04/01/2013

NOVO ANO VELHO

Amigos em Floripa. 


O tempo não ajudou. A semana que passamos em Floripa, para a virada do ano, foi chuvosa, nublada, com até algumas noites frias. Mas o clima dos amigos com certeza foi a melhor coisa desse novo ano e do que passou.


Friozinho na Praia Mole. 

Não estou acostumado a viajar em grupo. Estou acostumado a viajar sozinho. E tinha combinado apenas com três amigos mais próximos, que foram agregando gente, agregando gente, e terminamos em nove, com mais um punhado de visitantes que vieram e foram. 

Meu 2012 foi muito tenso, eu ando muito tenso, e não posso dizer que o clima de praia tenha servido para eu relaxar. Isso porque praia nessa época é uma muvuca só; a ilha não é a mesma que eu reconheço, onde morei e venho sempre, não dá para fazer os mesmos programas, no mesmo ritmo, com a mesma tranquilidade. Além disso, houve alguns incidentes de fato pesados.  

Nem precisaria. Eu já embarquei tenso porque achei que tinha perdido a chave de casa (e do cadeado da mala). Depois que encontrei a chave, fiquei tenso por ter esquecido parte das roupas. E o tempo todo fiquei tenso pensando se o dinheiro ia dar. E me achando acabado. E lamentando o fantasma do Natal passado. Hoje em dia é assim, das pequenas às maiores coisas me deixam numa tensão obsessiva de que não consigo me desligar. 



Mas detesto ser uma má companhia e me esforcei para não transparecer e me lamentar para os amigos. Em grande parte do tempo, preferi ficar sozinho. Pude andar de bicleta, caminhar, nadar, isso valeu. Ter  um pneu da bicicleta furado - e empurrar durante uma hora até achar um bicicleteiro - foi das menores ansiedades, mesmo. Essas coisas de esforço físico acabam me dando um saldo positivo. O problema é sempre o tédio, o tédio...

Na prainha do Leste. 

No fim de semana, me encontrei com um menino que não via há tempos. E tivemos uma boa noite juntos. Mas no dia seguinte ele começou a passar mal, vomitar e nem conseguia mais andar com dores no corpo. Médicos na pousada cogitaram leptospirose, dengue, hepatite, e eu passei um dia inteiro cuidando dele, esperando alguma melhora, já que o trânsito da temporada dificultava qualquer viagem de emergência. Terminei às 5h da manhã do dia 31 com ele no hospital. Aparentemente, era só uma desidratação severa. Às oito da manhã saímos do hospital e ele foi embora para a casa da avó, que era o melhor lugar que ele tinha para ficar, apesar de ela ter alzheimer e não reconhecê-lo mais. E assim foi. 

Boys magia. 

Depois tive alguns dias de mormaço. A virada do 31 para primeiro foi bacana. Os meninos improvisaram uma ceia bem gostosa. Todos compraram champagne e espumantes. Eu fiz uma playlist de músicas tentando agradar a todo mundo (apesar de eu não conhecer a maioria) e fui recompensado com todo mundo cantando uma música ou outra, todo mundo satisfeito, ninguém pediu para pular nenhuma música (mesmo em algumas coisas de gosto duvidoso onde reconheço que segui o padrão "festa de firma"). 


Nosso show da virada. 

Olha a playlist completa da nossa ceia de reveillon: 

Dance, Dance, Dance - Lykke Li
Polite Dance Song - The Bird and the Bee
Beautiful Ones - Suede
This Love - Maroon 5
Cant Take my Eyes Out of You - Zard
Garoto Maroto - Alcione
Festa do Interior - Gal Costa
Descobridor dos Sete Mares - Tim Maia
Taj Mahal - Salomé da Bahia
Sorte Grande - Ivete Sangalo
Fugidinha - Michel Teló
Tudo Pode Mudar - Metrô
In My Arms - Kylie Minogue
A Alegria Voltou- Cachorro Grande
Iê Iê Iê - Arnaldo Antunes
Tomorrow Never Knows - The Beatles
Let Forever Be - Chemical Brothers
Ready for the Floor - Hot Chip
Circuit Breaker - Royksopp
Phoenix - The Prodigy
Voyage Voyage - Dessireless
Don't You Want Me - Human League
Silent Morning - Noel
The Promisse - When in Rome
Girls Just Wanna Have Fun - Cyndi Lauper
Boys Don't Cry - The Cure
Maria - Blondie
Modern Love - David Bowie
Fullgas - Marina Lima
Ovelha Negra - Rita Lee
Oito Anos - Adriana Calcanhotto
Ding Ding Dong - Les Rita Mitsouko
Oh Yeah - Yello
I Go to the Doctor - Tetine
Ragatanga - Rouge
He-man - Trem da Alegria
She Bangs - Rick Martin
Americano - Lady Gaga
Maria Sapatão - Chacrinha
A Pipa do Vovô - Silvio Santos

Virei o ano de charuto na boca, para ver se me traz... dinheiro, ao menos. 

