31/10/2011
28/10/2011
A cidade é isso.
O cabaré. (Depois de algumas fotos, um segurança veio pedir para eu parar de fotografar e deletar da câmera. Fingi que deletei e ficou tudo bem. Com os seguranças da Loca seria muito pior, diz aí?)Dia seguinte estava assim... Envelhecido trinta e cinco anos (Haha, é algum efeito bizarro da câmera, eu juro, eu juro...)
27/10/2011
21/10/2011
Eu andava pela estrada no final da tarde de ontem, depois de perguntar em todos os mercadinhos, restaurantes e lojas da cidade – o que não levou nem meia hora - se alguém podia me alugar uma bicicleta. Nada de bicicleta. Resolvi caminhar mesmo e tentar cumprir a missão de fotografar uma rena.
Estava em Karisganiemi, cidadezinha de TREZENTOS habitantes (isso, só) na Fronteira da Finlândia com a Noruega. Vivem do turismo pesqueiro e dos viajantes que param a caminho da Noruega. Eu basicamente só queria chegar à fronteira, ver umas renas e andar de bicicleta entre a natureza...
No meio da caminhada, vi uns veados ao longe num pasto. Acho que eram veados mesmo, não eram renas, mas estava longe e tentei me aproximar. Eles fugiram rapidinho por uma trilha e eu fui seguindo, seguindo, subindo, quando vi, estava subindo uma montanha...
A estrada.Caminhei duas horas e não vi mais veado algum, nem rena. Só umas corujas e uns roedores que pareciam umas cotias. Poderia ter visto um urso, um lobo, nada. Voltei escurecendo.
O chalezinho que aluguei.
Aluguei um chalezinho ao lado da estrada e peguei hoje o ônibus de volta para Rovaniemi, capital da Lapônia. Lá sim pude andar de bicicleta, visitar o Museu do Ártico, comer o melhor filé de rena do mundo. Passei a semana por aqui, depois de uma breve passagem em Helsinque, que deve ser minha casa pelos próximos meses.
Fronteira da Finlândia com a Noruega, lá em cima. Vê no mapa como subi na vida.
Isso, saí novamente de São Paulo. Fui convidado para uma turnê de apresentação da minha obra na Alemanha, e pedi a passagem um pouco antes, para visitar novamente a Finlândia. Enquanto planejava a viagem, fiquei pensando por que voltar. Nada me prende a São Paulo, e eu não tenho motivo mesmo para ancorar por lá. Descobri que uma menina que conheci em Tóquio estava alugando o apartamento dela em Helsinque, eu estava com uma graninha, resolvi aproveitar a oportunidade. Deixei meu apartamento em São Paulo com um ex-namorado. A turnê na Alemanha está marcada para o começo de novembro, mas depois volto para a Finlândia, passar Natal, réveillon e o começo do ano. Isso, sozinho. Isso, a um frio de menos vinte.
Onde ficava mesmo a porra da Vila do Papai Noel? Não tem sinalização aqui?
11/10/2011
Um clássico.
Do meio das árvores secas da floresta escura emergiu o maníaco com a máscara de pele humana. Motosserra em mãos, desceu-a entre as pernas do pobre paraplégico, cortando-o ao meio, assim como a sua cadeira de rodas. Não teve nem chance. A menina que estava com ele pôs-se a correr pela floresta, gritando feito bocó, como se alguém pudesse ajudá-la naquele fim de mundo escuro. Eu fiquei lá, vendo tudo, paralisado. Só quando ouvi um pigarro vindo do canto é que reparei que minha mãe estava na porta do quarto.
Peguei o controle remoto e desliguei o DVD. Não porque queria satisfazer minha mãe, mas porque sabia que não ia conseguir assistir ao filme direito com ela lá.
“É um clássico, mãe, um clássico do horror.”
Assim começa meu romance juvenil - GAROTOS MALDITOS - que terminei e entreguei esta semana para a Record. A cena de abertura (e foto) veio obviamente de O Massacre da Serra Elétrica, mas o livro tem diversas e diversas outras homenagens aos "clássicos."
