27/12/2012

AS AVENTURAS DE PI (E DE MAX) 

Ilustração de Fabiano Rodrigues para o meu "As Vidas de Max". 

Fui ver o estupendo As Aventuras de Pi, filme do Ang Lee baseado no romance de Yann Martell inspirado no romance de Moacyr Scliar que me gerou um conto.

A base das quatro histórias é a mesma: após um naufrágio, um adolescente fica à deriva num bote, com um grande felino (Scliar escolheu um jaguar, eu escolhi um guepardo, Martel e Lee escolheram um tigre). O menino tem de sobreviver por dias no mar com o felino, aprendendo a alimentá-lo e domá-lo. Isso transportado para um filme de Hollywood só podia gerar uma trama de aventura com visual exuberante, e é exatamente isso. O distribuidor nacional até preferiu adaptar o título original - Life of Pi - e colocar umas "aventuras" no meio. Mas felizmente a ambiguidade e a densidade do romance original foram mantidas. E posso dizer que As Aventuras de Pi é daqueles raros filmes de que gostei tanto quanto do livro.

Já contei a história por trás aqui: Quando o romance do canadense Yann Martel - A Vida de Pi - estava ganhando todos os prêmios, alguém levantou a suspeita de plágio. Havia uma novela brasileira com a mesma premissa; tratava-se de Max e os Felinos, do Moacyr Scliar. Martel assumiu que leu a novela de Scliar e que considerou "uma premissa maravilhosa arruinada por um escritor menor." Scliar, generoso e elegante como sempre, elogiou o romance de Martel e nunca cogitou processo, afinal, Martel apenas se inspirou com a premissa, mas criou uma trama totalmente diferente.

Eu li as duas histórias e achei irresistível criar a minha própria. Scliar tratava como uma alegoria do holocausto, Martel discutia a teoria do "bom selvagem". Eu, no meu pensamento viciado, não consegui deixar de ver uma alegoria de despertar sexual (que não é explorada em nenhum dos romances, nem no filme). Então escrevi um conto (de 20 páginas) assumidamente inspirado nas histórias anteriores. Mandei pro Scliar, ele deu a benção com grandes elogios e a história acabou saindo no meu volume de contos Pornofantasma (Record, 2011)

Então é isso, se você amou AS AVENTURAS DE PI, compre Pornofantasma, de Santiago Nazarian e se delicie com AS VIDAS DE MAX. Ah-ha!

O filme. 


Fico pensando o que Scliar teria achado de As Aventuras de Pi, se tivesse vivido para assistir. É lindo pensar que um texto literário brasileiro pode ter inspirado um MAJOR filme de Hollywood (padrão Oscar, é claro). É meio triste ver que não há nenhum crédito a Scliar no filme.

E assim se encerra o ano neste blog. Amanhã viajo. Só haverá um próximo post se o mundo não acabar... O mundo não vai mais acabar? Certeza? Sem chance? Hum, bem, sempre pode acabar para mim, eu posso sofrer um acidente, posso ser esfaqueado qualquer dia desses, ou VOCÊ pode ser torturado nas férias, estuprada no reveillon, pode ficar CEGO e não ler mais nenhum post. Vamos pensar positivo.

Isso é tudo o que dedico para todos neste ano novo. Beijos e compre meu livro.

23/12/2012

E OS 100 FILMES...

Mesma coisa. Um por diretor, alguns eu traduzi (as legendas). Esse foi o mais difícil. Não repetir diretor foi mesmo uma gincana. Mas vamos lá. Tem coisas da minha infância e adolescência, que nunca mais revi. E claro que a maioria esmagadora é de terror. Vendo a lista, eu tenho de admitir que tenho um gosto pavoroso para cinema...


MELANCOLIA - LARS VON TRIER
O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA - TOBE HOPPER
ED WOOD - TIM BURTON
PSICOSE - ALFRED HITCHCOCK
MORTE EM VENEZA - LUCHINO VISCONTI
AUDITION - TAKASHI MIIKE
O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE - ROBERT ALDRICH
SUITE 16 - DOMINIQUE DERUDDERE
MINHA VIDA EM COR DE ROSA - ALAN BERLINER
ELEFANTE - GUS VAN SANT
SNAKES ON A PLANE - DAVID R. ELLIS
A HORA DO PESADELO - WES CRAVEN
O BURACO - TSAI MING LIANG
TESIS - ALEJANDRO ALMENABAR
O FILHO DE CHUCKY - DON MANCINI
FUNNY GAMES (97) - MICHAEL HANEKE
NÃO VIVER - HIROSHI SHIMIZU
REQUIEM PARA UM SONHO - DARREN ARONOFSKY
SALÓ - PIER PAOLO PASOLINI
ADEUS MINHA CONCUBINA - CHEN KAIGE
PARENTS-  BOB BALABAN
HALLOWEEN - JOHN CARPENTER
ONIBABA - KANETO SHINDO
AS FÉRIAS DE MR. BEAN - STEVE BENDELACK
A ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO - JOSÉ MOJICA MARINS
AMORES EXPRESSOS - WONG KAR WAI
SEXTA-FEIRA 13 PARTE 6 - TOM MCLOUGHLIN
MISTÉRIOS DA CARNE - GREGG ARAKI
EVIL DEAD - SAM RAIMI
ERASERHEAD - DAVID LYNCH
THUMBSUCKER - MIKE MILLS
AS CHAVES DE CASA - GIANNI AMELIO
O BEBÊ DE ROSEMARY - ROMAN POLANSKY
HARD CANDY - DAVID SLADE
O PEQUENO ITALIANO - ANDREI KRAVCHUCK
DRÁCULA - TOD BROWNING
BRAM STOKER'S DRACULA - FRANCIS FORD COPPOLA
CABANA DO INFERNO - ELI ROTH
HANNIBAL - RIDLEY SCOTT
PÃNICO NO LAGO -STEVE MINER
DAHMER - DAVID JACOBSON
BILLY ELLIOT - STEPHEN DALDRY
UMA CILADA PARA ROGER RABBIT - ROBERT ZEMEKIS
GREMLINS - JOE DANTE
TUBARÃO - STEVEN SPIELBERG
O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS - YIMOU ZHANG
O CHAMADO - GORE VERBINSKI
ELVIRA, A RAINHA DAS TREVAS - JAMES SIGNORELLI
REC -JAUME BALAGUERO E PACO PLAZA
DEIXE ELA ENTRAR - TOMAS ALFREDSON
SERIAL MOM - JOHN WATERS
O ANJO EXTERMINADOR - LUIS BUNUEL
JOGOS MORTAIS - JAMES WAN
SANTA SANGRE - ALEJANDRO JODOROWSKI
CLOVERFIELD - MATT REEVES
HOMEM DE FERRO - JOHN FAVREAU
BATALHA REAL - KINJI FUKASAKU
PIRANHA - ALEJANDRO AJA
CLOWNHOUSE - VICTOR SALVA
SIN CITY - FRANK MILLER / ROBERT RODRIGUEZ
ANNIE - JOHN HUSTON
NOME PRÓPRIO - MURILLO SALLES
A PEQUENA LOJA DE HORRORES - FRANK OZ
THE TRIP - MICHAEL WINTERBOTTOM
SILVER BULLET - DANIEL ATTIAS
ALLIGATOR - LEWIS TEAGUE
ATAQUE AO PRÉDIO - JOE CORNISH
A HISTÓRIA SEM FIM - WOLFGANG PETERSEN
LABIRINTO - JIM HENSON
DEMONS - LAMBERTO BAVA
OS OLHOS DA CIDADE SÃO MEUS - BIGAS LUNA
O CALDEIRÃO MÁGICO - TED BERMAN
MENOLIPPU MOMBASAAN - HAMU TUOMAINEN
FESTA DE FAMÍLIA - THOMAS VINTENBERG
TAXIDERMIA - GYORGY PALFI
MINHA VIDA NO GELO - OLIVIER DUCASTEL
OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE - ESMIR FILHO
CÃO SEM DONO - BETO BRANT
ZONA MORTAL - AKU LOUHMIES
THE NIGHT LISTENER - PATRICK STETTNER
ABISMO DO MEDO - NEIL MARSHALL
HELLRAISER - CLIVE BARKER
DUMPLINGS - FRUIT CHAN
ALBERGUE ESPANHOL - CEDRIC KLAPISCH
IMENSIDÃO AZUL -LUC BESSON
LADRÃO DE SONHOS - JEAN PIERRE JEUNET
FOLLOWING - CHRISTOPHER NOLAN
EDEN LAKE - JAMES WATKINS
BENNY & JOHN - JEREMIAH S. CHECHIK
TRANSAMERICA - DUNCAN TUCKER
EXTERMÍNIO - DANNY BOYLE
BUG CRUSH - CARTER SMITH
PRINCESA MONONOKE - HAYAO MIYAZAKI
A COMPANHIA DOS LOBOS - NEIL JORDAN
OLD BOY - CHAN WOOK PARK
ANTES DO AMANHECER - RICHARD LINKLATER
CANNIBAL HOLOCAUST - RUGGERO DEODATTO
CURTINDO A VIDA ADOIDADO - JOHN HUGHES
AS MELHORES COISAS DO MUNDO - LAIS BODANSKY
FANTASIA - VÁRIOS

