27/06/2012

O QUE ANDA LENDO?

Santiago Nazarian com Tatiana Salem Levy, escritora. (Publicado na revista Metáfora de junho.)

Nazarian: E aí, princesa, o que está lendo?

Levy: É pra dizer a verdade?

Nazarian: Se a verdade for interessante...

Levy: Tô lendo um romance chamado E a Noite Roda, mas é um livro português, ainda não saiu aqui, é de uma jornalista, Alexandra Lucas Coelho, correspondente do jornal “O Público” aqui no Rio, primeiro romance dela. Muito bom. A história se passa no oriente médio, sobretudo em Israel e Palestina, mas também na Espanha; é uma história de amor entre 2 correspondentes em Israel.

Nazarian: Hum, então tem essa coisa de correspondente jornalístico dela... E tem a questão judaica, não? Vocês sempre puxando a brasa para a sardinha de vocês!

Levy: Haha. Não, isso não... tem a questão palestina, é um livro super pró-palestina! Mas posso falar de outro, ou começar a ler outro.

Nazarian: Tá, vai lá no cantinho, te dou meia hora para começar outro e me dizer o que está achando...

Levy: Já sei, tem um que li há pouco, bonzão. Um de um cara q vai atrás de uma casa de ópio, porque diz que nasceu pra fumar ópio. A Última Casa de Ópio, Nick Toshes

Nazarian: Conheço um cara que vivia nas casas de ópio em Amsterdã.

Levy: Sério? Tem casa de ópio em Amsterdã?

Nazarian: Clandestina, mas tem. Bem, segundo ele tem.

Levy: Pô, eu queria fumar ópio, deve ser incrível...

Nazarian: Eu também. Só falta esse...

Levy: Hahaha. Pra mim faltam outros...

Nazarian: O livro alimenta essa vontade?

Levy: Tem a coisa da aura da casa de ópio. Porque ele não quer só fumar ópio, quer fumar numa casa de ópio. E sai viajando pelo Vietnã, por Hong Kong, Tailândia, atrás da tal casa; e eu estava nesses lugares agora.

Nazarian: Acho que mesmo quando esses livros trazem uma visão negativa, acabam dando uma vontade... O que tem de adolescente que resolve experimentar depois de ler "Christiane F". Eu fui meio assim...

Levy: Ah, total. Mas o dele não é nada negativa. Diz que nasceu pra fumar ópio, e depois de fumar diz que tinha toda a razão.

Nazarian: Felizmente livros não são produtos de massa, senão já caía juiz em cima querendo recolher o livro por apologia... Recolheriam Lolita por apologia à pedofilia... Acho que o Brasil está chegando nesse ponto.

Levy: Tá complicado. Se os evangélicos tomarem conta então, fodeu.

Nazarian: Melhor a gente ficar quietinho, não dar ideia, senão os livros passarão a vir com "classificação indicativa" (Ops! Já dei)

A Última Casa de Ópio, do jornalista Nick Toshes, foi publicado no Brasil pela Conrad, em 2006. 


26/06/2012

UM CONTO DE FADAS PUNK

Com Laura Albert, a criadora de JT LeRoy. 


“Nós preferimos que as crianças abusadas morram. Porque daí podemos ir para a porta de suas casas, colocar flores, ursinhos de pelúcia. Mas quando as pessoas encontram uma criança que foi abusada, ela não é uma criança fofa. Ela teve de sobreviver por muita coisa. Ela rouba nossa casa, bate nos nossos filhos. Nós a queremos morta. Queremos uma fantasia. No meu trabalho era importante mostrar uma visão mais realista.”


Saiu na revista Metáfora deste mês a entrevista exclusiva que fiz com Laura Albert, autora do personagem/autor JT LeRoy. Não vou colocar aqui, compre a revista nas bancas (também tem um bate-papo meu com a Tatiana Salem Levy). Laura foi fofíssima, contou toda a história em detalhes e ainda gravamos um videozinho para o videolog do Duilio Ferronato (que não sei quando/se vai ao ar). 

