29/04/2008

O MEU CARBURADOR NÃO FUNCIONA





Ah... Como eu amo este homem...


Ok, voltei ao Brett Anderson. Parece que agora ele quer entrar nessa onda de cantores melancólicos pianistas, né? No estilo Rufus, Anthony... Será que dá? Tudo bem que ele não anda na fase mais inspirada, nem com a melhor das vozes, mas alguém que compôs uma música como essa está eternamente abençoado.

E pra rever os tempos áureos do moço:





Tenho ouvido bastante Siouxsie também. O cd solo dela é ótimo. Aliás, todas as coisas mais recentes dela (incluindo o DVD e o último álbum do Creatures, “Hail”) são ótimas. Esses dias até resgatei o álbum “Anima Animus”, do Creatures de 99, que eu tinha comprado naquela época e nunca tinha ouvido realmente. Também é ótimo. E o último álbum de estúdio dos Banshees, “The Rapture” (que já é bem velho) é outro ótimo. Então tudo da Siouxsie é ótimo? Nem tanto. O DVD “The Seven Year Itch”, de 2003 é meio chato. Vi esses dias. E olha que eu ESTAVA LÁ, exatamente no show em que foi gravado, em Londres, e na época também não gostei. Melhor foi o show que ela fez por aqui, em 95, no Olympia.

Então vai lá, clipe do álbum novo da Sioxsie. Pesadona:




(Tá, tô gostando dessa coisa de colocar clipe aqui. Hehe)


Hoje tive debate com o Daniel Galera no “OBarco”, para os alunos de uma oficina do Marcelino Freire. Legal falar com esse tipo de público, gente que também escreve, que realmente lê e que está interessada em saber sobre os processos, os meios... o mercado editorial.


Marcelino, Galera e eu: "Triclópes em terra de cego" ou "Geração Lagostim".


Aliás, é sobre isso o mais novo livro do Nelson de Oliveira, “A Oficina do Escritor”. Eu já comprei e já li. Me interessam bastante as questões que ele aborda, até por ele ser um escritor contemporâneo, de geração próxima a minha, que acompanha de perto nosso meio. Eu discordo de muitas das respostas dele – aliás, discordo de já se ter uma resposta em si, procuro continuar fazendo as perguntas. Mas por isso mesmo, é bom saber a opinião dos outros, a opinião dele sobre os rumos da literatura.


Lembro que uma das discussões que eu levantei no Mackenzie, na palestra que dei lá há algumas semanas, era como (e se era possível) tornar a literatura mais próximas das pessoas atualmente. Um dos alunos me trouxe uma resposta bem interessante, que a literatura não deveria procurar se facilitar, que ela exigia esforço e que não poderia abrir mão disso, senão se ralentava como muitas outras artes. Eu concordo com ele em parte, acho que a literatura não se deve superficializar, mas talvez os novos escritores possam encontrar temas, meios, formatos de tornar a verdadeira literatura mais próxima do público atual. É isso que eu tento fazer – e confesso que não acho que tive bons resultados ainda, porque não conquistei um enorme público, mas também não faço literatura para literatos, então fico com um pé em cada barco.


Voltando ao Nelson, me incomoda um pouco (felizmente) a concepção dele (que não é só dele) que se deve desprezar o grande público e que quem deseja fazer literatura deve considerar apenas esse meio literário já estabelecido (ou sobrevivente?). E digo que me incomoda (felizmente) porque eu ainda continuo (ou quero continuar) acreditando que é possível fazer as duas coisas: literatura e conquistar um certo público. Fazer LITERATURA para quem NÃO gosta de literatura. Não digo conquistar a MASSA e tornar-se bestseller, mas ir além do público que comumente compra literatura de ficção no Brasil (que é, basicamente, ninguém). Por exemplo, tem muita gente inteligente, consistente, que assiste filmes de arte, que vai ao teatro, ouve boa música. Mas esse povo não compra literatura, muito menos literatura contemporânea. Por quê? Isso deveria mudar...

Daí eu me pego pensando naquela máxima: “é preciso se criar o hábito de leitura”. É? Não sei. Não sei como. Como se cria o hábito de leitura? Ah, as pessoas lêem. Lêem sim. MESMO. Lêem Harry Potter, Código da Vinci, Paulo Coelho. E elas gostam. Então se elas já perceberam que a leitura pode ser uma atividade prazerosa, por que não prosseguem? Por que não continuam lendo em QUANTIDADE (e daí, no bolo, talvez peguem um ou outro livro de qualidade)?