Foi um longo processo; se não me engano, comecei o projeto em 2008 - como um projeto mesmo, fiz uma sinopse, justificativa, planejamento, apresentei para a Record e inscrevi no Programa Petrobrás Cultural, que patrocina, entre outras coisas, a produção literária, dando uma bolsa para o escritor e um pagamento para a editora.
O projeto foi contemplado ano passado. Uma graninha razoável. Diz aí, não é para um geek fã de filmes de terror estourar champange por conseguir patrocínio para escrever um livro assim? (Sim, esses parágrafos que eu postei, assim como as 20 primeiras páginas do livro constavam do projeto). Antes disso a Record já estava empolgada com as possibilidades comerciais do livro, já tínhamos contrato, então todo mundo ficou feliz...
Ou quase.
Escrever um romance meio sob encomenda, baseado num projeto, foi das coisas mais difíceis que já fiz, inclusive por ser um romance juvenil. Não havia como desistir. Não havia como alterar o curso no meio do processo, eu precisava fazer aquilo dar certo. E escrever romance juvenil não é fácil não, ao menos não o romance que eu queria fazer. É um texto muito baseado em trama, absolutamente narrativo, em que eu precisava constantemente de altas sacadas para a história, uma história despirocada, engraçada e inteligente. E é um livro de quase 200 páginas - esses autorzinhos de microcontos de hoje em dia não escrevem isso não! Hehe. É um livro juvenil, mas de quase 200 páginas, tem história.
A grande diferença é essa; eu já escrevi vários romances, alguns até que os pentelhos de plantão classificam de adolescentes - apenas por tratar da adolescência - mas um romance juvenil é muito diferente. Deixei de lado minhas necessidades, as pirotecnias de estilo e os devaneios literário e me foquei em contar uma boa história, para um público específico.
Devo dizer que o processo não foi tão prazeroso quanto na maioria dos meu livros. Em muitos momentos eu fiquei com ÓDIO do livro, não era o que eu queria ou precisava escrever, e tinha de cumprir o cronograma, os prazos. Mas no final, foi tudo lindo...
É meio como tentar fazer ginástica em casa, saca? Escrever literatura é meio como fazer ginástica em casa. Você não tem professor, você só conta com sua própria cobrança, é natural que acabe relaxando, suavize quando dói. Escrever este livro foi como fazer ginástica em casa... com um personal trainer.
E no final foi tudo lindo...
Depois que venci os desafios do enredo, depois que encontrei o tom da narrativa, a coisa fluiu e hoje já estou com mega saudades do meu protagonista-filho-sobrinho-alter-ego Ludo, moleque legal pra caralho que eu criei, fanático por filmes de terror, indie-rocker, comedor, que acaba indo estudar num colégio para monstros, vampiros, zumbis...
Pronto, já falei demais.
E para você ver que a coisa é linda, mas não é mole.
O povo é todo alfabetizado aí nos grupos escolares e acha que pode escrever... Haha. Não, não é isso. Mas todo mundo acha que pode escrever um livro, PODE escrever um livro, sim, ok, e escreve um, dois, três livros bacanas. Mas o que eu mais gosto de fazer é escrever livros, queria poder apenas escrever livros (e por isso acabo traduzindo livros, escrevendo orelhas de livros, resenhando livros, fazendo capas de livro... opa, eu preciso começar a receber por isso).
Enfim, a questão é que - acho eu - se quero apenas escrever livros, não posso ficar escrevendo sempre o mesmo livro, fumando o mesmo charuto e esperando jabutis a passos de tartaruga, tenho de entender como a coisa funciona, o que posso fazer com um talento que acho que tenho, onde o que eu escrevo pode alcançar.
GAROTOS MALDITOS está entregue na Record, na Petrobrás, e deve ser lançado na metade do próximo ano. É um livro para adolescentes sim, diversão pura, e mais um puta orgulho na minha carreira por isso.
