29/01/2007
Tava esquecendo: "Le Kitsch C'est Chic" de amanhã com Daniel Peixoto, vocalista do Montage. Fora ele, temos som de Cesária Évora, Omara Portuondo, Françoise Hardy, Serge Gainsbourg e muito mais. Amanhã, 18h.
(ps - os programas do ano passado já estão disponíveis para ouvir a qualquer hora no www.mixbrasil.com.br/radiomixbr)
28/01/2007
"Minhas cicatrizes contam uma história. Mais bonita quando lida em braile."
Tenho preferido me relacionar com analfabetos. Só eles são capazes de aproveitar o que tenho a oferecer sem me devolver um email no dia seguinte com algo do tipo: "Eu também escrevo. Quando tiver tempo, dê uma olhada."
Detesto essa gente instruída, argh, detesto gente com aspirações. O meteoro já tá caindo, meu amor, vamos desistir de subir e nos deitar. E nos amar. Oh!
Mas até para isso é preciso se elevar...
Os analfabetos também têm a conveniência de não perguntarem sobre meu "Ex", nem sobre nenhuma outra letra tatuada no meu corpo. Eles interpretam tudo como desenhos e às vezes até confundem tatuagens e cicatrizes e acham que é tudo a mesma coisa e não entendem o que significa. Outro dia sentava-se no meu colo um assim. Analfabeto porque:
a) Era uma criança inocente
b) Um estivador inocente
c) Um dislexo rebelde
d) Um cego enrustido
e) Um estivador mirim dislexo e cego. Porém culpado.
E ele apontava para minhas cicatrizes tentando entender o significado, como o das tatuagens. Listras indie no braço, queimadas pelo forno aceso. Unha preta à lá emo, esmagada pela porta do carro. Hematoma-chupão no pescoço, de picada de aranha. E, antes que ele encontrasse, encostei seu dedo entre meus cabelos, no alto da cabeça para mostrar a protuberância que - não, não era um chifre - foi a porta do congelador, quando eu tirava o rosto de dentro da geladeira.
(Por ele ser analfabeto, nem precisei explicar que eu estava com a cara na geladeira como uma releitura glacial do suicídio de Silvia Plath)
Mas só depois de tudo explicar comecei a perceber que minha casa andava muito agressiva comigo. E que não bastavam os vazamentos e panes elétricas e ataque-cardíaco do meu computador, agora o apartamento também queria acabar com minha raaaaaaaça!
E me dá uma preguiça, porque isso já me inspirou uma novela de um cara trancado num apartamento, e um conto de um garoto que vai apodrecendo, e um romance de uma mulher que se suicida várias vezes; então percebo que chega, que é hora de mudar de tema, e que meu ambiente, por favor, se torne um environment.
Cheguei até a comprar um computador novo, há mais de uma semana, mas ele não quer vir para esse lar amaldiçoado, fica se embonecando na casa dos padrinhos e, quando eu ligo, manda dizer que não está.
"Stratford, não estamos nos entendendo..."
Para tentar ser uma pessoa mais integrada - ao menos ao mundo dos humanos visualmente lidos - fui hoje ao desfile da Fábia Bercsek no SPFW. Psicodelia indiana, estampas de cogumelos, tons violetas, brilho e glamur. E eu - maldito alfabetizado - não saberia exatamente explicar em palavras (também não li com os dedos, não-não). Só achei tudo muito suave e muito pacífico e nenhuma fivela de cinto me atacou, e nenhum pedaço de tecido me enforcou, e até a cadeirinha arriscada de papelão da primeira fila suportou muito bem meus 68kg e foi boa comigo.
Veja só, como no mundo da moda, tudo é tão lindo.
E você diz que tem um conto pra me mostrar?
Ps- Ilustração lá de cima parece sim com a capa de "A Morte Sem Nome", porque foi feita também por Guilherme de Faria, que foi casado durante a era hippie com Elisa Nazarian, e que junto a ela deu origem a toda essa maldição.
22/01/2007
Gretchen boleten pisa no chicleten.
O que é um país malemolente, não petizada? Um escritor de respeito acompanha repórteres de uma revista de nu masculino ao show da Rainha do Bumbum, que já tem lá seus cinqüenta anos e... esconde muito bem a região do corpo que a consagrou!
