31/10/2011

ESTÔNIA

Embarcando para Tallinn.


E o vigésimo primeiro país da minha lista é a Estônia. Fica só a uma hora e meia /duas horas da Finlândia, dá para ir de barco rapidinho. Vim passar três dias, antes de embarcar para a Alemanha e gostei bastante.

A parte medieval da cidade.

É uma ex-república soviética, mais próxima culturalmente da Finlândia, com pouco mais de um milhão de habitantes. Tallinn é a capital, com um centro medieval bem lindinho... mas na real é igual a todas as cidades medievais, seja Estocolmo, seja Barcelona, Praga ou Bruges. É um medieval genérico. E a cidade é meio parada, meio pacata.

Abrindo a janela do meu quarto de manhã...

A vista!


Tenho conseguido ótimos hoteis a preços razoáveis. Na verdade, tudo tem me parecido razoável quando se compara com os preços do Brasil. Me tornei um "frequent guest" da rede Scandic (de hoteis na Escandinávia) e tenho aproveitado enquanto não me mudo para o apartamento em Helsinque. Foi-se o tempo em que eu conseguia viver como backpacker. Hoje em dia sou um escritor velho, cansado, que precisa de uma boa cama e um banheira...

Rudolph cuida da minha mala. (Comprei essa rena em Rovaniemi, para meu sobrinho que está por vir, mas já peguei amor. Vou ter de comprar outra.)


Hoje o dia em Tallinn estava esplêndido, uns doze graus, céu azulzinho, e consegui alugar uma bicicleta para andar pela cidade. Posso dizer que Tallinn não é a melhor cidade para bicicleta, os semáforos são uma pentelhação (e a polícia me parou uma vez, porque atravessei no vermelho, mesmo sem carro vindo) não há ciclovias, mas ainda dá para se virar (Helsinque que é uma maravilha, com ciclovia a cidade inteira; vamos ver se vou conseguir andar de bicicleta no inverno...). O IPhone, como sempre, quebra um galhão como GPS, é só descarregar o mapa da cidade em algum ponto com internet (como o hotel) e depois o Google Maps dá sempre sua localização. Nem alguém como eu não consegue se perder.

Passeio de hoje.

Como bom turista, tinha um guia Lonely Planet, que me recomendou um restaurante turístico que servia carne de urso. Eu já comi urso ano passado, na Finlândia, até comprei latinhas para levar para o Japão. Mas faltava comer o bicho mesmo, morder o cangote, comer a carne fresca e bem preparada, não enlatada.


Olde Hansa, restaurante na parte medieval da cidade, que serve javali, alce e urso.

O restaurante é uma coisa medieval, bem turística, mas ainda assim com uma autenticidade - uma coisa é comer num restaurante medieval na Estônia, na área medieval preservada; outra coisa é um restaurante medieval em, sei lá, na Flórida. O loirinho que me atendeu era uma graça, vestido como pajem, ou pastor, ou bobo da corte, sei lá, me apeteceu.


O urso (com frutas do bosque, abóbora e uns grãos). Divino.

O cardápio do Olde Hansa tinha uns festivais, tipo rodízio, com vários pratos, carne de alce, de javali, de urso, cogumelos selvagens, mas eu já tenho comido como um urso e achei que não daria conta de comer tudo isso sozinho. Achei melhor pedir só o urso mesmo, que já tinha um precinho salgado e foi muito bom servido. Divino. Na verdade, é uma carne gorda, meio porco, meio carne de panela, mas muito bem feita, com bons acompanhamentos. E com toda a atmosfera do lugar, desceu tudo perfeitinho.

E o lorinho perguntou:

- Está gostando do urso, senhor?
- Ótimo. Comida para caçadores, hein?
- O senhor é um caçador?
- Bem... de certa forma... (nisso eu comecei a salivar pelo garçom)
- Caçador de mulheres, certo? (Disse rindo, querendo dar uma de brow)
- Hum, eu não diria isso...
- Bem, vou deixar o senhor aproveitar sua refeição...

