28/11/2008

HELLO, ADAMASTOR, I WANNA PLAY A GAME…


“Você sempre teve tudo o que quis, quando quis, e teve até demais. Não é surpresa então que hoje você tenha destruído seu corpo e sofra de obesidade mórbida. Mas mórbido mesmo é seu estado mental, deprimido, anestesiado, viciado em anfetaminas para tentar emagrecer. Vou ter dar uma chance. Você pode se soltar facilmente desta balança em que está preso, mas, ao fazer isso, vai ligar o timer que explodirá uma bomba em trinta segundos. Sua única chance de pegar a chave e fugir deste quarto é ser paciente e esperar. A cada dia de espera, seu peso diminuirá, fazendo a balança pender para o outro lado e aproximando-o mais da chave presa ao teto. Essa goteira sobre sua cabeça fornecerá a água que você precisa para não se desidratar. Esse será seu único alimento. Então, Seu Adamastor, poderá esperar até seu peso diminuir, ou prefere se livrar imediatamente desta balança e explodir como uma bomba? A escolha é sua. Que o jogo comece.”

Haha, mamãe sempre disse que eu tinha problemas. Quem manda eu ver uma tosqueira como “Jogos Mortais 5”? Depois fico sonhando com essas coisas (Isso, sonhei com a armadilha acima, inédita e original, vai? Devia mandar para a produtora do filme, porque eles já estão “roteirizando” o próximo da franquia, e estão precisando de novas idéias...)

Pois então, vou aproveitar para lançar uma promoção, que nessa época de Natal fico generoso: Mostre que você é um gore-geek também, e me mande a sua idéia de armadilha ao estilo “Jogos Mortais”. Pode ser tosca, engraçada, séria ou dramática. Aproveite aquele seu desejo adormecido de torturar sua professora, sua mãe, seu pai e seus melhores amigos!

Quem me mandar a melhor armadilha (texto e desenho – pode ser desenho tosco, tipo o meu) ganha QUALQUER UM DOS MEUS LIVROS à sua escolha (só não vale o novo, que ainda não saiu) e mais um DVD de “The Ring – O Chamado”, a versão original japonesa (por que “The Ring”? Porque tenho dois aqui em casa, haha). O segundo lugar ganha um livro “Olívio” (é, só isso, não reclame).

Envie em jpg e texto (num arquivo não muito pesado, por favor) para:

santiagonazarian(arroba)gmail.com

Vale até sexta que vem, dia 5. Posto o resultado aqui até sábado. Se ninguém me mandar nada no mínimo razoável, me reservo o direito de guardar os prêmios.

Que o jogo comece!

(Quanto ao filme “Jogos Mortais 5” em si, não vou nem comentar. Tenho certeza de que VOCÊ consegue criar algo melhor.)

27/11/2008

DOS BICHOS QUE NÓS COMEMOS

Nazarian diz:
Queres almoçar aqui amanhã?
Nazarian diz:
Ou domingo?
Nazarian diz:
Ou nunca?
Cris Lisboa diz:
terça
Cris Lisboa:
sábado e domingo vou estar em fotos
Cris Lisboa:
segunda dormirei
Nazarian diz:
Ah, terça não almoço...
Nazarian diz:
Dia de semana almoço muito tarde.
Nazarian diz:
Tipo, oito da noite, sério.
Cris Lisboa diz:
eu almoço as oito
Cris Lisboa diz:
contigo
Cris Lisboa diz:
se tu quiser
Nazarian diz:
Não quero.
Nazarian diz:
Fiz outro dia um avestruz com purê de banana e arroz selvagem estupendo...
Cris Lisboa diz:
tu é tão sofisticado...
Cris Lisboa diz:
mas avestruz é um bicho bom
Cris Lisboa diz:
não como bichos bons.
Nazarian diz:
Macarrão a bolonhesa é bicho mau?
Cris Lisboa diz:
Vaca é bicho mau. Elas nos seguem.
Nazarian diz:
Fiz uma lula a dorê também, que foi a melhor que já comi.
Cris Lisboa diz:
lulas ficam borrachudas
Cris Lisboa diz:
deve dar um trabalho insano
Nazarian diz:
É só deixar de molho no limão. Usar óleo novo, beeeem quente e (o mais importante) passar na varinha antes e depois de passar no ovo.
Nazarian diz:
Digo, farinha. (ai, de vez em quando baixa essa dislexia)
Cris Lisboa diz:
achei que varinha era um instrumento de cozinha
Crislis Lisboa:
sonhei três noites com polvos
Nazarian diz:
Polvo e lula são bichos bons ou maus?
Crislis diz:
maus
Nazarian diz:
Eles te seguem também?
Cris Lisboa diz:
não
Cris Lisboa diz:
mas porque não entro no mar
Cris Lisboa:
no fundo
Cris Lisboa diz:
se eu entrar...
Cris Lisboa:
certeza que serei seguida