Essa é só uma pergunta. Uma dúvida mesmo. E eu ensaio uma possível resposta: Porque o prazer – e o esforço – da leitura de um bestseller está mais próximo de outras formas de cultura de massa – como a TV, o cinema comercial, etc – do que da leitura de um livro realmente de literatura. Então ler um Harry Potter aproxima o adolescente de... FILMES DO HARRY POTTER, não de livros de outros autores.

Outra questão que Nelson de Oliveira coloca em seu livro (e que eu concordo) é de que “não se pode ensinar alguém a escrever bem, mas se pode ensinar alguém a não escrever mal.” É também por isso que eu nunca aceitei ministrar oficinas. Por mais que você assuma isso (que não pode ensinar alguém a escrever bem), se você organiza uma oficina, você alimenta falsas promessas. Eu me sentiria um charlatão. Além do mais, é claro, eu não considero que tenho um método e um processo formado para escrever meus próprios livros, não poderia ensinar ninguém. Não acredito em fórmulas universais. E acho que cada um deveria buscar seus próprios métodos. De repente oficinas são boas para alimentar exatamente essas discussões, mas, de novo, no fundo você estaria alimentando falsas promessas para gente que só foi lá para aprender a escrever bem. Ou ao menos que foi lá para aprender a escrever como você...

Não quero que ninguém escreva como eu.

Anyway... quando a gente sai de todas essas discussões, e vai para o mundo real, vê que é tudo tão sem sentido, tudo tão abstrato. Quem realmente detém o poder, quem realmente está ganhando grana, quem está vendendo o peixe e convencendo as pessoas com seu discurso é gente que ainda está num pensamento tão básico, que não faz perguntas, que não procura respostas, que prefere não saber, só seguir com a programação. Não está preocupado com nada disso, nada além, nada além do jardim.

E nesta terra de cego, quem tem ao menos um olho... é caolho.

Vou pingar colírio. E dormir.

23/04/2008

ALEGORIAS APOCALÍPTICAS


Foto by Veronica Stigger.


Ah! Ah! Ah! Agora é todo dia esse terremoto que não pára, esse terremoto que me sacode, que não me acode e que me agita! Ah! Ah! Pára que eu vou vomitar!!!

Se fosse uma vez só, assim, de vez em quando, pra dar um calafrio, até que seria gostoso. Mas agora os tremores não param mais...

E está tudo previsto no meu livro novo: crianças sendo jogadas pela janela, prédios sacudindo, o novo namorado da Cláudia Gimenez... Sério. Eu já tudo previra. Vê como estou em sintonia com os tempos apocalípticos?

Na verdade, minhas imagens armagedônicas são mais alegorias dos tempos atuais. Sabe como é, quando coloco Godzilla destruindo a cidade, e um pequeno jacarézinho escrevendo num quarto de hotel, é meio uma forma de mostrar nossa insignificância - nós, escritores - como ínfimos répteis tentando conquistar alguma atenção, provocar alguma mudança, ao menos alguma reflexão, com palavras entre os dedos, com sangue entre os dentes (ou seria o contrário?); enquanto monstros gigantes, sem nenhuma delicadeza e nenhuma suavidade, estão sacudindo toda a cidade. E esses monstros podem ser os craques de futebol, os galãs de TV, as modelos de ocasião, os funkeiros e as popozudas, e as cachorras e a Madonna... Ou até mesmo as placas tectônicas, por que não?

Mas enfim, é legal ver a terra tremer.

Minha nova alegoria apocalíptica preferida eu já disse, é os zumbis, aqueles sem cérebro e sem repertório, que não parecem muito ameaçadores com seu passo lento, mas quando se juntam em milhares (e sempre se juntam em milhares) acabam fazendo um estrago. Mais ou menos como... todo o povo brasileiro.

Anyway...

Estou às voltas novamente com a adaptação de "Feriado de Mim Mesmo" para o cinema. Algumas pessoas perguntaram do projeto, eu resolvi rever o roteiro e estou novamente conversando sobre ele com a Eliane Caffé. Não sei se ela vai dirigir, o projeto nasceu com ela, há 4 anos, mas acabou se perdendo. Na verdade, eu nem sei que diretor no Brasil combinaria com isso, eu fiz o roteiro pensando mesmo no Tsai Ming-liang, hahaha. Era pra ser um filme beeeeeeeeem lento, sem diálogos, um ator só e só uma locação. E isso porque é um thriller!!! Difícil. Mas barato. Baratíssimo. Enfim, se o cinema já tivesse engrenado mesmo no Brasil o projeto poderia andar - é meu livro que mais vende até hoje. Mas eu também confesso que tenho certo ciúmes das minhas obras, e sempre examino com muito cuidado, e certo receio, qualquer possibilidade de adaptação.

