19/11/2008

PORNÔ COM ZUMBIS


Preguiça de mais um feriado... fica aquela necessidade de se divertir, aquela obrigação de ser feliz, aquela desculpa para protelar o sofrimento e o travamento das engrenagens...

Enfim, neste feriado tem programas culturais bacaninhas aqui em SP. O Festival Mix Brasil já está na metade e eu já vi algumas coisas bem legais - inclusive um pornô gay com zumbis!




"Otto" é filme do controverso diretor canadense Bruce La Bruce, especializado em pornôs alternativos e contestadores. E é um filme de zumbis.


O jovem Otto morre e levanta da tumba sedento por carne (e amor) num mundo dominado pelo sexo e pela violência. Nesse contexto, pouca gente percebe que ele é um zumbi, e ele até consegue catar uns pitchulinhos pelas ruas por onde vaga como um sem-teto. Sua sorte melhora quando ele encontra uma diretora "noir" que está rodando um filme de zumbis, e contrata Otto para o papel.


O filme é uma bizarrice do começo ao fim, mas menos trash do que promete. Claro, há cenas escatológicas de canibalismo (e sexo), mas não chega a se configurar como um torture-porn (como os que se tornaram sucesso comercialmente, vide "Jogos Mortais", "O Albergue", "Wolf Creek" e por aí vai) e no aspecto sexual (ou pornô) até que é soft. A surpresa é que o filme consegue ser bonito (visualmente), engraçado, por vezes até "doce" e acaba passando o lance de zumbis como uma metáfora bacana da vida gay.


(Vocês sabem como adoro metáforas pop-bizarras...)

Aliás, o lance "mensagem" é a parte boa e a parte ruim do filme, porque é uma mensagem válida, mas que muitas vezes se torna didática demais, verbalizada, principalmente com a diretora-personagem narrando o filme dentro do filme e expondo suas intenções.
Ainda assim, "Otto" é uma belíssima experiência. E foi ótimo poder bater um papo com o próprio Bruce La Bruce , que ficou no cinema para falar com o público, depois da sessão.


"Otto" passa mais algumas vezes no Festival. Confira a programação, que acaba domingo:http://www.mixbrasil.org.br/

Para quem caiu de pára-quedas, o Mix Brasil é um festival de longas e curtas sobre diversidade sexual - viadagem, sapatice, putaria e bizarrice. Quase tudo que passa lá só passa por lá, depois nunca mais, tanto os curtas quanto os longas. Muita coisa é trash demaaaaaaaaaais, mas os que se salvam salvam tudo mais e, pelo menos, é sempre divertido. Tem muita coisa de gente que está começando aqui pelo Brasil - dá pra conferir novos talentos. Eu acompanho há mais de dez anos, já participei com curtas (que – felizmente – depois nunca mais foram vistos) e tem muita coisa (como "Otto") que entrou para o meu repertório particular, me fez uma pessoa melhor e me ajudou a entender as desigualdades deste mundo opressor.


Oh!

Outro programa cultural para os cabeçudos (em todos os sentidos) neste feriado prolongado é a Balada Literária, organizada anualmente pelo Marcelino Freire. Começa amanhã, vai até domingo, com escritores do Brasil e América Latina discutindo literatura (no bom sentido), em pontos espalhados pela cidade. Destaco a presença de Pedro Mairal, argentino autor do (ótimo) “Una Noche Con Sabrina Love”, que conheci ano passado, em Bogotá.

É tudo de graça. E a programação inteira está aqui: http://www.baladaliteraria.org/2008/


Tem outras coisas em cartaz – de filmes e peças – que vi esses dias, mas que nem vou comentar, porque não merece. Então por que comento? Só para saber que nem tudo que passa por aqui passa por aqui...


(Ah, este blog está carecendo tanto de meus fluídos, meus líquidos, meu derramamento e inundação. Tudo muito racional, mesmo quando onírico. Acho que perdi toda poesia em minhas páginas... A vida anda seca, ainda que não sólida.)


Tchau.

(Ah, a foto lá de cima, de abertura, sou eu, na minha juventude transviada, em curta antigo - "um snuff satírico" ou um "torture porn soft", pode-se dizer - chamado "Ame o Garoto que Segura a Faca", que passou há muito, muito, no Mix Brasil.)

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...