O caçador de ursos... De ursos? Não. De crustáceos, de lagartos, "qualquer desses animais sem pelos e sem carne, que a gente parte com os dentes tentando sugar algum caldo..."

A próxima parada é Frankfurt, para fazer o trabalho efetivamente. Quem estiver por lá, dá uma olhada aqui:

http://novacultura.de/wb/pages/topics/santiago-nazarian.php


28/10/2011

RÚSSIA
Um dos lugares que eu mais queria conhecer no mundo era a Rússia. É caro, longe, e até ano passado era bem burocrático para conseguir visto. Agora não mais. Depois que descobri que o visto foi abolido, e que São Petersburgo fica só a 3 horas e meia de trem de Helsinque, me preparei para vir. Seria o vigésimo país a conhecer. Foi (se eu não contar ainda Noruega, que só conheci a fronteira). E superou minhas expectativas.


A cidade é isso.
E isso.
Mas também isso.


É uma cidade linda-linda, já bastante capitalista, mas com uma personalidade forte que se mantém. Enquanto os países ocidentais se homogenizam num senso comum (o dito bom senso) cultural, a Rússia ainda é um lugar onde se pode fumar em qualquer lugar, beber em qualquer lugar, onde bebida é barata, fácil de comprar e vista como parte da cultura, é uma cultura ainda fechada em si mesma.


Isso quer dizer também que ninguém fala inglês, e eles não são exatamente simpático (mas também não são agressivos, como os alemães), e a gente tem de se virar. Para você ter uma ideia, assim que eu cheguei, fui pedir informações no setor turístico da estação de trem, e a menina das informações não falava inglês (pode até parecer absurdo... mas no Brasil não seria a mesma coisa?).


No Hermitage, um dos maiores museus do mundo. Uma salada russa que tem de Picasso a arte bizantina, Cezane e tesouros soviéticos. O Prado, em Madri, ainda é meu favorito.

A cidade é cara, mas quando você vai fazendo as contas, percebe que caro mesmo ainda é São Paulo. Ontem comi num restaurante bacaninha, pedi de entrada um sorvete de trufa (isso, salgado), vinho, pato com molho de cranberry e sobremesa. Deu cerca de 100 reais. Em São Paulo sairia mais caro, na certa.


O pato.

A comida é boa, mas os pratos típicos são aquela coisa pesada, carne de porco, batata. Comi outro dia um straganoff que surpreendentemente tinha gosto idêntico a... estrogonofe. Igualzinho do Brasil, só que servido com purê de batata. Também tem muito sushi por aqui, sei lá por quê. E é ótimo.

Depois de namorar quatro anos com um (quase) russo, já estava mais do que habituado a tomar vodca pura. Agora vodca pura e sem gelo, só na Rússia. Pode meter um suquinho de cereja?


Mas talvez o que mais impressione na cidade - mais do que os monumentos, a história, essa personalidade soviética - sejam os meninos. São Petersburgo bateu Tóquio no meu ranking de a cidade dos MENINOS MAIS LINDOS DO MUNDO. Sério. São todos meio freaks, uns rostos angulosos, talhados, olhos claros, cara meio de doentinhos. Dá para se apaixonar em cada esquina.

O povo todo encara, não sei se por eu ser um tipo estranho aqui, não sei se porque encaram em geral mesmo, mas nisso é o oposto de Tóquio, onde ninguém jamais vai cruzar olhares com você...

Perdido nas esquinas...


O Grindr aqui também funciona... hehe. E já fiz amiguinhos... amiguinhos... E quando vi estava virando vodca com um gorduchinho, batendo nas costas dele: "Alex, você é meu melhor amigo na Rússia!"


Aloprando pela cidade.


Também já saí pela noite, pela noite gay. Ontem fui num cabaré divertidíssimo, chamado... Cabaré, com show de drags, com direito até a uma performance de "O Tico-tico no Fubá" em russo! Show de drag é igual no mundo todo...