19/12/2012

E OS LIVROS DO FIM DO MUNDO


A lista dos meus 100 livros favoritos de todos os tempos. Só ficção. Regra parecida com a das músicas, apenas um livro de cada autor, sem antologias de vários autores. Tem alguns amigos, algumas coisas que traduzi, muitas coisas da minha infância e adolescência. Ordem aleatória, puxando da memória e da estante. Títulos na língua em que li.


O RETRATO DE DORIAN GRAY - OSCAR WILDE
O VELHO E O MAR - ERNEST HEMINGWAY
A FABRICA DA VIOLÊNCIA - JAN GUILLOU
COMPLETE FAIRY TALES - IRMÃOS GRIMM
DRÁCULA - BRAM STOKER
DEMIAN - HERMAN HESSE
A CONFISSÃO DE LÚCIO - MÁRIO DE SÁ CARNEIRO
A METAMORFOSE - FRANZ KAFKA
FRANKENSTEIN - MARY SHELLEY
OS DESASTRES DE SOFIA - CONDESSA DE SEGUR
CONTOS NOVOS - MÁRIO DE ANDRADE
O PEQUENO VAMPIRO - ANGELA SOMMER BODENMBURG
O EXORCISTA - WILLIAM PETTER BLATTY
IT - STEPHEN KING
THE COMPLETE TALES - EDGAR ALLAN POE
O CENTAURO NO JARDIM - MOACYR SCLIAR
A VOLTA DO PARAFUSO - HENRY JAMES
MALDITO CORAÇÃO - J.T. LEROY
BOOKS OF BLOOD - CLIVE BARKER
GOD JUNIOR - DENNIS COOPER
O PEQUENO PRÍNCIPE - ANTOINE DE SAINT EXUPERY
O TEMPLO - STEPHEN SPENDER
TÔNIO KROEGER - THOMAS MANN
OS CANTOS DE MALDOROR - LAUTREAMONT
DESIDERIA - ALBERTO MORAVIA
MORANGOS MOFADOS - CAIO FERNANDO ABREU
O DESCONHECIDO - LÚCIO CARDOSO
PORCOS COM ASAS - MARCO RADICE /LIDIA RAVERA
THE TOYS OF PEACE - SAKI
CRIME E CASTIGO - FIODOR DOSTOIESVSKI
UM COPO DE CÓLERA - RADUAN NASSAR
O JOVEM TORLESS - ROBERT MUSIL
RASTROS DO VERÃO - JOÃO GILBERTO NOLL
THE COMPLETE WORKS - WILLIAM SHAKESPEARE
O ESTRANGEIRO - ALBERTO CAMUS
MEU AMIGO PINTOR - LYGIA BOJUNGA NUNES
HATER - DAVID MOODY
O AMOR COMEÇA NO INVERNO - SIMON VAN BOOY
BALÉ RALÉ - MARCELINO FREIRE
SYLVIA NÃO SABE DANÇAR - CRISTIANE LISBÔA
ILHA GRANDE - VICTORIA SARAMAGO
SHE´S NEVER COMING BACK - HANS KOPPEL
A GAROTA DOS PÉS DE VIDRO - ALI SHAW
O PAÍS DAS SOMBRAS LONGAS - HANS RUESCH
VOLÁTEIS - PAULO SCOTT
PARAÍSOS ARTIFICIAIS - PAULO HENRIQUES BRITTO
FRAGILE THINGS - NEIL GAIMAN
PERGUNTE AO PÓ - JOHN FANTE
GIOVANNI'S ROOM - JAMES BALDWIN
O VISCONDE PARTIDO AO MEIO - ÍTALO CALVINO
DRINK, PLAY, FUCK - ANDREW GOTTLIEB
O CADERNO ROSA DE LORI LAMBI - HILDA HILST
LA VIDA PRIVADA DE LOS ARBORES - ALEJANDRO ZAMBRA
RING - KOJI SUZUKI
A BÍBLIA - JESUS E SEUS AMIGOS
UNA NOCHE CON SABRINA LOVE - PEDRO MAIRAL
BARBA ENSOPADA DE SANGUE - DANIEL GALERA
ENTRE RINHAS DE CACHORROS - ANA PAULA MAIA
A NOIVA DO TIGRE - TEA OBRECHT
UMA DUAS - ELIANE BRUM
O GATO - IVES BEAUCHEMIN
NAKED LUNCH - - WILLIAM BURROUGHS
FUN HOUSE - DEAN KOONTZ
A MENINA DO FIM DA RUA - LAIRD KOENIG
ALLAN STEIN - MATTHEW STADLER
THE BOY THAT FELL IN LOVE WITH THE MOON - TOM SPAMNBAUER
CAPITÃES DE AREIA - JORGE AMADO
RUNNING WITH SCISSORS - AUGUSTEN BURROUGHS
O FILHO ETERNO - CRISTOVÃO TEZZA
TCHICK - WOLFGANG HERNDORF
QUANDO TEREZA BRIGOU COM DEUS - ALEJANDRO JODOROWSKY
O GÊNIO DO CRIME - JOÃO CARLOS MARINHO
THE NIGHT LISTENER - ARMISTEAD MAUPIN
MARCELO MARMELO MARTELO - RUTH ROCHA
A VIDA DE PI - YANN MARTEL
O MARINHEIRO QUE PERDEU AS GRAÇAS DO MAR - YUKIO MISHIMA
120 DIAS DE SODOMA - MARQUÊS DE SADE
SOLO TE QUIERO COMO AMIGO - DANI UMPI
64 CONTOS DE - RUBEM FONSECA
PERFEIÇÃO - VLADMIR NABOKOV
TEMPORADA DE CAZA PARA EL LION NEGRO - TRYNO MALDONADO
1984- GEORGE ORWELL
AS MENINAS - LYGIA FAGUNDES TELLES
NÓ NA GARGANTA - PATRICK MCCABE
O MÁGICO DE OZ - L.F BAUM
LONGE D'ÁGUA - MICHEL LAUB
DOMINGO - FRANCISCO SLADE
ALEXIS - MARGARITE YOUCENAR
A PAIXÃO SEGUNDO G.H. - CLARICE LISPECTOR
NOITE NA TAVERNA - ÁLVAREZ DE AZEVEDO
A MALDIÇÃO DO SILÊNCIO - MÁRCIA KUPSTAS
MYSTERIOUS SKIN - SCOTT HEIM
ALAMEDA SANTOS - IVANA ARRUDA LEITE
FAN TAN - MARLON BRANDO / DONALD CAMELL
POR QUE A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA - AGLAJA VETERANYI
WERTER - JOHAN WOLFGANG GOETHE
GINGERBREAD - RACHEL COHN
LUNAR PARK - BRETT EASTON ELLIS
THE VAST FIELDS OF ORDINARY - NICK BURD
THE LEGEND OF SLEEPY HOLLOW - WASHINGTON IRWING

