28/01/2014

QUANDO EU ERA VIVO


Assisti hoje à pré-estreia de Quando Eu Era Vivo, filme de Marco Dutra, baseado no romance de Lourenço Mutareli, A Arte de Produzir Efeito Sem Causa. Já gostava muito do romance, gosto do Marco, mas tinha receio de como aquela história havia se transformado, aparentemente, num filme de terror.

A trama acompanha Júnior (Marat Descartes), um homem de meia idade que volta a morar com o pai (Antônio Fagundes) com o término de seu casamento. O retorno à casa paterna desperta lembranças de um passado enigmático, da relação com a mãe falecida e do irmão internado numa clínica. Nesse cenário há também a personagem interpretada por Sandy, uma estudante de música que aluga um quarto no apartamento; e a vizinha Miranda (a diva Gilda Nomacce), uma vidente supostamente picareta.

Marco Dutra estreou em longa com o ótimo Trabalhar Cansa, dirigido em parceria com Juliana Rojas, um drama doméstico com elementos sobrenaturais e apenas um leve flerte com o terror. Nesta nova produção, a escolha pelo gênero é mais explícita. Quando Eu Era Vivo é assumidamente um filme de terror psicológico, em tons polanskianos. Como no longa anterior, há uma tensão latente constante, porém nesse a dosagem é um pouco mais pesada, com desenvolvimentos mais sinistros e violentos.

Não é um filme para todos - e talvez não seja um filme para o expectador habitual do cinema nacional, graças a Deus. Eu pessoalmente adorei e vejo com entusiasmo a produção dessa nova geração (minha geração) de cineastas que vem trazendo novos climas às telas. Além do Marco, há o Esmir Filho, que há alguns anos fez o excelente Os Famosos e os Duentes da Morte  (embora tenha o pior título do mundo; aliás, eu diria que em geral o maior defeito dessa geração de cineasta está nos títulos que escolhem). E há o Rafael Primot - que está com os direitos para cinema de Feriado de Mim Mesmo e também está para estrear um thriller louquíssimo estrelado por Regina Duarte e Bárbara Paz, que já assisti e amei.

 Marco Dutra agora se confirma como um diretor nacional de peso - que vou ter prazer de acompanhar. Fico feliz de, finalmente, me identificar com coisas feitas (literalmente) aqui por perto. Quando Eu Era Vivo estreia em circuito nacional no próximo final de semana. Recomendo muito. É tenso, sinistro, com pitadas de um humor bizarro.

Falando em bizarro, o diretor foi meu entrevistado do Programa Bizarro de ontem. Dá pra ouvir aqui:

https://soundcloud.com/santiago-nazarian/programa-bizarro-3-entrevista

(Conforme prometido, tenho subido um programa novo todo domingo de noite - o link está sempre na aba "Programa Bizarro", então confira por lá - ou pelo meu Facebook - porque nem sempre vou linkar com um post relacionado.)





24/01/2014

A ARTE DE FAZER UMA ORELHA


A orelha é um órgão essencial do ser humano. Auxilia não apenas na orientação, estética e escuta, mas também é alça indispensável na formação ética e responsável do indivíduo, através da qual progenitoras podem puxar suas crias em reprimenda diante de falta grave.

Em livro, sua função é mais discutível e sua presença é opcional. Não só há livros sem orelhas como há orelhas sem ouvido, orelhas (literalmente) de abano, as que estão lá apenas para ostentar bijuterias, as repletas de cera.

Para mim, a boa orelha é uma peça publicitária. Informa o conteúdo do livro, resumo, breve contexto na obra do autor, encerra com um convite instigante e enaltecedor à obra. São três parágrafos, algo mais ou menos assim:

Uma orelha pode esconder muito mais do que cera. Nos labirintos recônditos do canal auricular, Boni, um besouro frustrado e existencialista busca refúgio da sociedade detritivora que o repele tanto quanto chinelos humanos e a indústria de inseticidas. Aparentemente isolado do mundo, ele revê sua história de vida - do rastejar na lama às asas, e de volta à lama - alheio aos percalços de seu hospedeiro. 

Greg, um jovem estudante de biologia vive seus próprios dilemas e conflitos familiares. Em sua crise pós-adolescente, não dá importância à sua labirintite crescente, e recorre a psicotrópicos para encontrar o sentido de uma vida sem sentido. Revendo os dogmas cristãos com os quais foi criado, Greg nem imagina que ele próprio pode ser o Deus de um universo muito particular, abrigado dentro de seu corpo. 

