Foto: Wendy Ewald - "I Dreamt I Killed My Best Friend, Ricky Dixon".
Semana que vem é meu aniversário. Estou pensando em fazer uma festa no MacDonalds, onde acontecerá de fato – pela primeira vez – o caso de uma criança ser picada por uma cobra na piscina de bolinhas. Sabe dessa lenda urbana? Então, no meu aniversário vai acontecer. Só falta arrumar a criança.
Deve ser a idade. Ou o que resta da juventude. Mas tenho tido umas sinapses assassinas, umas lembranças estranhas, vira e mexe me bate assim – tchum – uma memória de algum episódio fortuito, gratuito, de tempos remotos. Outro dia estava teclando aqui no PC e me baixou a lembrança exata – a sensação – de quando eu lia um livro sobre répteis no primário. Hoje, de madrugada, acordei lembrando uma frase frugal dita há quase quinze anos, pela minha land lady na Inglaterra. O que será que anda escavando essas minhas memórias? Será finalmente uma limpeza do excesso de drogas? Ou será que o excesso de peixe que tenho consumido está criando novas pontes, despertando neurônios esquecidos?
E hoje me lembrei como estava com saudades da Adriana.
Estava ouvindo o cd novo da Adriana Calcanhotto, “Maré”. É bem gostoso. Mais acessível do que o último dela – “Cantada” – menos pop do que o último de sua alter-ego, a “Partimpim”. E é bem coisa dela, meio melancólico, melódico, com algumas faixas mais alegrinhas que a gente ouve uma vez e passa o dia todo cantando: “um dia desses eu me caso com você...”.
(Falando nisso. Lembrei de uma vez que vi Adriana Calcanhotto no Programa Silvio Santos. Acho que ela foi receber um Troféu Imprensa. E o Sílvio é daquele jeito pimpão, né? Trata todo mundo como calouro. Ele: "Você é de onde?" Ela: "De Porto Alegre." Ele: "Minhas palmas, uma gaúcha!" - o auditório aplaudia. Ele: "E você é casada, solteira ou tico-tico no fubá?" Hahaha)
Continuando, hoje tive a oportunidade de conferir vaaaaaárias coisas novas da MPB na festa/gravação de aniversário do programa Metrópolis, da TV Cultura. Teve shows bem legais. Para começar, os novos Mutantes. Eu ainda não tinha visto nada deles depois da volta. Tinha medo. Mas gostei. Dá pra ter uma leve idéia do que devia ser na época. E hoje eles ainda soam BEM Mutantes, tanto as músicas antigas quanto a música nova, totalmente psicodélicos. Talvez, se dissessem apenas que era uma banda nova do Sergio Dias, seria uma banda ótima (mas daí não teria toda essa repercussão). Frente ao peso do nome “Mutantes” eles soam bem. Eu gostei. Lembra Mutantes, e Júpiter Maçã, e Pato Fu, e todas essas bandas que têm muito dos antigos Mutantes.
Falando em Pato Fu, gostei também do cd solo da Fernanda Takai. Acho a vozinha meiga dela um pouco fora de esquadro nas coisas mais pesadas do Pato Fu. Até prefiro o vocal do John – eu sei, sou o único. Mas nesse cd solo, de releituras do repertório da Nara Leão, ela se encaixa muito bem. É bem gostoso.
E quem lembra um pouco a Fernanda Takai – eu achei – é a Malu Magalhães, que eu também vi hoje ao vivo na gravação do Metrópolis. Já tinha ouvido falar (uma menina de quinze anos que virou sensação na Internet pelas músicas que ela fez em casa e colocou no Myspace). Nunca tinha ouvido o som. Gostei. Me lembrou várias, várias, várias coisas. Enquanto ouvia, fiquei tentando identificar – uma porrada de cantores folk, passando até por Pavement e Martha Wainwright. Mas ela tem belas melodias, uma voz doce, é bem bonitinha – e só tem quinze anos, pô. Acho que mandou muito bem, embora essa coisa de vozinhas folk não seja muito minha praia.
Malu, quer vir pra minha piscina de bolinhas?
Hum, que mais?
“Um dia desses ainda me caso com você...”
Ilustração de Alexandre Matos para "O Prédio, o Tédio e Menino Cego".
Oh, meu Deus, meu amor, meu querido, você não está tão bem hoje quanto poderia estar. Nós sabemos que você poderia estar melhor. Nós sabemos que sua franja poderia cair para outro lado. Nós sabemos, então, o que faremos? O que eu faço? Oh, meu Deus, meu amor, meu querido, como posso me arrastar por este dia assim, longe da perfeição heróica que eu sei, eu sei, existe dentro de mim? Oh, meu deus, meu amor, meu querido, como posso atravessar este espelho e fazer com que todos vejam o que está escondido lá dentro? O que eu já vi tantas vezes, tantas vezes, mas nunca na vez certa, nunca no momento exato, nunca quando eu me arrisco, quando eu mais preciso. Quando eu mais preciso essa franja cai assim, para o lado errado. Quando eu mais preciso, eu não consigo. Como posso mostrar a eles minha verdadeira face se nem você, oh, meu amor (Meu Deus!), meu querido, pode hoje refletir o que eu sinto?