18/12/2012

A LISTA DO FIM DO MUNDO

Antes que tudoseacabe, resolvi fazer minha (play)list(a) do fim do mundo. 100 músicas preferidas de todos os tempos, ou quase. Tive de botar umas regras, claro, senão das 100 músicas, umas 40 seriam só Suede (o resto dividido entre Eurythmics, Kwan e Royksopp).

Então são 100 músicas/artistas favoritos de todos os tempos, só uma de cada artista. Não é equilibrado (tipo, Suede e Gal Costa na  mesma lista), mas são os que atenderam os "critérios".  Para alguns artistas foi muito difícil escolher só uma música, mas coloquei alguma representativa, que foi importante para mim, não necessariamente a melhor. Não é suspeito que haja vários amigos na lista; obviamente foram músicas importantes para mim, mesmo que pudessem ser artistas meia-boca (mas não sou amigo de artistas meia-boca).

 Não coloquei ninguém de quem gosto só de uma ou duas músicas, todos os artistas aí têm várias faixas de que eu gosto. Não é um ranking, porque isso seria impossível de fazer, é uma ordem aleatória, conforme fui mexendo no IPod e pegando de outras playlists. Alguns podem parecer piada - e alguns até são - mas são piadas que não me cansei de ouvir (Nelson Ned, Zeu Britto, Steklovata, etc). Você sabe, tenho um IPod de 160G, com 30 mil músicas (e uns 3 mil CDS aqui em casa) então é muita coisa. Justificar cada uma delas seria 100 novos posts...

De todo modo, é um exemplo perfeito do som que eu curto. E posso dizer que não é um som nada restrito, embora se perceba nitidamente uma preponderância de rock alternativo britânico.

So Young - Suede
Les histoires d'A - Les Rita Mitsouko
Here Comes The Rain Again - Eurythmics
Ready For The Floor - Hot Chip
Come In From The Cold - Joni Mitchell
John I Love You - Sinéad O'Connor
Três  -Marina Lima
This Picture -Placebo
Time -Marion
The Falcons - Patrick Wolf
Common People - Pulp
Heroes - David Bowie
16 Days - Lori Carson
977 - Pretenders
Seu Pensamento - Adriana Calcanhotto
You Do - McAlmont & Butler
Olhar Brasileiro  - Eduardo Dussek
Island Hopping -Kwan
You Know What They Do To Guys Like Us In Prison - My Chemical Romance
Brittle Heart - Brett Anderson
Bat out of Hell - Meat Loaf
Subway - Peter Murphy
Arms Of Cicero - Sex Gang Children
Not Forgotten - Siouxsie & the Banshees
Screaming Skin - Blondie  
Jam - Michael Jackson
This Is The New Shit -  Marilyn Manson
Smack My Bitch Up - The Prodigy
We Carry On -Portishead
Between my legs - Rufus Wainwright
Dark Entries - Bauhaus
In My Arms - Kylie Minogue
No More "I Love You's" - Annie Lennox
Mathilda - Scott Walker
Loose You Tonigh - HIM
Da Primeira Vez - Ludov
Ascendente em Câncer - Filipe Catto
Onde a Dor Nao Tem Razao Cauby Peixoto & Paulinho da Viola
Whispering Your Name - Alison Moyet
Breezin - Cornelius
Mike Mills - Air
Dejala Correr - Rocío Jurado
Hits Me Like A Rock - Cansei De Ser Sexy 
Fannin' Street - Scarlett Johansson
Swans - Camera Obscura
Human - The Killers
Total Eclipse of the Sun - Einsturzende Neubauten  
Sunset Sunrise - Grace Jones
Fistful of Love - Anthony &the Johnsons 
Steklovata - Steklovata
Control - Traci Lords
Diamond Avenue Dave Stewart
Bailed Out - The Auteurs
Venus As A Boy Björk
Circuit Breaker - Royksopp
2HB - Roxy Music 
Coffee & TV - Blur
Creep - Radiohead
Swing  - Japan
Kiss, Kiss, Kiss - Yoko Ono
Strange World -
Dreams - The Cranberries
Calypso - Grace Chang
Vou Buscar o Meu Amor - Nelson Ned
Baby - Gal Costa 
The Everlasting - Manic Street Preachers
This Is the One - The Stone Roses
A Song For The Lovers - Richard Ashcroft
Man In The Corner Shop - The Jam
First of the Gang to Die - Morrissey
The Ghost of You - The Tears
Autograph - Bernard Butler
Blood Of Eden - Peter Gabriel
Wild Child - Enya
Chain Reaction - Diana Ross
Who Let in the Rain - Cyndi Lauper
Perto Do Fim - Thiago Pethit
Walking In Memphis - Cher
Love me or Leave me - Nina Simone
All I Really Want Is Love - Lisa Ekdahl
Infidels Of The World United - Fischerspooner
Sadness Is A Blessing - Lykke Li
Tudo Que Eu Sempre Sonhei - Pullovers
Canção pra Você Viver Mais - Pato Fu
A Nossa Vida Toda - Dan Nakagawa
Killing Game - Skinny Puppy
The Kindness Of Strangers - Nick Cave & The Bad Seeds
The Lunatic - Elefant
Boys in the Band - Libertines
Essência Interior - Júpiter Maçã 
Soraya queimada - Zéu Britto
Saúde - Rita Lee
Close To Me - The Cure
Yksityinen - Antti Tuisku
Hell - Squirrel Nut Zippers
Comment Te Dire Adieu - Francoise Hardy
Master Blaster (Jammin') -  Stevie Wonder
Tower of Song - Leonard Cohen
You Only Live Once - Strokes
A House Is Not A Home - Chiara Mastroianni & Benjamin Biolay


16/12/2012

RETROSPECTIVA DO FIM DO MUNDO 




Não deu para ser feliz em 2012. Ano funesto. Nenhuma grande tragédia, mas nenhuma grande conquista, em nenhum campo. Só frustrações, decepções e uma batalha interna para conseguir tirar algum prazer do dia-a-dia, algum prazer da vida, conseguir me arrastar para fora da cama...



Entrando em 2012 num navio, rumo à Suécia, mal-acompanhado. 

Vendo assim, parece lindo, não? Lindo de se ver, quando não se está vivendo. Passei a virada num navio de  Helsinque para Estocolmo, na companhia desse loirinho. Pessoa desagradável, navio divertido. Nem consegui aproveitar pela depressão que me assolava. Tudo o que eu pensava, seriamente, era em pular do navio. Ainda acho que teria sido um ótimo final...




Pronto para pular. 