O cabaré. (Depois de algumas fotos, um segurança veio pedir para eu parar de fotografar e deletar da câmera. Fingi que deletei e ficou tudo bem. Com os seguranças da Loca seria muito pior, diz aí?)Dia seguinte estava assim... Envelhecido trinta e cinco anos (Haha, é algum efeito bizarro da câmera, eu juro, eu juro...)

E enxergando assim...



Enfim, eu tinha ouvido muito falar que São Petersburgo era perigoso. Um ex-namorado meu, que já conhece mais de 50 países do mundo, disse: "A Rússia eu confesso que é um país que me dá medo. É um lugar onde coisas muito ruins podem acontecer com você..." Mas não é nada demais não. Para quem vem do Brasil, é fichinha. Ok, tem um povo truculento na imigração, mas nada que chegue perto da Venezuela, por exemplo. O clima é ótimo, dá para passear tranquilo, sair tranquilo e eu volto com certeza. Tenho até dada marcada, ingresso comprado, dia 16 de dezembro, para ver show do SUEDE!

Para terminar, tava devendo uma nova versão daquela minha clássica "foto de motel", com as novas tattoos. Já tem uma que fiz esta semana, consegue achar?




27/10/2011

RESENHANDO OS BLOCKBUSTERS

Ano passado, com duas idas para a Europa e mais a viagem para o Japão, eu tive mais de sessenta horas de vôo internacional. Nunca consigo dormir em avião - viajar de ônibus ainda é muito mais confortável - então aproveito para ver todos os blockbusters, que hoje em dia chegam rapidinho à bordo (muitos até antes de estrear no Brasil). Assisti Avatar, Fúria de Titãs, Como Treinar Seu Dragão, Shrek Forever, O Imaginário Mundo do Dr. Parnassus, Minhas Mães e Meu Pai, Lua Nova, Iron Man 2, O Escritor Fantasma, todos assim, no avião.

Este ano achei a seleçãozinha da Tam mais meia-boca. Mas consegui me atualizar em alguns.

Para começar, Rio, aquela animação-peça-publicitária para vender a cidade maravilhosa. Apesar de ter sido dirigida pelo brasileiro Carlos Saldanha, fica claro que é uma produção americana (pelo lado bom - por ser profissional - e pelo lado ruim - por ser pausterizada), mas uma produção americana com um bom know-how de Brasil. É bem bonitinho, segue a cartilha Disney à risca com o mocinho, a mocinha, os vilões, os coadjuvantes engraçados e as músicas - que apesar de terem toques de sampa, sempre escorregam para o hip-hop americanoide. Eu gostei. É um ótimo filme para se ver no avião e é saboroso de ver essa coisa Disney focada no Brasil. Mas acho que para quem não é brasileiro o filme cai num limbo genérico, nada, nada de novo. Inclusive é incrível como o Jesse Einsenberg (a arara protagonista) só consegue fazer o papel de Jesse Einsenberg, não é? Tudo bem, ele é bom, e até bonitinho nesse estilo nerd - eu comeria com batatas. Mas é sempre o mesmo nerd verborrágico, seja em A Rede Social, seja em Zombieland, Amaldiçoados ou nesse aí. Ele não interpreta uma arara, a arara é que interpreta Jesse Einsenberg.

Ainda nessa pegada de animações de passarinho, vi outro dia num hotel aquele filme das corujas, A Lenda dos Guardiões, esse eu achei o contrário do filme Rio. É muito complexo, sério, uma guerra de corujas, metido a filme épico para "adultos." Não sei que público eles queriam atingir com isso, mas eu diria que não deu certo...


Voltando ao terreno nerd...

