05/06/2012

O QUE ANDA LENDO?

Bianca Tadini, uma diva nacional dos musicais. [Foto: Otávio Dias]



Nazarian: Princesa, o que está lendo, ou um último livro bacana que leu?

Tadini: Acabei de ler Patti LuPone: A Memoir. É uma espécie de auto-biografia de uma das maiores divas de teatro musical americano. Ela é uma figura bem interessante, conta vários podres do meio, alfineta muita gente e ri dela mesma.

Nazarian: É mais porra louca ou mais velha dama?

Tadini: Ela é as duas coisas, por isso ela é tão interessante. Ela fez parte da primeira turma de Julliard de teatro, então viveu essa coisa de trupe de teatro, a loucura dos anos 60, 70 e 80; ela é de família italiana. A avó dela fazia bebida e vendia álcool escondido durante a Lei Seca e diz que assassinou o próprio marido.

Nazarian: Mas ator de musical precisa ter uma disciplina extra, não? Não só pela voz, mas pela coisa ser mais marcada, coreografada...

Tadini: Precisa. Então, ela foi quem fez a Evita na Broadway, e era um papel muito difícil de cantar, ela teve muita dificuldade, mas ganhou o Tony, e estudou muito mesmo durante a temporada; só que eram os anos 80, então saindo do teatro ela fazia uma vez por semana um show num clube gay, o Les Mouches. Ela é uma mulher intensa, e doida. Genial.

Nazarian: Um show meio drag?

Tadini: Não, era ela cantando grandes sucesso. E as bichas piravam. O show foi um hit, ficou um tempão em cartaz, lotado, e ela ao mesmo tempo fazendo Evita. Ela é um dos nomes mais respeitados no meio, mas é conhecida por ter uma personalidade forte e ser meio explosiva.

Nazarian: Você, como cantora de músical [Bianca Tadini já participou de várias montagens no Brasil, como O Mágico de Oz, O Fantasma da Ópera e Evita], lendo uma coisa dessas te impulsiona ou te deixa meio brochada?

Tadini: Olha, me impulsiona, porque ela é um gênio. Ela é tão entregue ao que ela faz, e apesar das explosões, vale a pena. Ela teve uma vida tão rica, tanta coisa para contar, tantos papéis incríveis...

Nazarian: Mas o mercado aqui deve ser muito diferente, não?

Tadini: É diferente sim. Acho que aqui ainda não temos nomes com tanto peso e importância como ela, por uma questão de tempo. O teatro musical aqui é jovem comparado com o dos Estados Unidos, que existe há mais de cem anos. Temos as grandes damas do teatro, a Bibi, a Marília Pera, que fazem musicais. Mas esse mercado cresceu há pouco aqui. Fora que ela, por morar lá, entra em contato direto com pessoas como o Sondheim, o Andrew Lloyd Webber...

Nazarian: Será que as grandes damas daqui contariam tudo num livro de memórias? Tenho a impressão de que a classe artística daqui é bem mais pudica, ou hipócrita. Ninguém usa drogas, ninguém comete homossexualidades...

Tadini: Eu acho que aqui nós somos mais comedidos. E no caso da Patti, a loucura faz parte da persona, né? Acho que em geral o brasileiro, como povo, gosta de ser legal, de ser unanimidade, sabe? O brasil precisa de mais gente que bota a boca no trombone; todo mundo muito politicamente correto, se levando muito à sério, não era assim, hahaha...


Patti LuPone: a Memoir ainda não tem tradução no Brasil.

ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...