Em seu primeiro romance, Thomas Schimidt nos traz uma deliciosa alegoria da busca divina, com um humor sarcástico e uma inteligência delirante. Uma grata surpresa que já revela um nome de peso da "Geração 10". Deite-se confortavelmente, mantenha a cabeça aberta, O Labirinto de Deus vai desestabilizar seus conceitos de onde a nova literatura brasileira pode chegar. 


(Esse livro não existe, ok? Foi uma orelha criada apenas para fins didáticos...)

Acho que a estrutura é mais ou menos essa...


Já perdi a conta de quantas orelhas escrevi, assinadas ou não (a começar por todas as minhas). Marcelino Freire, Cristiane Lisbôa, Mayra Dias Gomes, Ana Paula Maia (duas vezes), Rafael Primot, Hugo Guimarães, Mauro Nunes, Elisa Nazarian foram alguns dos autores para quem assinei orelha, algumas se tornaram prefácios; além dos autores estrangeiros, de Simon Van Booy a Agatha Christie.

Ao meu ver, a orelha assinada tem a mesma função da orelha "release", a diferença apenas é que a opinião sobre o livro se torna mais pessoal, há uma associação imediata da obra com o assinante. A escolha de quem assina a orelha também já traz uma indicação do autor de parentesco e afinidade de sua obra - ainda que o parentesco muitas vezes seja bastardo, só por afinidade, de décimo grau.

No caso de O Labirinto de Deus, se fosse uma orelha assinada eu só modificaria, talvez, de leve, o último parágrafo:

Em seu primeiro romance, Thomas Schimidt nos traz uma deliciosa alegoria da busca divina, com um humor sarcástico e uma inteligência delirante. Desequilibrado como sou, tive de me deitar cuidadosamente, abrir a cabeça (e limpar as orelhas) para me deixar perder no universo fascinante desse novo autor. O Labirinto de Deus revela um talento divino, que deixará sequelas irreparáveis na literatura brasileira. 

Santiago Nazarian 

O perigo da orelha assinada é que o autor convidado muitas vezes tem uma percepção diferente de como o autor quer apresentar o livro. Escreve um texto em que o autor não se reconhece, e que por isso não quer que faça parte de seu produto final.

Por pretensão do assinante, a orelha assinada muitas vezes também adota um tom de análise profunda da obra. Não é o local. A orelha é uma peça para ser lida em pé em livraria - para o leitor que está folheando entre Dan Brown e Zíbia Gaspareto saber do que se trata o livro. Tem menos ainda a função de crítica, apontar pontos negativos - você não expõe os defeitos na embalagem de um produto.

Centralizador como sou, costumo cuidar de TODAS as etapas da produção do livro - incluindo capa e release - e sempre tenho receio de convidar assinantes, por achar que a função não será cumprida. Também nessa cruzada solitária que sigo, não consigo encontrar verdadeiros parentescos entre os autores ao meu redor. Acho curioso gente que fala em "grupo literário", talvez um eufemismo, talvez uma interpretação mais positiva de "panelinha".

Minha única orelha assinada de fato foi a nova edição de Mastigando Humanos, pelo Michel Melamed, não só por admirá-lo e acreditar que o livro tem seu parentesco com ele, mas também por ser um livro já conhecido, a orelha não tinha tanto a função de apresentar o livro (e de qualquer forma a quarta capa cumpriu a função publicitária, com sinopses e comentários da imprensa).

De todo modo, andei pensando bem nisso ultimamente, por ter cogitado assinatura de orelha no meu livro novo (o que desisti) e por ter ajudado um "jovem autor carioca" esta semana a editar sua própria orelha (que estava absurdamente longa e pretendia contar a história toda do livro).

Vai fazer a orelha do seu próprio livro? Sinopse, breve análise de estilo, contexto na sua carreira e adjetivos positivos à obra. - Ok, acho que pesei a mão na primeira orelha de O Labirinto de Deus, o próprio autor fazer sua orelha e colocar "um nome de peso da Geração 10" é um pouco de pretensão demais - até para um jovem autor. Vai aí um parágrafo final mais comedido:

Em seu primeiro romance, Thomas Schimidt nos traz uma deliciosa alegoria da busca divina, com um humor sarcástico e uma inteligência delirante. Uma grata surpresa entre o realismo que impera entre nossos autores. Deite-se confortavelmente, mantenha a cabeça aberta, O Labirinto de Deus vai desestabilizar seus conceitos sobre literatura contemporânea.