Então estou relendo meu roteiro (que eu não pego desde 2005) e retrabalhando. Agora que já trabalhei mais com cinema, vejo que tecnicamente tem vários problemas (na maneira como foi descrito; roteiro tem de ser um manual de instruções, né?), mas continuo achando a proposta ótima, ousada, diferente...

Olha só um trechinho do começo...


1 – QUARTO. INT. DIA.

Silêncio. Quarto semi iluminado pela luz que entra pelas persianas fechadas. Há um armário, montes de roupas espalhadas pelo chão, uma cômoda com televisão e um colchão de casal no chão, com lençóis revoltos. Sob o colchão está MIGUEL - rapaz branco de aproximadamente trinta anos - usando uma cueca e uma camiseta. Ele se vira de um lado para o outro, enrolado nos lençóis, tentando continuar a dormir. O leve sol que entra pela persiana bate em seu rosto. Por fim ele se levanta, esfrega os olhos, se espreguiça e sai do quarto.

2 – CORREDOR PARA BANHEIRO. INT. DIA.

Miguel caminha até o banheiro. Entra e, sem fechar a porta, vai até a privada. Urina longamente de costas para a câmera. Ouve-se as gotas caindo.

3 – BANHEIRO. INT. DIA

Close do chuveiro, que também pinga levemente. Ainda se ouve em off a urina de Miguel.

De costas, Miguel continua urinando. Ouve-se ao longe sons do prédio, portas fechando, crianças brincando....


Dá pra ter uma idéia? Não, né? Hohohoho. Então leia o livro, mané. Porque o que eu queria é que o filme fosse o mais fiel possível ao livro.

E ainda quero também adaptar um dos meus livros pro teatro. Provavelmente "Mastigando Humanos". Quem sabe no futuro eu não possa relançar os livros com esses extras: "Feriado" + o roteiro de cinema, "Mastigando" + a peça de teatro. Seria legal. Mas ando com uma preguiça do meio editorial... Por isso quero trabalhar mais nesses novos formatos, cinema, teatro... Embora as histórias escritas sempre acabem me seduzindo mais e no meio do processo eu caia num novo romance... Porque o meio literário/editorial é bem frustrante, mas a literatura em si não. Só na literatura o autor tem completo domínio da obra. E deve ser bem frustrante você criar uma história, imaginar um personagem, uma narrativa, e vê-la na tela ou nos palcos de forma totalmente equivocada, na visão de outro diretor, outros atores... Enfim, é o processo, faz parte. Deve ser mais ou menos como ter filhos e querer que eles sigam nossos passos, e que torçam pro nosso time, e que nos dêem netos... É, também deve ser uma experiência frustrante...

Falando em filhos, meus meninos vão bem. Meu trabalho em "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego" está praticamente concluido, as ilustrações do Alexandre Matos também. Agora é definir com a editora exatamente quando ele será lançado, e como será lançado. Está previsto pra agora, começo do segundo semestre.

Hoje vi uma notinha bem bacana sobre o livro no site da Vogue RG.

De trabalhos, estou traduzindo um livro meio freakshow - mágicos, gigantes e mulheres-barbadas - bacana. Saiu também - e está sendo bem elogiado - o livro da Claire Messud que traduzi pra Nova Fronteira: "Os Filhos do Imperador". Eu confesso que ainda não vi o livro pronto, ainda não chegou na minha casa.

Chegou um dos juvenis que traduzi pra Record, "Pão de Mel", da Rachel Cohn, que é bacanérrimo, principalmente pras meninas. Aliás, a Record vem publicando coisas beeeeeeeeem bacanas em juvenis - juvenis de fato - modernos, soltinhos, extensos. Recentemente li "Tão Ontem", do Scott Westerfeld, sobre uma dupla de detetives fashion contra terroristas de tendências. O livro tem uns valores capitalistas meio nojentinhos, e o protagonista é gay demais em comportamento para ser heterossexual (ou pelo menos para não ter sua sexualidade questionada em momento algum do livro), mas de qualquer forma, é um livro instigante, bacana, que se comunica de fato com os jovens, e isso tá muito em falta. (A tradução desse não é minha, é do Rodrigo Chia, mas tá ótima. Só discordo - e não sei se é questão de padrão da editora- quanto a alguns termos muito cariocas da versão em português, como traduzir "cool" por "maneiro". "Maneiro" é carioca demais, eu manteria "cool" mesmo, qualquer adolescente que lê um romance desses, de mais de 300 páginas, sabe - e usa- muito bem o termo cool. E qualquer paulista não acha nada "cool" qualquer coisa que seja "maneira").