É o primeiro livro que escrevo há anos que não tem AGRADECIMENTOS a ninguém, ninguém, porque ninguém me ajudou, em nada. E acho que ninguém vai ficar ofendido com isso. Embora a editora, ilustrador e um pessoal bacana vão trabalhar agora, eu fiz projeto, inscrição, trâmites burocráticos, escrevi tudo sozinho; ninguém leu, ninguém me aconselhou, não tive ninguém para pedir conselhos.
Minha carreira é solo, cada vez mais solo, eu não posso contar com ninguém...
Terminando este final de semana, na casa de campo dos Nazarian.... Ok, minha irmã AJUDOU tirando esta foto.09/10/2011
Dussek e o Matogrosso.
Estou fugindo novamente da cidade, do estado e do país, passar um tempo fora. E esses dias já estava na Livraria Cultura fazendo compras de Natal. Comprei (só agora) o CD de samba da Adriana Calcanhotto; comprei um DVD chamado O Ataque das Víboras (ainda não vi), comprei uns presentes pra dar para minha irmã grávida - o do Filipe Catto, o "de brinquedo" do Pato Fu, junto daquele brinquedo "Pula Pirata", que descobri que é um péssimo presente para dar para uma mulher grávida, porque fica aquela tensão e aquele susto com o pulo do pirata...
E no meio das compras encontrei o novo cd (ao vivo) do Dussek - Dussek é Show. Lembrei que até fui convidado para a gravação (no Rio) mas como era (no Rio) não fui. Comprei CD e DVD para mim mesmo.
Dussek é show mesmo. É genial. Para quem é jovenzinho: um puta compositor e pianista que estourou nos anos 80, com músicas de sátira. Foi inclusive uma das atrações do primeiro Rock in Rio. Para quem não é tão jovenzinho assim, é bom lembrar que - além das músicas de sátira - Dussek é autor de grandes pérolas da MPB, na voz de Zizi Possi, Ney Matogrosso (que canta com ele no CD/DVD), Cauby Peixoto, entre outros. "Eu Velejava em você", música dele consagrada por ele mesmo, é lindíssima, e eu só fui me tocar agora, ouvindo esse novo registro.
Eu já velejei em você
E foi bom de doer
Mas foi, como sempre, um sonho
Tão longe, risonho
Sinto falta,
Queria lhe ver...
Por que eu gosto de Dussek? Por que eu gosto de Dussek? Porque ele é um dandy! Claro! É dos poucos autênticos dandies brasileiros. De talento. Um puta músico, puta pianista, que não têm hoje o reconhecimento que merece. Vendo o DVD fico até emocionado - deixando o lado stand-up comedy, que eu detesto e que na verdade é um seat-down comedy, porque ele faz sentado ao piano - Dussek prova como é um puta pianista, show man, que remete mais aos shows de cabaret do que as piadinhas de hoje em dia. Para falar a verdade eu até adiantei as introduções/piadas para vê-lo debulhando ao piano de cauda.
Dussek merece como ninguém um piano de cauda.
Para você ter uma ideia do que estou falando, colo esse vídeo aqui, que é antigo, mas não achei nenhum vídeo desse DVD novo no Youtube:
E é isso. Minha missão neste mundo não fica completa se não colonizar Dussek em sua mente. È o que eu sempre falo: PELARMODEDEUS, quem precisa de mais um escritor indicando Chico Buarque e Caetano Veloso, PELARMORDEDEUS!!!!
05/10/2011
Debate que tivemos com os funcionários da Saraiva, há algumas semanas.
03/10/2011
Bilhete Seco, de Elisa Nazarian.
Se é curioso ler um livro quando se conhece o autor, é até um pouco assustador ler um livro escrito pela própria mãe...
Só tinha lido alguns contos de Bilhete Seco, terceiro livro de Elisa Nazarian, que ela acabou de publicar pela Ateliê Editorial. Minha mãe sempre escreveu, desde bem antes de eu existir, mas só foi publicar depois de mim, um pouco por receio de se expor, um pouco por receio - segundo ela mesma diz - de que seus escritos fossem apenas desabafo, não fossem de fato literatura.