Falando em JT, há uns dez dias fui na estreia da peça baseada na história dele, JT Um Conto de Fadas Punk. Gostei bem, bem. Conta muito bem a história, é divertida e os atores estão ótimos. Olha o serviço aí: 





Falando em peça. Feriado de Mim Mesmo, da Cia Teatro de Extremos, baseado no meu livro, reestreia agora rapidinho no Rio (flyer abaixo). Em agosto, passa por SP. Assim que tiver os detalhes, eu aviso. Espero que a peça circule mais e fique mais tempo em cartaz, porque assisti ano passado e fiquei bem feliz com o resultado. 




E além da Metáfora, onde tenho escrito mensalmente, este mês estou com Mário Prata e Barbara Gancia na revista Glamour, cada um com um continho "de amor" (por causa do dia dos namorados). O meu é um conto de amor platônico, meio bittersweet, mas mais sweet do que tenho sido ultimamente. 

Tem também uma crítica que fiz para a Bravo!, sobre o novo filme do Tim Burton, mas essa não sei ainda se saiu, então não vou dizer o que achei...


Eu e Laura, unidos por um romance bizarro. 



20/06/2012

O QUE ANDA LENDO?


Nina Lemos, jornalista.


Nazarian: Enton, Nina, o que anda lendo?

Lemos: Eu amei o último Paul Auster, Sunset Park. Sobre a crise americana. Tem até uns squatters. Você leu?


Nazarian: Não, li pouca coisa dele, e confesso que não gosto muito. Li Cidade de Vidro e um que chama Mr. Vertigo...


Lemos: Mas esse é foda porque é pop. Pensa, crise, falta de casa...


Nazarian: Será que ele sabe o que é crise? Hoje em dia?

Lemos: Ele romantiza, mas fala dos jovens. Tipo, o personagem principal recolhe entulho de casa abandonada. E tira foto das coisas. É bem legal, viu? Mas eu acho que é uma crise maior do que a crise deve ser.


Nazarian: Como assim?

Lemos: Vou falar loucuras, mas não sei se a crise do mercado imobiliário nos EUA é tão grande assim. Haha. O livro coloca como uma coisa beeem grande. Tipo América devastada, ocupação no Brooklin, jovens sem grana.


Nazarian: Uma coisa apocalíptica?


Lemos: Éeee, meio Berlim demais pros EUA, eu acho. Como se os jovens americanos estivessem mais alternativos do que eles são.


Nazarian: Mas ficção é isso, né? A gente não precisa ver os EUA reais... Talvez esse EUA seja mais interessante...

Lemos: Como se alguém escrevesse sobre a especulação imobiliária em SP. Por sinal, alguém podia escrever. E pensando, é legal um livro americano sobre... como é a palavra mesmo? Gentrificação.


Nazarian: Bem, acho que a crise no Brasil tem data certa para acontecer, e vai ser muito mais grave do que a europeia, porque a gente não tem séculos de estrutura em educação, saúde, transporte... A crise aqui começa quando o Brasil perder a copa.


Lemos: A gente já tá na crise!!! Pinheirinho. Ocupação Mauá.


Nazarian: Mas tem essa euforia do consumo...

Lemos: ...mas assim, essa coisa da moradia, especialmente tá foda, não é à toa que o Mano Brown foi lá e gravou o clipe na ocupação Mauá. O Emicida deu uma entrevista incrível sobre isso. A gente reclamados aluguéis e dos prédios neoclássicos, mas pobre NÃO TEM ONDE MORAR e em SP é pior, Kassab, cracolândia, incorporadoras... A gente tá muito fodido e infeliz.

Sunset Park, do Paul Auster, foi publicado no Brasil pela Cia. das Letras.