Veja só, os passarinhos já estão cantando.

Vou nessa. Nem comentei o filme novo do Wong Kar Wai, "Um Beijo Roubado", que vi há tempos. Achei bonitinho. É engraçado como um filme dele falado em inglês e rodado com atores ocidentais vira uma comédia romântica low-profile. Não tem a imponência dos anteriores. Mas deve ser psicológico. E o filme é bem bom.

Ah, sim, e ingresso pro show do Rufus já comprei, claro, há tempos também. Mesa encostada ao palco.

Beijos.

PS - Hum, já disse. Senti mesmo o terremoto. Foi bem louco (sinistro, irado, maneiro). Fiquei esperando em seguida os rugidos de algum monstro que pisoteava a cidade. O que, para minha decepção, obviamente não veio.

21/04/2008

PREVIOUSLY ON SUPERNATURAL...


Os amigos Fábio Jr. e Saint Jimmy se aventuram numa excursão ao interior.




O clima é fresco (ui!) e bucólico, e Fábio Jr. aprecia as belezas da natureza.




Ao chegarem na cabana abandonada na floresta -onde serão esquartejados - eles percebem algo de estranho...






... Já há alguém por lá...





"Ah! É apenas um velho espantalho..." - diz St. Jimmy.
"Ele que não venha comer meus fandangos" - diz Fábio Jr.




Os garotos [garotos?] acendem a lareira. Fábio Jr. quer aquecer as mãos, mas St. Jimmy acha que ele está é invocando espíritos do além, principalmente pelas palavras em latim que diz, enquanto acena para o fogo.




"Essa porra de fantasma queimou meu marshmallow" - brinca St. Jimmy, alheio aos verdadeiros espíritos malignos que estão à espreita.


Dona Marta, uma antiga moradora do local tenta alertá-los...




Mas os garotos (hihihi) não dão ouvidos. St. Jimmy sai para buscar mais lenha. Fábio Jr. vai tomar um banho para tirar a nhaca da viagem....






Alguém está querendo tirar algo mais do que a nhaca...




!!!!!!!!




Ao retornar, St. Jimmy não encontra seu amigo. Ele busca por todo lado...



Um tiozinho estranho - que lembra muito o vocalista do Bauhaus - avisa St. Jimmy da lenda local: "Segundo a lei de Murphy, seu 'amigo' foi morto por um espírito maligno...."


"Bobagem", diz St. Jimmy, "fantasmas não existem." Mas ele mesmo começa a duvidar do que vê... "Sabia que aquele shitake que eu comi estava estranho..."

Sozinho e amargurado, St. Jimmy se entrega ao mé...

De noite, o espírito de Fábio Jr. surge para o amigo. "Este local antigamente era um cemitério indígena... Não, esse é outro filme. Este local antigamente era a fazenda de Jananias Matoso, que foi assassinado para que se construísse este condomínio no local. Nós o despertamos por acidente ao assar o marshmallow na lareira. Agora o espírito dele está de volta por vingança..."






Bêbado e sozinho, St. Jimmy pensa em usar o espantalho como boneco inflável....


Porém Jimmy percebe que há algo estranho... O espantalho parece ter vida própria... E não está muito a fim de fuc-fuc... O espantalho!!! O espantalho é que estava amaldiçoado com o espírito de Jananias Matoso!!!




St. Jimmy, que não é chegado em necrofilia, desiste de usar o espantalho fantasma e o dá de comer ao cachorro Tomé ["Tomais", para as finas]. O perrito espanta a maldição a dentadas.



O plano de Jananias Matoso foi frustrado. Ele volta às profundezas do sertão, para estrelar mais um filme bege brasileiro... Digo, volta às profundezas do do inferno.





FIM!!!


PS - A trilha sonora, que vocês não puderam ouvir, é o cd de retorno do Bauhaus: "Go Away White", lançado há pouco tempo. Impressionante como eles conseguiram soar novamente como Bauhaus, voltando com o primeiro álbum inédito em quase 25 anos. "Go Away White" é bem parecido com os dois primeiros da banda, com o que isso tem de bom e o que tem de ruim. Parece um pouco cru para os padrões atuais - principalmente depois de todo o trabalho solo do Peter Murphy e mesmo em comparação ao último álbum do Bauhaus, de 83 - mas ainda tem bons momentos como as faixas "Adrenalin", "Black Stone Heart" e "Mirror Remains", um rockzinho assim, entre o grunge, o punk e o experimental (todos estilos que, afinal, eles influenciaram, décadas atrás).
Mas eu ainda prefiro o último do Peter, "Unshattered". E quanto a albuns de retorno, ninguém bateu ainda o excelente "No Exit", que o Blondie lançou em 98. Eles sim, voltaram melhor do que foram.