Elisa Nazarian segue a tradição das escritoras intimistas, confessionais, e faz grande literatura com isso. Como filho, consigo reconhecer de onde vieram quase todas as histórias - em algumas eu até apareço discretamente, como "personagem" - mas lendo agora Bilhete Seco não pude deixar de me surpreeder. O foco, o enquadramento, o campo de visão de histórias que eu já conhecia da vida funcionam quase como uma aula para mim, de como transformar fatos reais em literatura. Elisa não está desabafando ou registrando para si mesma histórias de sua vida, está jogando o jogo, brincando com as formas possíveis de contar histórias, apresentando-as a um terceiro, e encharcando-as com sua visão pessoal.
"Vou balançando os quadris, confiante no andar, para que você me deseje. Os seios vão livres por debaixo da blua. Passei creme nas mãos pra que fiquem macias, deslizem no afago. Você vai me achar bonita. Quero mais do que isso. Vou fêmea e suave. Levo a arrogância dos meus partos, e de todas as vezes em qeu preguei botões e areei panelas."
É um pouco assustador ver sua mãe própria mãe assim, não só como escritora, mas em tantos textos que ela aparece como mulher, antes de ser mãe, e até mesmo como adolescente (no lindíssimo conto "De Saltos Baixos", em que ela vai a uma festa e, com medo de ser chamada para dançar, passa a festa mancando.)
Elisa é mãe coruja, mas nem tanto. É uma boa leitora, não gosta de todos os meus livros, me dá bons conselhos e costuma dizer que inveja minha capacidade de criar histórias e personagens absolutamente ficctícios (cada vez mais no terreno fantástico, inclusive), talento que ela diz não possuir. Mas nem precisa. Ela faz outro tipo de literatura e tem uma visão aguda do outro e de si mesma que substitui a imaginação por poesia.
Confesso que não gostei de todos os contos. Poucas, mas algumas vezes a visão de um universo alheio me parece um pouco falsa - como a história da costureira "Edileuza"; só o nome "Edileuza" em si já me parece um recurso falso para ilustrar uma realidade (social) mais simples. (Na verdade, talvez seja essa a mesma ressalva que eu tenha com Olivio, meu primeiro livro, que hoje me parece um pouco falso por tentar mostrar uma realidade social que não é realmente a minha e que acaba se materiaizando com uma visão "burguesa"... Talvez como seja feito em grande parte do cinema Brasileiro - realizado pela elite econômica brasileira "fascinada com suas empregadas domésticas" - parafreasando uma crônica que certa vez escrevi.)
Uma coisa que eu também não gosto, em geral, nos textos de minha mãe são os títulos. Seus livros anteriores são Resposta, título que para mim não diz nada, e Feito Eu, título que eu acho um horror. Bilhete Seco é sugestão minha, tirado de um texto dela. E é um ótimo título, diz aí? Mas se eu tivesse lido antes um conto belíssimo desse novo livro como "Essas Mal Traçadas Linhas", jamais deixaria que ela tivesse publicado com esse título bagaceiro (haha, sorry, mom).
"Um sabiá está remexendo as folhas secas. Um pica-pau cutuca o tronco do angico. Meus cachorros tomam sol comigo. Tiro a roupa aos poucos, até me esquentar. O sol de inverno é de calor carinhoso." (Só por esse parágrafo você já vê que o conto merecia um título melhor....)
Ok, estou pegando pesado. Mas acho que é uma tentativa de me mostrar um leitor imparcial (ou pentelho) para que os elogios ao soberto Bilhete Seco sejam compreendidos como sinceros, já que ser imparcial nesse caso, pode ser impossível. Bilhete Seco é o melhor livro de Elisa Nazarian, e isso não é pouco. Fica claro que até hoje minha mãe tem muito a me ensinar.