15/06/2012

PÍLULAS MALDITAS




– Uau! Ludovique, né? Ou Lu-do?
– Ludo, pode ser.
– Uau! Bonitão você. Vai fazer sucesso com as gatcheeeenhas daqui, hahaha. Peraí...
A diretora pegou meu histórico e deu uma olhada. Fiquei olhando para ela, não querendo olhar, meio assustado. “Uau”? “Gatcheenhas”? Não que o jeito de animadora de palco dela me impressionasse tanto, me impressionava mais o decote, e os peitos que pareciam ter cinco litros de silicone em cada. Aquele cabelo descolorido, escorrido, chapinhado. Cara de plástica, botox e uma vida na indústria pornográfica. Essa era minha diretora no Colégio Pentagrama? Dona... Samanta... Era isso, dona Samanta?
– Samantha, só, não precisa de “dona”, mas com agá, hein? – cacarejou minha diretora.
– Certo. – Segurei o riso.






Quando você já está morto, e pode atravessar paredes, possuir corpos e assombrar a galera em geral, por que vai querer uma mãe por perto te atazanando? Por que um fantasma seria carente a esse ponto?
Era o que eu me perguntava, assistindo ao final de um filme de terror japonês no meu celular, enquanto esperava com a minha mãe na sala da diretora.
– Detesto esses filmes de terror emque o fantasma é bonzinho, que o fantasma só é mal compreendido e precisa de amor. Fantasma tem de ser mau! Fantasma tem de ser mau! – deixei escapar.
Minha mãe puxou o fone do meu ouvido.
– Desligue isso, Ludo. Não precisa ficar assistindo essas coisas até aqui, a essa hora da manhã.
Ah, “essa hora da manhã.” Muito cedo para ver filmes de terror, né? Mas o horário perfeito para aprender sobre equações exponenciais. Bem, eu não estava aprendendo muita coisa naquele colégio, isso é certo, e também por isso minha mãe estava do meu lado, esperando para falar com a diretora, que estava demorando horrores.






– Sonhei com você ontem – me disse ela.
– É? – Fiquei meio sem graça. E acabei dizendo o que não devia. – Também sonhei com você outro dia...
– Sério? O que você sonhou?
Ai, pamonha. E agora o que eu ia dizer a ela, que tive um sonho bizarro dela e do Lupe querendo me levar para o Inferno?
– Diz você primeiro: o que sonhou?
Camila riu.
– Não, diz você, perguntei primeiro...
– Mas você já começou contando...
– Está com vergonha de me dizer o que sonhou, Ludo?
Fiquei todo vermelho.
– Ah... não, tipo, não foi nada demais... A gente estava numa floresta...
Ela ficou me encarando, assentindo com a cabeça, encorajando:
– E..?
– E nada, tinha um... lobisomem atrás de você, e eu te salvava. Só isso.
Camila riu.
– Que fofo, Ludo!
Er... hum, “fofo”. Me saí bem?
– E você, o que sonhou?
Ela então ficou mais séria.
– Ah, nada demais também, foi só um sonho erótico.




– Então, você é virgem?
Pffffff, o mesmo papo de sempre. Agora eu até acreditava que era realmente aquela caveira quem falava comigo, aquela caveira era meu psicólogo, o dr. Yorick. Mas que papo era aquele? Por que ela ou ele estava tão interessado na minha vida sexual?
– Olha, eu vim aqui para falar sobre minha transformação em lobisomem, se sou virgem não é problema seu.
– Hum, estou achando então que é sim, é virgem sim, não quer admitir.
Afe, agora essa, a caveira tirando onda com a minha cara.
– Você não me escutou? Eu não quero falar da minha vida sexual.
– Virgem-em-em, virgem, lalalá – cantarolou ela. Que coisa infantil. Era de se esperar que uma caveira, ainda mais de um psicólogo, fosse mais madura.
– Eu não sou virgem, já falei!
– Sexo oral não conta.
– Mas não sou virgem de jeito nenhum! – Oops! Não, não era bem assim. – Quero dizer, já transei com mulher sim, eu tinha namorada no colégio anterior.
– Acho que está é querendo contar vantagem... – A caveira continuava aloprando comigo. Que raiva.
– Que contar vantagem, cabeça oca? Que contar vantagem? Tinha namorada sim.
– Virgem-em-em, lalalá.

