05/01/2006

VERÃO VINDO ABAIXO

Estou tentando escutar Brian Ferry, mas meu aparelho de som se recusa. Ele tem cerca de sete anos, comprado naqueles multilets de chineses que não pagam imposto e que atualmente são perseguidos pela polícia. Têm minha simpatia, são meus piratas modernos - ou "Robins Hoods" - e eu gostaria de vê-los pegando na espada. Seria lindo, imagina só, a polícia de cacetete em mãos e os chinas de espada em riste liderados pelo filho bastardo de Lao Kin Chong (é assim que se escreve?). Eu poderia ser o traidor ocidental que se alia a eles, armado com minha pistola...

Mas enfim, meu refrigerador não funciona. Ultimamente só toca o cd do "Cansei de Ser Sexy", que já está me cansando, mas ainda fica entre os melhores do ano (passado, que ainda não passou).

Tenho ido dormir todo dia as 6 da manhã. Antes, acendo as luzes UVA/UVB, acordo o Araki, coloco ele no meu colo e fico partindo as acelgas e os almeirões e as couves e as escarolas. Ele fica me olhando com aquela cara de cobra sem língua - como nos preenche o amor dos filhos, não? - daí come sua salada, escala os troncos e começa seu dia. Eu termino o meu.

Acordo à uma da tarde e está sempre chovendo, nublado, King Kong destruindo os prédios. É esse o começo do ano ou final do mundo? Eu pedi Godzilla, Jesus, Godzilla, não King Kong. Se é para sermos esmagados pelo peso de uma pata gigantesca, que seja a sangue frio.

(É mais ou menos sobre isso que será minha peça, se eu conseguir terminar de escrever).

Ganhei uns livros interessantes nesse final/começo de ano. Até uma versão de "Budapest", do Chico, em inglês, vejam só. Eu nem li em português, deve ser mais exótico ler um livro chamado "Budapeste", escrito por um brasileiro e traduzido para o inglês, não?

Daí acho esse trecho de um roamnce antigo, que eu mesmo escrevi mas nunca publiquei:

Quis ligar o rádio para saber a temperatura. Faltava pouco. A primavera já preparava seus fogos de artifício para esconder as estrelas no céu. Esconderia as estrelas em seus olhos e silenciaria as batidas do seu coração. Um suspiro perdido na orquestra. Mas manteve silêncio. Seu amor ainda dormia. E fazia o dia mais quente e verdadeiro. O sono de um amor estirado. Preenchendo o quarto com um aroma doce e o ruído tranqüilo. Da respiração. Do Gás carbônico. Partindo de seus pulmões e envolvendo-o num triste carinho. Partindo ao meio. Apertando a garganta, roubando o oxigênio, sufocando até a morte, de tanto amar. Ele morreria. E ainda, diria alguém, amaria outra vez.

Não está bom, eu sei, ao menos não tudo. Por isso não publiquei. Mas alguns trechos foram espalhados por aí. É o livro secreto de Thomas Schimidt, que está no "Feriado". Olhou pela janela e só viu o inverno...

Hum, Brian Ferry desemperrou finalmente. Está cantando Dylan:

Oh, where have you been my blue-eyed son?
Where have you been, my darling young one?
I've stumbled on the side of twelve misty mountains
Walked and I've crawled on six crooked highways
Stepped in the middle of seven sad forests
Been out in front of a dozen dead oceans
I've been ten thousand miles in the mouth of a graveyard

And it's a hard rain's a gonna fall

Por hoje tá bom.

TIREM AS CRIANÇAS DA SALA

(Publicado na Ilustríssima da Folha deste domingo) Do que devemos proteger nossas crianças? Como não ofender quem acredita no pecado? Que ga...