16/04/2008

REVIRANDO ORWELL E ORWELL SE REVIRANDO

Que bicho é esse indo pro Masp?


Cansei de Sim City. Principalmente porque dias desses me rendi ao Google Earth. Para quem não sabe, é um programa que permite você visualize o globo inteiro, o mundo inteiro, desde o espaço sideral, aproximando até ver as ruas, as casas, a configuração de cada cidade, em fotos reais de satélite. É incrível, um Atlas da novíssima geração (eu nem imagino como seja o ensino de Geografia agora nas escolas, uma vez que os alunos podem pesquisar a configuração de cada cidade do mundo em detalhes). Madrugada dessas, localizei minha casa, a casa onde morei na infância, o prédio de Porto Alegre, onde passei o reveillon em Floripa, a casa da minha mãe, o cemitério onde dormi em Helsinque, o lugar exato onde tirei essa foto em Copenhague:


Também dei uma olhada em ilhas remotas do Pacífico. Lugares perdidos no meio do nada, onde dá pra avistar uma vilazinha, casinhas, alguns barcos... Dá uma vontade tremenda de viajar.

Agora eles podiam fazer um cruzamento de Google Earth com Sim City, né? Assim a gente poderia interagir com cenários reais, de repente encontrar uma solução para o trânsito de São Paulo, de repente implantar o meu prédio numa ilha do Havaí. Eu queria abrir minha janela e ver os vizinhos dançando ula-ula.



Aproveitando que estou no mundo mágico de telas e janelas, digo que vi umas coisas bem interessantes na TV aberta ultimamente.

A melhor delas – sempre e sem dúvida – é “Casos de Família”, no SBT. Sério. O programa tem tudo para ser aquele barraco, onde famílias lavam roupa-suja e se estapeiam. Mas do jeito que é conduzido pela (Deusa) Regina Volpato, o programa termina bem charmoso, tranqüilo, totalmente do bem. É um encontro de famílias discutindo seus problemas, sim, mas o posicionamento professoral da apresentadora, seu tom suave e seus conselhos, não permitem nunca que a coisa vira barraco. Ela é a anti-Márcia Goldsmith (eca!). Aliás, Márcia junto com o Datena, o Tom Cavalcante e o João Kleber (ele ainda existe?) são o que há de mais nojento na TV Brasileira.



E viva a Regina!

Outro programa pretensamente trash que eu gosto é o “Troca de Famílias” da Record. Também é um reality show do bem. Duas mães trocam de família uma com a outra e têm de conhecer a rotina da casa, dos filhos, do marido e depois cada uma decide como a outra família vai gastar o dinheiro do prêmio. É um programa delicado, afetivo, que faz com que se enxergue os problemas do outros.

(Chuif!)

E outro belo programa que assisti pela primeira vez foi “CQC – Custe o que Custar” na Band, capitaneado pelo Marcelo Tas. É uma espécie de “Pânico” mais politizado ( e nem pode ser acusado de cópia, uma vez que foi o próprio Marcelo Tas que inventou o tom da entrevista terrorista, há muito mais tempo, com seu repórter Ernesto Varella) .


Mas Marcelo, pra mim você vai ser sempre o Professor Tibúrcio...


Eles vão até Brasília, fazem perguntas capciosas aos políticos, fazem teste de QI com pseudo-celebridades e elegem as pérolas da TV Brasileira. Tudo assim, muito crítico, muito divertido e muito pertinente. Mais o mais engraçado foi ver de surpresa, no final de tudo, meu primo Rafael, como um dos repórteres.

Agora, das piores coisas que assisti estes dias foi uma atriz escrota, que sempre foi conhecida como lésbica, aparecer num programa de entrevistas com um namoradinho mais novo, também ator, e que tem mais cara de viadinho do que eu! Puta merda, não entendo. Tudo bem que tem gente que não quer assumir. Até posso tentar entender que, para galãzinhos, assumir a homossexualidade pode interferir na carreira, mas não dá pra ficar quietinho então? Precisa mesmo desses namoros de fachada? E quem acha que isso não é problema, que é apenas um joguinho sem conseqüências negativas é porque não se dá conta de quanto existe de preconceito ainda, quantos homossexuais ainda morrem vítimas de ataques homofóbicos, quantos adolescentes vivem em crise, se suicidam, sem poder se aceitar porque não têm modelos positivos. Qualquer um que circula um pouco no meio artístico e no meio gay, sabe quantos ídolos estão aí posando do que não são. De novo, ninguém é obrigado a se assumir, mas esse povo devia pensar no mal que fazem em se omitir. Pense em que ídolo o adolescente gay, que está se descobrindo, pode ter para se espelhar, para ter como modelo ou mesmo como símbolo sexual viável. (Ai, se você falar meu nome, apanha). Daí fica todo mundo achando que só existe um tipo de gay - o afetado, o escandaloso - simplesmente porque esse é o que não consegue esconder, e isso impede que uma imensa maioria de outros jovens se identifique com o esteriótipo gay que se vê na mídia de massa.

