11/10/2011

GAROTOS MALDITOS

Um clássico.



Do meio das árvores secas da floresta escura emergiu o maníaco com a máscara de pele humana. Motosserra em mãos, desceu-a entre as pernas do pobre paraplégico, cortando-o ao meio, assim como a sua cadeira de rodas. Não teve nem chance. A menina que estava com ele pôs-se a correr pela floresta, gritando feito bocó, como se alguém pudesse ajudá-la naquele fim de mundo escuro. Eu fiquei lá, vendo tudo, paralisado. Só quando ouvi um pigarro vindo do canto é que reparei que minha mãe estava na porta do quarto.



“Ludo, não tinha nada um pouco mais saudável para você assistir?”



Peguei o controle remoto e desliguei o DVD. Não porque queria satisfazer minha mãe, mas porque sabia que não ia conseguir assistir ao filme direito com ela lá.


“É um clássico, mãe, um clássico do horror.”


Assim começa meu romance juvenil - GAROTOS MALDITOS - que terminei e entreguei esta semana para a Record. A cena de abertura (e foto) veio obviamente de O Massacre da Serra Elétrica, mas o livro tem diversas e diversas outras homenagens aos "clássicos."


Foi um longo processo; se não me engano, comecei o projeto em 2008 - como um projeto mesmo, fiz uma sinopse, justificativa, planejamento, apresentei para a Record e inscrevi no Programa Petrobrás Cultural, que patrocina, entre outras coisas, a produção literária, dando uma bolsa para o escritor e um pagamento para a editora.


O projeto foi contemplado ano passado. Uma graninha razoável. Diz aí, não é para um geek fã de filmes de terror estourar champange por conseguir patrocínio para escrever um livro assim? (Sim, esses parágrafos que eu postei, assim como as 20 primeiras páginas do livro constavam do projeto). Antes disso a Record já estava empolgada com as possibilidades comerciais do livro, já tínhamos contrato, então todo mundo ficou feliz...


Ou quase.


Escrever um romance meio sob encomenda, baseado num projeto, foi das coisas mais difíceis que já fiz, inclusive por ser um romance juvenil. Não havia como desistir. Não havia como alterar o curso no meio do processo, eu precisava fazer aquilo dar certo. E escrever romance juvenil não é fácil não, ao menos não o romance que eu queria fazer. É um texto muito baseado em trama, absolutamente narrativo, em que eu precisava constantemente de altas sacadas para a história, uma história despirocada, engraçada e inteligente. E é um livro de quase 200 páginas - esses autorzinhos de microcontos de hoje em dia não escrevem isso não! Hehe. É um livro juvenil, mas de quase 200 páginas, tem história.


A grande diferença é essa; eu já escrevi vários romances, alguns até que os pentelhos de plantão classificam de adolescentes - apenas por tratar da adolescência - mas um romance juvenil é muito diferente. Deixei de lado minhas necessidades, as pirotecnias de estilo e os devaneios literário e me foquei em contar uma boa história, para um público específico.


Devo dizer que o processo não foi tão prazeroso quanto na maioria dos meu livros. Em muitos momentos eu fiquei com ÓDIO do livro, não era o que eu queria ou precisava escrever, e tinha de cumprir o cronograma, os prazos. Mas no final, foi tudo lindo...


É meio como tentar fazer ginástica em casa, saca? Escrever literatura é meio como fazer ginástica em casa. Você não tem professor, você só conta com sua própria cobrança, é natural que acabe relaxando, suavize quando dói. Escrever este livro foi como fazer ginástica em casa... com um personal trainer.


E no final foi tudo lindo...


Depois que venci os desafios do enredo, depois que encontrei o tom da narrativa, a coisa fluiu e hoje já estou com mega saudades do meu protagonista-filho-sobrinho-alter-ego Ludo, moleque legal pra caralho que eu criei, fanático por filmes de terror, indie-rocker, comedor, que acaba indo estudar num colégio para monstros, vampiros, zumbis...


Pronto, já falei demais.


E para você ver que a coisa é linda, mas não é mole.


O povo é todo alfabetizado aí nos grupos escolares e acha que pode escrever... Haha. Não, não é isso. Mas todo mundo acha que pode escrever um livro, PODE escrever um livro, sim, ok, e escreve um, dois, três livros bacanas. Mas o que eu mais gosto de fazer é escrever livros, queria poder apenas escrever livros (e por isso acabo traduzindo livros, escrevendo orelhas de livros, resenhando livros, fazendo capas de livro... opa, eu preciso começar a receber por isso).


Enfim, a questão é que - acho eu - se quero apenas escrever livros, não posso ficar escrevendo sempre o mesmo livro, fumando o mesmo charuto e esperando jabutis a passos de tartaruga, tenho de entender como a coisa funciona, o que posso fazer com um talento que acho que tenho, onde o que eu escrevo pode alcançar.


GAROTOS MALDITOS está entregue na Record, na Petrobrás, e deve ser lançado na metade do próximo ano. É um livro para adolescentes sim, diversão pura, e mais um puta orgulho na minha carreira por isso.


É o primeiro livro que escrevo há anos que não tem AGRADECIMENTOS a ninguém, ninguém, porque ninguém me ajudou, em nada. E acho que ninguém vai ficar ofendido com isso. Embora a editora, ilustrador e um pessoal bacana vão trabalhar agora, eu fiz projeto, inscrição, trâmites burocráticos, escrevi tudo sozinho; ninguém leu, ninguém me aconselhou, não tive ninguém para pedir conselhos.


Minha carreira é solo, cada vez mais solo, eu não posso contar com ninguém...

Terminando este final de semana, na casa de campo dos Nazarian.... Ok, minha irmã AJUDOU tirando esta foto.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...