Na estrada.
Aqui em São Paulo foi feriado e mais uma desculpa para eu fugir. Parati. Convite do grande amigo Marcelino, numa pousada afastada, no meio da mata, grande, deliciosa e tecnologicamente isolada.
O pouso (www.pousadaviladamata.com.br)
Choveu bastante. O que por um lado foi bom, porque consegui trabalhar, ler e escrever. Mas ainda rolou uma cachoeira, uma praia rapidinho, ótimos almoços e jantares, e eu não pintei e bordei, mas cozinhei.
A cachoeira era literalmente do lado do meu quarto. Dormir com aquele barulho é gostoso, mas na verdade é exatamente idêntico a um barulho de ar-condicionado.
Ciça, a dona da Pousada, e Marcelino, na praia.
Ursola prova e aprova minha caipiroska de lichia.
A leitura da viagem foi "A Grande Feira," do Luciano Trigo, um ensaio crítico sobre o mercado de arte contemporânea. Logo logo escrevo sobre o livro aqui.
Eu resolvi fazer um risoto de camarão em condições restritas.... (não, não, não estou falando da cuequinha, estou falando do fogãozinho com duas bocas e panelinhas meia-boca).
Mas o arroz é arbóreo e cozinho com CHAMPAGNE, ok?
Enquanto cozinho, Marcelino me lê um conto inédito e arrebatador. (Aliás, Marcelino me sacudia no meio da noite gritando "encontrei minha voz! encontrei minha voz!" e eu: "Enfia essa voz no meio do seu cu!")
O risoto ficou pronto... Mas devo dizer que não ficou lá essas coisas... Já fiz melhores (e já dei a receita aqui, é só vasculhar nos arquivos.) A culpa foi do camarão de Parati, que não é como o de Florianópolis, sinto dizer...
O jantar de primeira foi feito por um anfitrião argentino.
E meus filhos brincam no mar.... "Pensei em transar com Miguel ali mesmo, meu garçom. Me serviria. Seria assim que eu engravidaria e teríamos filhos correndo em direção à praia. Assim seria, abriria as pernas, eles sairiam, em direção ao mar. Que bonito. E minha risada alta e sonora soou vil e cínica." (Isso é meu, e antiiiiiiiiiigo - está fazendo dez anos!- mas eu ainda me lembro, eu ainda consigo...)
Em Parati eu não moraria, devo dizer. É bonito, mas tem algo de estranho por lá. Diria que tem uma "energia negativa," se eu acreditasse em energia. Talvez por isso que eu não tinha voltado desde... a primeira Flip. Desde aquela Flip que participei...
(Quando eu estava na cachoeira, inclusive, nem consegui me entregar a pensamentos bucólicos - o que me ocorreu foi uma citação do "Anticristo" do Lars Von Trier - "A Natureza é a Igreja de Satã.")
Mas talvez haja mesmo algo de literário nessa energia. E o melhor de tudo é estar na companhia do Marcelino, grande escritor, amigo, essencialmente um irmão mais velho (bem, bem mais velho...) sempre com bons conselhos, puxões de orelha, dando força quando eu mais (e menos) preciso. Eu não posso apenas dizer que devo muito a ele porque TODA a classe literária contemporânea deve, pelos eventos que promove, os nomes que faz circular. E mesmo quem não participou diretamente de algo organizado por ele se beneficiou dessa exposição e abertura que ele (e não só ele, mas principalmente) criou para os autores contemporâneos e as novas gerações na mídia, nas editoras, nos eventos literários.
(BTW: Marcelino também foi o primeiro dos "novos autores" que eu li, lá em 2000, quando eu ainda torcia o nariz para os contemporâneos. Nos conhecemos pessoalmente, veja só, em 2003, na primeira Flip. E em 2008 eu escrevi o prefácio do quarto de livro de contos dele, Rasif...)
Marcelino... acho que com essa homenagem fecha-se um ciclo. Agora um de nós teria de morrer...