Mondrian.
De tempos em tempos recebo o email de algum leitor me pedindo dicas de leitura. É gente jovem que descobriu meus livros, gostou e quer seguir na mesma linha, conhecer outros autores, livros com temas e abordagens parecidas...
E fico feliz em cumprir este papel. É um pouco do que tento fazer no blog. Afinal, é tão, tão difícil encontrar nossa família literária. Conseguir transpor as barreiras das prateleiras e identificar o que há realmente no interior de cada livro.
Sempre tive livros em casa. Minha mãe sempre foi uma grande leitora. E eu cresci com aquelas lombadas enigmáticas “Suassuna – A PEDRA do reino”, “O Arquipélago” (que para mim era “O arquipe-lago”, “norman MAILER – A Canção do Carrasco” e tantas outra que povoaram minha infância apenas como lombadas, como peças decorativas na minha sala.
O tempo foi passando e fui puxando algumas daquela lombadas. Descobri que algumas só eram interessantes mesmo como lombadas, outras revelaram um sedutor conteúdo interno que eu nunca soube que estava na minha própria casa, à vista de todos, na sala de estar, como por exemplo “Porcos com Asas”.
E embora minha mãe sempre tenha me indicado bons livros, foi com uma namorada de escola que fui descobrindo minha verdadeira família literária. Álvares de Azevedo, Caio Fernando Abreu e Oscar Wilde – principalmente Oscar Wilde. Quando li “O Retrato de Dorian Gray” na adolescência, foi a primeira vez que pensei. “É isso o que eu quero fazer.”
Ainda assim, hoje ainda acho difícil. Vou numa livraria e fico horas, horas folheando e não encontro nada. Fico imaginando que em alguma daquelas prateleiras tem algo bem precioso, mas como localizar? Nem é preciso dizer que o que menos há em livraria hoje em dia são bons atendentes, gente que lê realmente, conhece seu gosto e pode indicar títulos interessantes. Então a gente tem de vasculhar o que está exposto, as capas, as lombadas, os títulos (e esse é um dos motivos pelo qual me esforço tanto para que meus livros saiam com um ótimo acabamento visual e com orelhas explicativas – não intelectualóides – para poder fisgar as pessoas que ainda vão às livrarias).
Vez ou outra, a coisa dá certo. Como quando encontrei numa pilha de livraria, ano passado, “A Fábrica da Violência”, do sueco Jan Guillou, editado pela Record. Me chamou atenção o título (porque a capa é medonha). Li um pouco da orelha e comprei o livro. Acabou se tornando um dos meus favoritos de todos os tempos.
Alguns dos nomes que realmente ecoaram para mim são nomes obrigatórios - como Kafka, Mário de Andrade, Lygia. Outros eu conheci primeiro em filme, depois fui procurar os autores – como Thomas Mann, Laird Koenig, Armistead Maupin, Clive Barker, Koji Suzuki. Alguns eu li em antologias de contos, depois fui procurar livros próprios – como Paulo Henriques Britto, Saki, Rubem Fonseca, Márcia Denser. A maioria veio por indicação mesmo. E é difícil eu encontrar quem entenda meu gosto e acerte na sugestão. Os livros mais importantes vieram de indicações de namorados e namoradas: Wilde, Caio, Noll, Lúcio Cardoso, Mário de Sá-carneiro. Amigos foram poucos que acertaram.
Há uns dez anos conheci pela internet um professor americano, o Louis. Ele leu uma crítica que eu fiz de um livro na Amazon, comprou o livro, detestou e me escreveu para tirar satisfações. Acabou me mandando de presente vários e vários livros (até recentemente) de autores americanos contemporâneos (quase todos gays, é verdade). Com ele conheci Tom Spanbauer, Allan Hollinghurst, Eric Swanson. O Louis eu nunca conheci. Durante certo tempo até me questionei se ele não usava nome falso, se não era algum brasileiro que eu conhecia, ou algum dos autores americanos que ele me mandou.
Falando em Amazon, o sistema de indicações de lá para mim funciona melhor do que de qualquer outra livraria. Aquele esquema de “pessoas que compraram este livro também compraram:” é realmente útil. Você encontra livros de temáticas parecidas, de autores relacionados, pode pesquisar em listas de leitores elegendo os melhores títulos. Eu também sempre leio as críticas dos clientes, eles alertam para qual a melhor edição a se comprar (tanto em livros como em DVD), e geralmente descrevem melhor o conteúdo do que os releases oficiais.
Daí voltamos àquela velha discussão: e as leituras obrigatórias? E os livros obrigatórios para se ler na escola, no vestibular? Não ajudam a formar o repertório dos jovens leitores? Será que essa obrigatoriedade não é o que acaba afastando os alunos da leitura? Será que as opções não deveriam ser mais abertas?
Eu não sei. Nunca tive os livros obrigatórios como meus favoritos, é verdade. E acho que podem causar certa resistência, sim. O moleque é obrigado a ler Machado de Assis - que é “o maior escritor brasileiro de todos os tempos”- detesta Machado de Assis. Daí fica pensando que não gosta de ler mesmo. Se não gosta “do maior”, não vai gostar de mais nenhum. E acho que esse é um pensamento freqüente.
Mas daí o que fazer? Deixar que o aluno escolha livremente o livro? Não vai acabar vindo só Harry Potters? De repente a melhor opção seja deixar o aluno escolher dentro de temas, períodos, escolas literárias. O professor pode inclusive sugerir, mas deixar o aluno ter a decisão final. Claro que isso dificulta nas horas das provas, das avaliações, mas até aí, para que serve uma avaliação?
Um dos tópicos mais bacanas que eu vi na comunidade “Santiago Nazarian” do Orkut foi: “Como você conheceu os livros de Santiago Nazarian?” Porque daí pude ter alguma idéia de como as pessoas chegaram até meus livros. Claro, não é uma amostra exatamente científica, pega apenas meus leitores que estão no Orkut, que estão na minha comunidade e que responderam ao tópico, mas ainda assim, dá pra ter uma idéia. Alguns leram sobre o livro em revistas e jornais. Muitos tiveram a indicação de amigos. A maioria, previsivelmente, viu no Programa do Jô.