E é até burrice, porque na internet, por exemplo, já se vê claramente muita gente assumida, e que tem enorme número de acessos em seus blogs, fotologs, orkut. Era só a televisão querer, que o povo aceitaria muito melhor a homossexualidade alheia. Não teve um vencedor do BBB assumidamente homossexual? Não foi eleito vencedor pelo público?

(Ui, ui, ui, hoje a coisa está política).

Enfim, dá nojo ver uma gorda de meia-idade que já tem seu respeito como atriz e não tem motivo nenhum para pagar de gatinha sex-simbol se prestar a esse papel.

Talvez no fundo eu só queira sair na capa da Caras como o novo namorado de algum galãzinho global. Hohoho.
Ele não é bem meu tipo, mas quem sabe eu não sou o dele?
(Afe, tô o rei das montagens toscas hoje....)


Muito bem, chegamos a mais um feriado. Trabalhei muito nos últimos finais de semana, fiz o Cymbeline, o roteiro do Prêmio Abril de Jornalismo com o Pazetto. E depois desse Google Earth todo, vou viajar. Ao menos para o interior. Queria voltar a fazer a rota do chupacabra (passei duas semanas viajando, no final de 2006, pesquisando onde aconteceram os ataques), vou me programar para isso. (Ao menos queria voltar para Rafard e Joanópolis, duas cidadezinhas bem gostosas, bem interioranas, vazias, meio fantasmas, melancólicas. Coisa inspiradora.) Mas acho que neste feriado agora, vai ser só a casa da minha mãe no meio do mato.

Well, well, então deixa eu ir que tô com peixe no forno. Por aqui, ouvindo Roxy Music, "Mother of Pearl".

11/04/2008

I WAS A TEENAGER FREDDY KRUEGER



Ok, ok, sei que esse é o Jason.

Fim de semana passado foi dos mais produtivos, consegui assistir Sexta-feira 13 parte 2, 3, 6 e 7, e bem acompanhado.

Revendo os filmes agora, é impressionante como os melhores são os piores. Quero dizer, todos os filmes são uma bomba, mas os melhorzinhos - com um certo clima, história, suspense - acabam sendo os piores. Porque você já sabe o que vai acontecer, já sabe quem é o assassino, já sabe que a graça é só ver as formas que o Jason vai usar para matar a petizada, então por que se importar? Os melhores filmes são os mais toscos, aqueles que não têm enrolação e já partem direto para a carnificina.

Nesse quesito, "Sexta-feira 13 - Parte 6" é imbatível. É, de longe, o melhor de todos. É tosco, não tem história, não dá medo, mas ao menos tem um certo humor, atores regulares (não péssimos, como nos outros), um roteiro divertido, bons ângulos de câmera e assume a tosqueira a que se propôs. E o Jason da parte 6 é o Jason mais Jason de todos.

Para quem passou a adolescência vendo essas merdas, como eu, e quer se lembrar, a "Parte 6" é aquela que começa com o Jason recebendo uma descarga elétrica no caixão, daí entra uma abertura tipo 007.

Para quem quer ver algum Sexta-feira 13, veja o 6. Sério. É dos raros casos em que o sexto é melhor do que o primeiro (até porque, o primeiro era tosco e o Jason só aparece no final).

Quando eu era moleque, minha mãe não deixava eu alugar filme de terror toda semana. Tinha de ser semana sim, semana não (porque ela achava que ia me influenciar negativamente). Mas como a memória dela é a pior do mundo, eu sempre a convencia de que era "semana sim". Por isso acabei estragado assim.