24/11/2008

CINEMA FANTASMA




Neste final de semana assisti a mais um filme de zumbi (este, nada pornô e muito menos gay): [Rec]. Vai naquela onda atual de “mockumentary”, ficção filmada como se fosse um pretenso documentário (câmera na mão, tremendo, fora de foco, etc), no estilo “Bruxa de Blair”, “Cloverfield”, “Canibal Holocaust” e por aí vai.

[Rec], um filme espanhol, é bacana, tenso, com um final ótimo (e pesado). Não me impressionou tanto quanto “Cloverfield”, talvez por já ser uma fórmula um pouco batida e talvez por não ser tão “fantástico” (ou grandioso). “Cloverfield” usava um enfoque realista para contar uma história totalmente surreal: um monstro gigante destruindo Nova York. Já [Rec] usa o mesmo recurso num enfoque mais micro, um prédio isolado, proliferando-se com zumbis. Causa certa claustrofobia, dá uns bons sustos, mas não parece nada novidade.

De qualquer forma, o mais gostoso foi assistir ao filme num legítimo “cinema fantasma”, o Gemini. Não é exatamente um cinema de bairro, fica dentro de uma galeria, no meio da Avenida Paulista, mas está bem abandonado, vazio, e eles estão tentando fazer de tudo para atrair público(a meia entrada num domingo custa 7 reais, dá direito a um doce na bomboniere e ainda o segundo ingresso – mesmo que inteiro- sai por R$4.) O cinema é bem grande, tem um visual antigo (mas não detonado) e toca coisas como Richard Clayderman na sala (ahaha), antes da sessão começar. Tem duas salas, e geralmente passa filmes que acabaram de sair de cartaz em cinemas maiores. Então vale como uma “última chance”. Neste domingo, tinha eu e mais uns 4 vendo [Rec].

Tenho tanta pena desses cinemas que fecham. Hoje em dia só sobrevivem as grandes redes. Eu até gosto das grandes redes – o tamanho da poltrona, a distância e a altura entre elas – mas geralmente elas só passam filmões, estão sempre lotadas e são caras.

Comecei a me lembrar de todos os cinemas de bairro em que já fui, os que permanecem, os que fecharam. Poucos continuam com esse ar nostálgico – como o Gemini.

Um clássico da minha infância é o Lumiere, no Itaim. Ele chegou a pegar fogo, foi reformado e acho que ainda existe – mas hoje tem nome de algum provedor, Uol, Ig, algo assim... Nunca mais fui.

Na Faria Lima, dentro de uma galeria, tinha o Cal Center, que sempre passava uns filmes tosqueiras de terror. Parece que virou Igreja Evangélica. Tenho medo.

Lá na Santo Amaro tinha o Chaplin, onde fui barrado ao tentar ver “Ghost Busters” – eu ainda não tinha idade. Muito tempo depois - e ainda assim, há muito tempo atrás – foi fechado. Acho que não tem nem mais sombra.

Há pouco tempo fechou na Paulista, dentro de outra galeria, o Top Center, que passava filmes bem bacanas, cult, muitos fora de circuito. Não resistiu.