Isso, sábado, show da Gretchen na Bubu Lounge. Ela sobe num palquinho improvisado, com uma calça branca quase até a altura do umbigo, bustiê branco à lá cantora do Calypso, e começa os hits de sempre, devidamente dublados. A gurizada toda levanta o celular, quase numa paródia hi-tech dos isqueiros de antigamente, e registra em fotos e filmes todo seu rebolado. Meu celular é objetivo, fala e escreve. Mas eu o uso para anotar cuidadosamente o set-list e as letras dessa poliglota das interjeições sexuais.
Gretchen agrada, faz sucesso, e me faz pensar que ainda hoje pode se apresentar em boates do Brasil todo com a casa cheia. Claro que ninguém leva a sério, nem ela, é quase uma cover velha de si mesma, mas assim parece mais fiel ao seu espírito do que nos anos 80, satiriza a breguice e a surrealidade de sua “música” e figura. Será que o Grupo Calypso estará fazendo o mesmo daqui a vinte anos?
Existe obviamente um carinho do público por essa que já é uma figura lendária da cultura popular brasileira. Em determinado momento Gretchen até sublinha uma nostalgia: “Essa música fazia as meninas aqui, quando eram pequenininhas, rebolarem de shortinhos. Os menininhos se escondiam no banheiro... e rebolavam também!” E começa a Melô do Piripipi.
Até quando Gretchen procura se mostrar “moderna”, com duas músicas novas, soa mais do que retrô: um “techno” com bases do começo dos anos 90 e coreografia de cabelon, como fazem os melhores travestis. Moderna mesmo ela consegue se mostrar ao apresentar sua filha Thammy no palco, que teve um breve período de aspirante a “Princesa do Bumbum” e resolveu se rebelar assumindo seu lado caminhoneira. Tudo no lugar certo.
Mas minha incursão aos insólitos palcos da noite gay não se restringiu ao “Freak Le Boom Boom”. Antes disso, sexta, acompanhei o show da travesti (como ela mesmo se denomina) Cláudia Wonder, no Glória.
"Não, isso eu não faço."
“Eu não sou uma dama, eu sou um travesti”- ela canta na sua faixa “hit” (“Travesti”), que não deixa dúvidas e dispensa eufemismos. Suas letras são sobre o underground paulistano, o submundo dos transexuais (ops, desculpe, travestis), como na faixa “Atendimento”, em que ela canta em resposta a uma ligação telefônica: “Faço. Faço. Não, isso eu não faço. Não, isso eu não faço.”
No caso de Cláudia Wonder, podemos sim levar a sério. Boas letras e ótimas bases eletrônicas (a cargo do duo Visavis). Talvez por isso mesmo jamais fará o sucesso de um Gretchen dos anos 80, mas afinal Wonder direciona-se para o underground, é mais elaborada e mais exclusiva.
E depois disso tudo eu repensei meus planos de colocar silicone num seio só, para contestar o falso equilíbrio do ser humano.
Hoho.
Para terminar, programa “Le Kitsch C’est Chic” de amanhã está especialmente chique. Temos entrevista com Esmir Filho, jovem cineasta, diretor de, entre outros, “Tapa na Pantera”, o primeiro clássico do YouTube. No som: Dan Nakagawa, Belle and Sebastian, Kwan, Fats Domino, Grace Jones e muito mais.
www.mixbrasil.com.br/radiomixbr (18h e 23h, terça)
(Gretchen no meu programa? Não, isso eu não faço.)
19/01/2007
Ah, essa tecnologia vai acabar comigo. Ontem avancei pela madrugada vendo as maiores bobagens no YouTube. Sim, ele chegou só agora à minha vida. Não, nunca vi o vídeo da Cicareli na praia nem do Sadam sendo enforcado (e vice-versa). Mas tem algum com o Felipe Dylon?