E na minha primeira noite em Helsinque fui assistir à continuação do filme Johnny English, que pretende dar uma nova carreira ao Rowan "Mr. Bean" Atkinson, transformando-o num agente secreto. Confesso que sou fã, fã do Mr. Bean, tenho a série completa. O primeiro longa (aquele do museu) eu acho uma merda, mas o segundo As Férias de Mr. Bean, eu vi em Florianópolis e acho lindinho-linho, parece uma comédia das antigas.

Johnny English Reborn lembra mais uma comédia dos anos 80. Ele é um espião tipo James Bond, bem canastrão, que só causa desastre por onde passa. Falta o nonsense de séries como Corra que a Polícia Vem Aí, mas é mais ou menos a mesma pegada. A melhor cena é uma longa perseguição, em que o bandido salta prédios, escala muros, foge em barco, enquanto Johnny o segue caminhando tranquilamente, pegando elevadores, abrindo portas e embarcando numa festa num iate. Diversãozinha inofensiva.


E para não ficar no besteirol...


Dos filmes que eu vi, o melhor com certeza foi A Viagem. Assisti no avião, não estava botando muita fé, mas é ÓTIMO. São dois atores britânicos quarentões decadentes que embarcam numa viagem pelo norte da Inglaterra, para provar restaurantes e escrever uma matéria. Um deles é um ator sério, mas que não consegue trabalho e recebe propostas para atuar em séries de TV nos EUA. O outro se tornou um comediante de sucesso, fazendo besteirol na TV. O filme não tem muito enredo, não acontece muito nada. Basicamente os dois ficam provando pratos, conversando e tirando sarro/fazendo imitações de grandes astros britânicos (Sean Connery, Michael Caine, John Hurt, Anthony Hopkins), mas tem um tom naturalista delicioso, é muito verdadeiro e um filme bastante masculino. Recomendo bem.

De resto... Estou na Rússia, São Petersburgo! Aproveitei só para atualizar o blog com os filmes, enquanto estou tentando entender isso aqui, tirando fotos e vivendo! Mas estou amando-amando esta cidade. Amanhã eu volto contando mais.


21/10/2011

NATUREZA MANSA

A Bruxa de Karigasniemi... (Cara de metaleiro da porra, diz aí? Não é a toa que a Finlândia gera tanto metaleiro...)

Eu andava pela estrada no final da tarde de ontem, depois de perguntar em todos os mercadinhos, restaurantes e lojas da cidade – o que não levou nem meia hora - se alguém podia me alugar uma bicicleta. Nada de bicicleta. Resolvi caminhar mesmo e tentar cumprir a missão de fotografar uma rena.

Essa rua é a cidade toda.

Estava em Karisganiemi, cidadezinha de TREZENTOS habitantes (isso, só) na Fronteira da Finlândia com a Noruega. Vivem do turismo pesqueiro e dos viajantes que param a caminho da Noruega. Eu basicamente só queria chegar à fronteira, ver umas renas e andar de bicicleta entre a natureza...

Não tem bicicleta, será que serve patinete?


No meio da caminhada, vi uns veados ao longe num pasto. Acho que eram veados mesmo, não eram renas, mas estava longe e tentei me aproximar. Eles fugiram rapidinho por uma trilha e eu fui seguindo, seguindo, subindo, quando vi, estava subindo uma montanha...

A estrada.
O pasto.
A subida.

Caminhei duas horas e não vi mais veado algum, nem rena. Só umas corujas e uns roedores que pareciam umas cotias. Poderia ter visto um urso, um lobo, nada. Voltei escurecendo.

O chalezinho que aluguei.


Aluguei um chalezinho ao lado da estrada e peguei hoje o ônibus de volta para Rovaniemi, capital da Lapônia. Lá sim pude andar de bicicleta, visitar o Museu do Ártico, comer o melhor filé de rena do mundo. Passei a semana por aqui, depois de uma breve passagem em Helsinque, que deve ser minha casa pelos próximos meses.


Fronteira da Finlândia com a Noruega, lá em cima. Vê no mapa como subi na vida.


