EM CASA DE GÓTICO TEM MARSHMELLOW NO ESPETO
Hoje fui assistir "O Albergue", do jovem diretor americano Eli Roth. A idéia é ótima: um albergue na Eslováquia onde turistas são aprisionados para serem torturados por ricos empresários que pagam para serem "psicopatas por um dia". O filme é violento, bem violento, mas tem um certo humor negro. Poderia ser mais assustador, se tivesse um clima mais onírico (como no "Massacre da Serra Elétrica" ou "Audition") e uma trilha sonora menos previsível. Do jeito que foi filmado, acaba se aproximando mais de um filme de ação e suspense do que um filme de terror. Afinal, um bom filme de terror precisa ter uma certa estranheza na técnica. Mas tá valendo.
Filmes com temática "snuff" há aos montes. Talvez o mais famoso seja "Oito Milímetros", do Joel Schumacher, estrelado por Nicolas Cage, mas está longe de ser o melhor. Há "Tesis – Morte ao Vivo", primeiro filme do diretor espanhol Alejandro Almenabar. Esse sim genial, sobre uma estudante de jornalismo que estuda "a violência nos meios de comunicação" e acaba conhecendo o submundo do snuff – vídeos com cenas reais de pessoas torturadas e mortas.
Há quem diga que isso não passa de lenda urbana. Eu duvido. Afinal, há todo tipo de louco no mundo, não é difícil acreditar que há gente seqüestrando e matando "em nome da arte". Aliás, esse é um conceito bem discutível – se poderia ser enquadrado como "arte extrema" ou se não passa de pornografia violenta. De repente existem filmes snuff que são podreira pura, outros podreira com um conceito por trás. Sei lá.
Muitas histórias famosas de serial killers têm base em conceitos religiosos ou filosóficos (a própria seita de Charles Manson, por exemplo), entretanto não me lembro de nenhuma que se apoie simplesmente nos conceitos da arte. Claro, existem performances radicais de "body art" que levam à morte, mas não podem ser enquadrados como "snuff" por não estarem relacionadas a um crime. Não há vítima. O artista está se mutilando por livre e espontânea vontade.
David Bowie fez um disco inteiro sobre isso, Outside, de 1995 (um dos meus favoritos). É um álbum conceitual que narra a história do seqüestro de Baby Grace, uma jovem de 14 anos que é torturada e morta como forma de arte. A história é contada por vários personagens no encarte do cd e nas 19 faixas, mas não tem um desfecho. Bowie prometeu que o disco teria seqüência, o que nunca aconteceu.
Outras bandas como Marilyn Manson e Nine Inch Nails (a maior influência de Bowie para compor "Outside") também trabalharam com "snuff" em áudio. Algumas, como o Christian Death e o Faith No More, chegaram a fazer supostos curtas snuff. Como diria Sílvio Santos: "Eu não vi, mas minha filha número três viu e disse que são fake." hahah.
Em livro eu não me lembro de muita coisa. Tem um cara chamado Marcos Fábio Katudjian (outro armênio, veja só), que lançou um romance chamado "Snuff Movie – Depois do Fim do Mundo", em 2002. Eu não cheguei a ler. Paulo Scott também toca rapidamente no tema em seu ótimo romance "Voláteis", lançado ano passado. E tem o Dennis Cooper, autor americano que pega pesado misturando o tema com pedofilia e homossexualismo. Uh-lalá.
No cinema, além dos que já mencionei, tem o recente "Jogos Mortais", que não lida exatamente com "snuff", mas tem essa idéia da tortura como uma forma de arte. Isso está presente também no excelente "Funny Games" do Haneke e até no "Pânico", do Wes Craven. Outras merdas misturam snuff e paranormalidade, como em "Vozes do Além", "Medo.com" e "Na Companhia do Medo". E tem um filme esquisítíssimo do Cronenberg, chamado "Videodrome", que vai para o lado sci-fi. Esse último vale só pela presença da Debbie Harry, que numa cena assiste a um snuff, fica taradinha e diz: "Ai, nasci para participar desse tipo de filme". Hahaha.
E eu mesmo já dirigi um curta snuff, sim! Duvida? Duvida? Chama-se "Ame o Garoto que Segura a Faca" e até tem ficha técnica no IMDB. Mas era tudo brincadeira e tosqueira. Eu tinha 19 anos, era gótico e estudava comunicação. Haha. Resolvi fazer um curta onde um psicopata "fashion" tortura uma garota fora de moda, que fica chorando e borra toda a maquiagem. Haha. Cheguei até a cortar a menina em cena (sim, ela topou). O curta foi bem realizadinho, tive uma equipe legal. Gosto bastante da fotografia e da edição. Só que o principal problema é que EU resolvi fazer o papel do psicopata. Afff... Pelo menos encerrei minha carreira de ator a tempo...
(Não. Nem adianta vir com email me pedindo o vídeo ou perguntando onde se pode assistir. Com sorte, não existe mais nenhuma cópia... Pior que outro dia me escreveu um leitor que lembrava desse vídeo....)
E antes que alguém comece a ter idéias sórdidas, digo: prefiro sujar meus lençóis com marshmellow do que com sangue, ok? Traga marshmellow e nós conversamos.