Tenho revido muita dessas tosqueiras ultimamente. Nem todas são tosqueiras, claro. Dia desses estava revendo "O Bebê de Rosemary", outro dia "Psicose". O melhor de ver essas coisas em DVD são os extras, alguns são verdadeiras aulas de cinema (como os de "Psicose" e - especialmente - os de "Tubarão"), usei muita coisa que aprendi lá no roteiro do "Chupacabra" (que ainda não tem nem sombra de previsão para ser filmado, obrigado por perguntar). E se quer uma lista dos meus filmes de terror preferidos de todos os tempos, vai aí (em ordem aleatória)... também é uma lista bem padrão:

The Evil Dead
O Massacre da Serra Elétrica
A Hora do Pesadelo
Audition
O Chamado
O Bebê de Rosemary
Psicose
Tubarão
Halloween
Funny Games

Dos mais recentes, que estão na minha prateleira mental para serem catalogados, ressaltaria: "Hard Candy" (pessimamente traduzido como "Menina Má.com"), "Cloverfield", "Viagem Maldita", "Alta Tensão", "Wolf Creek" (esses três últimos são bem parecidos aliás), "Creep" e "Abismo do Medo".

Apesar da promessa de renovação dos filmes orientais, nenhum deles me empolgou - The Eye, Dark Water, Espíritos, Visões, O Grito - todos os fantasmas parecem bonzinhos e previsíveis. Fica a exceção para Takashi Miike (de "Audition"), que trabalha em outro campo de psicose. Mesmo "The Ring" eu prefiro bem mais a versão americana (e tenho as duas aqui em casa). Aliás, o diretor do "Ringu" japonês, Hideo Nakata , dirigiu "O Chamado 2" americano e enterrou a franquia - não poderia ter feito um filme pior. (Ok, preciso dizer que tenho O Chamado 1, 2, o japonês, o romance e os mangás).

No mais... que mais? Hum, comprei a revista Júnior deste mês (pois é, não mandaram nenhuma pra minha casa, até hoje) e achei bem boa. Não tô falando dos boys, não, tô falando das matérias em si. Tem umas coisas interessantes sobre a vida gay no Irã, nos presídios, em NY, na China (interessante saber o efeito que a política do filho único teve sobre o mundo gay chinês por exemplo. Todo filho acaba sendo pressionado pela família e pela sociedade a dar prosseguimento ao legado.)

Também li a Rolling Stone (que eu sempre leio, admito, embora eu não colabore com ele há meses - e eles mesmo tenham feito uma resenha cuspindo em "Mastigando Humanos") e achei bem impressionante a história do Yoñlu. Quero dizer, não é uma história nada inédita - mais um adolescente existencialista que se suicida. Mas o texto tem aquela qualidade de aproximar você da realidade, da pessoa, que faz com que você reconheça o verdadeiro drama e a verdadeira história por trás de um acontecimento corriqueiro. Por isso mesmo é louvável que um veículo pop como a Rolling Stone tenha esse espaço para texto, para matérias em profundidade. Faz a gente pensar que não está tudo perdido. Legal.

(você não quer que eu fale sobre a guriazinha que foi jogada do prédio, quer?)

Hum, por tudo isso você deve achar que estou num ócio só, né? Sem nada pra fazer. Haha. Não, até que estou trabalhando bastante, traduzindo um livro, revisando o meu e fazendo roteiros de vídeos e eventos, mas faz alguns meses que não uso drogas. Hohoho. Faz alguns meses até que não saio na noite. Então posso ocupar minhas madrugadas com Jason... Jason salva. Jason salva. Se minha mãe soubesse disso na minha infância...

04/04/2008



ANIMAIS CRUÉIS


Fábio, Cris e eu, no lançamento dela, ontem.



A aula-palestra que tive esta semana no Mackenzie foi bem proveitosa. Queria preparar algo diferente, uma discussão, para não ficar como de costume uma entrevista coletiva, com o autor falando dos seus livros e de seu processo de criação, especialmente por se tratar de uma turma de alunos de letras.




Então apresentei um pequeno panorama dessa "Geração 00", e como ela está ligada à internet: Com a popularização da rede, no início dos anos 2000, houve o primeiro boom de produção do internauta, com os blogs. E esse veículo possibilitou que escritores jovens, que ainda não tinham sido publicados em papel, se auto-divulgassem. Nessa primeira leva de blogs, alguns escritores se destacaram, tiveram um enorme número de acessos, e as editoras começaram a pensar que poderia ser interessante ter esses nomes (e essa audiência) em seu hall de autores.



Eu não tive meu início na internet. Só abri este blog (meu primeiro blog) depois de ter publicado dois romances. Mas cheguei na hora certa, ganhando o Prêmio Fundação Conrado Wessel na época em que as editoras estavam de olho nos autores jovens. Do contrário, eu não teria migrado da Talento, a pequena editora que publicou "Olívio", para a multinacional Planeta, que estava chegando ao Brasil.