Isso, saí novamente de São Paulo. Fui convidado para uma turnê de apresentação da minha obra na Alemanha, e pedi a passagem um pouco antes, para visitar novamente a Finlândia. Enquanto planejava a viagem, fiquei pensando por que voltar. Nada me prende a São Paulo, e eu não tenho motivo mesmo para ancorar por lá. Descobri que uma menina que conheci em Tóquio estava alugando o apartamento dela em Helsinque, eu estava com uma graninha, resolvi aproveitar a oportunidade. Deixei meu apartamento em São Paulo com um ex-namorado. A turnê na Alemanha está marcada para o começo de novembro, mas depois volto para a Finlândia, passar Natal, réveillon e o começo do ano. Isso, sozinho. Isso, a um frio de menos vinte.


As paisagens.

Por enquanto o clima está tranquilo. Por volta de cinco graus, só a chuva que irrita. Na verdade, lembrando o que meu professor de Finlandês falava – que sentia mais frio no Brasil do que na Finlândia, porque na Finlândia estão preparados para o frio; todo lugar tem aquecimento – eu por enquanto tenho sofrido mais com o CALOR. Sério. Eles aquecem demais a coisa aqui. Todo lugar é muito aquecido. Mesmo dormindo só de cueca no quarto de hotel em Helsinque, eu me sentia num forno. E por enquanto, nem sinal da neve. (Ano passado estive aqui um pouquinho mais cedo, e já começava a nevar). Mas haverá tempo para a neve também me irritar...


Tempo abrindo em Inari.

Viajar de ônibus é bacana, dá para conhecer melhor os cenários, e é a única forma de viajar pela Lapônia (não tem nem trem, nem avião). Fui escrevendo, vendo o cenário, comendo um sanduíche de rena defumada (haha, sério, eu mesmo comprei num mercadinho e fiz). A viagem de sete horas passa num piscar.

Em Rovaniemi consegui uma bike, mesmo na chuva.


O Museu do Ártico, em Rovaniemi.

Enfim, está tudo lindo, meu cabelo está comprido e não há outro lugar do mundo onde eu queria estar. Demorei a descobrir que este é meu tipo de turismo, muito mais sedutor a mim do que conhecer as grandes cidades, ver os monumentos e visitar museus, coisa que eu já fiz em 19 países do mundo. Lembro muito do viajante americano Christopher McCandles, que gerou a biografia Na Natureza Selvagem, que viajava sozinho e morreu no Alasca. Tinha aquela frase: “A felicidade só é verdadeira quando compartilhada”, mas para isso existe o blog, Facebook, Twittter, não é?

Onde ficava mesmo a porra da Vila do Papai Noel? Não tem sinalização aqui?


11/10/2011

GAROTOS MALDITOS

Um clássico.



Do meio das árvores secas da floresta escura emergiu o maníaco com a máscara de pele humana. Motosserra em mãos, desceu-a entre as pernas do pobre paraplégico, cortando-o ao meio, assim como a sua cadeira de rodas. Não teve nem chance. A menina que estava com ele pôs-se a correr pela floresta, gritando feito bocó, como se alguém pudesse ajudá-la naquele fim de mundo escuro. Eu fiquei lá, vendo tudo, paralisado. Só quando ouvi um pigarro vindo do canto é que reparei que minha mãe estava na porta do quarto.



“Ludo, não tinha nada um pouco mais saudável para você assistir?”



Peguei o controle remoto e desliguei o DVD. Não porque queria satisfazer minha mãe, mas porque sabia que não ia conseguir assistir ao filme direito com ela lá.


“É um clássico, mãe, um clássico do horror.”


Assim começa meu romance juvenil - GAROTOS MALDITOS - que terminei e entreguei esta semana para a Record. A cena de abertura (e foto) veio obviamente de O Massacre da Serra Elétrica, mas o livro tem diversas e diversas outras homenagens aos "clássicos."