Vai assinar orelha? Aqui: sinopse, breve análise de estilo, contexto na obra do autor e elogios exaltados. Se topou assinar a orelha é porque gostou do livro, gosta do autor, então tem de procurar os pontos mais fortes para exaltar. Para mim, isso não é difícil e não me considero generoso ao fazer issose a obra merece, ela já te deu algo em troca (isso sem comentar que muitas vezes a editora está pagando por sua orelha). Tantos autores (e atores, e músicos, e cineastas) eu exalto seguidamente por aqui, porque eles já estão me dando algo em troca. E espero (muitas vezes em vão) que eles ajam da mesma forma, comigo e com os que vêm a seguir.

21/01/2014

A CULPA É SUA

Pérolas de meus amigos (mais ou menos) imaginários...


"Sou a favor dos rolezinhos, desde que não aconteçam quando eu estiver no shopping com meu filho."

"O trânsito não tem mais jeito. Levei meia hora para ir de carro até a padaria da esquina."

"Queria que o brasileiro consumisse mais cultura. Mas que a Mostra de Cinema fosse mais vazia."

"Beleza é coisa de gente superficial, que julga pela aparência."

"Ela não é empregada, é como se fosse da família... mas comesse na cozinha."

"A gente paga o salário dos políticos; eles são NOSSOS funcionários. Que nem a faxineira ou a professora dos nossos filhos."

"Mais um gay vítima do preconceito e intolerância. Podia ter sido um amigo meu - só não era porque não frequento esses lugares de bichinha feia pão-com-ovo."

"Quem usa drogas financia a violência. Quem paga impostos financia a corrupção."

"Ai, esses debates de Sesc eu deixo pra tentar ver na Flip..."

"Essa geração de hoje só se informa por Facebook. No meu tempo, a Veja tinha mais páginas."

"Detesto gente que se acha. Faço questão de colocar esse povo no seu lugarzinho."

"Ainda não li nada seu, mas ouvi falar super bem. Pode me ajudar com meu livro?"

"Você só não é conhecido como boçal porque ainda não é conhecido."

"Na rua, trato com respeito e ofereço cigarro ao mendigo. Na balada, viro a cara e não dou confiança pra bêbado."

"Sou uma pessoa sincera nas amizades. Meus amigos é que estão comigo por interesse."

"Todos meus namorados foram ruins de cama."

"Não acredito em assombração, só em Jesus."

"Amo meu povo. Mas tenho nojo."

"Jornalista de verdade se reconhece pelo texto. Blogueiro se reconhece pelo layout."

"A Finlãndia é um exemplo de educação e igualdade. Tanto que são todos loiros."

"O tempo dirá quem são os grandes autores. Os ignorados de hoje continuarão a escrever; e mortos encontrarão agentes, editores, críticos, jornalistas e leitores que os valorizem."




17/01/2014

NINFOMANÍACA

O cartaz mais pertinente.

Lars Von Trier ocupa relativamente o posto de meu diretor favorito. Suas obras nunca me deixam indiferente. E mesmo que a maior parte delas tenha me destruído, sempre é uma montanha-russa, uma roleta-russa, uma salada-russa de sensações (ele não é russo, é dinamarquês, só para lembrar).

Algumas delas como Anticristo eu vi uma vez, amei, e não quero ver nunca mais. Outras como Melancolia eu veria seguidamente. Adoro Os Idiotas, Dançando no Escuro, Dogville, O Grande Chefe. Acima de tudo, admiro esses poucos artistas que conseguem manter sua autoria, sua visão particular (ou negativa, no caso dele) de mundo e ainda assim terem um respeito universal.

Mas, como grande esnobe, já me preparava para desdenhar Lars Von Trier com a recepção de seu "filme pornô".

Ele já fez documentário (os filmes Dogma), musical (Dançando no Escuro), teatro (Dogville/Manderlay),
faroeste (Querida Wendy), comédia (O Grande Chefe), terror (Anticristo) e sci-fi (Melancolia) , sempre, claro, subvertendo e expandindo as regras do gênero. Se for para apostar num próximo, eu diria que ele vai fazer um filme infantil. E estava curioso, ainda que não ansioso para ver como ele subverteria as regras do pornô...