[Trechinhos de Garotos Malditos, meu primeiro romance juvenil, contemplado no programa Petrobrás Cultural. Lançamento em agosto, pela Record. Ilustrações de Lestrange.]

13/06/2012

O QUE ANDA LENDO?

Jairo Bouer, médico psiquiatra e comunicador.


Nazarian: Jairo, bora fazer minha entrevistinha?

Bouer: Beleza. De quanto tempo precisa?

Nazarian: Ah, uns quinze minutinhos...

Bouer: Onde estás?

Nazarian: Tô em casa, SP. Mas eu faço por aqui mesmo. A ideia é ser esse chat.

Bouer: Ok, manda bala Santi.

Nazarian: Então, como eu falei, o que está lendo, ou um último livro que leu. Se for ficção, melhor.

Bouer: Ok. Vamos lá.

Nazarian: Me fala o livro! Hahah.

Bouer: Então, pode ser mais de um... Ou eu escolho? É que sempre leio 3-4 ao mesmo tempo.

Nazarian: Me fala um livro bacana que dê para a gente conversar, ou que renda conversas paralelas interesantes.

Bouer: Ok. Manda. Escolhi.


Nazarian: É para eu adivinhar?!

Bouer: Claro... Haha.

Nazarian: Pornofantasma, de Santiago Nazarian.

Bouer: Haha... Não... Pois então, tô lendo o último livro que encontrei do Armistead Maupin... Já ouviu falar dele?

Nazarian: Ahhh, ótimo. Gosto bem do Night Listener. Qual está lendo?

Bouer: Night Listener é incrível, Maybe the Moon também. Mas agora ele voltou à série Tales of the City. O novo livro se chama Mary Ann in Autumn; a protagonista da série volta a São Francisco vinte anos depois para reencontrar os amigos...

Nazarian: Você já leu a série toda? São oito, não? É meio obrigatório seguir ou dá para ser lido independentemente?

Bouer: Sim, sim, comecei há uns vinte anos quando morava em Londres. Dá para ler sem ter lido os outros. Mas acho que há muito mais signficados e desdobramentos se você tem pelo menos uma ideia do que já se passou.

Nazarian: Acho que eu só segui assim com a série infantil O Pequeno Vampiro, haha, e os livros do João Carlos Marinho. Sou pré-Harry Potter. Os livros do Maupin foram inicialmente publicados em jornal, é isso? Uma espécie de folhetim...

Bouer: Ele começou no San Francisco Chronicle, se não me engano, como um folhetim mesmo. Daí foi publicando alguns livros. É a vida de um grupo de amigos em SF na passagem dos 70 para os 80... Ex-hippies, yuppies, AIDS, as diversas possibilidades de se viver a sexualidade humana, drogas, media power...

Nazarian: É muito gostoso quando você pega um romance, convive com o personagem, depois sente falta dele. É bacana trazer essa sensação que as pessoas hoje só têm com novelas, com seriados... A série vai se atualizando ou fica naquela época?

Bouer: Pois é... É muito legal isso que você disse. É como se você deixasse os personagens na geladeira por vinte anos. Daí sente saudades e resolve "ver" como eles estão hoje. Nesse livro, a Mary Ann tá com 57, e volta a SF para entender/resolver uma série de crises e nós que deixou amarrados no passado. A Mary Ann e sua turma passaram por muita coisa nesses 20 anos... Daí você faz uma ponte e os joga no futuro. Incrível, não? E para o leitor é tão bom reencontrá-los... Sentia uma puta falta deles, sabe? Tipo sete livros é foda, muita intimidade, hehehe.