Fora isso, foram caipirinhas e caipirinhas na praia. Camarões. Deu para pegar uma cor. Ficamos todos na Pousada Marujo (http://www.guesthousemarujo.net/), hospedados pela Ida, que é literalmente uma mãe para mim nesta ilha, e sempre é meio mãe de todo mundo. 

Uma mãe. 

Foi uma boa experiência viajar com tanta gente, depois de tantas viagens sozinho. Constatei o óbvio: que não dá para esperar por companhia para as coisas a que me acostumei a fazer sozinho. Tipo, ninguém estaria disposto a pedalar 4 horas seguidas, ou caminhar 12 quilômetros. Se eu tivesse amigos com essa disposição física, certamente não seriam pessoas com quem eu conseguiria conversar, rir, beber. Por mais que eu queira, não dá para esperar que o outro queira fazer as coisas do meu jeito. É preciso encontrar um equilíbrio comum, ou simplesmente continuar fazendo sozinho, coisa que fiz muito esses dias. Mas já é lindo ter amigos que respeitam isso, que me entendem e me dão esse espaço. Como eu disse: os amigos foram a melhor parte. 

Amigo gatão que lê Kerouac na praia. 

Foi cada um no seu quadrado. Ou cada um no seu retângulo, se consideramos o IPhone. O atual estado dos gays é assim: perpetuamente plugado no Grindr, Scruff e outras redes sociais/aplicativos de pegação. Eu tenho, claro, já escrevi sobre isso aqui. Mas não consigo me divertir muito. Não tenho vontade de encontrar ninguém, não encontro ninguém, então acessar não se torna um hábito obsessivo. ISSO, ao menos, não se torna um hábito obsessivo. Mas a galera toda estava sempre assim, sempre com o IPhone na mão, chegando as mensagens, na praia, na pousada, no restaurante. Acho apenas curioso; não me incomoda. 

Mas houve ainda outro incidente, meio cômico, um pouco assustador, em que quase fui linchado. 


Amigos à beira de uma reserva florestal...

Hoje de noite, saindo da pousada, vejo crianças gritando. Me aproximo e vejo que é um filhote de cobra coral. Pego um pedaço de pau e tento verificar se é uma coral verdadeira (era), então tento espantar a cobra para longe.

"Dá na cabeça dela."

"Joga no terreno dessa vizinha chata."

"Mata! Mata!"

Tento mostrar a eles que não é um bicho agressivo (que não avança de volta dando o bote, apenas se afasta). Argumento que ela come insetos e faz parte do equilíbrio ambiental. Chego até a dizer que é um bicho de Deus.

"Se isso é um bicho de Deus, que bicho é do Diabo?" questiona um.

"Pôneis," afirmo.

Sigo empurrando a cobra por vários metros, com as crianças ao meu redor segurando pedras, querendo atacar o bichinho, e eu dizendo para não matar. Finalmente ela encontra um buraco no solo e se esconde. Eu me afasto, achando ter cumprido minha missão. Caminho até uma lanchonete. Um negão 4X4 vem atrás de mim.

"Que história é essa que você jogou uma cobra no terreno onde tem um bebê?"

Digo que só espantei a cobra, que faz parte do equilíbrio, que é um animal de Deus e por fim que matar animais silvestres é crime. O negão (era um negro grande, não estou sendo politicamente incorreto) diz que vai chamar a polícia. Sorte minha, eu já estava pronto para uma surra. Entro na lanchonete, faço meu pedido e vejo um povo se juntando, se juntando. Homens, mulheres e crianças com enchadas, foices, tochas acesas... (Ok, aí já é um pouco de exagero, mas you got the point, foram se juntando mesmo os pais das crianças). 

Acabei saindo por portinha lateral, dando a volta no quarteirão para voltar à pousada. Agora tenho medo de voltar aqui e ser linchado. Se alguma criança for picada por uma cobra nesta ilha eu estou fodido. 

Ainda consegui registrar a belezinha. Também vi um teiu enorme hoje, mas esse fugiu com as próprias patas. 

Assim começou meu lindo ano de 2013 - ano da serpente, veja só. Já pode acabar? Amanhã volto a São Paulo e não sei o que me espera por lá. O pior é que acho que NADA me espera por lá. 


Franzindo pelo sol, não de infelicidade. 


ENTÂO VOCÊ SE CONSIDERA ESCRITOR?

Então você se considera escritor? (Trago questões, não trago respostas...) Eu sempre vejo com certo cinismo, quando alguém coloca: fulan...