Digo não ansioso porque boa parte dos filmes de Von Trier me fazem tão mal, ainda que eu goste tanto, que eu poderia esperar mais um tempo por elas. Via os amigos baixando traillers, discutindo a trama, eu só pensava: "Porra, espero que esse filme não saia tão cedo."

Mas infelizmente tenho de encarnar o masoquista a dizer: "Infelizmente a porrada não veio."

Fui ver o filme só hoje, entrando na segunda semana. Tentei duas vezes antes e a sala estava lotada. Quando entrei hoje em plena quinta-feira no cinema (lotado), comecei a pensar em qual era esse fenômeno que aproximava Von Trier de Spielberg. Era o SEXO o efeito especial orgânico insuperável?

Quando o filme começou com trilha de Ramstein (uuuuh, Von Trier querendo ser mau) e pouco depois com Stepenwolf (uuuuuuh, querendo ser radical) pensei que a coisa iria de vez para um divertimento Multiplex. Mas nem isso.

 A história, para quem não sabe, é que a Charlotte Gainsbourg é encontrada fodida (literalmente) num beco pelo Stellan Skarsgard, que a leva para casa e pergunta sua história. Daí ela começa a provar como é bad girl.

Ninfomaníaca (Volume 1) é um filme brochante de sexo, pelas razões erradas. Eu já esperava que fosse ser cruel, pesado, agressivo, talvez nojento, mas não é nada disso. É um filme inócuo, chato, carregado de lugares comuns.

O cinema (Frei Caneca) estava lotado (numa quinta-feira) de gente comendo pipoca, falando alto, mandando mensagens no celular.

Talvez aqui seja pertinente fazer uma observação social e mandar de vez um bando de Gremlins fazer um rolezinho numa sessão em que esteja assistindo a Eliane Brum. Os oprimidos que sempre foram relegados a Homem de Ferro agora decidem invadir os espaços dos cultões e assistir Lars Von Trier falando alto e comendo pipoca. É o rolezinho chegando às cinematecas, para os excluídos que não querem só Mizuno. Ironias à parte, foi isso que eu vivi esta quinta-feira.

E Ninfomaníaca faz juz ao título de "Lars Von Trier for Dummies".

É chato, cansativo, brochante. Entendo e aprecio a ironia do diretor. O texto não pode ser lido literalmente, porque soa falso. Como em filmes anteriores, é uma grande fábula, alegoria... mas precisa usar imagens tão gastas? Compara-se o andar de um homem com um gato, flertar com pescar; em determinado a protagonista diz: "não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos." Porra, pode ser MAIS clichê?

Sei que já fico armado para desgostar de algo quando todo mundo comenta, é um traço esnobe inescapável. Mas meu bocejo não me engana. Assisti Ninfomaníaca ansioso pelo fim, agradecendo por ter sido dividido em duas partes, e isso de um diretor que tanto amo e TEMO.

Ninfomaníaca não me perturbou, não me trouxe nada novo, nem de longe me excitou. Se é pra dizer algo de positivo, gostei da cena com a Uma Thurman, que descamba de vez para o cinismo e a comédia... mas nem gostei tanto assim.

Claro, é só metade. Talvez ele tenha sido prejudicado por isso. A segunda metade do filme só estreia daqui a alguns meses, e eu certamente irei ver. Já espero que seja a "metade pesada", mas também não espero muito. Não tenho mais medo. Tenho certeza de que o cinema não estará mais tão cheio de gente desavisada. E isso já será ótimo.





10/01/2014

PROGRAMA BIZARRO

Boa noite, cambada!


Lá pelos idos de 2007 eu tinha um programinha de rádio delicioso semanalmente no Mix Brasil, chamado de Le Kitsch C'est Chic, que tocava basicamente música kitsch de todo tipo: Cauby, Abba, Reginaldo Rossi, Aqua, Klaus Nomi, Lindomar Castilho, As Marcianas, Santa Esmeralda, Luis Miguel, bolero, disco, chachacha, e por aí vai.

Além da música, cada programa costumava trazer um entrevistado, e eu tive bate-papos muito legais com o Marcelino Freire, Daniel Peixoto, Esmir Filho, Karine Alexandrino, Trash pour 4, Cristiane Lisbôa, Rodrigo Faour e muitos outros.

