19/10/2012

VIDA DE FÃ

Na coletiva do Suede. 


“Legal essa banda, o que é?” Daniel perguntara. E no começo só tinha coragem de ouvir em fones de ouvido. As vozes andróginas, conotações ambíguas, guitarras rasgadas e paixões miadas diziam tanto sobre ele que ele nem sabia, não queria que os pais soubessem. - de "Marshmallow Queimado" @ Pornofantasma.



Suede está no Brasil, finalmente, pela primeira vez. Vieram para show curtinho no Terra, junto a uma caralhada de bandas que não me interessa. Eles devem tocar apenas os hits - se é que se pode dizer que eles têm hits aqui no Brasil, mas não importa. Eu não poderia perder. Suede é a banda da minha adolescência, da minha vida, que diz muito do que eu sou. 


Vendo da grade, em 2002. 

Descobri lá pelos 16, quando eles estavam no auge. Eu tinha acabado de voltar da Inglaterra, e as "guitarras rasgadas, paixões miadas," me seduziam e me intimidavam. Ganhei o primeiro CD de aniversário da minha namorada do ensino médio (que naquela época era chamado de "Colegial"), logo virei fanático. 

Com Simon, baterista (2002). 

Acompanhei single a single - ainda tenho todos. Quando a internet ainda rastejava, lia sobre as novidades da banda nas revistas importadas, nos semanários britânicos. Em 2002, quando morei em Londres, assisti dois shows da turnê "A New Morning", um com orquestra, outro num festival, da grade. Conheci o baterista, Simon; bati altos papos com o primeiro (e melhor) guitarrista, Bernard Butler; cumprimentei o vocalista Brett Anderson numa festa. 


Com Bernard Butler e David McAlmont (2002). 

Nunca deixei de gostar, nunca deixei de escutar, embora seja um fã com espírito crítico; não amo tudo, mas não gosto de pouca coisa. Continuei acompanhando a carreira solo de Brett Anderson, gosto muito do último álbum, "Black Rainbows", e me empolguei quando soube que o Suede iria voltar, em 2010. 

Em São Petersburgo, dezembro passado. 

Ano passado, assisti um show deles na Rússia. Para mim foi ainda mais especial por terem tocado 7 músicas inéditas. Não é a mesma banda de 1993, mas ainda é minha banda favorita. 

Hoje de manhã, aqui em São Paulo, fui na coletiva de imprensa deles, num pub britânico. Estava meio triste, uma dúzia de gatos pingados jornalistas, mostrando que a banda não atrai tanta atenção. Não pude deixar de tietar, me assumir como fã, dizer que já citei Suede em diversas passagens dos meus livros (como a que abre o post) e perguntei sobre as músicas inéditas do show de São Petersburgo, especialmente as que mais gostei, se entrariam no CD novo ou como B-sides. Matt (o baixista) foi muito simpático, disse que foram deletadas, mas que eu posso esperar "músicas muito melhores no novo disco."

Depois da curta coletiva com os jornalistas, abriram para os 50 fãs que estavam do lado de fora, que foi a parte mais bonitinha. Lindo ver aqui no Brasil gente tão apaixonada, empolgada, tirando fotos e tremendo ao vê-los de perto. A banda foi atenciosa respondendo perguntas, mas não deu espaço para fotos pessoais e autógrafos, compreensível. 

Eu mesmo não acho que ídolo precisa ser acessível (nem simpático), só precisa manter um relacionamento respeitoso (dos dois lados). Você admira um artista por seu trabalho, não por sua simpatia. E eu também já passei da idade de perseguir ídolo, de ir além das oportunidades oficiais. (A ocasião mais bizarra que tive como groupie/stalker foi uma noite que terminei literalmente na cama com Marilyn Manson, aos 19 anos, conversando e vendo o cara cheirar; mas isso fica pra outro post...)

Brett Anderson te despreza. 


Matt e Neil (o tecladista) foram os mais simpáticos. Algumas perguntas eles devem estar cansados de responder, como um jornalista que perguntou sobre "a saída de Bernard Butler". "Isso aconteceu há 20 anos!" disseram. E brincaram chamado Richard Oakes de "o novo guitarrista". Gostei quando perguntaram sobre bandas brasileiras, e eles citaram os queridos do Tetine, uma dupla eletrônica de amigos que também acompanho há tempos, e que está há anos radicada na Inglaterra. Isso aí, menos Caetano, mais Tetine.


Com Márcio Custódio, amigo das antigas e fã como eu, hoje na coletiva. 

Para mim, o show amanhã vai ser mais para uma celebração entre amigos, rever gente querida que não vejo há tempos, encontrar outros fãs. Confesso que o repertório só de hits não me empolga tanto. Não estive em tantos shows deles, mas já ouvi essas músicas tantas, tantas vezes, que estou muito mais ansioso por um disco novo.

Para quem ainda não decidiu se vai, ou não conhece, nunca ouviu, fica uma amostra do melhor que eles fizeram. Hoje em dia não é a mesma coisa, mas é a banda da minha vida.



Now you're over twenty one... ohhh... now your animal's gone. 



MESA

Neste sábado, 15h, na Martins Fontes da Consolação, tenho uma mesa com o querido Ricardo Lisias . Debateremos (e relançaremos) os livros la...