Fui à Finlândia em outubro de 2011 e fiquei até março deste ano. Uma experiência dolorosa, mas importante. Passar um inverno escandinavo inteiro, praticamente sozinho, não foi fácil. Mas isso é viver, e não dá para querer fugir do sofrimento, é preciso ir atrás do sofrimento, vivê-lo, e se acostumar...





O mais lindo dessa viagem, com certeza, foi o carnaval, que passei na Lapônia, norte do país. Fevereiro é o mês mais frio (cheguei a pegar -25C) mas é bem mais claro do que dezembro, o que já deixa o ânimo mais positivo. Segui o turismo glacial de cruzar o mar congelado, visitar castelos de gelo, buscar (em vão) a aurora boreal. Essa é a parte do país que me deixa com mais saudades.


Fim do mundo.


Viajei bastante pela Finlândia no começo do ano. Minha passagem por Jyväskylä foi especial pelo encontro com um amigo brasileiro. De país novo, em 2012, conheci a Hungria, só Budapeste. Não gostei muito. Achei uma cidade agressiva, suja, e não especialmente bonita. Valeu pela companhia do Gabor, menino querido que também deixou saudades.



Com Gabor, em Buda. 

Em abril já estava na América do Sul e já voltei à Colômbia convidado para a Feira do Livro de Bogotá. Foi especialmente bom para reencontrar os colegas brasileiros, editores, jornalistas. Senti como se eu tivesse há anos fora do mercado, porque há anos me sinto meio afastado. Ainda não sei como me encaixar nesse círculo, mas tudo bem, se o mundo for mesmo acabar...



Debate com Daniel Galera e JP Cuenca, mediados por Mauro Ventura, em Bogotá. 

De volta ao Brasil, consegui ir várias vezes para Florianópolis, o que sempre me traz uma recarga. Estava lendo no livro do Galera: "São Paulo é um lugar agressivo para os introspectivos", e é verdade. Mas minha família está aqui, meus amigos estão aqui, a vida cultural e o trabalho estão aqui, não há muito como fugir. Por isso preciso sempre dar minhas escapadas...




 A vida. 

E a família. Este ano teve o nascimento da minha sobrinha e herdeira, a Valentina. Ainda é bem pequena, ainda tem certo medo de mim, já sou apresentado a ela como "o tio vampiro". E mais do que dar um novo ânimo para a vida, dá uma certa sensação de etapa cumprida (embora eu não tenha responsabilidade nenhuma nisso). Já tenho uma herdeira, a família continua. Agora posso descansar em paz?


Princesa. (Claro que o macacãozinho de Muumi eu que trouxe, da Finlândia.)

De trabalho, 2012 até que foi razoável. Não faltou grana, traduções, roteiros, matérias. Tive aquela coluninha na revista Metáfora, que durou pouco, e pude fazer algumas matérias especiais, como a entrevista exclusiva com Laura Albert (aka J.T. LeRoy), uma querida. 

Louca e fofíssima.  

Se de trabalho até que foi bom, de carreira foi uma porra. Lancei meu juvenil, Garotos Malditos, de qual muito me orgulho, mas que foi recebido com o calculado desdém destinado a um livro juvenil. Também não colhi nenhum fruto com Pornofantasma (lançado ano passado), o que acho um crime. O que melhorou foi o trato da editora comigo, os convites para eventos literários. Isso sim, deu uma certa melhorada.

Debate com André Vianco, Martha Argel, Giulia Moon e Sarah Blakley Cartwright, na Bienal de SP. 

Teve o debate da Bienal de SP, o Ave Palavra em Juiz de Fora, a turnê com Eliane Brum nos Sescs do Paraná, a Feira do Livro de Porto Alegre, a Balada Literária e o Forum das Letras de Ouro Preto, que foi o melhor de todos. Espero que em 2013, os convites se intensifiquem, apesar de eu não estar lançando nenhum livro novo. Sempre gosto de participar desses eventos e, porra, já lancei sete livros, já traduzi mais de trinta, tenho contos e romances publicados em nove países, acho que tenho algo a dizer. E há tantos lugares para onde ainda não fui...



Lindo o público em Ouro Preto. (Debate com Bernardo Azjemberg e Fernando Molica). 



E lindo ver meu filho anunciado nos metrôs. Só não acho o livro nas livrarias...



Mais lindo ainda foi ver Suede em São Paulo. Também teve Pulp. E a beleza acabou por aí. 


Talvez eu não tenha do que reclamar, afinal ainda tenho os quatro membros, ou quatro membros e meio (contando a cauda; não pense bobagem). Você acha que não tenho do que reclamar? Bom, você não sabe os tocos (no mau sentido) que levei em minha vida amorosa em 2012, e isso não posso expor aqui. Mas isso talvez seja o de menos.... é o de menos? Você acha que não tenho mesmo do que reclamar? Quem gosta realmente do que eu escrevo acha que eu eu tenho. E talvez seja melhor o inconformismo do que uma resignação bovina, uma humildade cristã. Para mim, nada nunca será o bastante. Nunca nada será o bastante. E a insatisfação e a inconformidade serão meu combustível. A queixa não esteve sempre aqui (vale rever minha retrospectiva de 2010, por exemplo) e eu não tenho muito o que me queixar do saldo de livros como Feriado de Mim Mesmo e Mastigando Humanos. 

Falando em Mastigando, ruminarei-o em 2013. Finalmente sai na Itália e Espanha, nesse último, inclusive já está pronto. A turnê deve ser em maio; já boas viagens a caminho. 


Quarta capa espanhola. 


Acho triste colocar tanta expectativa - toda uma responsabilidade de ser feliz - na vida profissional. Seres humanos comuns diriam que o trabalho é só uma ponte, mas aonde eu quero chegar? Acho lindo gente como a Andrea del Fuego, que recebe um mega prêmio sem grandes expectativas, porque acabou de ter um filho e sabe o que é a vida de fato. Mas o que é a vida de fato? Para mim, é apenas a morte. Não, é a morte e a solidão. Não, morte, solidão e sofrimento. Hahah. Nah, não querendo ser gótico, o que é a vida para mim, solteiro, sozinho sem filhos? Que função eu tenho - não tenho - nesse mundo? Se eu morrer antes de acordar, saiba que já me dou por satisfeito.

Pois é amiguinho, foi isso que pensei durante todo 2012. E é tão denso pensar nisso como é fútil alguém como eu se lamentar....

Será que agora você me entende um pouco?

Seria eu mais profundo, consistente e sarado sendo feliz?

14/12/2012

VIVER PARA CONTAR. 


Sou um ser invejoso, rancoroso e frustrado. E de longe o que mais me frustra é o menosprezo da minha obra diante de hipervalorização de autores que não escrevem, que não entregam, que apenas se encaixam melhor na imagem que se faz de um escritor sério, e nas panelinhas.

Por isso é tão recompensador ler algo como Barba Ensopada de Sangue, novo romance de Daniel Galera.

Não foi preciso avançar muito nas páginas para se ter (novamente) a constatação: aí sim; esse é um escritor que merece estar lá, faz por merecer, merece o que conquistou. Barba Ensopada de Sangue é uma obra fenomenal.

Após a morte do pai, um instrutor de natação se muda para Garopaba, buscando conhecer mais sobre a história do avô, desaparecido desde o final dos anos 1960. Lá vive uma típica rotina praieira, romances fugazes, brigas e bebedeiras, enquanto se aprofunda no mistério de sua família. Galera narra tudo de forma objetiva, com riqueza de detalhes nas descrições, materializando o cenário com grande competência. É o romance perfeito de "jovem vai morar na praia", coisa que ele e eu fizemos há pouco - e que agora me gerou dificuldades.