O programa acabou basicamente por falta de estrutura ($$$). Eu era apresentador, produtor, escolhia as músicas, tinha de escolher os convidados, preparar as perguntas e ir até o Mix gravar semanalmente, sem verba nenhuma, o que acabou me esgotando. Mas sempre quis reacender o programa de uma forma mais informal, talvez com temas musicais mais abrangentes, de uma forma que eu pudesse fazer aqui de casa, como um podcast.

Domingo passado, com a morte do Nelson Ned, eu resolvi que era uma boa deixa. Em duas horas pesquisei os programas que precisaria baixar para editar o áudio, escolhi as músicas do Nelson Ned e gravei a locução (pelo IPhone). Coloquei no ar um programinha teste/piloto, curtinho, com quatro clássicos do "gigante da canção" e assim começamos. (Coloquei inclusive uma música antológica GAY dele, de um cara que não consegue se confessar para o amigo. Eu estou louco para ter algo contigo, algo mais que um amigo...)

Então foi inaugurado e resolvi manter semanalmente. Todo domingo à noite vou postar um novo programa (via Soundcloud). Não vou dar um horário específico, porque isso me obrigaria estar aqui todo domingo no mesmo horário, mas fica combinado para as noites de domingo (e você pode ouvir durante a semana toda).

Já deixei um link permanente pra isso aqui no blog (Programa Bizarro - Já tem o link do programa do Nelson Ned lá). Manterei atualizado. Aviso das atualizações pelo Facebook, e vocês também podem me seguir no Soundcloud.

O programa do próximo domingo é com clássicos kitsch diversos - sem entrevistado. Mas quero em breve fazer programinhas especiais com gente bacana. As músicas também não serão sempre nesse tom cafona - qualquer som que passe por bizarro, engraçado, estranho, raro ou simplesmente curioso pode entrar. Só no meu IPod tenho mais de 23 mil faixas e quero dividir algumas coisas.

E é isso. Tentando movimentar (e me divertir) em 2014.

Abraços.






03/01/2014

GRANDE IRMÃO, GRANDE LIVRO.




Resenha minha na Folha, final de semana passado:

Após meia dúzia de romances publicados e duas décadas de carreira, Lionel Shriver finalmente conquistou sucesso como autora com Precisamos Falar Sobre o Kevin, misto de drama familiar e thriller, que lhe conferiu o prêmio Orange em 2005 e foi adaptado para o cinema em 2011.

O romance trazia uma atípica visão da maternidade, pelos olhos da mãe de um adolescente que provocara um massacre em sua escola.

A forma antissentimental com que Shriver expôs os laços familiares foi o verdadeiro trunfo do romance. E é uma marca que ela reafirma com sucesso em Grande Irmão. 

Pandora é uma empresária bem-sucedida, bem casada e com uma boa relação com os enteados. Porém, ao receber a visita do irmão músico, que não via há anos, o frágil equilíbrio de sua vida se desfaz completa e literalmente. Outrora bonito e efervescente, Edison se tornou um obeso mórbido, comedor compulsivo, que não consegue mais se apresentar nos palcos, perdeu todos os seus pertences e não tem mais onde morar. Sentindo-se responsável pelo irmão, Pandora coloca o casamento (e a própria saúde) em risco e adota como desafio pessoal resgatar a boa forma de Edison.

Num relato em primeira pessoa cheio de dúvidas, a narradora expõe pontos de vista muito particulares (e discutíveis) sobre laços fraternos, alimentação e carreira artística, que podem fazer parte de uma autoanálise da autora. (Além de ter passado por percalços como escritora e ser casada com um músico, Shriver também teve um irmão que morreu por complicações da obesidade.)

A forma como os temas são apresentados podem incomodar tanto obesos quanto artistas; em geral, nota-se uma opinião muito negativa da vida. Entretanto, é essa visão parcial que torna a protagonista tão humana e sua história mais rica e sujeita a interpretações. Muito mais do que um livro de autoajuda para gordos, Grande irmão é cruel, incorreto e fascinante, como um romance de peso deve ser.

Avaliação: Ótimo.


(Ao ler esse livro, desenterrei também a resenha de Precisamos Falar Sobre o Kevin - que escrevi para a revista Metáfora há alguns anos. Abaixo.)




