O romance de Ivana Arruda Leite.
Conheço a Ivana já há uns bons anos. Já tinha lido vários contos dela; recentemente li o Hotel Novo Mundo, mas estava especialmente curioso pelo romance Alameda Santos, lançado ano passado pela Iluminuras, que algumas pessoas me descreveram como "louquíssimo" e "o grande livro da Ivana." E é mesmo as duas coisas.
De 1984 a 1992, sempre às vésperas do reveillon, uma mulher faz um balanço do ano que termina, narrando seus amores, conquistas e frustrações, num gravador de fitas K7. Os capítulos do livro se dividem cronologicamente em cada um desses anos. E assim vamos acompanhando a vida triste, obsessiva e por vezes bem divertida dessa personagem.
Personagem? Ivana jura que tudo o que está escrito lá aconteceu de verdade na vida dela (com alguns nomes trocados, claro). Mas ainda que eu tenha lido o livro já com esse pressuposto, e conhecendo a Ivana e alguns dos outros "personagens", para mim a grande força desse livro (ou a força de qualquer grande livro, afinal) é possibilitar que o leitor tenha sua própria visão, crie seus próprios personagens, complete a história ele mesmo. Então eu, apesar de tudo, visualizei uma personagem bem diferente da Ivana, e mergulhei uma deliciosa nostalgia.
Alameda Santos é deliciosamente 80's, parece um livro escrito naquela década (um certo parentesco com Tanto Faz, do Reinaldo Moraes, talvez), a começar pela capa. E a estrutura dos relatos faz com que a narradora de Ivana se aproxime daquelas nossas parentes que encontramos só uma vez por ano, nas festas de dezembro, com quem nos atualizamos só nessas ocasiões e sob o filtro melancólico desses momentos. Bem bacana.
E continuando com as meninas superpoderosas, este final de semana fui ver a peça nova da Denise Stoklos - "Preferiria Não?" - baseado num conto de Herman Melville, sobre a relação de poder entre patrões e empregados.
Não foi a peça que mais gostei dela (talvez seja "Louise Bourgeois"), mas Denise sempre arrasa. Impressionante a maneira como ela trabalha e entrega o texto, com um humor neurótico e minimalista. Dá a certeza de que a única opção consistente é a loucura. Quero ser como ela quando crescer.
"Preferiria Não?" está em cartaz no Sesc Consolação, sexta, sábados e domingos, até dia 19/09.