31/08/2010
Estarei nesta quinta, sexta e sábado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, praticamente internado no Sesc.
Quinta de noite dou uma palestra lá sobre minha obra.
Sexta de tarde dou a maldita "oficina da maldição" - uma conversa sobre o lado prático do meio literário: como publicar, valores pagos, agenciamento, prêmios literários, divulgação, eventos, publicação no exterior, etc.
E sábado vou basicamente pixar uma das paredes da unidade, rabiscando um conto por lá (Piranhitas).
(horários e endereço, procurem no site do Sesc... que eu mesmo não achei.)
De lá, ainda não sei se volto pra Florianópolis ou São Paulo. Estou agora em SP, naquele velho apartamentinho, arejando as janelas, revendo os amigos e escrevendo um texto pro Clarín.
29/08/2010
A Barra, do alto.
Dominguinho bucólico, dia de encontrar a familiazinha (verde) que formei por aqui. Ida, minha mãe em Floripa, mora a quinze minutos de casa e me nutre com belos churrascos e melhor companhia ainda.
Com Pedrin.
Tryshia, Ida e Néia com o filho, primeiro neto da família.
Taro, o filho-pai, com seu Gael.
Tia Trishya.
Wolfgang, o hóspede alemão que fez um belo churrasco gaúcho.
(foto dela, tirada há algumas semanas, de prova.)
28/08/2010
(Vi este vídeo no Facebook do Marquinhos Fagundes. Já entrou para os meus favoritos.)
26/08/2010
“A ilha há muito estava encalhada na mancha negra do mar. Sem peixes nem possibilidades. O barquinho pesqueiro de Sebastião atracado a cracas. Sua barraca à vista de vista nenhuma. Ele e sua esposa vendendo cerveja, vendendo torresmo, vivendo de um bar pequeno quase sem clientes, praticamente sem peixes, sem camarões consistentes nem iscas de mariscos para servir aos turistas. Sem temporadas. A riqueza do petróleo, as promessas de outrora se dispersaram numa mancha ocre por toda baía. Ninguém entrava, ninguém saía. Até a visita de um navio fantasma.” - Eu Sou a Menina Deste Navio
“O guepardo continuava olhando para mim. O guepardo continuava me olhando com aquele olhar de guepardo. Você sabe como olha um guepardo? Com aquele olhar desconsolado. Como se te jantar fosse um destino inevitável. Como se chorasse a carnificina que há em sua sina. Algo como lágrimas de crocodilo. Por isso seus olhos pintados. Nada de crueldade. Nada de sadismo. Te como com lagrimas nos olhos, lhe diria.” - As Vidas de Max
"No meu aniversário de catorze anos, ganhei um buquê de lírios. Achei lindo. Primeira vez que eu ganhava flores. Presente do meu primo Paulo – primeira vez também que ele comprava um presente com o próprio dinheiro. Mas minha mãe disse que eram flores fúnebres, flores de enterro. Não me importei. Aos catorze anos a ideia de morte me era tão abstrata quanto a fotossíntese, e certamente quando eu morresse não faria diferença para mim quais flores estariam sobre meu caixão. Os lírios mereciam minha gratidão. Coloquei-os num vaso antigo que nunca servira para nada, e dentro do meu quarto, sob a janela, ao lado da minha cama." - Trepadeira
"A cidade não tinha cinema. Não tinha teatro, nem boate, nem shopping. Os velhos e os solteiros ocupavam os bares. Os shows eram raros - no clube ou num palco montado na praça – shows de cantores sertanejos. Para as famílias, o ponto de encontro era a igreja. Para os adolescentes, restava apenas o cemitério." - Marshmallow Queimado
"Eu vou e volto. Voltamos em silêncio, um de frente para o outro, na sala. A vodca está fazendo efeito e até Scott Walker parece embargado. Lá fora, nada se ouve. Onde estão os zumbis? Diabos, onde está nosso drama? Não é possível que o apocalipse seja assim, tão silencioso. Costumávamos ouvir rojões na Avenida Paulista. O mundo comemorando, torcidas e foliões festejando, e nós achando que eles estavam apenas tudo implodindo. Como uma partida da Copa do Mundo pode gerar mais ruído do que o Armagedom?" - Apocalipse Silencioso
"Sou apenas um turista. Visito as cidades e passo por você. Passo por cima. Você é meu ponto turístico. Mas não te conheço a fundo, nem depois de pernas abertas, nem depois de ânimos e hormônios decantados. A gente pode visitar uma cidade e se hospedar num hotel. A gente pode visitar museus e comprar souvenires. A gente pode até penetrar numa moradora local. Mas só se sente realmente em casa quando experimenta uma vida inteira, e uma morte por lá. Por isso eu mato." - Você É Meu Cristo Redentor
"O Príncipe caminhava mancando sobre poças de sangue. Lágrimas nos olhos, suor e cansaço, todos seus soldados estavam mortos. " - "Todas as Cabeças no Chão, Menos a Minha!"