Assim como a temporada do Galera em Garopaba gerou Barba Ensopada de Sangue, minha temporada na Barra da Lagoa está gerando meu próximo romance... E confesso que agora me sinto meio empacado. O que falta dizer? O que eu tenho a acrescentar? Outro romance litorâneo catarinense... ? É óbvio que a trama, e principalmente o estilo narrativo de nós dois são completamente diferentes. Mas temo que as comparações sejam inevitáveis, mesmo que (ou principalmente porque) meu romance não seja lançado antes de 2014.

Será um desafio e tanto para eu ressaltar minha diferença...

Voltando às barbas do Galera, é inevitável imaginar o que ele de fato viveu naquela cidade, quanto de sua experiência real está lá, até porque é tudo muito tangível. Com certeza a vivência descrita foi radicalmente diferente da minha, e me fez pensar novamente em como a (homo)sexualidade influencia todo nosso modo de vida, paqueras, amizades, a forma como você se encaixa (ou não) numa cidadezinha.

O que eu mais me identifiquei com o personagem, na real, foi no seu distúrbio neurológico. Ele sofre de  prosopagnosia, uma incapacidade de lembrar e reconhecer rostos. Eu não chego a tanto, mas tenho uma memória muito, muito, muito limitada para rostos, nomes, pessoas. Domingo passado, por exemplo, fui a um almoço na casa de um amigo e tive de cumprimentar todos sem me apresentar ou sem dizer "prazer", porque eu não tinha ideia de quem naquela casa eu já havia encontrado. Um dos casos  mais graves foi uma vez que uma menina me parou na rua, e começou a comentar sobre o lançamento do meu livro na Bienal. Eu achei que era uma leitora. Demorou alguns minutos para eu perceber que era minha EDITORA.

Essa mesma limitação de memória me impediria de fazer um livro tão descritivo, baseado num cenário real. Então só posso admirar a capacidade do Galera de criar (ou reproduzir) cenários de Garopaba. E há muito mais para se admirar. Barba Ensopada de Sangue é um livrão de 420 páginas, delicioso de ler, e de se viajar. Como negativo, eu só poderia dizer que o terço final do livro me pareceu um pouco arrastado, e a conclusão é de certa forma frustrante, mas tudo num grau muito suave diante do prazer que o livro traz como um todo.




11/12/2012

O HABITANTE DAS FALHAS SUBTERRÂNEAS

Ana Paula Maia, você sabe, é das minhas autoras favoritas, porque é das poucas que tem um universo literário muito próprio, muito masculino, divertido e fascinante.

Assinei a orelha do seu segundo livro, A Guerra dos Bastardos, e a conheci pouco antes, ao ler seu primeiro, O Habitante das Falhas Subterrâneas, que ela relança agora, voltado especificamente para o público juvenil.

Ela me pediu novamente uma orelha, e fiquei honrado em assinar:

Ariel Esperanto é um paulistano de dezessete anos que está viajando, em todos os sentidos. Descolado como tantos e deslocado como os melhores, vive em conflito com os pais e o irmão, fazendo uma cagada atrás da outra, mesmo que (ou exatamente porque), no fundo, seja um moleque bacana. Mandado ao Rio de Janeiro para representar sua família numa festa de noivado, Ariel se perde na noite, nos bares e em hotéis suspeitos, procurando afinal sua identidade no mundo. É assim que se desdobra um apimentado e saboroso romance de formação, moderno, engraçado, enternecedor.

Quando li O Habitante das Falhas Subterrâneas pela primeira vez, eu já tinha deixado a adolescência havia uns bons anos. Ainda assim, foi impossível não me identificar e me fascinar com seu protagonista. Essa foi minha introdução à literatura de Ana Paula Maia, uma autora que entende o universo masculino como poucas e cria cenários em que é sempre um prazer habitar.



Então para quem está no Rio, lançamento será no próximo dia 18, terça-feira que vem, no Espaço Oito e meio, no Flamengo. 

Não há tantos livros juvenis voltados mais para os meninos. Esse inclusive foi o foco de uma ótima matéria sobre Garotos Malditos, que saiu no Estadão há algumas semanas. Então, se você JÁ COMPROU Garotos Malditos para seu filho-neto-sobrinho, fica aí mais uma ótima dica. 

Minha protegida. 

05/12/2012

O BODE DA HOMOFOBIA

Foi o assunto do dia no Facebook. Um jovem estudante de direito agredido na Henrique Schaumann, às sete da noite, por dois outros jovens de classe média, ao ser identificado como homossexual.

No primeiro link que vi, de uma reportagem da Record, me surpreendi em como a rede do Bispo falava em "homofobia" e como "Ainda existe nos dias de hoje gente que sofre violência por causa da 'opção' sexual."

Muito bem, então reconhecem que o problema existe.

A proposta de lei (PLC122) para criminalizar a homofobia existe para casos como esses, mas não só.

Tenho visto o argumento de evangélicos  (inclusive do Pastor Silas Malafaia, ontem no CQC ) ao se apontar os 165 homossexuais mortos só no primeiro semestre de 2012. Eles contra-argumentam com o índice total de homicídios, fazendo parecer que a porcentagem de gays assassinados é irrisória. Não é. Obviamente se apontam 165 mortos por motivações homofóbicas (e no índice total não é possível se dizer quantos são gays que morreram por motivos não relacionados a homofobia). Mas ainda o PLC122 não é só isso...

Casos como o de hoje fazem pensar para que serve a criminalização da homofobia. Os agressores foram presos. Agressão física em si é crime. Bater em alguém na rua, acertar uma lâmpada, passar com o carro por cima já é crime, independentemente de qualquer sexualidade. E esse também é um argumento dos evangélicos para invalidar a PLC122.

Mas não é só isso.

A criminalização da homofobia é uma tentativa de se coibir uma violência que já se sabe que existe, assim como foi feito com a criminalização do racismo. E, por se saber que existe, não se pode apenas esperar que chegue ao assassinato para ser punida (como "homicídio qualificado"). Tem a função didática de refrear o ódio a um grupo social que, hoje se sabe, não é merecedor de ódio.

Poderia ser criado um projeto de lei semelhante a qualquer outro grupo que se reconhecesse como discriminado, claro - digamos, os gordos. A questão é o grau da discriminação, a gravidade, o ódio. (Estão batendo nos gordos na rua?)

Gays não são agredidos só fisicamente. São agredidos verbalmente, tem direitos negados, acessos negados, sofrem humilhações e discriminações variadas. O projeto PLC122 combate a agressão, o assassinato, o constrangimento, a hipocrisia e o suicídio. Não é um projeto que beneficiaria "apenas" 165 mortos (e se fosse?) é um projeto de postura oficial da sociedade perante um grupo enorme e as diferenças em geral.

Todo mundo já sabe que não tem graça xingar um negro, mas tem muita, muita gente que acha engraçado xingar um gay. A lei é uma forma de fazer a pessoa parar (e se possível, pensar). E para que os próprios homossexuais não se sintam cidadãos de segunda classe.


O projeto: http://www.plc122.com.br/


 Matéria da Record sobre o caso de hoje: http://noticias.r7.com/sao-paulo/homossexual-e-agredido-na-zona-oeste-de-sp-04122012



02/12/2012

BALADA LITERÁRIA

Com André Fischer e Xico Sá. 

"Balada literária" me parece um paradoxo. Apesar de todo o esforço, a literatura ainda está longe das baladas, do agito, da vida cultural-social-recreativa da maior parte dos brasileiros... e dos meus amigos.