Foi um longo processo; se não me engano, comecei o projeto em 2008 - como um projeto mesmo, fiz uma sinopse, justificativa, planejamento, apresentei para a Record e inscrevi no Programa Petrobrás Cultural, que patrocina, entre outras coisas, a produção literária, dando uma bolsa para o escritor e um pagamento para a editora.


O projeto foi contemplado ano passado. Uma graninha razoável. Diz aí, não é para um geek fã de filmes de terror estourar champange por conseguir patrocínio para escrever um livro assim? (Sim, esses parágrafos que eu postei, assim como as 20 primeiras páginas do livro constavam do projeto). Antes disso a Record já estava empolgada com as possibilidades comerciais do livro, já tínhamos contrato, então todo mundo ficou feliz...


Ou quase.


Escrever um romance meio sob encomenda, baseado num projeto, foi das coisas mais difíceis que já fiz, inclusive por ser um romance juvenil. Não havia como desistir. Não havia como alterar o curso no meio do processo, eu precisava fazer aquilo dar certo. E escrever romance juvenil não é fácil não, ao menos não o romance que eu queria fazer. É um texto muito baseado em trama, absolutamente narrativo, em que eu precisava constantemente de altas sacadas para a história, uma história despirocada, engraçada e inteligente. E é um livro de quase 200 páginas - esses autorzinhos de microcontos de hoje em dia não escrevem isso não! Hehe. É um livro juvenil, mas de quase 200 páginas, tem história.


A grande diferença é essa; eu já escrevi vários romances, alguns até que os pentelhos de plantão classificam de adolescentes - apenas por tratar da adolescência - mas um romance juvenil é muito diferente. Deixei de lado minhas necessidades, as pirotecnias de estilo e os devaneios literário e me foquei em contar uma boa história, para um público específico.


Devo dizer que o processo não foi tão prazeroso quanto na maioria dos meu livros. Em muitos momentos eu fiquei com ÓDIO do livro, não era o que eu queria ou precisava escrever, e tinha de cumprir o cronograma, os prazos. Mas no final, foi tudo lindo...


É meio como tentar fazer ginástica em casa, saca? Escrever literatura é meio como fazer ginástica em casa. Você não tem professor, você só conta com sua própria cobrança, é natural que acabe relaxando, suavize quando dói. Escrever este livro foi como fazer ginástica em casa... com um personal trainer.


E no final foi tudo lindo...


Depois que venci os desafios do enredo, depois que encontrei o tom da narrativa, a coisa fluiu e hoje já estou com mega saudades do meu protagonista-filho-sobrinho-alter-ego Ludo, moleque legal pra caralho que eu criei, fanático por filmes de terror, indie-rocker, comedor, que acaba indo estudar num colégio para monstros, vampiros, zumbis...


Pronto, já falei demais.


E para você ver que a coisa é linda, mas não é mole.


O povo é todo alfabetizado aí nos grupos escolares e acha que pode escrever... Haha. Não, não é isso. Mas todo mundo acha que pode escrever um livro, PODE escrever um livro, sim, ok, e escreve um, dois, três livros bacanas. Mas o que eu mais gosto de fazer é escrever livros, queria poder apenas escrever livros (e por isso acabo traduzindo livros, escrevendo orelhas de livros, resenhando livros, fazendo capas de livro... opa, eu preciso começar a receber por isso).


Enfim, a questão é que - acho eu - se quero apenas escrever livros, não posso ficar escrevendo sempre o mesmo livro, fumando o mesmo charuto e esperando jabutis a passos de tartaruga, tenho de entender como a coisa funciona, o que posso fazer com um talento que acho que tenho, onde o que eu escrevo pode alcançar.


GAROTOS MALDITOS está entregue na Record, na Petrobrás, e deve ser lançado na metade do próximo ano. É um livro para adolescentes sim, diversão pura, e mais um puta orgulho na minha carreira por isso.