Trechinhos de contos do meu próximo livro. Isso, não falei aqui? Será meu primeiro livro de contos, contos longos, ou um livro de histórias. Alguns são basicamente contos de fadas, a maioria é praticamente conto de terror; tem zumbis, vampiros, lobisomens, dragões, príncipes, navios fantasmas, jacarés e piranhas assassinas. Não é um livro juvenil. Bem menos humorado do que os anteriores. É um livro bastante sexual. E as histórias todas podem ser contadas antes de dormir, ou numa mesa de bar, não fazem sentido apenas escritas. Ou lidas. São contos de enredo. Catorze contos de enredo. Ou histórias. Histórias de sexo e morte. E espero que também satisfaça aqueles que me pedem: "tem algo pra adaptar pro teatro?" "Tem algo pra adaptar pro cinema." Espero que satisfaça todos aqueles atores e diretores que me procuraram dizendo: "Gosto muito dos seus livros; não quer escrever comigo um roteiro da MINHA história?"
O livro se chama PORNOFANTASMA, que é o título de um dos contos e o conceito de todos; já estou trabalhando com o Alê na capa. Será uma foto. O lançamento... prometido pela Record para o primeiro semestre de 2011. Vamos ver. Estou trabalhando no último conto, entrego daqui a um mês.
Pensa que minha vida é só kitesurf?
19/08/2010
OS BICHOS AQUI DE CASA
Ok, ok, ainda não aprendi a usar essa câmera do Ipod. Outro dia, fiquei perdido no pântano, fiz vários vídeos e na hora de postar... descobri que tinha gravado de ponta cabeça.
Esse é um leão marinho, vi agora na hora do almoço, correndo aqui na Barra. O espaço do Ipod acabou quando eu estava chegando perto, mas vale como prova. Não sabia se estava morto, se estava dormindo, bati palmas e assobiei, ele só abriu os olhos e mexeu a cabeça. Corri para o Projeto Tamar, para avisar a polícia ambiental.
Tem tido uma invasão de bichos assim, correntes marítimas antárticas intensas. Pinguim já virou carne de vaca; tem no mar, tem na areia, tem no canal e já consegui ver um nadando até na Lagoa (!). Dizem que aparece todo ano, mas que este ano tem sido bem acima do normal.
Fora isso, morcegos, corujas, vacas, cobras e peixes, muitos peixes.
Para isso que me mudei para cá. Pela natureza e sentir o fluxo das estações, mesmo passando por meus momentos de cigarra. Em São Paulo só se sente a diferença de frio e calor. Já planejei fazer isso na Finlândia - em que o inferno deve ser suicida, e uma grande experiência - mas por enquanto é apenas um sonho distante. Em outubro, Finlândia será só turismo.
Estou também em atividades físicas intensas, pouco a pouco recuperando os quadradinhos do tanquinho. Esta semana consegui fazer três dias seguidos de kite-surf (aquele "surfe de pipa", em que você fica numa prancha manejando um papagaio gigante que te puxa pelo mar). Meu professor me liga, corro pra praia e perco horas e horas tentando aprender. Horas em que eu poderia estar traduzindo, horas em que eu poderia estar escrevendo, mas horas também em que eu poderia estar roubando, poderia estar matando...
Só posto fotos aqui quando estiver fera. Haha.
Aliás, estou querendo patrocínio para comprar o equipamento. A Petrobrás não poderia quebrar mais essa? Ou então minha editora. Record - a maior editora da América Latina, não é? - poderia me dar um kite com o logo dela, propaganda subliminar: "ler é uma viagem."
Os próximos da lista são: mergulho e paraquedas.
16/08/2010
Que aspectos de sua literatura você considera que o inscrevem em nosso tempo? Há similitudes entre sua literatura e a produção de outros autores da mesma geração que a sua capazes de configurar alguma proximidade ou diálogo?