E pudemos discutir um pouco isso nesse domingo, de manhã, cedo.

Participei pela terceira vez da Balada Literária do amigo-irmão Marcelino Freire, que está no sétimo ano. Marcelino, vocês sabem, é esse grande cara-alma-escritor que se esforça para colocar a literatura no dia-a-dia do brasileiro. Gente como ele faz mais diferença do que políticas públicas, mas não dá para esperar que escritores, esses seres tão complexados, façam o mesmo. Eu não posso. Mas me esforço. Ao mesmo para acordar cedo, disposto, num domingo de manhã, e participar de um debate.

André Fischer é amigo querido de muitos, muitos anos, desde lá dos 90, quando eu participava do Festival Mix Brasil com vídeos de body art. Sempre foi querido. E hoje foi mediador dos mais competentes. Conduziu muito bem a conversa, abriu para o público, é um cara sempre bom para se ter por perto.

Xico Sá conheço por alto, de noites paulistanas, mas também sempre muito querido. Hiper-inteligente, generoso, e com coisas para dizer. Foi bom estar com ele.

 Efraim Medina Reyes, escritor colombiano com quem já estive em algum evento no Rio, há alguns anos, não pode vir. Pena. Sei que parte do público veio por ele. E sempre acho rico esse intercâmbio, principalmente com escritores latino-americanos; já viajei tanto, já encontrei tantos deles em diferentes eventos; vai se formando um intercâmbio mundial; é bom fazer parte.

Mas o debate:

Pudemos discutir esse aspecto mais (pseudo) pop da literatura, a escrita, a glamurização, as frustrações... Quando a gente começa publicar aos vinte e poucos, acredita que pode tornar a literatura uma coisa mais jovem, mais cool, que vai se mudar a imagem que se tem da literatura e do escritor. Bom, talvez eu tenha contribuído um pouco com isso, mas só um pouco. E espero que os novos meninos continuem com isso.

Digo isso porque não faço muitos eventos, não em São Paulo. Este ano nem fiz lançamento de livro (considerando que o "Garotos Malditos" na Bienal eu não esperava que ninguém fosse, porque ninguém foi mesmo). E as pessoas cobram, perguntam... mas não vão. Porra, hoje, manhã de domingo... Ok, manhã de domingo, não esperava mesmo ver uma porrada de amigos... mas NINGUÉM?!!! Nem MINHA MÃE?!!! NINGUÉM FOI?!!!

Haha. Sério. Nada. Ninguém. Não foi um vexame. Estava cheio. Acho que do povo que frequenta a livraria. Que assiste o Xico Sá no Saia Justa. Mas do meu público, NADA. (Ok, autografei tipo... TRÊS livros...).

E isso é para você ver como a verdadeira vida literária glamurosa é.

Ok, manhã de domingo. Eu sei, o povo acorda tarde. E sei, noite de segunda, o povo está cansado do trabalho. E na noite de terça, o povo ainda não chegou em casa. E todos os dias de semana o povo tem curso. E sábado o povo viaja... Sempre há uma boa desculpa.

Sei que sou um cara negativo, mas os momentos de empolgação não deixo de compartilhar (como final de semana passado, em Ouro Preto). Acho meio ridículo esse povo que é só felicidade, que tudo dá certo, tudo é sucesso e tudo tá lindo. Eu sou do tipo de pessoa que vai pra Nova York e você pergunta: "E aí, como foi a viagem?" e eu não consigo apenas responder: "foi ótimo". Tenho de dizer "ah, foi legal, mas teve uns problemas..." Parece que no mundo oficial todo mundo é feliz e realizado. Hoje achei uma merda. Haha. Ok, nem tanto, o debate foi lindo - sério, fiquei feliz até o final - mas é muito triste convidar tanta gente e NINGUÉM ir. Mexe com a gente, a gente não se sente querido, amado, prestigiado. Você sabe, se lê meu blog, quantas peças/discos/livros de amigos/conhecidos indico. E vou, compareço, divulgo. E você sabe, geralmente eu vou SOZINHO. Vou SOZINHO assistir sua peça, no show do seu DISCO, compro seu LIVRO, depois coloco aqui no blog. Só coloco quando eu gosto, mesmo, mas me esforço para ir/comprar/prestigiar, porque sei como é difícil. Mas esse povo todo parece que está POUCO SE FODENDO para o que eu escrevo. Não me sinto recompensado. Tudo bem, vou me vingar. Eu sou rancoroso.

No Facebook eu brincava que o povo poderia chegar no final, só para autografar os livros, depois almoçaríamos juntos e seguiríamos para um bacanal. Bem...

Terminou o debate, eu autografei um punhado de livros. Conversei com uma querida que está querendo adaptar um texto meu e falei com o Marcelino, André, Xico, ninguém iria almoçar. Segui, sozinho, cabisbaixo para casa, chorando lágrimas de gin....


Acabei parando nessa charutaria na Lorena com a Consolação. Conheço de vista há tempos, nunca tinha entrado. Sentei para almoçar. Sozinho. Comi muito bem (esse macarrão com camarões), e caro. E continuei chorando lágrimas de gin.



29/11/2012

O PENETRA DO BRITPOP

(foto do Will Cavagnolli)

Em 1995, a Inglaterra vivia uma efervescência musical que a imprensa rotulou de "Britpop". Bandas como Suede, Oasis e Blur haviam estourado fazendo um som que remetia a grandes artistas britânicos (Bowie, Beatles, T-Rex e Smiths), com sotaque carregado e letras que descreviam o estilo de vida do Reino Unido.

O Pulp já existia há quase quinze anos, mas nunca havia feito muito sucesso. Lançara uma série de álbuns que iam do folk ao technopop, e que hoje em dia estão basicamente esquecidos (embora eu pessoalmente goste bem de "Separations", de 1992). A coisa começou a mudar em 1994, quando lançaram o excelente album "His 'n' Hers", produzido por Ed Buller (que já havia produzido os dois primeiros discos do Suede). As letras do vocalista Jarvis Cocker eram crônicas britânicas perfeitas. Daí foi só ele tirar os óculos e meter uma chapinha na franja para se tornar o mais novo herói do britpop.



"Different Class", de 1995, é dos melhores álbuns da época, que trouxe além do hino "Common People", grandes hits como "Mis-shapes", "Disco 2000" e "Sorted for E's and Wizz". Eu já gostava da banda desde o disco anterior, e lembro que a primeira vez que ouvi "Common People" foi no programa do Kid Vinil, na Brasil 2000, porque um amigo meu ligou e pediu para ele tocar para mim. (Pois é, 95, nada de Internet. Para ouvir coisas mais alternativas era nessa rádio, em lojas de CD especializadas ou no máximo no programa "Lado B", da MTV.)

Claro que Suede sempre foi minha preferida - sempre me identifiquei mais com os freaks do que com os nerds - mas Pulp foi das grandes bandas da minha adolescência. E eu nunca tinha visto ao vivo, até ontem.

O show no Via Funchal foi impecável. A banda é bem melhor ao vivo do que eu pensava. Jarvis Cocker continua em grande forma, em todos os sentidos, voz idêntica aos discos, grande performer, espevitado e simpaticíssimo, conversou o show inteiro com a plateia, tentando ler palavras em português de uma cola. Estava cheio, mas não estava lotado. Todo um povo da minha geração - indies trintões, na maioria heterossexuais. Fui com a Fabbie, ex-namorada do final dos anos 90,  e encontrei grandes amigos da época. Dançamos todos como se o século não tivesse acabado.