Haha. Nah, Felipe Dylon nem enforcado. Mas vi a Mara caindo da gangorra, o Silvio xingado por uma garotinha, Les Rita Mitsouko com Vanessa Paradis, Batman na Feira da Fruta e a Björk dançando com seu marido gato (acima), no fantástico clip "The Triumph of a Heart". (esse eu coloco o link)
http://www.youtube.com/watch?v=X90ivlL1Ai4
Eu precisaria de meses para ver todos os links que me passaram de lá nos últimos tempos, as coisas mais insólitas e inúteis. Não é a toa que não li os originais que você me mandou, né? Nem posso comentar no seu blog ou avaliar suas poesias. Todo o meu tempo livre é sugado por isso, isso, isso, oh! que chamam de pós-modernidade.
Então coloquei como tempo de serviço ler a Flannery O'Connor.
E falando de serviço e de YouTube, semana que vem meu convidado no "Le Kitsch C'est Chic" é o jovem cineasta Esmir Filho, responsável por, entre outras coisas, o cult internético "Tapa na Pantera" (é, lembrei, foi isso que me levou ao YouTube ontem e me deixou lá por algumas horas). Sim, meu programa de web-rádio está de volta com convidados. E parece também que os programas antigos já estão disponíveis no site para ouvir a qualquer hora. Experimente lá:
www.mixbrasil.com.br/radiomixbr (clique no "Le Kitsch C'est Chic")
Enquanto você escuta, eu fecho o navegador e dedico essa madrugada à tradução de um filme. Não é a toa que não posso ir à sua festa. Não posso mais pensar em namoro. Não me chame para tomar um drinque ou sentar num café. Todos os meus hormônios estão nisso, isso, isso, oh! que chamam de produtividade.
(Enganei você! Festinha! Marcelino Freire, Laerte Késsimos, Ivam Cabral, eu, Zed e Cléo de Páris na festa do Laerte, semana passada)
15/01/2007
Acabei de ser informado por email do falecimento de Ray-Güde Mertin, que sofria de câncer há alguns anos.
Ray era uma alemã apaixonada pelo Brasil e pela literatura brasileira – morou muito tempo aqui inclusive – e se tornou a maior agente literária de língua portuguesa no exterior.
No seu catálogo de autores está gente como José Saramago, Lygia Fagundes Telles, Luis Fernando Veríssimo, Marçal Aquino, Lya Luft, Raduan Nassar e Guimarães Rosa, entre outros grandes.
Tive a honra de entrar nesse roll no final de 2004. De lá para cá, a Ray vendeu obras minhas para Portugal e Itália e estava negociando novas publicações. Sua agência representa minha obra em todos os países do mundo, exceto Brasil (onde não trabalho com agente, só com assessoria).
Pessoalmente, nos vimos apenas duas vezes, sendo a última na Bienal do Livro de São Paulo, ano passado. Ray se mostrou uma alemã divertida e despojada, apesar de não ter conseguido beber minha caipirinha de carambola – que ela achou HORRÍVEL. Hehe. A única foto com ela que tenho é desse dia, e estava no meu HD que queimou. Então foi perdida. Esse é o futuro da fotografia digital.
O trabalho de sua agência permanece com sua equipe, e eu continuo sendo representado por eles lá fora. Mas uma ponte importante da literatura brasileira para o exterior certamente foi perdida.
Um brinde à Ray, com melhores carambolas.
12/01/2007
(Nazarian diz: “Ninguém pode me chamar de emo porque meu cabelo é um ninho de rato.” Strausser diz: “Não, ninguém pode te chamar de emo porque você circula pela Augusta com gente erudita.”)
Vocês já repararam que isto aqui é um fotolog travestido de blog para dar um ar mais cult, né? Tipo um clip da Christina Aguilera dirigido pela Floria Sigismondi. Haha. Mas acabo de perder todas as minhas fotos e arquivos e emuladores e pornografias e mensagens de outlook e amigos queridos e felicidade do mundo pelo meu HD queimado. Abusei do coitadinho, oito anos de atividades intensas. Agora terei de adiantar os planos de comprar meu novo PC... Sorte que não estou na pior das fases finaceiras.
Sorte também – sorte não, astúcia – que tenho backup recente de tudo o que era realmente “sério”, meus livros, minhas traduções e roteiros. Mas sempre há uma lágrima perdida, não é? Dizem até que eu tinha a foto de um jovem vicking lambendo o próprio mamilo. Se eu tinha, perdi. Nunca poderei postar aqui... Chuif.