Isso é impossível de eu identificar. Vivo em nosso tempo, escrevo em nosso tempo, mas não estou preocupado especificamente em falar deste tempo ou negá-lo; então identificar os traços do nosso tempo na minha literatura não é apenas uma tarefa para outros, como para ser feita no futuro. O mesmo em relação a essa comparação, proximidade ou diálogo com autores da minha geração – posso dizer que a mim me interessa mais a diferença (se não posso falar de “exclusividade”), mas é claro que é inevitável que surjam traços e temas comuns na literatura de quem está produzindo hoje, de quem cresceu na mesma época, vendo os mesmos programas de TV, as mesmas leituras obrigatórias na escola. Acho que é isso, não é uma questão que eu possa responder…
A exemplo do que alguns críticos chamaram de geração 90 e de outras escolas do passado, você acredita que faça parte de algo como uma geração 2000 ou de um trabalho literário que tenha, além de suas singularidades marcantes, também algo de coletivo ou transversal? Se isso existe, como se deveria denominar a sua geração?
Não. A geração 90 foi um nome não apenas adotado pelos críticos, mas pelos próprios escritores que se encontravam, discutiam e acabaram gerando algumas publicações, como as antologias organizadas pelo Nelson de Oliveira e a revista PS:SP, do Marcelino Freire. Posso estar errado, mas a mim parece que essa geração tinha, se não um plano literário comum, pelo menos um relacionamento afetivo mais próximo, formavam uma turma. Isso sem falar em outros movimentos anteriores. A minha geração não passou por isso. Tenho uma relação diplomática, cordial, e até carinhosa com alguns escritores de idade próxima da minha, mas nos encontramos apenas esporadicamente, por acaso, em eventos literários. Então, não há trabalho coletivo – e para mim parece muito natural e saudável; para mim, o grande prazer da literatura é essa independência de uma arte individual, se eu quisesse fazer algo coletivo faria cinema, ou música, ou teatro. O que existe de comum, novamente, é espontâneo e eu não poderia localizar. Formamos uma geração – Geração Zero Zero, que seja – pela idade e por traços comuns não planejados.
Muitos sectários, incluindo críticos e jornalista, ficaram congelados nos autores pré-anos 60, especialmente no que se convencionou chamar de modernismo, e afirmaram não encontrar nada de novo no que se produziu nas décadas subsequentes. No entanto, muita coisa inegavelmente surgiu de lá pra cá. Quais são as principais características dessa nova literatura contemporânea brasileira? O que há de peculiar nela? Em sua análise, que autores renovaram, de alguma forma, a literatura brasileira nos últimos 20 anos? Quem está renovando agora?
Ah… Novamente, não é uma pergunta que eu possa responder. Mas talvez a grande mudança pela qual a literatura tenha passado dos anos 80 para cá seja o estreitamento com a cultura pop – a apropriação de referências da “cultura de massa” em universos genuinamente literários. Depois dos anos 2000, quando o conceito de cultura de massa foi relativizado, talvez tenha havido uma maior “universalização fragmentada” dos temas e realidades retratados. A literatura deixou de espelhar especificamente nosso país, passou a focar universos próprios, individuais, que podem ecoar num leitor da Noruega ou causar um grande estranhamento num leitor argentino.
Em suas descobertas como leitor e autor, quem são os autores estreantes que mais vem lhe chamaram a atenção recentemente, mesmo que sejam promessas? Você poderia nos indicar alguns nomes entre primeiros livros, blogueiros ou contatos diretos com jovens talentos? Há algo vindo das universidades?
Há um jovem poeta e contista paulistano chamado Hugo Guimarães, que tem uma força espontânea e transgressora impressionante. Uma romancista carioca, Victoria Saramago, que está se tornando uma grande narradora. E Christiano Aguiar, um jovem literato do Recife que tem uma produção bem interessante.
De alguma forma você acha que os nomes mais estabelecidos devem ajudar a iniciar ou descobrir esses potenciais novos autores?
Não. Já é tão difícil para um autor encontrar leitores, encontrar outros autores é um extra, não um dever ou uma necessidade.
Em que medida as plataformas digitais e a Internet afetaram a produção literária? Confundem-se, nas discussões, as questões o futuro da literatura e o futuro do livro, como objeto material. O que você pensa sobre esses temas?
O livro é apenas um veículo, e sua sobrevivência é uma preocupação para as editoras. Eu escrevo, gosto do objeto livro, mas se ele morrer, estarei publicando em e-books, na tela, ou o que seja. De qualquer forma, acho que o boom da Internet modificou mais os temas literários do que os suporte. Os autores tiveram espaço e puderam concentrar-se em universos mais particulares, como eu já disse, e foi basicamente isso. A Internet não modificou tanto o texto literário em si, a forma da escrita e o formato dos livros. E se a escrita não é alterada com isso, não devemos nos preocupar com o futuro, morte ou sobrevida do livro. Isso é para os fabricantes de papel.