Nazarian: Putz, adoraria fazer isso. Mas eu mato todos os meus personagem. Só se deixasse na geladeira literalmente, como criogenia. Estava comentando inclusive que se eu tivesse filho, não teria mais nome para dar, porque já gastei todos que eu gosto nos meus personagens... que tiveram destinos trágicos.

Bouer: Você vê novela, Santi?

Nazarian: Não vejo. A última que segui foi Senhora do Destino. Mas acho que uma série de livros assim pode ser uma boa pedida. Fiquei com vontade... Morre muita gente?

(A série Histórias de Uma Cidade foi publicada no Brasil pela Record.)

09/06/2012

WHEN I'M AN OLD MAN

When I'm an old lady, I'm gonna be his baby. I'm gonna wrap myself around him. And then I'm gonna kiss him. But that's a way down the line. You see for now he isn't mine. But I don't mind waiting. And the long is not aching. ("Old Lady", Sinéad O'Connor)


Quando eu for velhinho... eu não vou ser velhinho. Ao menos, não no diminutivo. Quero ser daqueles velhos de quem as crianças têm medo. Um velho mau. Quando a bola cair no meu quintal.

(Já poderia ser assim, se eu tivesse um quintal...)

Imagino o que pensam os vizinhos...

Eu sou o perfeito psicopata. Eu sou o estereótipo. Sempre de preto, calado, sozinho, não sei o nome de um morador deste prédio (e, ainda que com idas e vindas, estou neste apartamento há 9 anos). Raramente trago gente para cá. Não gosto de receber amigos. Não dou festas. Não gosto de gente na minha casa. Tarde da madrugada, assisto a coisas como Wolf Creek, Rec, 30 Dias de Noite, Morte Súbita, O Massacre Da Serra Elétrica. Imagino o que pensam os vizinhos. Tarde da madrugada, sempre mulheres berrando. Se houvesse uma votação para o psicopata perfeito do bairro, seria eu o vencedor. Só estragou um pouco minhas idas ao Jô. Agora os porteiros sabem quem eu sou. Legitimou a coisa do excêntrico, escritor. Não sou psicótico porque sou famoso.

Passei os últimos 4 dias trancados aqui. Deixando o cabelo crescer, a barba crescer, uma garrafa de Jack Daniels, muito trabalho a fazer. Uma pequena crise.

Os últimos dias também foram matadores no clima, no cinza. Dá para ter uma pequena, pequena, pequena ideia do que foi meu mês inteiro de dezembro em Helsinque. Mas estava esses dias relendo meus posts de lá; parecia uma melancolia tão feliz...

Para não ter de sair, pedi delivery do Sushi Express, Almanara, Ritz. Hoje percebi que não tinha mais papel higiênico em casa, água, coloquei minha capa, chapéu e fui ao mercado (foi quando fiz essa foto). Queria ter também uma bengala. Meu joelho está fodido e estou mancando. Fodi há mais de um ano, no kite... Nah, na verdade caí de um palco, quando estava discotecando numa festa do Fabiano Karvax. E quando já tinha melhorado, fodi de vez no kite surf. Esta semana voltou a piorar. Agora sou um velho maldito completo. Não! Falta a bengala.

Pode ser um personagem. Mas é o personagem que eu de fato sou. É sustentável. E assim me sustento, ainda que manco. Posso estar mancando, mas posso chamar o delivery, será meu mote da vez.

Acho que o tempo está a meu favor, apesar de gay. O tempo é sempre aliado (a pressa inimiga) de um escritor. Me sinto muito mais velho do que eu sou . Ou talvez não, talvez me sinta mais velho do que meus amigos gays de 40 que, como gays, se sentem mais jovens do que são. Velho e cansado. Mas numa boa vibe. Eu sempre pensei que o mais importante era aproveitar ao máximo cada idade, e eu já aproveitei demais. Aproveitei ao ponto de basicamente não ter mais sonhos a realizar. Isso diminui um pouco o ânimo, as vontades...