Na Paulista também tinha o Astor (era Astor?) no Conjunto Nacional. Tudo bem que não passava nada que prestava, mas a idéia da Livraria Cultura de abrir uma loja lá foi das mais infelizes. Como o prédio é tombado, eles não puderam reformar decentemente e fizeram uma LIVRARIA INCLINADA, como um cinema. Eu não consigo pensar em lugar mais desconfortável para se folhear livros.


Devo dizer que deteeeeeeeeeeesto o Espaço Unibanco da Augusta, é cheio, povinho cabeçudo (em todos os sentidos), as salas são apertadas e tem uma disposição péeeeeessima de assentos. Não vou; mas do Unibanco Arteplex eu gosto (ainda mais porque é literalmente do lado da minha casa, sério, dá pra ver a escada rolante dele aqui do meu apartamento, olha só):


É perto.


De qualquer forma, ninguém pode reclamar da quantidade (e da programação) dos cinemas de São Paulo. Nas cidades do interior, é bem mais difícil. Raríssimas são as que têm cinema – mais raro ainda as que têm cinema fora de shopping. A programação dos cinemas que restaram... eu nem comento.

Fui num bem bacaninha (embora tumultuado) em Capivari (interior de SP) quando fiz a “rota do chupacabra”, em 2006 (e espero que o cinema ainda exista). Assisti “As Torres Gêmeas”, com o Nicolas Cage, só mesmo para ter a sensação de ir num cinema do interior.

Na cidade vizinha, Rafard, há um cinema abandonado desde os anos 70 – e eu ainda acho melhor que permaneça abandonado, em ruínas, com cara de cinema do que se torne igreja evangélica (como a maioria). Rafard como um todo tem cara de cidade fantasma (no bom sentido, sério, no bom sentido) é uma delícia, meio vazia, meio melancólica, bem bonita.

Lembro também de um cinema abandonado em Lorena (290km de SP), na praça principal. Lá pelo final dos anos 90, estava abandonado há uns 10 anos, e ainda tinha uma carta de despedida (e agradecimento) dos proprietários, fixada na porta, lamentando-se por não conseguirem manter o cinema aberto. (Pesquisando agora, rapidamente, encontrei programação desse cinema entre 2002 e 2005, então talvez tenha reaberto, e talvez já tenha fechado).

Porto Alegre, no começo dos anos 2000 (quando eu morava lá), estava numa pobreza brava de cinema. Os de bairro já haviam fechado (havia vários “cinemas-fantasma” perto da minha casa, na 24 de Outubro, na Benjamin Constant e na Cristóvão Colombo) e ainda não tinha aberto a quantidade de shoppings que tem hoje. Os cinemas com programação mais “esperta” ficavam apenas na Casa de Cultura Mário Quintana e no Olaria. Hoje tem Unibanco, Santander e várias mostras acontecendo, com filmes raros pelos shoppings. Já fui várias vezes para fazer tradução/legendas, inclusive em cidades do interior.

Aliás, o interior do Rio Grande do Sul em geral tem uma boa cobertura de cinemas. Não é ótima, claro, mas talvez ainda seja melhor do que a do interior de SP. Santa Maria, Passo Fundo, São Leopoldo e Novo Hamburgo, por exemplo, tem boas salas de cinema, cobertas pelas mostras mais espertas.

Paraná tem salas bem espertas (em Curitiba), mas não tantas. E Santa Catarina é bem devagar (mesmo - ou principalmente - em Florianópolis). Os cinemas do sul do Brasil nem são tão fantasmas, porque nunca estiveram vivos.


Do resto do país, eu não sei, porque isso aqui não é fruto de uma pesquisa consciente. É apenas uma maneira de eu próprio me lembrar e manter vivo os cinemas pelos quais passei... e que passaram.

19/11/2008

PORNÔ COM ZUMBIS


Preguiça de mais um feriado... fica aquela necessidade de se divertir, aquela obrigação de ser feliz, aquela desculpa para protelar o sofrimento e o travamento das engrenagens...