Passei a semana inteira numa lan house, seguindo no teclado as digitais meladas de adolescentes que só requerem a tecnologia para diversão. Oh! E gritavam ao meu redor enquanto eu tentava ordenar as sentenças e hifenizar os diálogos (por que afinal as editoras não ficam com as áspas?). Agora uma alma caridosa, uma irmã de fé, uma amiga camarada me cedeu o laptop por uns dias e estou até pensando em levá-lo para os trens do metrô e ficar mirando o além com as patinhas sobre o colo, como se estivesse captando alguma grande inspiração nos túneis metropolitanos. Não seria bonito? Só até algum piranhita surrupiar minha inspiração com tudo mais que houvesse no meu bolso.
No momento trabalho em duas traduções de livros, uma de filme, um texto para fascículos em banca, um roteiro e um argumento de longa e duas matérias para revista. No tempo livre, assisto a DVDs da Sinéad O’Connor e planejo ler um livro do Nabokov. Se eu fosse generoso – como meus amigos que me emprestam laptops – não daria conta e estaria por aí bebendo na Vila, comparecendo a festinhas na Augusta, papeando com os amigos. Por isso acho que a maior virtude que um escritor pode ter é o egoísmo. Assim, se ele trabalha em casa consegue organizar o tempo só para si – e consegue organizar o tempo. Pode acordar 11h da manhã, ir ao cinema de tarde e passar a madrugada no ofício.
Oh, mas já escrevi um livro inteiro sobre isso... Deixa disso.
Meu próximo livro será baseado na mitologia do He-man.
Hum, o que não me faz a falta de identificação com esta máquina que não responde às minhas carícias. Estou tentando me reafirmar com clichês de mim mesmo. É isso, não é? Voltarei montado em megas, verás só.
06/01/2007
(de http://www.decereal.blogspot.com/)
Dos arquivos da Folha de São Paulo:
"A Gradiente vai lançar dentro de um ano no país o DVD Player (Digital Video Disc), um toca-disco-vídeo-digital.O novo produto pretende substituir o videocassete, o videolaser, o toca-disco CD e os leitores de CD-ROMs (que reúnem dados, imagens e sons num disco laser)."- 19/04/96
"Entre os destaques tecnológicos da Sanyo, o DVD (Digital Video Disc), que integra CD-ROM, CD de música e videolaser, e a TV que, com auxílio de um óculos especial, converte as imagens para terceira dimensão." - 21/04/96
"A Toshiba lançou em Tóquio um leitor (drive) de DVD-ROM, o videodisco digital.DVD é um novo sistema de gravação com grande capacidade de armazenamento que deve tornar obsoletos os videocassetes, CDs de música e CD-ROMs.O DVD chega ao mercado japonês em novembro por US$ 700."- 9/10/96
''Na verdade, com a nova tecnologia do DVD _que deve chegar brevemente ao público_ o CD pode desaparecer antes do vinil''. – Adriano Rosa (dono da única fábrica de discos de vinil na época, hoje fechada) - 04/02/97
O melhor do DVD é a qualidade de imagem e som, muito superior à da fita magnética VHS comum.Também fascina a possibilidade de ouvir a trilha sonora em até oito idiomas e legendas em até 32 línguas. É engraçado ver Harrison Ford gritando em japonês numa das cenas de "O Fugitivo". (...) Para proteger sua rentabilidade dos abalos da pirataria, a indústria cinematográfica dividiu o mundo em seis regiões de produção codificada dos aparelhos e discos, e para a venda casada dos dois. Significa que quem comprou o toca-DVD nos EUA não vai conseguir fazer funcionar um DVD adquirido no Japão, por serem produzidos em regiões diferentes. Brasil faz parte da quarta região, que abrange América Latina, Austrália e Nova Zelândia. Além disso, embora haja tecnologia para gravar vídeo digital, essa função foi vetada no toca-DVD."- 9/04/97
O mais engraçado não é verificar como o DVD foi recebido, há dez anos, é poder fazer isso com uma simples pesquisa na net., que já estava arquivando o cotidiano bem antes disso.
Outra coisa interessante a notar (mas que não está nos trechos acima) é como o DVD mudou a maneira das pessoas se relacionarem com cinema. Os filmes passaram a ser uma arte que as pessoas adquirem, não apenas assistem uma vez. No VHS isso sempre foi restrito.
