(foto: Ambooleg)
Nunca faz frio o suficiente para eu usar as roupas certas.
E o chuveiro nunca funciona na hora de enxaguar as lágrimas.
A casa vai se quebrando, as paredes se esfacelando e o chão todo se cobre de uma cal que me lembra dos papelotes mais antigos, jogados atrás da estante, atrás de instantes, distantes...
(Queria completar a frase de cima com “elefantes”)
Cada taça com que brindamos, se quebrará com o tempo.
E ainda que restem cacos, você sabe, nunca penetrarão meus cascos.
A bucha e a areia que me esfoliavam suavemente, hoje cobrem meu corpo com uma casca. E então não há mais nada dentro.
E então não há mais nada dentro.
Olho pela janela e não vejo nem mais o inverno. Minha felicidade se espatifaria lá embaixo como garrafa d’água, de gelo, mas os vizinhos têm um quintal logo abaixo e tenho vergonha de expor meus sentimentos. Então entro.
E então não há mais nada dentro.