PARA QUE SERVE UM BLOG
Parece que o povo esqueceu. Eu sei que não é mais o formato
da moda. Mas para que manter um blog? Para o que o povo anda usando atualmente?
O blog lá no final dos 90 começo dos 2000 era um diário,
desabafo, mural de jovens em crise existencial. Bacana. Legal que jovens em
crise existencial tivessem um mural. Isso depois foi diluído nas redes sociais
e essa função perdeu muito de sua função. Mas para mim, o blog ainda arquiva melhor
os momentos importantes, as datas significativas.
O blog sempre foi um mural democrático para o usuário
registrar sua opinião – sobre a vida, um filme, um livro, um evento. Servia aos
críticos amadores e aos protestantes de ocasião. Um espaço para se expressar
uma opinião às massas sem precisar passar pela edição de um jornal, de uma
revista. Neste ponto é que eu acho que os blogs continuam mais vivos.
Os blogs continuam vivos atrelados a jornais, como colunas
opinativas. Perdem um pouco do seu caráter independente. Mas ninguém quer mesmo
estar sempre independente, sozinho, alheio...
Eu tenho este blog ultra independente há NOVE anos, veja só.
A Raquel Cozer (Folha) já tirou sarro
por ser um blog 2.0. “ultrapassado” – hohoho – mas não é essa a graça? Para
mim, a maior graça é essa de ser o mesmo blog há tanto tempo, por eu mesmo
poder revirar o arquivo e achar tantos registros antigos, tantas impressões
estranhas. A graça é eu poder fazer tudo sozinho (bem, com a ajuda de poucos
amigos, como Alê, que deu um tapa no layout há 4 anos) . CONTINUAR é que me dá
mais força, como um registro pessoal mesmo.
O blog não tem comentários porque eu não quero. Já teve. Na
época, eu era um autor emergente e o anonimato fazia com que o povo aloprasse. Eu
ficava mega, mega deprimido. Era muito trabalho filtrar os comentários. E hoje
já há tantas outras opções para comentar. Não é necessário.
Já pensei em terminar várias vezes, é claro. E muito pelas
pessoas que escrevem: “Adoro o que você escreve. Nunca li nenhum livro seu. Mas
amo seu blog.” As pessoas se contentam com isso. Nâo que sejam coisas
concorrentes, mas eu vejo meu blog como... como se eu fosse um massagista. E
tivesse um blog. Daí escrevo sobre meu dia-a-dia de massagista no blog, sobre
minha vida, daí o povo vem falar que é meu fã sem nunca ter sido massageado? Eu
não entendo.
Não, o que eu escrevo aqui não é o que eu escrevo nos meus
livros. Eu escrevo ficção. Não tem nada a ver com isso. É outra coisa, é outra
linguagem, completamente diferente. Aqui não é trabalho, eu não tenho tanto
cuidado, não estou criando personagens, não estou criando histórias, não estou
fazendo literatura. Às vezes escrevo bêbado, não me preocupo tanto com o
resultado final.
É esse povo que se diz “fã do meu blog” que me faz querer
acabar com tudo de vez, admito. Posso estar sendo injusto. De repente minha ficção
é insignificante, como vou saber? De
repente sempre sofri de um mau marketing/distribuição dos meus livros. Mas sempre esperei que o blog fosse um veículo
de leva-e-traz com minha obra impressa.
Porém... Porém o que me deixa mais frustrado é ver como hoje
estou numa cruzada solitária entre os blogs de autores. ONDE ESTÃO? PARA ONDE
FORAM? É claro que ainda há escritores com blogs por aí, mas fazendo o quê?
Eu quero saber suas opiniões, como escrevem, o que estão
lendo. Quem está escrevendo isso?
Especialmente:
Michel Laub: devia tomar uma surra por postar aquelas
coisas: “Um livro. Um restaurante, Um filme.” Isso interesse a quem,
Michel? Que informação mão-de-vaca é essa? Você não é capaz de escrever uma
linha sobre um livro, um restaurante, um filme que você gostou?
Ivana Arruda Leite: tomou meio a linha do Michel, só diz o
que leu e gostou, mas sem dar resenha nenhuma, e posta dúzias de fotos de almoços
(que também não são muito atualizados). Se vai indicar um livro: ESCREVA sobre
o livro.
Marcelino Freire: já teve um blog que era uma agenda dos
lançamentos literários da cidade. Agora fica no discurso “eu te amo periferia”
que não comunica nada além de uma voz consciente pessoal.
Ana Paula Maia: Optou pelo silêncio e só posta seus novos
lançamentos. Se eu fosse esperto, aprenderia com você, Ana Paula, como não sou,
estou aqui reclamando.
Nelson de Oliveira: fingiu que morreu e adotou um
pseudônimo.
Sério, isso é um protesto. Onde estão os blogs de
escritores? Nenhum escritor hoje pensa? Lê? Resenha? ESCREVE?! (Provavelmente vão me
mandar os que ninguém conhecem... mas ok). Me ajudem.
Sei que há um punhado de jovens seguindo com a bandeira, mas é só um
punhado.
E não me venham dizer que é férias - "que os blogs voltam em março?". Vão tomar no seu cu. Quem precisa tomar férias de blog é quem não merece os dedos que tem para escrever.