Percebi isso ao traduzir o romance "Rosa", do Gus Van Sant, há um ano, para a Geração Editorial (a publicação foi engavetada depois que a Geração foi comprada pela Ediouro - oh, mas eu fui pago por esse sim. De repente o livro ainda será lançado...). Coloco um trecho que trata dessa questão (o romance foi escrito em meados dos anos 90):
Jack, é isso! Como um filme é temporário! Tão temporário como a própria vida! No meu caso, é porque alguém o roubou e o perdeu. Mas certamente há uma expectativa de vida questionável num filme que se perde, é esquecido ou se torna rosa com o tempo. Rosa de novo, Jack. Enquanto que as outras artes, Jack, parecem durar enquanto não são queimadas.
- Marshall McLuhan diz que esses itens de produção de massa se tornam mais raros do que coisas que são produzidas individualmente, porque os produzidos em massa são feitos para serem gastos e jogados fora, Jack. O filme é uma meio de massa e por isso dispensável.
- A forma como um filme é distribuido é perecível. Você já percebeu, Jack? É mantido inicialmente como um grande segredo porque os cineastas não querem que ninguém roube suas idéia, então é distribuido e lançado em todo o país ao mesmo tempo e as pessoas têm grandes discussões sobre ele: o que quer dizer que gostam ou não. Então o filme faz uma rápida aparição (a cortina final) no vídeo. Depois é esquecido e nunca é trazido de volta, exceto por motivos nostálgicos. Simplesmente assista aos American Movie Classics na televisão a cabo e experimente a nostalgia. Isso exclui alguns amantes do cinema, porque para eles os filmes são arte.
Isso, entretanto, me fere profundamente. Meus olhos começam a lacrimejar. – Sim, Jack – eu digo – eu subo no topo de uma montanha e grito "Arte!" Mas para o grande público, o filme é uma peça transitória de entretenimento barato que se focaliza num momento, depois é destruido cruelmente como afogar um cachorrinho com o qual você se cansou de brincar. Uma vez as pessoas têm a chance de vê-lo, depois é adeus. Quantas vezes você disse "eu já vi isso"? O que significa "não quero ver de novo". Pode até ter sido ótimo da primeira vez, mas não se sabe se quer se perder tempo assistindo tudo de novo. O tempo é precioso para as pessoas e eles tentam poupá-lo. Seja o que for que signifique poupar tempo.
- Espero que meu filme não se perca. Mas não tenho cópias que acredito que durem muito tempo. Depende dos distribuidores que pagam por ele tomar conta para que eles não se percam. Acho que os videodiscos fazem com que a gente ache que os filmes vão durar pela vida toda.
Convém lembrar como os filmes do Gus Van Sant são datados... haha.
Bem, espero que uma certa pessoinha leia isso e desista de dizer, sempre que vamos alugar um DVD: "Ah, mas esse você já viu." Quem não é capaz de aproveitar o prazer da repetição não deveria prezar relacionamentos estáveis...
*E que fique claro que DETESTO Cazuza.
04/01/2007
(eu era assim)(fiquei assim)
Uma virada nos dígitos e eu já posso relaxar daquela ansiedade e pressão do ano todo desmoronando em minhas costas e "vamos ser feliz antes que o mundo acabe". O mundo acabou em fogos e agora me sinto naquele confortável limbo pós-2006 e "ainda-não-2007-realmente". Por mais que eu mesmo nem tenha interrompido meu trabalho (e algo como um blog) é como se apenas eu seguisse brincando de ano letivo e não esperasse que ninguém mais acompanhasse meu ritmo. Acho que é tudo herança do período escolar, as pessoas continuam levando a sério essas coisas de "férias", "janeiro", "julho", ou será por causa dos filhos?
Eu, que desperdiço meu esperma e não vivo o contraste do "ar-condicionado da firma", sinto os dias mais meus, o ritmo mais meu, para fazer o que faço o ano todo (mas também não me sinto confortável de ligar para empresas que me devem, porque já prevejo a compreensível resposta: "logo vamos voltar com os pagamentos", pelos DOIS dias oficiais de feriado que tivemos desde novembro -25 de dezembro e 1 de janeiro - que paralizaram toda a atividade financeira, menos a dos credores). Posso até me largar na madrugada lendo sem culpa livros que não dão seqüência à minha fila de originais nem se configuram como "autores importantes" que eu deveria ler. Sidney Sheldon, é isso, é isso que estou lendo... Haha. Não, estou exagerando, Hans Ruesch novamente, talvez para referescar com a neve...