Acredito que esse boom passou rápido, porque as editoras perceberam que esses autores não vendiam tanto quanto se esperava (e não tanto quanto o número de acessos de seus blogs). Essa aposta em autores jovens, que teve seu pico em 2003 e 2004, agora deu uma acalmada (a Planeta mesmo, agora investe em bestsellers como Paulo Coelho). Quatro anos depois, permaneceram os autores mais consistentes... ou persistentes. (Já na internet, também passou há muito a febre dos blogs. Houve em seguida a febre dos fotologs, dos sites de MP3, de relacionamento - como o Orkut - e mais rececentemente de vídeo, como o YouTube.)




Depois de apresentar esse panorama aos alunos do Mackenzie, abri uma discussão, perguntando a eles qual seria a importância de ler literatura contemporânea, quais são os problemas que afastam as pessoas da literatura, quais alternativas poderiam difundir mais o hábito de leitura e outras questões do tipo.



Eu tinha algumas suposições já preparadas, algumas respostas. Mas os alunos acrescentaram coisas bem interessantes. E eu acho que toda aula deveria ser assim, com o professor mais propondo questões/discussões do que apresentando sua própria verdade.



Então, aproveitando, coloco aqui o link de uma ótima página para conhecer um pouco mais os jovens autores desta geração. O jornalista Ramon Mello entrevistou vários deles, desde bestsellers como Bruna Surfistinha até gente como eu, você, Simone Campos, Ana Paula Maia, Botika, Marcelino e etc. Vê lá:


http://wwwb.click21.mypage.com.br/myblog/visualiza_blog.asp?site=clickinversos.myblog.com.br





Falando em novos autores, esta semana consegui ler inteira a antologia "Contos Cruéis", organizada pelo Rinaldo de Fernandes para Geração Editorial. Tinha recebido o livro há uns dois anos, quando saiu, mas só agora consegui pegar para valer. E achei bem, bem, bem interessante. Hum, ok, acho que uso esse adjetivo - "interessante" - demais, e ele não quer dizer exatamente nada - nada positivo, nada negativo, mas é que se aplica bem a coisas assim, que são... interessantes. Pois a antologia tem contos ótimos, e contos muito ruins, de qualquer forma, é um panorama... interessante sobre o tema "violência urbana". Acho que está longe de ser "as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea" (como explica o subtítulo), é um livro muito focado em violência social e sexual, e tudo muito calcado na realidade brasileira objetiva (e eu sempre levanto a bandeira da realidade subjetiva). Mas se era essa a proposta, mostrar nossa realidade urbana crua, o livro cumpre muito bem seu papel e além de ótimos contos de consagrados como Lygia, Loyola e Rubem Fonseca, me introduziu autores como Geraldo Maciel, Maria Alzira Brum Lemos (que eu só conhecia pessoalmente) e Carlos Ribeiro. Só o fato de ser uma antologia extensa (são 47 contos), já a torna um ótimo registro.



Para terminar, quer espiar mais um pouco o meu livro novo?


(lustração de Alexandre Matos)




O verão acabou logo. Menos de um ano depois já havia ido embora completamente para tornar tudo o que incomodava mais risível e tudo o que prometia mais desejável. Na verdade, foi-se em poucos meses, em poucas horas, segundos, e quando os meninos abriram e fecharam os olhos, um vento frio já varria a areia para dentro do mar e os turistas para fora, devidamente agasalhados, de volta para seus ônibus e para longe da cidade. Todos se foram.

Graças a Deus, diriam meus eleitos.



A mudança dos tempos e dos ventos sentia-se também pelos estalos do prédio, a estrutura se conformando a novos climas, novos sentidos, que às vezes pareciam não fazer sentido algum. As aulas não voltaram, a greve não acabou. O que quer que os professores tenham decidido na assembléia, não teve interferência prática no ócio dos meninos. Agora eles viviam um ócio polar, longe da praia, sem a possibilidade de férias. Era um sentimento mais solitário, mais melancólico, como se tivessem de fato sido esquecidos, desprezados. Uma coisa é você se sentir livre quando percebe a possibilidade de encarceramento, outra é a liberdade, fruto de total falta de escolha. Não havia nada o que fazer. Nenhum professor a repreendê-los. Ninguém a dizer o que eles poderiam se tornar, o que deveriam desfrutar. Eram garotos perdidos, meninos congelados, esquecidos no fundo do freezer, atrás dos hambúrgueres, ao lado de uma garrafa de vodca vazia
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NESTE SÁBADO!