Fabbie era uma menina indie, que hoje se tornou grande empresária e produtora de shows, e amiga para a vida toda. 

Agora voltei a ouvir Pulp. A banda merece todo meu respeito. Pena que não lançam nada novo desde 2001 - a turnê é aquela coisa nostálgica de grandes sucessos. Mas não dá para negar a genialidade das letras do Jarvis:

"Don't bother saying you're sorry / Why don't you come in
Smoke all my cigarettes again / Every time I get no further
How long has it been? / Come on in now, wipe your feet on my dreams
You take up my time / Like some cheap magazine
When I could have been learning something
Oh well, you know what I mean, oh / I've done this before
And I will do it again / Come on and kill me baby
While you smile like a friend / Oh and I'll come running
Just to do it again" ("Like a Friend")


Ou 

You say you've got to go home
cos he's sitting on his own again this evening.
I know you're gonna let him bore your pants off again.
Oh God, it's half past eight,
you'll be late.
You say you've never been sure,
though it makes good sense for you to be together.
Still you bought a toy that can reach the places he never goes.
Oh, now it's getting late.
He's so straight.

Do you remember the first time?
I can't remember a worse time.
But you know that we've changed so much since then,
oh yeah,
we've grown.
Now I don't care what you're doing,
no I don't care if you screw him.
Just as long as you save a piece for me,
oh yeah ("Do you Remember the First Time"). 



Ou a letra de "Common People"

She came from Greece she had a thirst for knowledge,
she studied sculpture at Saint Martin's College,
that's where I,
caught her eye.
She told me that her Dad was loaded,
I said "In that case I'll have a rum and coca-cola."
She said "Fine."
and in thirty seconds time she said,

"I want to live like common people,
I want to do whatever common people do,
I want to sleep with common people,
I want to sleep with common people,
like you."

Well what else could I do -
I said "I'll see what I can do."
I took her to a supermarket,
I don't know why but I had to start it somewhere,
so it started there.
I said pretend you've got no money,
she just laughed and said,
"Oh you're so funny."
I said "yeah?
Well I can't see anyone else smiling in here.
Are you sure you want to live like common people,
you want to see whatever common people see,
you want to sleep with common people,
you want to sleep with common people,
like me."
But she didn't understand,
she just smiled and held my hand.
Rent a flat above a shop,
cut your hair and get a job.
Smoke some fags and play some pool,
pretend you never went to school.
But still you'll never get it right,
cos when you're laid in bed at night,
watching roaches climb the wall,
if you call your Dad he could stop it all.

You'll never live like common people,
you'll never do what common people do,
you'll never fail like common people,
you'll never watch your life slide out of view,
and dance and drink and screw,
because there's nothing else to do.

Sing along with the common people,
sing along and it might just get you through,
laugh along with the common people,
laugh along even though they're laughing at you,
and the stupid things that you do.
Because you think that poor is cool.



Setlist do show

Do You Remember the First Time?
Pink Glove
Underwear
A Little Soul
Disco 2000
Sorted for E's & Wizz
F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E.
Acrylic Afternoons
Like a Friend
Babies
Party Hard
This Is Hardcore
Sunrise
Bar Italia
Common People

Bis:
 O.U. (Gone, Gone)
Razzmatazz
Live Bed Show
Mis-Shapes
Bis 2: 
Something Changed



Jarvis é foda. 

25/11/2012

OURO PRETO 



Ouro Preto foi lindo. Cidade linda, tempo lindo, e o Forum das Letras foi inesquecível. Os debates foram super interessantes, e pude estendê-los nas mesas dos bares, dos restaurantes, com editoras queridas, leitores lindos, escritores que são meus ídolos. 


Perdido pelas ruas de Ouro Preto. Sexta passei HORAS tentando encontrar o caminho de volta para o hotel. Essas ruas tortuosas, essas ladeiras acho que são as únicas coisas que impedem que o Forum seja prestigioso como a Flip. Afinal, fica difícil para os escritores da terceira idade transitarem por lá...


Só tinha ido à cidade naqueles tempos de escola, quando eu não tinha amigos e não gostava de viajar, uns vinte anos atrás. Fiquei impressionado como a cidade é bonita, gostosa, com os museus, barzinhos e cafés. Meio pedante dizer isso, mas me lembrou bem o clima dos bairros medievais europeus, como em Bruges, Barcelona, Tallin. Estava repleto de turistas europeus inclusive, e aquela petizada universitária. Deu vontade de ficar mais tempo. 


O Forum das Letras foi uma série de mesas e discussões centradas em "Como se Faz um Livro", com a visão de escritores, poetas e editores. Foi um evento eminentemente da Editora Record, sim, pelo menos uma vez a panelinha da Cia das Letras não dominou. E agora que já lancei 3 livros com eles, me sinto de fato um autor "da casa". Combinamos inclusive grandes planos para o ano que vem e o outro, aguarde...

Com  Livia, minha editora mais querida. 

Minha mesa foi com Bernardo Azjemberg e Fernando Molica, mediados pelo André Nigri. (Carpinejar deveria participar também, mas passou mal depois de uma operação e não pôde viajar. Parece que está tudo bem com ele). Bem bacana porque foi de fato um bate-papo sobre processo de criação de um romance, com nós três trocando experiências. Odeio esses debates em que cada escritor faz seu discurso, em que não há bate-bola, interação. Procuro sempre também quebrar a "quarta-parede", mostrar ao público que sei que eles estão lá, jogar a bola para eles. 



(Fotos do debate por Eduardo Troppia.)

O debate aconteceu no Cine Vila Rica, lugar lindo, imenso, e estava bem lotado. Sentar lá no palco, olhar para a plateia e já localizar leitores com uma pilhazinha dos meu livros no colo é o mais gratificante. E não, não é sempre que isso acontece. 


Plateia atenta. 

Consegui também assistir outros debates. Foi bacana ver o lado dos editores sobre algumas questões, o processo todo da produção do livro. Eu já participei de quase tudo - escrita, tradução, preparação de texto, projeto gráfico, capa, orelha, aparatos - mas nunca trabalhei numa editora, no dia-a-dia. É importante conhecer esse outro lado. 

Luisa Geisler, Livia e eu. 

Adorei também conhecer a "menina prodígio" Luisa Geisler e reencontrar o grande Antônio Cícero e o lorde João Gilberto Noll, que inclusive entrou noite a dentro comigo e mais uma pá de fãs, bebendo pelas ruas de Ouro Preto. 


 
Voltei para BH com Antonio Cícero, que além de magnífico poeta e letrista é das pessoas mais fofas desse meio. 


 É aquela coisa, o trabalho do escritor é solitário, o dia-a-dia isolado, então essas são as horas para trocar experiências e poder avaliar realmente como anda sua carreira, quem são seus leitores, como você está no mercado. Tem sido incrível perceber que algumas das minhas leitoras adolescentes, de dez anos atrás, hoje já se tornaram editoras. Num jantar de sexta uma editora inclusive me disse que estava "emocionada de me ver, porque fui um ídolo da adolescência dela". Esse é o belo lado de ter me tornado um escritor de meia-idade.

Noll trouxe uma porrada de jovens leitores. Mas meu fígado não pode mais acompanhá-los...


E o próximo grande evento já é no próximo domingo, dia 02, na BALADA LITERÁRIA, organizada pelo meu irmãzinho Marcelino Freire. Tenho um debate 11:30, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. Sei que é cedo, domingo e tal, mas é com Xico Sá e Efraim Medina Reyes, mediados pelo André Fischer, então não tem como não ser divertido.

Aparece lá, que é a última chance do ano para autografar meus livros mais recentes, comprar de presente de Natal e tal e tal.

