrever um livro absolutamente linear. E fiquei bem contente com o resultado."
Trecho de uma entrevista bem interessante que Carlos Minehira, do site República do Livro, fez comigo. Vocês podem ler na íntegra no:
http://www.republicadolivro.com.br/info.php?not=622&oque=2&cd_editora=0
Saiu hoje também uma matéria de capa do Caderno C, do Correio Popular, de Campinas, sobre "Feriado de Mim Mesmo". A matéria é excelente, assinada por João Nunes. E quem me mandou foi o escritor J. Toledo, autor do "Dicionário de Suicidas Ilustres". Depois coloco um trechinho aí na página do "Feriado".
E esta semana entreguei para a Editora Globo a orelha e o press release que me encomendaram para o livro "Crônicas Marcianas", do Ray Bradbury, que será publicado por eles em breve. O livro é um clássico da ficção científica, escrito nos anos quarenta, e tem uma lógica peculiar. Não há nada de homenzinhos verdes e pistolas laser, é um livro de crônicas cotidianas da vida em marte. Coisas como brigas de casais marcianos, a colonização humana por lá, jardinheiros que plantam árvores para "trazer mais oxigênio a atmosfera rarefeita de Marte" Uma coisa assim, meio "Sci-fi Lullabies".
Estou me especializando em textos de orelhas. Já fiz os dos meus três romances, a do livro da minha mãe e agora esse, sob encomenda. Uma coisa que eu odeio é essas orelhas assinadas "cabeça", em que o cara quer mostrar como fez uma análise profunda da obra. Isso não é papel de orelha, isso é papel de prefácio. Orelha tem de ter um texto curto, que dá uma idéia geral do livro, pro cara que está na livraria, fuçando Sidney Sheldon e Maitena, ficar interessado.
Por isso não deixo ninguém botar o dedo nas minhas orelhas.
O texto de orelha desse livro "marciano" eu não posso colocar aqui. Mas logo vocês verão nas livrarias. O prefácio é do Donizete Galvão.
Interessante é sentir esses diferentes tipos de leitura que estou tendo de fazer. Quando se escreve uma resenha, é preciso ver o texto com um olhar analítico. Quando se faz uma tradução, deve-se ler o texto com os olhos do autor, mas num outro código. Quando se faz uma orelha ou press release, é preciso ler o texto com um olhar quase publicitário.
Mas como acompanhar o fôlego da minha própria escrita, quando meus dedos insistem em criar olhos de peixe?