(entrevista para a revista Off-line: http://www.offline.com.br/blog/?p=882http://www.offline.com.br/blog/?p=882 - Além do tom enxaqueca inevitável de "isso não posso responder", o curioso é que a foto que colocaram no site... não é minha! É o Fábio!)
(Gracias a Ramon Mello por me avisar - da foto e da entrevista.)
(Acho que vou passar a adotar o Fábio como meu retrato de Dorian Gray)
13/08/2010
Little Suicides @ Yahoo! Video
Em meado dos anos 90 eu era adolescente e a MTV Brasil passava coisas razoavelmente alternativas em sua programação. Assim descobri Blondie, Les Rita Mitsouko, Suede, e Lori Carson, uma cantora americana que só eu conheço. Haha.
Lori foi integrante do projeto Golden Palominos (que teve uma porrada de vocalistas e talvez ainda exista). Com eles, gravou dois discos, um dos quais talvez tenha sido o de maior sucesso do grupo, Pure (em 94).
O clipe acima é desse disco, e foi a forma como conheci o trabalho dela na MTV. Curiosamente, é mais representativo de sua música solo do que do grupo e do resto do álbum em si, que tem uma pegada bem mais eletrônica, precursora do trip-hop e é INTEIRO ÓTIMO.
É de se pensar se esse "Little Suicides" não tenha sido uma influência embrionária para A Morte Sem Nome.
Lori também tem meia dúzia de discos solo, alguns medianos, alguns excelentes, todos com essa pegada entre o folk e o new age. Eu tenho todos. Alguns hoje são extremamente difíceis de se encontrar, como House in the Weeds, do qual foram lançadas apenas 2000 cópias, em 2001, vendidas pelo site dela (comprei na época). Também tenho o raríssimo Shelter, de 1990, que comprei no Ebay.
Meu favorito é Stars (de 99), mas seu maior sucesso é Everything I Touch Runs Wild (de 97) - uma insinuação de sucesso, na verdade - o único que foi lançado no Brasil e inclusive do qual Marina Lima gravou uma cover (de "Something's Got Me").
Cheguei a perguntar à Marina se ela era fã de Lori Carson, mas nem ela conhecia direito. Gravei também fitas K7 com coletâneas dela para amigas cantoras como Vanessa Krongold (Ludov) e Vange Leonel.
Hoje nem os clipes dela você acha no Youtube (esse aí de cima é do Yahoo, por exemplo). Mas na MTV Brasil também cheguei a ver os clipes de Something's Got me, Prison of the Rhythm e I Saw the Light.
Para quem quiser tentar baixar as músicas, vai meu tracklist de favoritas:
- 16 Days
- Prison of the Rhythm (Golden Palominos)
- Black Thumb
- Little Bird (Slang)
- Bird Flying (Golden Palominos)
- Little Suicides (Golden Palminos)
- Rainy Day
- Wings (Golden Palominos)
- Souvenir
- No Skin (Golden Palominos)
- Gun (Golden Palominos)
- I Saw the Light
- Imagine Love
- Anyday
- Petal
- On Your Side
- Treasure
- Christmas
E esse é o site oficial para saber mais:
http://lifeandmusic.loricarson.com/
08/08/2010
FLORIP!
Marcelino Freire deu declarações bombásticas sobre a Flip na Folha e em seu blog... depois teve de vir fugido para Florianópolis.
Repensando os rumos da literatura...
Fizemos nossa própria festa literária – que ele batizou de FLORIP (Festa Literária e Outros Rituais na Praia). O homenageado foi Beto Carrero, já que o Raimundo foi lindamente contemplado com o Prêmio São Paulo. Além da ficção, nosso evento teve música, bebidas, um viés político e até a participação da Academia (a Power Fit, onde treino.)
Confira as fotos:
O show de abertura foi de... ROCIO JURADO! (Que não pode vir porque estava morta, então o show foi previamente gravado.)
A primeira mesa foi... na verdade, uma cama. Marcelino chegou cansado, e com o frio que fazia, era a melhor alternativa. Mas eu não fiquei pra assistir...
A Flip tem FHC. A Florip tem Serra, Dilma, Marina e Plínio, em debate ao vivo pela TV.
Marcelino dá autógrafos...
Nazarian responde aos internautas.