É o primeiro livro que escrevo há anos que não tem AGRADECIMENTOS a ninguém, ninguém, porque ninguém me ajudou, em nada. E acho que ninguém vai ficar ofendido com isso. Embora a editora, ilustrador e um pessoal bacana vão trabalhar agora, eu fiz projeto, inscrição, trâmites burocráticos, escrevi tudo sozinho; ninguém leu, ninguém me aconselhou, não tive ninguém para pedir conselhos.


Minha carreira é solo, cada vez mais solo, eu não posso contar com ninguém...

Terminando este final de semana, na casa de campo dos Nazarian.... Ok, minha irmã AJUDOU tirando esta foto.

09/10/2011

EU VELEJAVA EM VOCÊ



Dussek e o Matogrosso.


Estou fugindo novamente da cidade, do estado e do país, passar um tempo fora. E esses dias já estava na Livraria Cultura fazendo compras de Natal. Comprei (só agora) o CD de samba da Adriana Calcanhotto; comprei um DVD chamado O Ataque das Víboras (ainda não vi), comprei uns presentes pra dar para minha irmã grávida - o do Filipe Catto, o "de brinquedo" do Pato Fu, junto daquele brinquedo "Pula Pirata", que descobri que é um péssimo presente para dar para uma mulher grávida, porque fica aquela tensão e aquele susto com o pulo do pirata...

E no meio das compras encontrei o novo cd (ao vivo) do Dussek - Dussek é Show. Lembrei que até fui convidado para a gravação (no Rio) mas como era (no Rio) não fui. Comprei CD e DVD para mim mesmo.

Dussek é show mesmo. É genial. Para quem é jovenzinho: um puta compositor e pianista que estourou nos anos 80, com músicas de sátira. Foi inclusive uma das atrações do primeiro Rock in Rio. Para quem não é tão jovenzinho assim, é bom lembrar que - além das músicas de sátira - Dussek é autor de grandes pérolas da MPB, na voz de Zizi Possi, Ney Matogrosso (que canta com ele no CD/DVD), Cauby Peixoto, entre outros. "Eu Velejava em você", música dele consagrada por ele mesmo, é lindíssima, e eu só fui me tocar agora, ouvindo esse novo registro.

Eu já velejei em você
E foi bom de doer
Mas foi, como sempre, um sonho
Tão longe, risonho
Sinto falta,
Queria lhe ver...

Por que eu gosto de Dussek? Por que eu gosto de Dussek? Porque ele é um dandy! Claro! É dos poucos autênticos dandies brasileiros. De talento. Um puta músico, puta pianista, que não têm hoje o reconhecimento que merece. Vendo o DVD fico até emocionado - deixando o lado stand-up comedy, que eu detesto e que na verdade é um seat-down comedy, porque ele faz sentado ao piano - Dussek prova como é um puta pianista, show man, que remete mais aos shows de cabaret do que as piadinhas de hoje em dia. Para falar a verdade eu até adiantei as introduções/piadas para vê-lo debulhando ao piano de cauda.


Dussek merece como ninguém um piano de cauda.


Para você ter uma ideia do que estou falando, colo esse vídeo aqui, que é antigo, mas não achei nenhum vídeo desse DVD novo no Youtube:







E é isso. Minha missão neste mundo não fica completa se não colonizar Dussek em sua mente. È o que eu sempre falo: PELARMODEDEUS, quem precisa de mais um escritor indicando Chico Buarque e Caetano Veloso, PELARMORDEDEUS!!!!


05/10/2011

FALANDO NA MÃE...


Debate que tivemos com os funcionários da Saraiva, há algumas semanas.

03/10/2011

RESENHANDO A MÃE


Bilhete Seco, de Elisa Nazarian.





Se é curioso ler um livro quando se conhece o autor, é até um pouco assustador ler um livro escrito pela própria mãe...


Só tinha lido alguns contos de Bilhete Seco, terceiro livro de Elisa Nazarian, que ela acabou de publicar pela Ateliê Editorial. Minha mãe sempre escreveu, desde bem antes de eu existir, mas só foi publicar depois de mim, um pouco por receio de se expor, um pouco por receio - segundo ela mesma diz - de que seus escritos fossem apenas desabafo, não fossem de fato literatura.