Estreia nos próximos meses, nos cinemas brasileiros Precisamos Falar Sobre o Kevin, elogiado filme da escocesa Lynne Ramsay, que rendeu a Tilda Swinton uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz (que acabou sendo faturado por Meryl Streep em A Dama de Ferro). O filme é baseado no romance homônimo fictício de Lionel Shriver, que traz uma instigante premissa: a visão de um massacre numa escola, à la Columbine, pelos olhos da mãe do assassino.
No livro, Eva Katchadourian, uma americana de origem armênia, revê todo seu histórico de mãe, tentando compreender como o filho de quinze anos foi capaz de assassinar onze pessoas. Em longas cartas ao marido, Eva promove um acerto de contas com ele e consigo mesma, na esperança de identificar de onde surgiu “a gênese do mal”.
O livro traz uma visão bastante particular da maternidade. A protagonista é uma mulher eternamente resistente à ideia de ser mãe, que vê a chegada do filho primogênito (o “Kevin” do título) como uma invasão em sua relação com o marido – um ponto de vista ciumento, que talvez seja mais comum aos pais do que às mães. Mesmo ao pegar o bebê pela primeira vez no colo, Eva não é tomada de um amor “instintivo e incondicional”, do qual tanto se houve falar. O bebê desde o início lhe causa estranhamento.
Não é de se surpreender que a autora, Lionel Shriver, hoje com 54 anos, não tenha filhos e confesse que jamais desejou ser mãe. Precisamos Falar Sobre o Kevin é um corajoso debate feminino sobre esse tema.
Entretanto, se o ponto de vista materno é o grande diferencial do livro, a construção da identidade do filho psicopata deixa a desejar. Em grandes tragédias como essa, a pergunta que fica no ar é “por quê”. E por mais que um romance de ficção não pretenda cumprir a função de um tratado psicológico, provavelmente o leitor atraído pelo tema está em busca de possibilidades de uma resposta. Precisamos Falar sobre o Kevin não oferece isso. Não apenas não dá respostas e não cria uma empatia e compreensão sobre os motivos do assassino, como o caracteriza de maneira mais próxima aos filmes B de terror e suspense. Kevin está mais próximo de moleques diabólicos de filmes como Halloween, O Anjo Malvado e A Profecia do que da dupla de dupla de adolescentes do filme Elefante (de Gus Van Sant, 2003).
Isso faz com que pareça que a autora conseguiu cumprir 50% da proposta de seu livro. Consegue se aprofundar e dar uma visão diferenciada sobre a maternidade, mas foca de maneira terrivelmente superficial o massacre. Além disso, a estrutura da narrativa – toda baseada em cartas – por vezes parece falsa, recheada de detalhes e descrições que interessa ao público leitor, mas que seriam desnecessárias para um destinatário que viveu a história com ela – o pai. (Por que, contando sua versão dos fatos ao marido, ela precisaria, por exemplo, descrever com detalhes a casa em que os dois viveram juntos?)
De todo modo, Precisamos Falar Sobre o Kevin é uma leitura perturbadora, que mantém o ritmo e traz diversas surpresas em suas quase quinhentas páginas. Vendeu mais de um milhão de cópias lá fora e rendeu a Lionel Shriver, em 2005, o prestigioso Orange, prêmio britânico para mulheres escritoras. No Brasil, o livro foi publicado originalmente em 2007 pela editora Intrínseca, que agora lança uma nova edição com capa remetendo ao filme. 

01/01/2014

ANO NOVO, BLOG NOVO

Passamos um reveillon tranquilo. Voltamos de Londrina e ficamos aqui em São Paulo mesmo (primeira vez em anos). Eu estou com muito trabalho, pouco dinheiro, Murilo está se mudando (para um prédio com piscina!) então não fizemos festa, só um belo jantar: salmão com raiz forte flambado no Jack Daniel`s, arroz selvagem com cogumelos e amêndoas, e purê de banana. Ótimo. Terminamos vendo... "Pânico no Lago", um clássico.

 Neste dia 01 preguiçoso, finalmente resolvi dar um jeito neste blog. Murilo se sentou no meu PC e em pouco tempo estava resolvido.

E essa é apenas uma pequena novidade do que está por vir este ano - porque sei bem que eu é que tenho de tomar as iniciativas, senão as coisas não acontecem.

Que toda a uruca tenha ficado para trás. Feliz 2014.

Loirinho trabalhando. 

NESTE SÁBADO!