10/12/2005

HOHOHO

Sempre tem um pessoal me perguntando onde encontram textos meus por aí (principalmente porque muitos querem uma amostra grátis antes de comprar um livro – compreensível, já que música a gente escuta no rádio, baixa na internet, vê na MTV e só depois decide comprar o disco).

Então vai aí um inventário de todos os meus textos de ficção que já foram publicados em papel ou na net, com trechinhos e alguns (os que estão na net) com links para serem lidos na íntegra. Eu não posso mandar nada por email, claro, muitos contos foram pagos e não vou sacanear quem me pagou :

- Pó de Vidro e Veneno de Cobra - na revista Ficções Número 12 (Ed 7 Letras)

Como as serpentes, eu podia sentir. Eu podia sentir cada mínima variação de calor, graças à terceira narina que se abrira no meu rosto. Era para isso que servia. Para enxergar sem luz, para sentir sem o tato, para escutar sem som. Um sexto sentido, se abrindo em meu rosto, como cicatriz.

- A Mulher Barbada - no livro "Parati Para Mim" (Planeta)

Sou apenas mulher. Sou o bastante e estou viva, finalmente, posso contar minha história. Posso vivê-la intensamente, em páginas amassadas, em papel de pão. Posso deixar a barba crescer sobre o meu rosto e o peso do corpo envergar minhas costas. Minha cama. E enquanto eu tiver esses dedos, enquanto eu tiver vontades, você vai ter de me ouvir.

- Serpentes com Braços - no livro "A Literatura Latino Americana no SéculoXXI" (Aeroplano)

Por mais que tentasse ver os garotos como serpentes, por mais que quisesse ser apenas um rato para alimentá-los, por mais que desejasse ser textura entre os dentes, tecido constituinte, proteína animal, ele sabia, eles sempre teriam pernas para lhe pisar.

- Como Desovar Cogumelos - no livro "4X Brasil" (Artes e Ofícios)

Na mesa da sala há uma pesada escultura de Fredy Keller moldada no crânio de um cervo. Pode parecer algo um pouco macabro. Certamente é uma obra pesada. Mas tem o peso exato que eu preciso. O peso exato que eu preciso sobre o crânio de Adelino. Acerto-o. Rachado. Ele vem ao chão. Ninguém precisa de mais um escritor que escuta Chico Buarque.

- O Vendedor de Mancebos - na Revista E (Sesc)

O verão lhe trazia um ultimato. Vinha voando pela janela aberta e deixava para trás véus de uma cerimônia que eles não tinham. Sem cerimônia, os cupins invadiam seu apartamento, devoravam seus móveis, o deixavam cada vez mais próximo do chão. O chão também era de madeira, isso o fazia pensar que, em breve, ele afundaria num buraco sem fundo. E não era nada poético pensar assim.

http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=227&Artigo_ID=3544&IDCategoria=3868&reftype=2

- Aranha no Açúcar - na revista Bravo!

E antes que eu pudesse abrir qualquer página, uma aranha subiu na minha mão, prendeu-me ao livro com sua teia, passeou por entre meus dedos. Melado eu estava, melados meus dedos. Tinha medo. De que ela me mordesse pelo açúcar.

- É o Câncer que me Faz Sorrir - no jornal Folha de São Paulo

Com o tempo, vaidade; mais vício do que latinidade. Exercitar os músculos faciais, criar um coringa, proteger minha tela. Sorrindo para não despencar. Marcando o rosto para não me esquecer. "Vaidade, doutor, vaidade. É a vaidade que me faz franzir."

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi3001200527.htm

- Quasímodo - no site Portal Literal

E quem mergulhou e quem dormiu. Quem badalou e saiu. Quem ligou o rádio e se esqueceu, se esqueceu. De nós dois, que ainda vivemos, ainda não morremos, ainda dormiremos.

- O Amolador de Facas - no site Bestiário

Imaginava o que havia por trás daquele almoço, por trás daquela mancha, por trás daquele olhar. Um tapa do marido. Uma faca para se defender. Uma faca para atacar. Para morrer. Se suicidar. Precisava ser bem afiada, para atravessar a barriga. Precisava de um fio perfeito, para romper a jugular. Para cortar a cebola do almoço, para faze-la chorar.

http://www.bestiario.com.br/16.html

- O Chamado (Selvagem) - no site Patife

Sete dias sem dormir. Mas mesmo assim parece que entre domingo passado e este foram apenas um abrir e fechar de olhos. Piscar. Esquecer. Strobes que me fazem ser quem eu sou. Eu nem sei. Acho que sou um pouco mais com ele olhando para mim. Enquanto ele nada dizer, eu vou ficar bem quieta. Boca fechada. Mandíbulas travadas. Mas ainda assim sorrindo. Porque o sorriso flui dentro de mim.

http://www.patife.art.br/outras_santiago.php

- O Pequeno Conto que Sorri - no site Patife

E as duas velhinhas cruzavam as pernas e os braços, cruzando a tarde em vão e vaidades, vaidades e infusões, num inverno solitário. Lá fora, amores resistiam, choviam e derrapavam, tentando voltar para casa, para as cobertas, para os braços uns dos outros, para fugir do frio.

http://www.patife.art.br/especial_encontros_santiago.php

- Espinha de Peixe – no site Arte e Política

Curvava-se na pia e sentia a dor nas costas. Curvava-se na pia e sentia a espinha. Colocava a mão, descurvava-se na frente do espelho. Olhava em seus olhos. Via a si mesmo. Nenhuma escama. Nenhuma espinha. Nenhum reflexo de peixe em seus olhos puxados, em seu rosto adolescente. Hau ainda era o mesmo, apesar dos dedos.

arteepolitica.com.br/literatura/contos/espinha_depeixe_nazarian

- Quando Eu Escrevo - no jornal O Globo

Pois quando ele me chama, quando diz que me ama, quando o amor me alcança, quero apenas ser mulher.

Além disso, espalhados aqui aqui nos arquivos do blog vocês podem encontrar os contos "Depois do Sexo", "Seis Dedos pra Contar", "Velhos Sapatos de Dança", "Ela não Sabe Nadar", "Irmão Sol, Irmão Água" e "Dois Perdidos na Rua Augusta".

Pronto, já tá bom de presente de Natal.

NESTE SÁBADO!