Elisa Nazarian segue a tradição das escritoras intimistas, confessionais, e faz grande literatura com isso. Como filho, consigo reconhecer de onde vieram quase todas as histórias - em algumas eu até apareço discretamente, como "personagem" - mas lendo agora Bilhete Seco não pude deixar de me surpreeder. O foco, o enquadramento, o campo de visão de histórias que eu já conhecia da vida funcionam quase como uma aula para mim, de como transformar fatos reais em literatura. Elisa não está desabafando ou registrando para si mesma histórias de sua vida, está jogando o jogo, brincando com as formas possíveis de contar histórias, apresentando-as a um terceiro, e encharcando-as com sua visão pessoal.


"Vou balançando os quadris, confiante no andar, para que você me deseje. Os seios vão livres por debaixo da blua. Passei creme nas mãos pra que fiquem macias, deslizem no afago. Você vai me achar bonita. Quero mais do que isso. Vou fêmea e suave. Levo a arrogância dos meus partos, e de todas as vezes em qeu preguei botões e areei panelas."


É um pouco assustador ver sua mãe própria mãe assim, não só como escritora, mas em tantos textos que ela aparece como mulher, antes de ser mãe, e até mesmo como adolescente (no lindíssimo conto "De Saltos Baixos", em que ela vai a uma festa e, com medo de ser chamada para dançar, passa a festa mancando.)


Elisa é mãe coruja, mas nem tanto. É uma boa leitora, não gosta de todos os meus livros, me dá bons conselhos e costuma dizer que inveja minha capacidade de criar histórias e personagens absolutamente ficctícios (cada vez mais no terreno fantástico, inclusive), talento que ela diz não possuir. Mas nem precisa. Ela faz outro tipo de literatura e tem uma visão aguda do outro e de si mesma que substitui a imaginação por poesia.


Confesso que não gostei de todos os contos. Poucas, mas algumas vezes a visão de um universo alheio me parece um pouco falsa - como a história da costureira "Edileuza"; só o nome "Edileuza" em si já me parece um recurso falso para ilustrar uma realidade (social) mais simples. (Na verdade, talvez seja essa a mesma ressalva que eu tenha com Olivio, meu primeiro livro, que hoje me parece um pouco falso por tentar mostrar uma realidade social que não é realmente a minha e que acaba se materiaizando com uma visão "burguesa"... Talvez como seja feito em grande parte do cinema Brasileiro - realizado pela elite econômica brasileira "fascinada com suas empregadas domésticas" - parafreasando uma crônica que certa vez escrevi.)


Uma coisa que eu também não gosto, em geral, nos textos de minha mãe são os títulos. Seus livros anteriores são Resposta, título que para mim não diz nada, e Feito Eu, título que eu acho um horror. Bilhete Seco é sugestão minha, tirado de um texto dela. E é um ótimo título, diz aí? Mas se eu tivesse lido antes um conto belíssimo desse novo livro como "Essas Mal Traçadas Linhas", jamais deixaria que ela tivesse publicado com esse título bagaceiro (haha, sorry, mom).



"Um sabiá está remexendo as folhas secas. Um pica-pau cutuca o tronco do angico. Meus cachorros tomam sol comigo. Tiro a roupa aos poucos, até me esquentar. O sol de inverno é de calor carinhoso." (Só por esse parágrafo você já vê que o conto merecia um título melhor....)



Ok, estou pegando pesado. Mas acho que é uma tentativa de me mostrar um leitor imparcial (ou pentelho) para que os elogios ao soberto Bilhete Seco sejam compreendidos como sinceros, já que ser imparcial nesse caso, pode ser impossível. Bilhete Seco é o melhor livro de Elisa Nazarian, e isso não é pouco. Fica claro que até hoje minha mãe tem muito a me ensinar.


NESTE SÁBADO!