SLEAZY CITY
Em Amster... damn!
Vim acabar de vez com minha viagem em Amsterdam. Não foi um destino especialmente escolhido – meu avião para o Brasil sai daqui e estou cansado, pobre e com malas pesadas para ficar flanando por aí.
Amsterdam é uma cidade decadente , já estive aqui. Ponto de encontro de junkies, artistas, pervertidos e artistas pervertidos junkies, se não for um pleonasmo. É visível na rua a decadência – que não deixa de ter algo de interessante, mas faz pensar em como a discriminalização de algumas drogas pode macular uma cidade. Estou sendo moralista? Resumindo, Amsterdam parece um grande Baixo Augusta... mais ou menos.
A legalização aqui, ao contrário do que muitos pensam, não se restringe à maconha. Cogumelos, alguns solventes e até gás hilariante são vendidos livremente. Cocaína não, mas você vê descaradamente na vitrine das lojas acessórios para usar – micro-balança para pesar o pó, jogos de espelho e canudos, todos apresentados com um “pó branco fantasia” para ilustrar o modo de usar.
Apesar da legalidade das drogas e da regulamentação da prostituição, a cidade parece se orgulhar dessa sua aura maldita, e palavras como "nasty", "kinky", "freaky" e figuras diabólicas se veem por todo o lado. Eles parecem querer dizer: é legal, mas ainda é pecado.
O povo não é bonito, não é iluminado e não é meiguinho, mas até agora todos têm sido bem simpáticos, de um modo “Have you seen the movie Hostel?”
Cheguei terça de noite, vindo de Tóquio, cansado, tendo de arrastar duas malas pesadas e uma mochila. Encontrei no meio do caminho um loirinho junkie que se ofereceu para ajudar. Se aqui fosse a Escandinávia, eu acreditaria na sua bondade, mas em Amsterdam tudo é suspeito e pernicioso.
Loirinho diz: Posso ajudar o senhor?
Nazarian diz: Estou procurando o Oosterdok.
Loirinho diz: É por aqui, senhor. Eu mostro pra você. Posso ajudar com as malas?
Nazarian diz: Não, obrigado, estou bem.
Loirinho diz: Estou fazendo isso o dia todo, sabe? Ajudando os turistas...
Nazarian pensa: [Você ganharia mais como michê...]
Loirinho diz: O senhor estava indo na direção completamente errada, senhor. Se eu não tivesse aparecido...
Nazarian diz: Eu estaria perdido na floresta, com os lobos, chorando sangue entre os espinhos.
Loirinho diz: Haha. De onde o senhor veio?
Nazarian diz: Tóquio, e pare de me chamar de senhor, que estou envelhecendo a cada segundo.
Loirinho diz: Só estou tentando ser educado, senhor. Olhe, está vendo aquele prédio verde? É ali.
Nazarian diz: Obrigado.
Loirinho diz: Por acaso o senhor não teria algum trocado?
Nazarian diz: Se eu tivesse trocados para desperdiçar [com junkies], eu teria pego um táxi [e te pagaria para me fazer um boquete, não para me apontar a direção].
E essa foi minha primeira conversa nesta cidade. Cheguei então ao barco onde me hospedei, achei que seria romântico e inspirador, mas encontrei um armário sufocante como minha cabine e só quis morrer e ressuscitar em Florianópolis.
Ontem procurei um apartamento. Encontrei. Estou mudando para lá – no centro do Bairro da Luz Vermelha. Enquanto buscava o apartamento, passei num posto de informações turístas. Examinava o mapa da cidade.
Atendente: O senhor quer comprar o mapa da cidade?
Cidade mercenária da porra.