A balada tem ainda várias outras mesas, shows, espetáculos, e o grande homenageado é Raduan Nassar. Começa agora, dia 28.

Programação completa:

http://www.baladaliteraria.zip.net/


21/11/2012

AGENDA 

Sábado agora estou em Ouro Preto - Forum das Letras - numa mesa com Bernardo Ajzenberg, Fabrício Carpinejar e Fernando Molica mediados por André Nigri. 18h, no Cine Vila Rica (Praça Reinaldo Alves de Brito, 47, Centro). 

Programação Completa http://www.forumdasletras.ufop.br/

E no domingo, dia 02, estou na Balada Literária, numa mesa com Xico Sá e Efraim Medina Reyes, mediados pelo André Fischer. 11:30, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho. 

17/11/2012


UM BODE PARA CHAMAR DE MEU.



Eu não falo de amor.

Amor não existe pra mim.

No meu mundo as pessoas se matam, mas não se casam. Ninguém se casa comigo.

É engraçado quando me perguntam dos temas “homoeróticos”, mais ainda dos temas “homoafetivos” – onde está o afeto? Isso não me interessa. Ao menos, não como tema. Me interessa o conflito, a dor, a solidão, é sobre isso que quero falar. Por isso o silêncio. Por isso nunca me aprofundei nas relações (homo) amorosas, aqui no blog, nos meus livros...

Como um autor gay... Como um autor, e gay, às vezes me sinto devendo à militância. Não me sinto cobrado pela militância, não me entenda mal, ninguém me cobra nada porque literatura não tem importância, não faz diferença, mas eu penso que poderia estar fazendo mais, cada vez que um homossexual leva uma lâmpada na cara, cada um que aparece morto na rua, isso me interessa.

 E quando um colunista equivocado como J.R. Guzzo, escreve um artigo como o que saiu na Veja passada. Um desastre.

Entre outras coisas, ele fala que “casamento gay” não faz sentido por não gerar filhos, compara a relação entre dois homens com a de um homem e uma cabra (o que gerou uma série de divertida paródias da “comunidade” gay) e que os gays “não precisam mais levar uma vida de terror, escondendo sua identidade para conseguir trabalho, prover o seu sustento e escapar às formas mais brutais de chantagem, discriminação e agressão.” (!!!)

Eu não perderia tempo discutindo cada um dos pontos aqui. Porque isso já foi feito por gente mais centrada, e principalmente porque acho que quem lê este blog já tem o mínimo bom senso (espero). Também nunca gostei de pegar os assuntos do momento para tentar audiência. Isso aqui é o Jardim Bizarro, eu sempre quero expor algo diferente. Mas, enfim, claro que é um tema que me cutuca...

Não sou um homossexual nada radical. Não acho que todo homofóbico é enrustido. Prefiro nem acreditar na maldade dos comentários de gente como o Sr. J.R. Guzzo, (apesar desse nome um quanto tanto estranho...). Acho que na maioria das vezes é mesmo apenas ignorância. Cada um é apenas um, A gente não tem ideia do que se passa na cabeça do outro. O hétero que só fez troca-troca com o primo na infância não tem porque não achar que o primo continuou com aquilo por pura sem-vergonhice. Ninguém entende como nasce e se restringe o desejo.

Então não acredito mesmo que um hétero entenda pelo que passa um gay. Uma vida INTEIRA se achando diferente, tanto dos modelos sociais, midiáticos, quanto dentro de casa (pela maioria ser criada em famílias heterossexuais). O negro sofre preconceitos, e não pode esconder sua identidade, mas na imensa maioria das vezes encontra identificação dentro de casa, a família. O homossexual é mais ou menos como o deficiente, que nasce numa família tida como perfeita, mas não se espelha, só que com a vantagem/complicação de poder se esconder.

É ÓBVIO que ser gay hoje ainda é um problema. “BICHA”, “VEADO” ainda são xingamentos, dos mais pesados. Qualquer insinuação de relação gay ainda é considerada ofensiva ou engraçada. Lembro da minha última entrevista no Programa do Jô, ano passado, quando a plateia caçoou por ele ter perguntado se eu já havia pegado numa cobra. Uma brincadeira primária. Minha resposta foi: “Já, qual é o problema?” Tipo, tem algo muito extraordinário por eu ter pegado um pau? Hohoho, que engraçado. Ou que eu tenha chupado, dado; parece que todo mundo nasceu de mãe virgem. Se eu não fiz, sua mãe fez. Se eu não peguei cobra, peguei perereca, aranha, whatever – é mais engraçado? Pois é, ser gay ainda é piada de papagaio.

Hoje se fala que gay está na moda, usa-se expressões como “máfia gay”; eu acho tudo isso uma grande bobagem. Apenas está se reconhecendo que essas pessoas existem, em grandes números. Se houve uma moda, já passou, ficou lá nos anos setenta, sei lá, porque hoje o que é reconhecido como “estilo gay” é a coisa mais cafona que aparece nas novelas da Globo. Não faz parte da moda.

Também uma grande bobagem quem diz que “o que acontece entre quatro paredes não interessa a ninguém”, mentira. Sexualidade é muito mais do que isso. Dita a forma como pessoas se vestem, o som que ouvem, para onde saem, o que procuram no dia-a-dia. E sexualidade é fruto de relações afetivas. Então não é só gente que quer andar de mãos dadas na rua, que quer poder comprar apartamento junto, que quer garantir direito de herança e adoção, é gente que quer ser enxergada, mesmo que não compreendida.

A “propaganda do homossexualismo” bem que poderia existir. Do que esse povo reclama? Precisamos mesmo de mais procriadores? Estamos num mundo superpopuloso, deixe esses inférteis se juntarem, deixem adotarem as crianças sem pai. Deixem-nos se matarem com suas doenças, que seja. E que queimem no Inferno se isso é pecado – o problema é deles. No final só sobrará mais mulher para os poucos héteros comerem. Sério, nunca entendi, qual é o PROBLEMA para um hétero que todos os outros homens do mundo sejam gays?

Ser gay não é fácil, mas como quase tudo na vida, depois que se assume, que se acostuma, fica gostoso. Eu já tive namoradas, não posso dizer que nunca mais vou ter, mas hoje acho difícil de pensar numa convivência com uma mulher na minha casa. Não estou mais acostumado. Mas estou precisando de uma faxineira...

Como propaganda, posso dizer que a relação entre dois homens é bem mais fácil, mais igualitária. Ser gay também te dá acesso a um clube exclusivo internacional. Você pode ir para outra cidade, para o Peru (sem trocadalhos), para a Rússia, Japão e Finlândia que já terá algo em comum, já terá um ponto de contato com pessoas locais. Não acredito que eu poderia viajar como viajei, chegar em bares e boates e fazer amigos tão facilmente sendo hétero. Também não seria tão fácil levar mulheres desconhecidas para a cama...

Também tenho meus bodes com o “estilo de vida gay”, acho que os gays estão cada vez mais caretas, cafonas, coxinhas. A grande maioria adotando esse estilo caricatural “sou machinho”, idolatrando divas pavorosas, investindo na superficialidade. Mas talvez isso seja tudo sintoma dessa resistência da sociedade HT, uma forma de tentar se encaixar em padrões, ser aceito como "normal". 

Eu continuo insistindo na diferença, e a favor da diversidade. A homossexualidade não devia ser problema dos héteros, dos evangélicos, de um colunista reaça da Veja. Eles não têm nada que se meter nisso. Se isso é um problema, é um problema nosso. Quero um bode para chamar de meu. 


ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...