Tem sido dias bastante melancólicos...
Na verdade, tenho me sentido bastante fechado, com rompantes de ansiedade, querendo apenas que tudo se resolva e, como sempre, para se resolver é preciso a minha iniciativa, eu não posso contar com ninguém e eu estou sempre sozinho. E fui eu que escolhi assim.
Fim de semana foi mais pesado por eu ter de fazer isso por outro – um amigo realmente com problemas – o que me deixou claro como estamos todos ilhados e não há nada a fazer, nenhuma ponte verdadeira, a vida não se divide com ninguém...
Por isso eu fui ao cinema.
Tenho ido muito ao cinema e ao teatro, para isso. Deixar a vida passar, o tempo passar e eu apenas assistindo. Tenho conseguido ler bastante também. E escrever. É assim, quando a gente não quer, não consegue, não precisa ou percebe que não pode contar com o outro. Pode ser produtivo.
Mas também tem sido frustrante porque não vi nenhuma grande peça, não li nenhum grande livro, não assisti nenhum grande filme. Até agora.
Acabei de assistir Melancolia.
E longe de eu estar depressivo – estava melancólico – fiquei com certo medo de Lars Von Trier.
Gosto de quase todos os filmes dele (talvez a única exceção seja Manderlay), mas quase todos são dos mais pesados. Anticristo é uma bomba. Os Idiotas também. E quando comecei a me encantar com Melancolia, ainda na cena do casamento, rezei secretamente para que o filme não descesse a ladeira do desespero. Eu não estava deprimido, e não queria ficar.
Mas na metade para o final do filme, quando consegui perceber o que ele estava fazendo, só consegui me maravilhar.
Ele conseguiu outra vez. Melancolia é uma obra-prima. Uma anti-ficção científica. E, estranhamente, apesar do título e de ter sido feito durante seu período de depressão, é um filme de uma pureza que só me despertou alegria.
No final, apesar do que é dito textualmente, a conclusão que me deixou o filme é a mesma de toda grande obra de arte: podemos estar ilhados, mas não estamos sozinhos.