No dia seguinte... gaivotas, pinguins e.. o SOL!
Torrando.
Brincadeiras à parte, é de se repensar mesmo esse peso da Flip. Não tenho nada contra, pelo contrário. Participei como convidado da primeira (em 2003) e foi um salto enorme na minha carreira, que recém começava. Depois disso, não voltei mais simplesmente porque não vejo sentido em pagar fortunas de hospedagem, encarar uma cidade lotada e correr para comprar ingresso para ver debates, escritores e discussões que posso ver o ano todo, em bienais, feiras do livro e Sescs pelo Brasil (e são raros os escritores estrangeiros que me mobilizariam para isso; quando e se eles forem convidados, eu vou certo.)
Agora, todo ano me perguntam: E a Flip? E a Flip? Gente que não acompanha nada, não vai a evento literário algum pousa lá para sorver de cultura. Há alguns anos eu via isso com esperança – a Flip trazia um glamour à escrita e ao escritor que poderia impulsionar a cena pelo Brasil. Mas parece que ficou só nela mesma. As pessoas continuam lendo pouco, a literatura tem menos espaço na mídia do que tinha quando a Flip começou (é só ver a extinção dos cadernos literários e o enxugamento do espaço para livros nas revistas e jornais) e os eventos literários no resto do país continuam vazios. Mas talvez esses tenham se multiplicado... é verdade.
Então acaba se tornando inegável o peso e a importância da Flip, e por isso mesmo é preciso repensá-la. Eu, na verdade, nem pensava muito nisso, mas quando li o post do Marcelino e a lista enorme de nomes essenciais da literatura brasileira contemporânea que ainda não passaram por lá (e o fato de a curadoria já estar reciclando os nomes de sempre) achei meio escandaloso.
Se a Flip tem esse grande peso, tem também uma grande responsabilidade. (Ei, essa não é uma frase do Homem-aranha?)
Leia o post do Marcelino no: www.eraodito.blogspot.com
02/08/2010
A Cigarra foi feliz para sempre. Eternamente, cantou, dançou, viveu o sonho de verão e desdenhou daqueles que lhe ofereciam abrigo. Tinha asas para isso. Ria das lagartas que rastejavam, que se fechavam em casulo. Desdenhava do passo das lesmas. Caçoava dos caracóis, cuspia nas formigas. E com seu sorriso e seu talento comprou uma casa de veraneio, de frente para o mar.
Dona Baratinha lhe alertava: o verão não duraria para sempre; e se a Cigarra investisse numa felicidade perene, acabaria seca em sua casca, oca, vazia. Mas a Cigarra não se importava, empanturrava-se da flora, enquanto Dona Baratinha vivia de migalhas. “O que ela sabe sobre ser feliz?”
Logo o verão foi embora. Em menos de um ano, em alguns meses, em poucas horas o inverno soprava as migalhas para longe e todos se trancaram com os seus, em suas próprias vidas. Estavam preparados. A Cigarra também estava, cansada, e achou que seria bem vinda uma pausa. Silenciou seu zumbido. Dobrou suas asas. Abrigou-se do inverno, em sua nova casa.
Mas no inverno a casa estalava. E até mesmo a bela paisagem que se podia ver de sua janela agora estava estática, congelada, lhe parecia mais como uma pintura impenetrável, natureza morta. A Cigarra percebeu que não fazia muito sentido olhar para dentro, mas também não tinha coragem de sair lá fora.
De outra janela, a Cigarra via a felicidade das formigas, dos besouros, até dos três porquinhos: jantares e vinhos em dezenas de comentários calorosos; tricotagens no twitter, polegares positivos no Facebook. Todos se aqueciam e se esqueciam dela. Sua temporada passara.
Então rastejando em si mesma, revolvendo-se em veneno, sofrendo em silêncio, a Cigarra percebeu que não, não se arrependia. Percebeu que o inverno – e que seu sofrimento – , assim como o verão, faziam parte de sua melodia. E que só assim, sozinha, com frio e faminta, recheava a sua casca vazia. Só assim, conhecendo o inverno, reencontraria o verão como nenhum outro: ainda desdenhando das lesmas, ainda cuspindo nas formigas. E como nenhum dos outros, seria, como nunca, eternamente feliz.
Vivendo o frio sem disfarces... (Para ficar no universo das fábulas - chega uma hora que não dá mais para ser Peter Pan, até porque, é mais interessante dar de Capitão Gancho.)
E a trilha sonora perfeita para esse clima... Uma das melhores músicas do mundo: