28/03/2007

MINHA MANCHA EM SEU GENES, EM SEU CARRO, NOS LENÇÓIS DE SEU FILHO...


(Foto: Wendy Ewald - na verdade eu estava procurando outra foto dela, mas como não achei em JPG na net, me contentei com esta...)


Puxa, eu sou um rapaz tão bonitinho, tão bonzinho, trato tão bem as criancinhas e as pessoas só querem meu ódio, meu sangue, minha pomba na ponta da espada....

Sabe como é, a gente passa o fio-dental, acaba passando do ponto, atinge a carne e quando vê já está sentindo o prazer típico das gengivas cortadas.

Daí com o sangue na boca, meu amor, não dá para ficar sem jantar.

Então sou obrigado a contar que depois de tantas polêmicas que inspirei, fui atropelado por um jovem escritor....

Jovem em termos, porque ele já veio da geração noventa. E também não tem muito cabelo.

Foi casado com uma poetisa que, devido a distúrbios alimentares, hoje se locomove apoiada por bengala.

E ele mesmo está acima do peso.

Tanto que avançou sobre mim com quilos e quilos de latarias que eu não pude moldar ao meu corpo.

Foi quando ele veio nos salvar. Enorme, reluzente, metal e borracha em movimento. Contorcendo fracassos, abraçando nosso desânimo, pressionando intenções sobre o nosso corpo. Do lado inverso, na direção contrária, ele veio. Miguel assustou-se com sua luz. Eu apenas fechei os olhos, reclinei o banco, deixei que ele avançasse sobre mim, me penetrando com violência. Gritando, o ônibus manteve-se firme até o fim. Nos esfacelamos. (de “A Morte Sem Nome”, esse trecho sempre volta para mim, como se o motorista desse marcha-ré para me esfacelar mais um pouco)

(Falando em “esfacelada”.... depois eu conto, querida, estou fazendo sua orelha, com amor.)

Voltando ao atropelamento: Ele veio reluzente. Metal e borracha em movimento.

Não, apenas um otário desavisado da Geração Noventa, com a direção numa mão e uma empanada da Wizard na outra.

Não sabe que empanada é coisa para cineasta?

E ele ainda ficou dando ré, tentando manobrar, tentando estacionar direitinho, fazer uma baliza perfeita para descer do carro e ver todo o mal que me causou. Só que enquanto tentava manobrar, fazer a baliza perfeita, ia passando mais por cima de mim, e mais por cima de mim, e mais por cima.

Foi então que, derramado na sarjeta, imaginei que o filho dele - ele tinha um filho, era o filho pré-adolescente dele que me mandava emails perni-capciosos, tentava me adicionar no Orkut e disse “ser meu fã” mesmo sem ter lido nada meu - me mandava emails perni-capciosos, tentava me adicionar no Orkut e disse "ser meu fã", mesmo sem ter lido nada meu.

"Mas um dia seu filho irá caminhar até sua estante, escondido; encontrará meu livro lá, autografado para ti; levará para o quarto dele, e para dentro; e para sempre, para nunca mais. E você nunca sentirá falta..."

É isso que eu pensava, jogado lá na sarjeta.

E enquanto o “jovem escritor Geração 90” esperava a ambulância, com o carro – Fiat Uno - estacionado direitinho, farelos da empanada que ele comia caíram direto na minha boca.

“Quer.. quer... querido, estou de regime. Mas me traga uma diet coke, que só preciso de cafeína para levantar daqui e sair voando.”

Ps – Não me venha com emails perguntando “Você está bem?” “Foi atropelado mesmo?” Acredite. Tem gente que me pergunta esse tipo de coisa.

Ps 2- Ano passado participei de uma aula na USP e um professor disse que minha literatura podia ser classificada como sado-masoquista. Veja só...

25/03/2007

"ALWAYS CRASHING IN THE SAME CAR"*




(Foto: Ambooleg). Neste final de semana viajei para Xangai, Nova Iorque e Tóquio. Passei a vida toda lá. E nunca mais voltei.

Empapuçado de polêmicas literárias abro minha geladeira procurando um bocado de amor. Encontro ao leite com castanhas, mas, apesar do doce, castanhas travam um pouco em minha garganta.

Escuto “Low”, do Bowie, mais do que previsível. Mas na verdade não gosto. É, não gosto, mas gostaria de gostar. Não gosto dessa fase cold-noir dele, prefiro a glam mesmo, mas me esforço. É legal ficar na frente do computador escrevendo enquanto ele canta:

You’re such a wonderful person, but you got problems...

(Não, não vou ao show do Placebo. Aqueles outros me exauriram)

Estou pensando em voltar a tocar. Só pensando. Andava outro dia pela Teodoro Sampaio e pensei que deveria parar de me ressentir ao ver os teclados. Já estudei piano, já toquei numa banda. Vendi o teclado conscientemente para me tornar escritor. Verdade. Achei que outras atividades artísticas, como a música, poderiam me dispersar. Talvez eu estivesse certo. Mas agora acho que a música pode ser uma boa terapia. Eu fazia coisas interessantes, de qualquer modo, com programações e spoken word...

Mas até aí, naquela época eu mesmo era “cold-noir”. Agora sou um rapaz ensolarado. E sem madeixas para balançar à-la-Liszt.

Para não dizer que estou apenas enrolando para atualizar este blog (porque sinceramente estou com preguiça) coloco aqui uma pequena agenda:

Dia 9 de abril estarei na Casa do Saber, num encontro com Pedro Paulo Sena Madureira, que está dando um curso sobre a relação entre escritores e editores. Eu serei o convidado da penúltima aula. A última será com o grande Moacyr Scliar, no dia 16 de abril. Os encontros são fechados (para os alunos), mas de repente ainda dá para se inscrever. Informações: http://www.casadosaber.com.br/

Já no dia 16 de abril eu devo estar no Rio, em lançamento do livro de Ana Paula Maia. Ana Paula é uma das maiores escritoras não apenas da sua geração, como da atualidade, e eu tenho a honra de assinar a orelha desse seu segundo romance, “A Guerra dos Bastardos”. (coloco o texto aqui quando o livro estiver sendo vendido, claro, para vocês COMPRAREM).


Tem outras viagens marcadas por aí, mas vou avisando quando chegar mais perto...

(aliás, já pergunto aqui. Um monte de gente me escreveu sobre a Jornada Literária de Passo Fundo – em agosto – parece que meu nome foi divulgado, que estou na programação... só esqueceram de avisar A MIM e à MINHA EDITORA!)

Bem, o “Le Kitsch C´est Chic” desta semana deverá ser sem convidados. Ainda estamos reestruturando umas coisas por lá, tive problemas para gravação e temos feito programas com mais música e menos blábláblá, mas isso não é motivo para você perder, é? Pelo contrário... www.mixbrasil.com.br/radiomixbr , Terça 18h e 23h


*Já usei esse título em algum post? É música do Bowie, que vale por mil romances.

20/03/2007

ONDE ESTÁ O PEQUENO NAZARIAN?





Hoje consegui acordar às 7:30 (depois de ir dormir às 3h), fazer oito páginas de tradução e passar o resto da manhã – até agora, hora do almoço – trabalhando no meu livro novo.

Prazer imenso. Ainda mais porque ultimamente está difícil trabalhar nele, tanto por tempo quanto por cabeça. E embora minha literatura seja a atividade que me dá menos dinheiro, é a única que é realmente minha.

E esse romance novo está tão bom... de um humor tão ácido... e tão bonito, que ao mesmo tempo que tenho vontade de publicar, quero escrevê-lo eternamente, conviver eternamente com os personagens – esse é o grande barato de escrever romance – até porque, todos os personagens desse livro são gatinhos... Hahaha. Ok, nem todos gatinhos, mas os personagens feios são ridicularizados até a morte, como aqueles garotos da escola que não fazem parte do time.

Eu nunca fiz parte do time, sempre fui estranhinho, talvez então essa seja minha vingança. Não digo que escrevo para me vingar?

Falando em fazer parte do time, acho que preciso comentar aquele projeto “Amores Expressos”, da Cia das Letras. Isso porque o “No Mínimo” disse que “escritores e editores não falam de outra coisa”, e se eu não falasse ia parecer que sinto uma enorme inveja, elegantemente sufocada.

O que eu sinto é uma inveja razoável, elegantemente dissertada. Haha.

O projeto é o seguinte: 16 escritores foram escolhidos para passar um mês cada um numa cidade diferente do mundo, com tudo pago. De lá, vão tirar inspiração para escrever um romance, a ser publicado pela Cia das Letras, com possibilidade de virar filme.

Criou-se um buxixo pela escolha dos 16 escritores, a maioria iniciantes, alguns inéditos, poucos consagrados. O coro em massa de tantos outros escritores não selecionados é “por que não eu?” – e a resposta óbvia vem ao se constatar que a maioria dos selecionados é de amigos dos dois organizadores, Rodrigo Teixeira e João Paulo Cuenca.

Sinceramente, como é uma escolha editorial, não acho das mais condenáveis. Se eu estivesse selecionando os autores, também escolheria amigas minhas, como Cristiane Lisbôa, Ana Paula Maia e Victoria Saramago. E as escolheria porque, em primeiro lugar, elas são minhas amigas pela boa literatura. Eu as conheci primeiro em texto, e pelo ótimo texto fomos nos aproximando (bem, a Victoria ainda está um pouco distante, mas vamos resolver isso...).

Então não duvido que Teixeira e Cuenca admirem o texto dos autores que escolheram, além de serem seus amigos. E acho que estão certos de ajudarem os amigos em quem apostam, já que escritor é sempre tão fodido.

Quanto ao fato de eu não ter ser sido escolhido, entendo perfeitamente. Nem sei quem é Rodrigo Teixeira. Passei quase um mês com o Cuenca em Parati, e ainda assim não nos tornamos amigos. Tenho simpatia por ele, mas afinidade nenhuma. Gosto do livro dele, mas nem sei se ele leu os meus. Não nos falamos, não nos sentamos em mesa de bar, não acompanho o blog dele.

Ainda assim, se eu fosse escolhido, todos diriam que somos amigos...

Por tudo isso, sinto inveja de quem vai, claro, é uma puta oportunidade (e uma delícia). Mas não sofro. Estou numa ótima fase profissional, sei o espaço que ocupo e trilho meu caminho particular, sem fazer parte de nenhuma panelinha. Até para antologias e eventos literários, raramente sou convidado. Mas tenho quatro romances publicados por grandes editoras, dos quais sinto imenso orgulho. Ampla divulgação na mídia. Um público leitor maravilhoso. Não sofro nenhum tipo de crise criativa. Posso me considerar injustiçado?

Eu queria viajar também... mas preferiria se fosse só eu. Haha.

E repito novamente, e com sinceridade, que não condeno a tática da panelinha para promover bons escritores. Cada um tem suas táticas não-literárias para sobreviver com sua literatura (quem sabe as minhas? Acha que trepei com jornalistas para ter boas críticas? Bem, podemos dizer que alguns com quem NÂO quis trepar me escreveram críticas bem maldosinhas...)

O importante é cada um encontrar seu caminho. Sofri quando criança por não conseguir jogar futebol, mas já na adolescência descobri que meu jogo é outro. E nesse eu ganho medalhas.


17/03/2007

"COMO É CRUEL CANTAR ASSIM..."
(Santiago Nazarian - alucinado - e Cauby Peixoto, em foto de Cris Ameln. Aguardem, em abril na revista da Joyce Pascowitch)

Noite de sexta, abandonado por tudo e todos, bebo Red Bull e me ponho a traduzir uma versão juvenil de “Oliver Twist”.

Se um romance nasce da experiência, latência e universo interno do escritor, tenho percebido que com a tradução é o contrário. O tradutor passa tanto tempo com um universo alheio, trabalhando numa escrita que não nasceu dele, que pouco a pouco vai absorvendo idéias, ou contaminando-se com elas.

Há alguns meses, quando traduzi um romance de um cara que abre uma loja de donuts, fui acometido de um desejo quase obstétrico por essas guloseimas, que ameaçou destruir toda a silhueta de Thomas Schimidt (que cultivo com mais amor do que a minha literatura). Mas felizmente já passou. Quando traduzi JT LeRoy despertou-se em mim um apetite por jovens junkies andróginos que... hum, um dia passa.

Agora traduzo um livro mais do que dândi, de escritores ricos, vazios e bem-sucedidos, vivo essa vida de opulência e me sinto esvaziando a cada gole que dou nessa Absolut Vanilla.

Para o escritor que fala bem uma segunda língua, recomendo enfaticamente o trabalho de tradução. Já falei várias vezes isso aqui, e repito que nada é mais instrutivo e enriquecedor para quem escreve do que traduzir. É como ler, só que numa profundidade muito maior. É ler e escrever ao mesmo tempo – e escrever além das suas capacidades (o que o obriga a pesquisar, pensar, reavaliar).

Depois de traduzir mais de dez livros, considero que ganhei até mais como escritor do que como tradutor. Assim, quem sabe, um dia poderei me considerar um tradutor de respeito.

No momento, além de Oliver Twist, traduzo mais dois romances... e ainda faço dezenas de outros roteiros e freelas, o que está me garantindo a Absolut Vanilla das sextas-feiras. (Oh, mas neste momento bem que eu queria um milkshake de ovomaltine)

As formigas podem vir nos buscar, as baratas podem nos condenar, mas não prive meus lençóis de sua calda – Ah! A lavanderia, um dia, há de nos salvar.

Só minha vida amorosa que está uma bagunça; isso vocês já repararam não?

Bem, vamos ao “Le Kitsch C’est Chic”: Se Bowie quiser, tudo vai dar certo esta semana e teremos um programa inédito, só de musicais – Cats, Fantasma da Ópera, Mágico de Oz e por aí vai. A convidada será Bianca Tadini, grande atriz e cantora, especializada em musicais, que atualmente está em cartaz com “My Fair Lady” (cuja estréia fui conferir semana passada).

(Oh, agora estou pensando; será que essa nova tradução de Oliver Twist me anuncia tempos de mendicância?)
Agora, chega, que é sexta-feira e vou rejuntar as fendas que deixaram em meu banheiro.

Quando restar apenas o pó, e quando apenas o pó puder nos despertar, feche os olhos comigo e esqueça, esqueça, nunca tivemos motivo para nos inspirar...

16/03/2007

RESPOSTA DE LUIZ RUFFATO

Devido a comentários postados nos blogs de Marcelino Freire e Santiago Nazarian insinuando que eu teria plagiado a idéia deles para organizar a antologia "Entre nós - contos sobre homossexualidade" (a ser lançada em São Paulo, na Livraria Cultura, na próxima terça-feira, dia 20, a partir das 18h30), tenho apenas a dizer o que segue (e que tomaria como um gesto de extrema elegância se o reproduzissem em seus blogs com o mesmo destaque):

"Eu não me apropriei da idéia de Marcelino Freire ou Santiago Nazarian para organizar uma antologia sobre a questão da homossexualidade.

Eu roubei a idéia de
Gasparino Damatta, que em 1967 publicou a primeira antologia brasileira sobre o tema, intitulada Histórias do amor maldito (Rio de Janeiro: Record, 1967)

Eu roubei a idéia de
José Carlos Honório, que em 1995 organizou a antologia O amor com olhos de adeus (São Paulo: Transviatta, 1995)

Eu roubei a idéia da
coletânea Triunfo dos pêlos e outros contos GLS, uma coletânea de contos escolhidos em concurso patrocinado pela editora (São Paulo: Edições GLS, 2000)

Eu roubei a idéia de
Lucia Facco, que no ano passado (repito, no ano passado) lançou a antologia Lado B, histórias de mulheres (São Paulo: Edições GLS, 2006)

Todos esses livros, que me precederam na preocupação de provocar uma reflexão sobre o tema, estão devidamente citados à página 14 do meu prefácio à coletânea 'Entre nós', publicada no Rio de Janeiro, pela editora Língua Geral".

Se quiser, pode repassar essa mensagem.

Luiz Ruffato

(Nota de Nazarian: Não fui eu quem escreveu esse post não.... É o "direito de resposta" que Ruffato solicitou. Só não foi respondido até agora por que Ruffato não comentou da sua idéia de antologia, quando eu comentei com ele da nossa, há um ano...)

13/03/2007

ASSASSINATO CRÔNICO DA CASA


(foto: Ambooleg)


Nunca faz frio o suficiente para eu usar as roupas certas.

E o chuveiro nunca funciona na hora de enxaguar as lágrimas.

A casa vai se quebrando, as paredes se esfacelando e o chão todo se cobre de uma cal que me lembra dos papelotes mais antigos, jogados atrás da estante, atrás de instantes, distantes...

(Queria completar a frase de cima com “elefantes”)

Cada taça com que brindamos, se quebrará com o tempo.

E ainda que restem cacos, você sabe, nunca penetrarão meus cascos.

A bucha e a areia que me esfoliavam suavemente, hoje cobrem meu corpo com uma casca. E então não há mais nada dentro.

E então não há mais nada dentro.

Olho pela janela e não vejo nem mais o inverno. Minha felicidade se espatifaria lá embaixo como garrafa d’água, de gelo, mas os vizinhos têm um quintal logo abaixo e tenho vergonha de expor meus sentimentos. Então entro.

E então não há mais nada dentro.

10/03/2007

"EU MORO NO CASTELO DOS HORRORES..."

(Michael Myers... trinta anos depois)

Não, não vou falar da casa que pingava sangue, nem do banheiro que pingava todo tipo de coisa, nem da minha recentemente bem-sucedida vida profissional e do amor em que pisei achando que era uma barata - muito menos das crianças arrastadas pelo Clodovil..

Ou melhor, vou falar de tudo isso por uma ótica proustiana, de trás para frente para revelar mensagens satânicas que entregarão o mundo definitivamente a ELE, o Michael Myers das profundezas.

Não que isso seja resultado de um final de semana lisérgico, pelo contrário. Apenas ressacas demais, ressacas morais, e o peso delas acumuladas em parceria com um cotidiano sufocado pela emissão de gases poluentes que destroém a camada de ozônio e tornam meu suor mais ambientalmente incorreto.

Assim dilatam-se meus dedos e os componentes internos dessa máquina - o Personal Computer - que alonga a minha, misturando arquivos e idéias e criando a chave para abrir as portas do inferno.

O inferno são os outros.

O inferno é uma estação não-inverno.

O inferno é o animal interno.

E isso tudo é apenas a adolescência, que volta a reinar em meu coração.

Tirando isso, hoje tirei fotos pra revista do SPFW. Estava pensando em ser modelo no inverno, mas quando o inverno chegar ("eu quero estar junto a ti...") já será verão nas passarelas. E de sunguinha minha literatura é mais pálida... Então astronauta? Policial? Índio? Cantor do Village People?

Hoje encontro poesia em cada descompasso dos meus olhos...

O próximo "Le Kitsch C'est Chic" provavelmente deverá ser com o... Trash Pour 4. É que tivemos problemas no estúdio e fomos obrigados a reprisar programas antigos, mas o Trash está lá, gravadinho.

... não sei...

(Treinando para um dia ser, de fato, um tigre numa garrafa)

06/03/2007

"ELES ERAM MUITO... CAVALOS?"

Luiz Ruffato: entendido do assunto

O prestigiado escritor Luiz Ruffato lança esta semana sua antologia de contos gays. Isso aí, mais uma, para ir esquentando enquanto a antologia que organizo com Marcelino Freire não saí... Ficou para outubro. Fomos lentos, verdade, Marcelino sempre ocupado com seus eventos, eu investigando a fundo o tema... Até comentei com o Ruffato, uma vez que encontrei ele aqui perto da Frei Caneca, sobre a antologia, já faz um bom tempo. Ele pareceu gostar da idéia. Deve ter gostado da idéia. Será que gostou tanto da idéia, de me encontrar aqui pela Frei Caneca e resolveu explorar mais o tema? Parece que está dando até palestra sobre o assunto... Se eu fosse ele, deixaria crescer uma franja. Mas estou curioso para dar uma olhada nesse livro que ele organizou, até porque, nunca li nada dele...