Entrei também em mais uma fase "hardcore Bowie", resgatando todo o material dele que tenho aqui. Dia deses conversava sobre ele com uma das minhas tias, num jantar de natal, e ela comentou que não conseguia lembrar de nenhuma música dele, que conhecia bem a cara, a história, mas não as músicas. Então pensei realmente que música teria para ser lembrada. Em quarenta anos de carreira, quais foram os hits pelos quais ele seria lembrado pela massa. Talvez os piores "Let's Dance", "Modern Love" e "Fame", mas mesmo esses não chegavam aos pés do reconhecimento instantâneo de músicas como "Sweet Dreams Are Made of This", dos Eurythmics, filhos óbvios e diretos do velho Bowie.
Então eu, como fã ardoroso, chego a conclusão de que Bowie se tornou mais lembrado pela figura do que por suas músicas não por demérito delas, exatamente pelo contrário. Porque ele soube criar uma embalagem pop e se projetar para as massas muito além do que suas requintadas músicas conseguiriam. Afinal, mesmo após todos esses anos, o som de David Bowie ainda pode ser considerado alternativo, por vezes até mesmo experimental (o que dizer de alguém que tem como ponto alto de sua carreira a etérea trilogia "Heroes, Low, Lodger"?).
E por tudo isso também, sua influência foi maior sobre músicos e artistas do que sobre as massas em geral. Eu até arrisco a dizer que Bowie é o pai de TODO o rock britânico (e boa parte do americano) que veio depois dele. E isso sem ser pioneiro em estilo algum - ele nunca originou nada realmente, apenas captou o que estava no ar, formatou e deu seqüência; como exemplo pegue "Ziggy Stardust" (quando ele descobriu o glamrock do T-Rex), "Heroes" (quando ele descobriu o ambient de Brian Eno), "Outside" (quando ele descobriu o industrial do Nine Inch Nails) e "Earthling" (quando ele descobriu o techno). Ou seja, ele se tornou pai escolhendo muito bem os filhos adotivos.
E já que eu ando investindo nas listas, vai aí meu "Best of Bowie":
Álbuns: - Ziggy Stardust - Outside - Hunky Dory - Hours - The Man Who Sold the World
Músicas: - Five Years - The Motel - Bring me the Disco King - Thursday's Child - Soul Love
O que tenho mais ouvido aqui é o clipe de "Thursday's Child" (de onde foi tirada a segunda foto, acima), simples e genial, com o velho Bowie apenas se olhando no espelho, observando sua velhice, tentando resgatar seu antigo rosto, enquanto sua esposa usa a pia ao lado. Só isso. Uma aula para qualquer bandinha sem verba para produzir o primeiro clipe (bem, não vamos entrar na grana gasta na fotografia nem no fato de que você precisa ter um rosto de BOWIE para poder fazer um clipe assim...).
Para encerrar, algumas palavrinhas sobre meu livro novo, para os leitores que perguntaram: Está avançado. Provavelmente eu tenho já 1/4 de um livro grande. O Bowie não faz parte (hohoho), talvez apenas em espírito. É narrado em terceira pessoa e não tem um único protagonista, são vários. É dividido em capítulos longos. Tem um certo humor, sim, mas mais sutil do que o "Mastigando", também deverá ser bem mais violento. Minha previsão é terminar a primeira versão no final deste ano, retrabalhar até meados do ano que vem e lançar no segundo semestre de 2008, apenas. Se a coisa fluir muito rápido, lanço no primeiro semestre do ano que vem, mas não tenho a menor pressa - e neste ano NÃO lanço, de forma alguma. Se eu quisesse mesmo publicar algo em 2007, reuniria meus contos, mas preciso dar um tempo dessa função de lançamento. Prefiro voltar ano que vem com um romance matador. E podem ter certeza de que será, em todos os sentidos...
Agora chega, já disse demais.