Enfim, neste feriado tem programas culturais bacaninhas aqui em SP. O Festival Mix Brasil já está na metade e eu já vi algumas coisas bem legais - inclusive um pornô gay com zumbis!




"Otto" é filme do controverso diretor canadense Bruce La Bruce, especializado em pornôs alternativos e contestadores. E é um filme de zumbis.


O jovem Otto morre e levanta da tumba sedento por carne (e amor) num mundo dominado pelo sexo e pela violência. Nesse contexto, pouca gente percebe que ele é um zumbi, e ele até consegue catar uns pitchulinhos pelas ruas por onde vaga como um sem-teto. Sua sorte melhora quando ele encontra uma diretora "noir" que está rodando um filme de zumbis, e contrata Otto para o papel.


O filme é uma bizarrice do começo ao fim, mas menos trash do que promete. Claro, há cenas escatológicas de canibalismo (e sexo), mas não chega a se configurar como um torture-porn (como os que se tornaram sucesso comercialmente, vide "Jogos Mortais", "O Albergue", "Wolf Creek" e por aí vai) e no aspecto sexual (ou pornô) até que é soft. A surpresa é que o filme consegue ser bonito (visualmente), engraçado, por vezes até "doce" e acaba passando o lance de zumbis como uma metáfora bacana da vida gay.


(Vocês sabem como adoro metáforas pop-bizarras...)

Aliás, o lance "mensagem" é a parte boa e a parte ruim do filme, porque é uma mensagem válida, mas que muitas vezes se torna didática demais, verbalizada, principalmente com a diretora-personagem narrando o filme dentro do filme e expondo suas intenções.
Ainda assim, "Otto" é uma belíssima experiência. E foi ótimo poder bater um papo com o próprio Bruce La Bruce , que ficou no cinema para falar com o público, depois da sessão.


"Otto" passa mais algumas vezes no Festival. Confira a programação, que acaba domingo:http://www.mixbrasil.org.br/

Para quem caiu de pára-quedas, o Mix Brasil é um festival de longas e curtas sobre diversidade sexual - viadagem, sapatice, putaria e bizarrice. Quase tudo que passa lá só passa por lá, depois nunca mais, tanto os curtas quanto os longas. Muita coisa é trash demaaaaaaaaaais, mas os que se salvam salvam tudo mais e, pelo menos, é sempre divertido. Tem muita coisa de gente que está começando aqui pelo Brasil - dá pra conferir novos talentos. Eu acompanho há mais de dez anos, já participei com curtas (que – felizmente – depois nunca mais foram vistos) e tem muita coisa (como "Otto") que entrou para o meu repertório particular, me fez uma pessoa melhor e me ajudou a entender as desigualdades deste mundo opressor.


Oh!

Outro programa cultural para os cabeçudos (em todos os sentidos) neste feriado prolongado é a Balada Literária, organizada anualmente pelo Marcelino Freire. Começa amanhã, vai até domingo, com escritores do Brasil e América Latina discutindo literatura (no bom sentido), em pontos espalhados pela cidade. Destaco a presença de Pedro Mairal, argentino autor do (ótimo) “Una Noche Con Sabrina Love”, que conheci ano passado, em Bogotá.

É tudo de graça. E a programação inteira está aqui: http://www.baladaliteraria.org/2008/


Tem outras coisas em cartaz – de filmes e peças – que vi esses dias, mas que nem vou comentar, porque não merece. Então por que comento? Só para saber que nem tudo que passa por aqui passa por aqui...


(Ah, este blog está carecendo tanto de meus fluídos, meus líquidos, meu derramamento e inundação. Tudo muito racional, mesmo quando onírico. Acho que perdi toda poesia em minhas páginas... A vida anda seca, ainda que não sólida.)


Tchau.

(Ah, a foto lá de cima, de abertura, sou eu, na minha juventude transviada, em curta antigo - "um snuff satírico" ou um "torture porn soft", pode-se dizer - chamado "Ame o Garoto que Segura a Faca", que passou há muito, muito, no Mix Brasil.)

