05/02/2010

PERGUNTAS SEM RESPOSTA...



Comecei este blog em 2004, quando já tinha dois livros publicados. Nunca tinha feito um blog antes, tinha resistências, mas achei que era uma forma importante de comunicação com os leitores, divulgação de eventos, lançamentos, etc. E acho que estava certo. Além disso, tem servido bem como uma forma de registro pessoal, já que eu que nunca tive diário.


Outro dia estava revendo os arquivos, posts antigos, outros reveillons e outros carnavais. Fiquei feliz de ter esse registro, embora um tanto quanto envergonhado de muita coisa escrita lá...


Mas, ei, isso não é um post de despedida...



É só para responder mais umas daquelas incansáveis perguntas que caem todo dia na minha caixa de emails, twitter e orkut.



- Por que o blog não tem comentários?

Durante um tempo, o blog teve comentários. Mas conforme a coisa foi repercutindo, foram se multiplicando os visitantes frustrados, escritores não publicados, ou algum bangolino hiper-ativo qualquer que se dedicava diariamente a afundar o blog com ataques. Além disso, os comentários meigos não compensavam. Quando você permite comentários no blog, você incita comentários no blog. E as pessoas querem comentar tudo, perguntar tudo; se você escreve sobre um filme, recebe comentários do tipo "onde está passando?" e o povo espera demais de uma interatividade que você não tem tempo nem vontade de manter.


Então não tem comentários, não vai ter comentários, mas se você tem algo realmente significativo a comentar, pode me mandar por email.

- Por que você não responde aos emails?

Eu respondo. Mais sim do que não. Mas às vezes simplesmente não tenho o que responder (mesmo em mensagens fofinhas; só posso agradecer). Às vezes simplesmente esqueço. Outras, acho a mensagem meio sem noção. Muitas vezes é gente que vem com um elogio... para logo depois mandar um anexo com seus próprios textos ou link de um blog. (Eu não leio.) E muitas vezes são propostas indecentes. Bacana. Fico envaidecido. Sou homem. Faço sexo. Mas tenho certo pé atrás com leitores... Sabe como é, gente que lê geralmente não está em boa forma... E por email não tem como saber... Então melhor a gente esperar por um dia que nos encontremos ao vivo.

(Twitter eu não respondo, nem sei responder - não gosto de Twitter, não sigo ninguém. Só tenho porque acho importante ter, aprender a mexer, mas não gosto...)

- Não pode ler nem um continho meu?

Não.

- É pequeno...

Essa é a praga de qualquer escritor. Diariamente chovem textos e mais textos na nossa caixa de emails. Não leio. Não abro exceção. Ou melhor, abro exceções demais: textos de amigos, textos de colegas, texto que editoras pedem pra eu avaliar. Dos amigos eu não cobro, das editoras eu cobro. De quem eu não conheço, por que vou fazer de graça? Tenho pilhas e pilhas aqui de coisas que quero ler, reler, pesquisar. Ler faz parte do trabalho do escritor, e quanto mais você escreve, mais quer ler, mais surgem coisas para ler, mais recebe indicações, conexões, percebe que o poço não tem fundo.


Pra você tem uma idéia, tem meses que chego a ler DOZE livros para editoras, recebendo por cada um deles, isso dá praticamente um livro a cada dois dias.

Mas avisei no começo de dezembro que não ia ler NADA a trabalho até depois do carnaval, justamente para poder ler minhas coisas... E daí a Folha me pediu uma crítica de livro aqui, uma editora pede pra eu fazer outra orelha lá... E eu preciso da grana.. Nesses dois meses que só ia ler por prazer, li mais CINCO livros por trabalho (e uns outros cinco consegui ler por prazer). Então seu conto... não leio.


É triste, é frustrante, mas vai se acostumando que a vida é assim. Correr atrás de leitores é algo que você vai fazer a vida toda... Poderia ser mais fácil se não existisse TANTA GENTE SEM NOÇÃO escrevendo. É esse povo que gera essa pré-indisposição. Daí a gente fica esperando o cara estar publicado, consagrado, ou ao menos ter uma boa indicação de quem a gente conhece para arriscar a ler. Sim, ler originais é uma merda.

- Eu queria ler seus livros, mas sou pobre, sou favelado, meu pai nunca me levou ao circo...

O que você quer que eu faça? Reclama com seu pai!

- Não pode me DAR um livro?

Não.

Olha só... os autores não têm um estoque ilimitado de seus livros, não. Com exceção dos casos em que o autor paga pela publicação, nossa cota é pequena. Geralmente a editora manda 20 ou 30 livros para o autor (e distribui para a imprensa), esses livros vão rapidinho pra familia, amigos, contatos profissionais, e quando o autor precisa de mais livro ele geralmente COMPRA da editora (com desconto, mas compra). Acha estranho o autor comprar seu próprio livro? Pois é, mas faz sentido, porque a editora é que pagou pelo papel, pela impressão, diagramação, etc...

- Então onde eu posso BAIXAR?

Até onde eu sei, nenhum livro meu pode ser encontrado pra download. Eu não seria exatamente contra, mas também não poderia disponibilizar porque:

1) Eu estaria perdendo dinheiro de venda.
2) Estaria violando meu contrato com as editoras, que têm exclusividade de distribuir e comercializar.

Eu até acharia interessante o download, se refletisse realmente num maior número de leitores, maior divulgação, etc, mas não acredito que quem goste de ler baixe livros. Eu NUNCA baixei um livro, sério (e baixo música, filme...). Acho que o livro ainda é um objeto. E se você não gosta de livros... fique com o blog.

- Eu gosto, mas é caro...


É caro. E eu não tenho nada com isso. A editora é que decide o preço (e confesso que achei "O Prédio" salgado demaaaaaaaaais). Mas você gasta isso em cerveja fácil, que eu sei. Além do mais, eu me esforço para tornar o livro um objeto bonito, ilustrado... Tem coisas que você só extrai do livro em si, como objeto, quer ver?

Pegue "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego" e jogue numa panela com dois litros d'água. Ferva e coe o caldo. O resultado é algo semelhante àquele chá de fita cassete, dá um puta barato. O efeito colateral é que você pode virar zumbi.

Viu?! Isso não se consegue no download!


- Então não posso comprar direto com você, autografado?

Não, por aquilo que já falei: minha cota é limitada e a editora é que tem exclusividade da venda. Eu vendi por um bom tempo "Olívio", meu primeiro, porque foi lançado por uma editora pequena, que nem me pagava mais direitos autorais, e fez esse acordo comigo. Mas agora não tenho mais.

- Tudo bem, fico só com o blog mesmo...

Eu sei. Apesar deste blog não ser um estrondo de audiência, acredito que muita gente que se diz meu leitor lê só o blog. Já me ressenti com isso, mas é bobagem. Meu tom nos livros é completamente diferente do tom do blog, claro, mas também cada livro meu é diferente do outro, e o blog acaba sendo só outra opção. Fiz o blog para levar aos livros, não faço questão de bombar de audiência aqui, não faço divulgação do blog em si, não participo de exposições ou coletâneas de blog, mas sei que ele tem essa parte cotidiana, pessoal, mais leve do que os livros que agrada a um público diferente. Então ok, se prefere o blog, para mim está bom. É tão filho meu quanto meninos andróginos, suicidas seriais ou jacarés de esgoto.

NESTE SÁBADO!