24/04/2006

SELVAGENS (NOS TRÓPICOS) TÊM SANGUE FRIO

Não tem acontecido muita coisa por aqui... Ou tem acontecido coisa demais e eu não estou tendo a estabilidade de narrá-las...

As madrugadas têm sido produtivas, pelo sexo e pela literatura (isso quando eu não misturo as duas coisas e acabo lendo putaria). Dia desses acordei num hotelzinho vagabundo com paredes descascando, aqui do lado de casa. Se eu olhasse pela janela, poderia ver meu próprio quarto... a cama vazia. Mas olhando para o lado, encontrei o amor que tornou aqueles lençóis mais dignos do que os meus vêm sendo...

Na madrugada seguinte, consegui ler "Macbeth" numa tacada.

Dia desses fui dormir depois de ter lido mais uma porcaria do Clive Barker – "Human Remains" – e lamentando comigo mesmo: "Por que eu insisto?" ... porque depois que decorei a propaganda do "Chatline", eles colocaram a do "Fala Mania".

Outro dia acordei com o Araki dando rabadas no meu rosto e exigindo: "Vamos lá, vá preparar minha salada." Não vou discutir com tem sangue frio... Selvagens me levam pra cama. Silvestres me fazem levantar...

Minha trilha sonora tem sido "Perfídia", naquela versão instrumental do filme "2046".

Cansa bastante ser a mesma pessoa todos os dias. Você não se cansa porque raramente pode ser você mesmo, trabalhando no escritório, falando em nome de uma empresa, tendo seus horários de almoço definidos por outros. Mas quando todo seu trabalho é assinado com seu próprio nome e sua personalidade se torna parte desse trabalho, você quer fugir para Porto Alegre, Londres, ser barman de um prostíbulo gay. Será que ainda consigo?

Atores sempre conseguem. Não se cansam de ser Macbeth todo final de semana? Minha relação com o teatro tem se intensificado, mesmo quando vou assistir o Paulinho Vilhena. Excelente tradução de Maria Luisa Mendonça e Christiane Riera... Hoje me sinto no direito de ser hermético.

A literatura não tem me bastado. Quero realmente mastigar humanos, digerir seus sonhos. Talvez seja porque o livro já está pronto há um tempinho. Preciso avançar em outro, ter sangue frio em países menos tropicais... Deixe-me avançar sobre você.

Já estou com quase todas as ilustrações aqui. Dez ao todo. Entram no decorrer do livro acompanhadas de legendas, que são frases do livro, mas não necessariamente daquele trecho. A idéia é criar um movimento interno, fazer com que a ilustração de uma cena relembre a frase de uma passagem anterior ou mesmo anuncie uma frase que surgirá posteriormente. Entendeu? Não? São as ligações internas do texto. Mais ou menos como eu fiz em "A Morte sem Nome", repetindo frases em novos contextos, mas agora acompanhadas de ilustrações.

Bem, quando você tiver o livro, você vai entender. Sai no começo do segundo semestre, blablablablá, ansiedade minha.

(Ai, não entendo esses escritores que escrevem literatura confessional, que têm blog...)

"Pele de Asno" é o filme mais kitsch que eu vi na vida.

NESTE SÁBADO!