Isso tudo não é só para dizer que estou apaixonado. Veja só, ainda é possível, na terceira idade. Estou apaixonado, mas estou só.

E isso não é tudo.




05/06/2012

O QUE ANDA LENDO?

Bianca Tadini, uma diva nacional dos musicais. [Foto: Otávio Dias]



Nazarian: Princesa, o que está lendo, ou um último livro bacana que leu?

Tadini: Acabei de ler Patti LuPone: A Memoir. É uma espécie de auto-biografia de uma das maiores divas de teatro musical americano. Ela é uma figura bem interessante, conta vários podres do meio, alfineta muita gente e ri dela mesma.

Nazarian: É mais porra louca ou mais velha dama?

Tadini: Ela é as duas coisas, por isso ela é tão interessante. Ela fez parte da primeira turma de Julliard de teatro, então viveu essa coisa de trupe de teatro, a loucura dos anos 60, 70 e 80; ela é de família italiana. A avó dela fazia bebida e vendia álcool escondido durante a Lei Seca e diz que assassinou o próprio marido.

Nazarian: Mas ator de musical precisa ter uma disciplina extra, não? Não só pela voz, mas pela coisa ser mais marcada, coreografada...

Tadini: Precisa. Então, ela foi quem fez a Evita na Broadway, e era um papel muito difícil de cantar, ela teve muita dificuldade, mas ganhou o Tony, e estudou muito mesmo durante a temporada; só que eram os anos 80, então saindo do teatro ela fazia uma vez por semana um show num clube gay, o Les Mouches. Ela é uma mulher intensa, e doida. Genial.

Nazarian: Um show meio drag?

Tadini: Não, era ela cantando grandes sucesso. E as bichas piravam. O show foi um hit, ficou um tempão em cartaz, lotado, e ela ao mesmo tempo fazendo Evita. Ela é um dos nomes mais respeitados no meio, mas é conhecida por ter uma personalidade forte e ser meio explosiva.

Nazarian: Você, como cantora de músical [Bianca Tadini já participou de várias montagens no Brasil, como O Mágico de Oz, O Fantasma da Ópera e Evita], lendo uma coisa dessas te impulsiona ou te deixa meio brochada?

Tadini: Olha, me impulsiona, porque ela é um gênio. Ela é tão entregue ao que ela faz, e apesar das explosões, vale a pena. Ela teve uma vida tão rica, tanta coisa para contar, tantos papéis incríveis...

Nazarian: Mas o mercado aqui deve ser muito diferente, não?

Tadini: É diferente sim. Acho que aqui ainda não temos nomes com tanto peso e importância como ela, por uma questão de tempo. O teatro musical aqui é jovem comparado com o dos Estados Unidos, que existe há mais de cem anos. Temos as grandes damas do teatro, a Bibi, a Marília Pera, que fazem musicais. Mas esse mercado cresceu há pouco aqui. Fora que ela, por morar lá, entra em contato direto com pessoas como o Sondheim, o Andrew Lloyd Webber...

Nazarian: Será que as grandes damas daqui contariam tudo num livro de memórias? Tenho a impressão de que a classe artística daqui é bem mais pudica, ou hipócrita. Ninguém usa drogas, ninguém comete homossexualidades...

Tadini: Eu acho que aqui nós somos mais comedidos. E no caso da Patti, a loucura faz parte da persona, né? Acho que em geral o brasileiro, como povo, gosta de ser legal, de ser unanimidade, sabe? O brasil precisa de mais gente que bota a boca no trombone; todo mundo muito politicamente correto, se levando muito à sério, não era assim, hahaha...


Patti LuPone: a Memoir ainda não tem tradução no Brasil.

NESTE SÁBADO!