Ah... Como eu amo este homem...
Ok, voltei ao Brett Anderson. Parece que agora ele quer entrar nessa onda de cantores melancólicos pianistas, né? No estilo Rufus, Anthony... Será que dá? Tudo bem que ele não anda na fase mais inspirada, nem com a melhor das vozes, mas alguém que compôs uma música como essa está eternamente abençoado.
Tenho ouvido bastante Siouxsie também. O cd solo dela é ótimo. Aliás, todas as coisas mais recentes dela (incluindo o DVD e o último álbum do Creatures, “Hail”) são ótimas. Esses dias até resgatei o álbum “Anima Animus”, do Creatures de 99, que eu tinha comprado naquela época e nunca tinha ouvido realmente. Também é ótimo. E o último álbum de estúdio dos Banshees, “The Rapture” (que já é bem velho) é outro ótimo. Então tudo da Siouxsie é ótimo? Nem tanto. O DVD “The Seven Year Itch”, de 2003 é meio chato. Vi esses dias. E olha que eu ESTAVA LÁ, exatamente no show em que foi gravado, em Londres, e na época também não gostei. Melhor foi o show que ela fez por aqui, em 95, no Olympia.
Então vai lá, clipe do álbum novo da Sioxsie. Pesadona:
(Tá, tô gostando dessa coisa de colocar clipe aqui. Hehe)
Hoje tive debate com o Daniel Galera no “OBarco”, para os alunos de uma oficina do Marcelino Freire. Legal falar com esse tipo de público, gente que também escreve, que realmente lê e que está interessada em saber sobre os processos, os meios... o mercado editorial.
Marcelino, Galera e eu: "Triclópes em terra de cego" ou "Geração Lagostim".
Aliás, é sobre isso o mais novo livro do Nelson de Oliveira, “A Oficina do Escritor”. Eu já comprei e já li. Me interessam bastante as questões que ele aborda, até por ele ser um escritor contemporâneo, de geração próxima a minha, que acompanha de perto nosso meio. Eu discordo de muitas das respostas dele – aliás, discordo de já se ter uma resposta em si, procuro continuar fazendo as perguntas. Mas por isso mesmo, é bom saber a opinião dos outros, a opinião dele sobre os rumos da literatura.
Lembro que uma das discussões que eu levantei no Mackenzie, na palestra que dei lá há algumas semanas, era como (e se era possível) tornar a literatura mais próximas das pessoas atualmente. Um dos alunos me trouxe uma resposta bem interessante, que a literatura não deveria procurar se facilitar, que ela exigia esforço e que não poderia abrir mão disso, senão se ralentava como muitas outras artes. Eu concordo com ele em parte, acho que a literatura não se deve superficializar, mas talvez os novos escritores possam encontrar temas, meios, formatos de tornar a verdadeira literatura mais próxima do público atual. É isso que eu tento fazer – e confesso que não acho que tive bons resultados ainda, porque não conquistei um enorme público, mas também não faço literatura para literatos, então fico com um pé em cada barco.
Voltando ao Nelson, me incomoda um pouco (felizmente) a concepção dele (que não é só dele) que se deve desprezar o grande público e que quem deseja fazer literatura deve considerar apenas esse meio literário já estabelecido (ou sobrevivente?). E digo que me incomoda (felizmente) porque eu ainda continuo (ou quero continuar) acreditando que é possível fazer as duas coisas: literatura e conquistar um certo público. Fazer LITERATURA para quem NÃO gosta de literatura. Não digo conquistar a MASSA e tornar-se bestseller, mas ir além do público que comumente compra literatura de ficção no Brasil (que é, basicamente, ninguém). Por exemplo, tem muita gente inteligente, consistente, que assiste filmes de arte, que vai ao teatro, ouve boa música. Mas esse povo não compra literatura, muito menos literatura contemporânea. Por quê? Isso deveria mudar...
Daí eu me pego pensando naquela máxima: “é preciso se criar o hábito de leitura”. É? Não sei. Não sei como. Como se cria o hábito de leitura? Ah, as pessoas lêem. Lêem sim. MESMO. Lêem Harry Potter, Código da Vinci, Paulo Coelho. E elas gostam. Então se elas já perceberam que a leitura pode ser uma atividade prazerosa, por que não prosseguem? Por que não continuam lendo em QUANTIDADE (e daí, no bolo, talvez peguem um ou outro livro de qualidade)?
Essa é só uma pergunta. Uma dúvida mesmo. E eu ensaio uma possível resposta: Porque o prazer – e o esforço – da leitura de um bestseller está mais próximo de outras formas de cultura de massa – como a TV, o cinema comercial, etc – do que da leitura de um livro realmente de literatura. Então ler um Harry Potter aproxima o adolescente de... FILMES DO HARRY POTTER, não de livros de outros autores.
Outra questão que Nelson de Oliveira coloca em seu livro (e que eu concordo) é de que “não se pode ensinar alguém a escrever bem, mas se pode ensinar alguém a não escrever mal.” É também por isso que eu nunca aceitei ministrar oficinas. Por mais que você assuma isso (que não pode ensinar alguém a escrever bem), se você organiza uma oficina, você alimenta falsas promessas. Eu me sentiria um charlatão. Além do mais, é claro, eu não considero que tenho um método e um processo formado para escrever meus próprios livros, não poderia ensinar ninguém. Não acredito em fórmulas universais. E acho que cada um deveria buscar seus próprios métodos. De repente oficinas são boas para alimentar exatamente essas discussões, mas, de novo, no fundo você estaria alimentando falsas promessas para gente que só foi lá para aprender a escrever bem. Ou ao menos que foi lá para aprender a escrever como você...
Não quero que ninguém escreva como eu.
Anyway... quando a gente sai de todas essas discussões, e vai para o mundo real, vê que é tudo tão sem sentido, tudo tão abstrato. Quem realmente detém o poder, quem realmente está ganhando grana, quem está vendendo o peixe e convencendo as pessoas com seu discurso é gente que ainda está num pensamento tão básico, que não faz perguntas, que não procura respostas, que prefere não saber, só seguir com a programação. Não está preocupado com nada disso, nada além, nada além do jardim.
E nesta terra de cego, quem tem ao menos um olho... é caolho.
Vou pingar colírio. E dormir.