18/11/2008

SONHEI QUE EU TINHA OS OLHOS VERDES...

E que a Silvia Popovic estava inaugurando um parque aquático. Não me pergunte o que uma coisa tem a ver com a outra. Sonho não tem explicação. Eu reclamava com a Silvia por não ter me convidado. (Não sou íntimo da Silvia, não, só conversei com ela uma vez; sonho não tem explicação).

Sonhei também que trabalhava num laboratório do Butantan, e que uma jibóia escapava no meio de uma experiência. Eu a via andando pelo chão, ia pegar de volta e levava uma picada. Era uma naja. Como eu consegui confundir uma jibóia com uma naja, não me pergunte, sonho não tem explicação. Os cientistas apenas me passavam uma pomada no ferimento - como soro - e me diziam que estava ok. "Está ok mesmo? Foi uma naja... vocês não têm de me dar uma injeção?"

Depois não sonhei mais nada.

13/11/2008

NÃO COMPRE CARRO ESTE FINAL DE SEMANA!!!

Espere até junho, e gaste tudo em literatura.

Novidades: Depois de idas e vindas, esperas e desesperos sobre meu livro novo, acabo de assinar novo contrato com a RECORD.

Há tempos que já trabalhava com eles, fazendo traduções e pareceres, e conversávamos sobre a publicação de um livro desde "Mastigando Humanos".

"O Prédio, o Tédio e o Menino Cego", meu quinto romance, que já deveria ter saido este ano, por outra editora, agora está de casa nova, muito bem instalado e com lançamento previsto para JUNHO DE 2009.

Vai, não é tanto tempo, eu aguento, aguente também...

Fico bem feliz com essa nova parceria, com uma editora bacana, grande, que tem lançado grandes nomes de todos os tempos, e grande parte dos talentos atuais da literatura brasileira. Fora que o pessoal de lá é bem querido.

Agora sai!

Sete meninos moram num prédio de frente para o mar, um prédio inclinado, prestes a desabar, assim como suas vidas, na dura passagem para a adolescência. Os pais estão sempre longe. A escola está sempre em greve. O ócio e o tédio começam a propor perigosas possibilidades de mudança. Quando uma jovem professora se muda para a vizinhança, os meninos têm de enfrentar suas próprias masculinidades, descobrindo que, para nascer o homem, muitas vezes é preciso matar o menino. Em seu quinto romance, Santiago Nazarian aborda juventude e maturidade como dois sintomas da mesma doença. Assassinato, prostituição, inseticida e cocaína são os medicamentos, ainda que contra-indicados, numa narrativa de lirismo, sadismo e humor corrosivo. “O Prédio, o Tédio e o Menino Cego” é um livro de descobertas nefastas. É literatura que quebra vidraças, destrói famílias e desperta zumbis.

12/11/2008

06/11/2008

"A BONDADE DE ESTRANHOS"


Foto: Pierre & Gilles (e seu assistente-fetiche Tomah - Le Petit Mendiant, 1992)

Nesta semana, o artista plástico Mauricio Ianês começou a performance “A Bondade de Estranhos”, na Bienal do Vazio. A idéia é ele viver como uma instalação, até o final da próxima semana, dentro do Prédio da Bienal - dormindo lá, comendo lá - sobrevivendo apenas da “bondade de estranhos.” Ele começou a performance nu, mas aos poucos vai ganhando presentes dos visitantes. Segundo a Folha de São Paulo, no dia da estréia ele já tinha ganho uma camiseta, uma torta de frango, uma garrafa d'água e um “amigo imaginário”...

Que estranho...
Ianês, numa de suas performances anteriores.


Acho esse um ótimo exemplo de arte conceitual bem aplicada. Tem um conceito forte por trás, e está demonstrando de maneira mais incisiva e poética do que se fosse descrito como um texto - ou retratado numa pintura, ou cantado numa música. É uma performance que de fato materializa um conceito artístico, e ainda assim nem precisa ser vista para fazer sentido (ou para ser compreendida como arte).