"Le Kitsch C´est Chic" de hoje, vocês sabe, é com Trash Pour 4: www.trashpour4.com.br E temos, além das músicas deles, Jacques Brell, Mike Flowers Pop, Jane e Herondy, Jessé e muito mais.

Por hoje é só. Voltarei em breve com espada em punho.

02/03/2007

QUESTÕES HEMOFÍLICAS


(A mocinha da Fotóptica: "Entorta a boca, isso, agora o olho esquerdo, peraí, bagunça o cabelo, certo, combinou com a gravata.")

Manhã dessas, depois de noitada especialmente vigorosa, encontrei um único pingo de sangue em minha sala. Examinei meu nariz, cicatrizes e onze tatuagens, sem encontrar nenhum vazamento aparente. Me perguntei se não eram antigos amores derramados, o que sobrou de um coração pulsante, e limpei a gota com esmero que não me é convencional...

Haha.

Então, dia seguinte chego na sala, e encontro no mesmo taco, talvez mesmíssimo lugar, aquela gota que eu já limpara. A mesma que eu já limpara? De repente uma gota gêmea, próxima e esquecida. De repente uma ferida aberta, nas minhas costas, não-identificada. Então olhei para cima, para o teto do apartamento, quem sabe no apartamento de cima... Sempre se pode ter uma nova Lorena como vizinha.

Mas não, meus vazamentos são mesmo os mais convencionais (e mantém meu apartamento nazarianamente poético – ou amaldiçoado?. Inclusive esta semana os pedreiros vieram aqui, tiraram todos os azulejos do banheiro, quebram os canos e... simplesmente desapareceram! Não voltaram mais, desde quarta. Será que ficaram sentidos porque eu disse que não eram pitéus? Aliás, pitéus ou piteis? Questão do recheio dos pastéis). Pensei que poderia ser de repente a mesma gota de ontem, que eu sonhei que limpei, mas não limpei. Ou então a gota de ontem foi só no sonho, uma premonição, e hoje ela realmente estava lá. Sei lá, algo assim, metafisicamente deja vu...

Então decidi manter a gota onde estava. O pingo no taco. Acha muito nojento? É só um pinguinho de sangue (“Oh, quem sabe do que morreu aquele que derramou?”). E estou tendo a ligeira impressão, a leve surpresa, uma suave desconfiança de que a gota está mudando de cor. Ok, tudo bem, claro que o sangue envelhece e vai escurecendo, e vai enferrujando (“Oh, quem sabe o que comeu aquele...”), mas a questão é que a cor está mudando com um propósito... eu acho... que a cor está mudando seguindo um padrão. Tipo assim, um galinho do tempo, sabe? Aqueles bonecos que mudam de cor quando vai chover, vai fazer sol ou ventar? Isso pode acontecer com restos humanos. Tenho uma cicatriz que faz isso, me avisa se eu devo sair agasalhado (hohoho). E acho que essa gota de sangue no chão também está mudando de cor anunciando a previsão meteorológica.

Mas se eu não saio de casa, que diferença faz?

Algum químico, meteorologista ou hematófago me explique se é possível. De repente o sangue tem substância que de fato muda de cor, reagindo com o clima. Prometo nunca mais esfregar este chão (“ah, não, este não”). Aliás, deve chover amanhã de tarde...

E quando você ventila, empalideço...
(Por falar nisso, ontem vi uma mensagem de doação de sangue num... CAMINHÃO DE LIXO! Eles são espertos para anunciar né?)

Viu como nada muda no Mundo Mágico de San?


Ps – Le Kitsch C´est Chic de terça que vem deve ser com... TRASH POUR 4! Sensacional banda kitsch, trash e ainda assim sofisticada.

NESTE SÁBADO!