É Mole?
Voltei esta segunda de Floripa (e já peguei uma mega chuva em São Paulo; pedreiros quebrando tudo aqui no meu prédio; aaaaaaaafe...). Fiquei nove dias fora e não queria voltar. Ficaria fácil mais nove. Mesmo com toda a melancólia. Mesmo com queimaduras e dermatites. Mesmo com os pés fodidos e cansados de caminhar, caminhar...
A lomba do meu dia-a-dia.
Florianópolis continua linda. Talvez ainda mais. Talvez meus olhos é que estejam cansados desse cinza. Não quero mais brincar de megalópole. Não quero mais brincar de Godzilla. Tudo o que eu via lá me parecia extraordinário (e isso porque já devo ter ido uma dúzia de vezes). As pessoas são tão lindas, o clima estava bem quente, deu tudo quase certo...
Verdade que o trânsito continua um problema. Mas isso é culpa exatamente de quem reclama do trânsito, e quer ir de carro para todo lugar. Eu fiz tudo a pé. Andei horas e horas. Da Barra até a Mole, do canto da Lagoa até a Barra, e por toda a praia. Passava bonito pelo congestionamento. O povo tem de aprender que lugar de praia não é pra ficar passeando de carro. O povo tem de aprender que NÃO TEM DE FICAR PASSEANDO DE CARRO em lugar algum. Escolha um ponto da ilha e FIQUE. ESTACIONE seu carro. Eu só preciso dos meus pés.
(...que voltaram fodidos, ok, mas voltaram.)
Caminhando na Lagoa.
Pode ser uma visão muito metropolitana a minha, mas fico chocado e considero um privilégio ter um lugar como Florianópolis, em que mesmo na altíssima temporada você pode deixar suas coisas sozinhas na areia (Ipod, celular, bolsa), mergulhar no mar e voltar. No Rio, mesmo sentado na areia você tem de AGARRAR seus pertences para um piranhita não passar correndo e levar.
A estrada da Barra vista do alto.
Por isso é questionável mesmo essas idéias de duplicar pistas (ouvi até gente dizendo em "aterrar parte da Lagoa" - Pânico!). Não é preciso facilitar para mais gente circular por lá. Já tem gente o suficiente. Melhor assim, com muito espaço na areia, a praia cheia, mas gostosa. Até mesa fácil de frente para o mar você arruma.
Eu queria me sentir desse jeito, "sozinho na multidão," e isso Floripa possibilita muito bem. Porque ainda é uma capital, mas é praia de fato. Você pode caminhar pela natureza, mas ainda está numa muvuca relativa. Grande concorrente a minha CIDADE FAVORITA DO MUNDO.
O canal da Barra, na frente da minha casinha.
Minha "casinha" foi a Pousada do Marujo. Lugar delicioso. Simples, mas com uma piscininha, ótima conexão Wi-fi (porque eu não me desprendo...) e acima de tudo a hospitalidade sem igual da Dona Ida, a proprietária. Pessoa maravilhosa.
Ida e seu filho Taiya (ele ainda recheou meu Nintendo DS de emuladores e me deu um pau no Mario Kart).
Pula! Pula!
Minha rotina era acordar, escrever à beira da piscina, ler, e caminhar, caminhar, caminhar. Caminhava em média umas 5 horas por dia, porque lá tudo é mais ou menos longe. Mas é possível. É viável. E lá eu posso ser feliz.
Na trilha da Galheta.
Apesar de cansado, deu para desestressar bem, porque estava sem amigos nem compromissos. Acordava a hora que eu queria, saía a hora que eu queria; não tinha hora para voltar, ninguém para ligar, nem para dar satisfações. Comia quando tinha fome. Bebia pouco, porque não havia necessidade. E de noite geralmente eu estava cansado. Dormia cedo.
De tarde, sentar num barzinho de frente para o mar, pedir uma porção de lula (que só perde para a minha, claro), uma capirinha e mergulhar na minha leitura de férias: Sólo te Quiero como Amigo, do Dani Umpi. Um divertidíssimo e inteligentíssimo romance-crônica-crítica sobre a vida gay (no Uruguai, mas que poderia ser aqui). Minha missão agora em 2010 é arrumar uma editora para ele no Brasil.
E só andando tanto assim é que pude comer HORRORES. Camarões, camarões, camarões, lulas, e camarões, camarões. Aquelas seqüências insanas de vários pratos - que são feitas para serem comidas no mínimo por dois - que tive de encarar...
Seqüência de camarão na Barra. Comi isso quase todos os dias...
Então aproveito para dar meu tutorial...
COMO VENCER UMA SEQÜÊNCIA DE CAMARÃO SOZINHO.
A seqüência clássica é composta de: Arroz, batata frita, 2 bolinhos de siri (ou casquinhas), camarão ao bafo, camarão alho e óleo, camarão à milanesa, peixe ao molho de camarão, pirão de peixe e salada. Em média custa R$40 (e dá facilmente para dois ou até três dividirem).
Como vencê-la sozinho:
- Beba uma cachaça ou caipirinha antes de começar, para anestesiar o estômago.
- Não beba demais, ou você vai comer mais do que seu estômago pode aguentar.
- Esqueça a batata frita, o arroz e a salada, isso você pode comer todos os dias.
- Não descasque os camarões. Isso é heresia. E a casca vai ocupar um espaço extra no seu estômago sem acrescentar calorias.
- Não adianta pedir pra embrulhar os restos. Seqüência de camarão requentado não dá. E se estiver comendo no lugar certo, não vai encontrar nenhum pedinte que não possa comer camarão todos os dias.
A cabeça você pode deixar, ok?
Foi bom ter ido sozinho para poder flanar, flanar, mas encontrei bons amigos. Consegui me manter sentado uns... 5 minutos, em companhias queridas.
Minha fantasia de turista.
Fiquei mais concentrado na Barra, Praia Mole e Lagoa. A Mole é aquela coisa, point gay de gosto duvidoso. Não entendo aquele som altíssimo tocando uma house vagabunda, o povo se pastilhando e cheirando K em plena luz do sol. A mim não bate bem.
Eu até tentei me afastar do Bar do Deca e ir pra outro ponto lá, mas o bar dos playboys pra baixo da mole tocava a MESMA música, no MESMO volume. Daí não dá...
Encontrei duas bonitas para fotografar e não parecer que eu estava sempre sozinho.
O que salvou foi a praia da Barra, mais família e mais suave. E tem sempre a Galheta para se caminhar...
E velhas amigas de Porto Alegre...
A virada em si eu passei numa festinha fechada no Canto da Lagoa. Bacana. Gente bem bonita (e louca), vista linda e fogos. Acho que não dava para pedir muito mais, embora nessas horas faltam os amigos mais próximos para abraçar...
O queridíssimo Ricky, amigo de anos, foi quem me convidou. (Eu já estava na aguinha...)
Por lá também encontrei a Maria, de SP, (à direita) com amigas.
DJS muy locos.
A vista (era bonita, pode acreditar).
Gorky (do Bonde do Rolê) também estava lá, muito bem acompanhado.
Os bonitinhos do Jivago me fazem derreter...
E agora? Sei lá. O que eu queria mesmo era voltar. Mas acho que minhas férias chegaram ao fim. Continuo sufocado de traduções. Tenho dois livros pra entregar este ano pra Record (o juvenil e o de contos) e preciso sentar na frente dessa tela e trabalhar.
Vamos ver se conservo ao menos a areia no ouvido... E o som do mar como um sonho distante.