Você pode ir na Bienal até domingo (da semana que vem) fazer parte e levar alguma coisa para o Maurício. Eu não posso porque não sou “estranho” o suficiente. Não sou amigo do Maurício, mas gosto dele, fizemos um trabalhinho juntos para a Zapping, ano passado. Uma das regras da performance é essa, que ele só pode aceitar coisas de quem não conhece. Então é bom avisar, divulgar, senão o menino morre de fome por lá!

(Ah, gosto tanto desse conceito de "Bienal do Vazio", principalmente porque você nem precisa ir pra fazer parte... Aliás, é melhor não ir, se quiser preservar o vazio.)

E essa performance tem muito a ver com o que eu andava falando, dos “mendigos culturais”, um pouco do que trata a peça “Artistas!” e de muita coisa que ando pensando.

Ainda mais porque acabei de traduzir um livro de mendigos-mendigos (ou “garotos de rua”) beeeeeeeeeem bacana. História de duas crianças que fogem de casa e têm de sobreviver nas ruas; aquela coisa “como nascem os anjos”, para mostrar que “mendigos somos nozes” ou humanizar os trapos que vemos pelas ruas, mas sem babaquice, sem ser panfletário, ainda que o livro seja essencialmente juvenil. Assim que sair o livro, coloco o serviço aqui.



As traduções continuam me contaminando, é impressionante. Sempre sou influenciado pelo que estou traduzindo – na época que traduzi um livro sobre um cara que abre uma loja de donuts, engordei uns cinco quilos – agora fiquei convivendo com esses meninos de rua e, ao invés de eu me sentir rico, protegido e privilegiado na minha casa, ficava olhando as contas que deslizavam por baixo da minha porta e me sentindo o mais favelado dos favelados.

Meu cabelo até encrespou.

Haha. Incorreções política à parte, o antídoto tem sido outro livro juvenil em que tenho trabalhado. Desta vez como AUTOR. Pois é, comecei agora a escrever um juvenil, mas juvenil para adolescentes mesmo, para ser um romance grandinho, soltinho, meio trash – não muito diferente do que venho fazendo nos meus romances “adultos”, na verdade, mas direcionado especificamente para a petizada.

Vamos ver, na verdade eu queria escrever uma espécie de Harry Potter emo-gótico, para ganhar muito dinheiro com essas novas gerações e ir morar na Finlândia, mas eu começo a avançar no texto, já sinto que o livro é meu filho, já fica uma relação pessoal e fode tudo. Não consigo escapar de escrever com honestidade.

Por isso continuo mendigando...



...acho que meu próximo livro vai chamar “Mendigando uns Mangos”.


“O Prédio, o Tédio e o Menino Cego” ainda não tem muitas novidades. Estou mudando de editora, vocês sabem, não vai mais sair pela Nova Fronteira. Então tenham paciência e (principalmente) dó de mim e aguardem que, quando eu puder, eu aviso sobre o lançamento.

(Hum, revendo a foto acima, relembro aquela frase clássica do Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns olham para as estrelas" - será que era essa a proposta da foto? Sendo Pierre & Gilles quem são - e principalmente O QUE SÃO - imagino que sim.)

04/11/2008

MÚSICA DE VERDADE

Thiago.

Ai, meus amigos têm me dado tanto orgulho...

Recebi estes dias aqui – e estou ouvindo sem parar – o EP de estréia do Thiago Pethit. Já falei dele aqui, no começo do ano. Tinha visto um show dele no Loveland (lugar bacana, tipo cabaré, com shows “burlescos” e bebidas psicodélicas) e tinha gostado da coisa meio spoken word, meio argentina – não é à toa que ele passou grande parte do ano passado estudando em Buenos Aires. O resultado foi ótimo.

Mas este cd me surpreendeu. Sofisticadíssimo, tanto nas melodias quanto nos arranjos (com cellos, acordeons, piano e o caralho). Thiago canta em português, francês e inglês tudo muito bem, muito gostoso e – voilá! – sem soar pretensioso. O lado spoken word está presente em espanhol, numa faixa bônus (agora vou ensinar para ele umas palavrinhas de finlandês).

As faixas são muito bem produzidas. Thiago compõe melodia e letras e está cercado de gente boa aqui da zona baixa-augusta na produção e instrumentos: Tata Aeroplano, Dudu Tsuda, Maurício Fleury, Tiê e outros. O som lembra Rufus Wainwright, Tom Waits, Leonard Cohen – tudo coisa fina. Verdade que algumas vezes lembra a fase “fina estampa” de Caetano (principalmente na faixa “Birdhouse”) e talvez falte uma perturbação maior por parte dos vocais, que são sempre afinadinhos e comportadinhos. Ainda assim, é uma mescla deliciosa de folk, melodias circenses e pop de cabaré. Eu diria que o único grande defeito é ser um EP... apenas seis faixas.

Ah, tem outro defeito - a capa é uma porra, olha só:



Thiago Pethit é, sem dúvida, das melhores coisas que eu ouvi este ano. E olha que não me faltam amigos fazendo música.


Dá pra comprar o EP no Garimpo+Fuxique ( Rua Bela Cintra 1677 - Jds ), é baratin. E podem ter mais informações aqui: http://www.thiagopethit.com/





Outra coisa que ando ouvindo direto, direto, direto é o novo da Grace Jones. Isso NOVO, depois de quase VINTE ANOS sem gravar.

Tenho todos os cds dela. Sou fã. Se você não conhece, ela é a mulher que inventou os anos 80: ex-modelo, com aquele visual andrógino, vocais meio declamados, ainda que com uma voz poderosíssima. Ela é o marido dela na época, o artista plástico Jean Paul Goude, criaram essa personagem no início da new wave, e acabaram influenciando uma legião de artistas que vieram depois.



Musicalmente, o som era – e continua sendo – uma mistura de reggae, street-jazz, pop, gospel e ritmos jamaicanos, que podemos chamar de dub. Seu clássico álbum Nightclubbing, que ela lançou em 81, sempre entra na lista de melhores álbuns de todos os tempos, em revistas como Rolling Stone e Mojo, e certamente é meu favorito. (Só a faixa “I’ve Seen that Face Before”, uma recriação de “Libertango”, do Piazola, já pode ser considerada uma das faixas mais influentes da música pop – inclusive da MPB; todo artista nacional que quer gravar um tango, acaba fazendo esse Libertango – de todos os tempos.)

Veja só:




Tá, mas é o cd novo? Vai pela mesma linha. Tudo bem que não é mais novidade, mas ainda soa atual. E Grace Jones continua em pleno frescor, com a voz idêntica a que tinha nos anos 80.

Faixas como “This is” (com uma pegada Timbaland), “Sunset Sunrise” (bem dub) e “I´m Crying” (um lounge jamaicano gostosinho) mostram a força e a musicalidade do cd. O primeiro single “Corporate Cannibal” um spoken trevoso, tem seu impacto, mas ainda acho a das mais fracas do disco.

O clipe:




Espero que agora ela volte a ser produtiva (e reprodutiva). Quero mais álbuns e quero vê-la ao vivo. Até estive num festival em Londres onde ela iria cantar, mas tive de ir embora antes, porque trabalhava naquela noite. Ficou devendo...

02/11/2008

MICHAEL MYERS TE DESPREZA

Feliz Halloween, Dia de Finados e o escambau.

Essa abóbora aí foi feita aqui em casa, viu? Você compra por 3 pila no supermercado, dá uma luminária super orgânica, e ainda dá pra usar o recheio para fazer um peixe delicioso.


Fábio e eu brincando de "Trick or Treat".



Voilá!


"Gostosuras ou travessuras?"

Salmão com purê de abóbora ao wassabi: Você - que gosta de trocadilhos infames - pode chamar de "Salmãochel Myers" ou simplesmente "Salmão de Halloween".


Aproveitamos também as festas de final de semana para capricharmos na fantasia. Fábio de fashionista, eu de maurição. Convenceu?






NESTE SÁBADO!